Crise política pode fazer população analisar propostas em vez de candidatos
19 março 2016 às 12h33
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Atual momento do País tem modificado a atitude das pessoas em relação à política. Isso fará com que elas votem de maneira mais “consciente”? Especialistas respondem
Entre os dias 13 e 19 de março, o País acompanhou dias de frenesi político. No domingo, 13, milhares de pessoas por todo o Brasil, principalmente nas capitais, foram às ruas apresentar sua indignação contra as frequentes notícias de corrupção que abalam o governo federal.
Muitos podem dizer que os protestos do dia 13 foram um movimento igual ao de junho de 2013. Não foram. Àquela época, as pessoas estavam irritadas com a política em geral e os apelos eram muitos: briga pela diminuição da passagem do transporte coletivo; fora a presidente; fora um governador ou outro; mais transparência na gestão dos recursos públicos.
As de março de 2016 tinham um foco. A saída da presidente da República, Dilma Rousseff? Sim, pois ela é o rosto do governo. Mas a irritação do povo estava mais voltada ao partido de nossa chefe de Estado, o PT. O Partido dos Trabalhadores não é o único envolvido nos esquemas de corrupção denunciados pela Operação Lava Jato; não mesmo.
Quase todos os partidos têm pessoas envolvidas. O PT é apenas o bode expiatório. Toda crise precisa ter um. Tirar o PT do governo vai resolver o problema da corrupção? Não. Porém, vai aliviar um pouco a frustração popular. A análise é bastante hipócrita, mas retrata bem o pensamento da maioria dos brasileiros atualmente.
Se toda essa revolta vai resultar, mais tarde, no combate à corrupção no geral, de todos os partidos, inclusive a do PSDB, o opositor mortal dos petistas, não se sabe. Nas manifestações de São Paulo, protestantes expulsaram da Avenida Paulista o senador e presidente nacional dos tucanos, Aécio Neves, e o governador do Estado, Geraldo Alckmin.
Isso é um sinal, uma esperança de que, caso os tucanos assumam o governo, eles também sejam cobrados pelas denúncias que pesam sobre eles. Afinal, não foi Aécio delatado pelo mesmo Delcídio do Amaral que provocou a convulsão social das últimas semanas?
Outra diferença que pode — ressalte-se o pode — surgir entre as manifestações deste ano a às daquele é a aparente consciência política que começa a surgir em muitas pessoas. Perceba, leitor, que comecei o texto falando da semana compreendida entre os dias 13 e 19. Isso porque os acontecimentos da semana provocaram desdobramentos, por praticamente todas as capitais, dos protestos de domingo.
Até o fechamento desta matéria, na sexta-feira, 18, ainda havia pessoas nas ruas protestando contra a nomeação do ex-presidente Lula — alvo da campanha contra a corrupção no Brasil e bode expiatório da vez — ao cargo de ministro-chefe da Casa Civil. O ato em si foi estapafúrdio. Na quinta-feira, 17, Lula foi de ministro a cidadão comum pelo menos duas vezes, devido às liminares de juízes anulando sua posse.
Isso porque, na quarta-feira, 16, áudios de conversas suspeitas entre Lula e Dilma foram liberados — de maneira política, convenhamos — pelo (herói ou incendiário?) juiz Sergio Moro. Para completar, na sexta foi dia daqueles que são pró-governo irem às ruas manifestar seu apoio à presidente e ao (ex, atual, quem sabe) ministro da Casa Civil.
Isto é, os protestos do dia 13 não ficaram restritos a apenas um dia; criaram, com um grande incentivo da imprensa em geral, é verdade, braços e pernas. Isso mostra o quê? Que as pessoas continuam pensando no assunto, mesmo após o desabafo coletivo. E isso ocorre em ano de eleições. A pergunta, então, é: como isso vai afetar o processo eleitoral?
A grande parte dos movimentos populares aconteceu nas capitais. Se o leitor tem acompanhado o “informe oficial dos protestos anticorrupção”, nome que pode ser atribuído ao Jornal Nacional das últimas semanas, com certeza percebeu isso. Nisso, essas manifestações são em muito semelhantes às de três atrás.
O motivo é simples. Geralmente, sobretudo nos Estados menores, são as capitais que concentram a parte da população com maior senso crítico, seja devido ao superior nível de escolaridade ou mesmo de informação. Além disso, as capitais têm um maior número de habitantes, o que, claro, chama mais atenção.
Assim, é de se esperar que os grandes movimentos populares surjam de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte ou da capital federal, Brasília. Em Goiânia, por exemplo, é possível esperar que a atual crise política impacte de maneira substancial o período que levará às urnas em outubro.
Até o momento, os pré-candidatos são: Iris Rezende (PMDB), Delegado Waldir (PR), Vanderlan Cardoso (PSB), Giuseppe Vecci (PSDB), Adriana Accorsi (PT), Francisco Junior (PSD) e Luiz Bittencourt (PTB). Nem todos eles irão, de fato, disputar e o quadro pode mudar daqui para o final de julho, quando devem acontecer as convenções partidárias. A campanha só começa no fim de agosto.
Contudo, podemos dizer que os quatro primeiros nomes citados são candidatos praticamente certos, sendo Iris e Waldir apontados como favoritos. Apontados por quem? Pelos analistas políticos, marqueteiros e pesquisadores. Por quê? Vejamos:
Goiânia, de acordo com o último censo, tem 862.689 eleitores. Em 2008, última vez que Iris Rezende foi eleito prefeito, o peemedebista venceu no primeiro turno, recebendo 472.319 votos. Iris deixou a Prefeitura em 2010 para disputar o governo do Estado. No 1º turno daquela eleição, 292.959 goianienses votaram nele; no 2º, dos 898.645 votos dados a ele no Estado, 369.024 vieram da capital.
Para comparar, em 2010, o governador Marconi Perillo (PSDB) recebeu 298.163 na capital no 2º turno; no 1º, 241.115. Isso mostra a irrefutável força de Iris em Goiânia. Afinal, ele deixou a Prefeitura em 2008 com mais de 70% de aprovação. Em 2014, no 2º turno da eleição para o governo estadual, Iris recebeu 258.863 na capital; Marconi, que venceu novamente no Estado, 231.513.
Esses números, que são concretos, fazem com que Iris apareça como favorito em grande parte das especulações eleitorais feitas nos jornais do Estado. Ok, o peemedebista sequer declarou ainda sua intenção de disputar. Porém, todos sabem que a probabilidade de ele não entrar no pleito é pequena.
Sigamos: Waldir, por sua vez, é um fenômeno. Em 2014, superou qualquer prognóstico e também os recordes de votação para deputado federal, sendo, de longe, o deputado mais votado da história do Estado. Foram 274.625 votos; desses, 179 mil vieram de Goiânia.
Se levarmos em consideração que o número de candidatos a deputado é infinitamente maior que o de prefeitos, a votação de Waldir na capital é impressionante. E é isso que faz dele o principal nome da oposição para o pleito municipal goianiense deste ano. É carismático e popular, além de ter ao seu lado o grande apelo da segurança pública — hoje, o principal problema do Estado.
Mas, voltando à atual situação política brasileira: será que apenas isso faz com que os dois possam ser, de fato, apontados como favoritos absolutos? Estará a eleição, realmente, entre um e outro? O Jornal Opção procurou um pesquisador, um profissional de marketing político e um cientista político para debater o tema.
Não é possível prever quem será o favorito nas eleições deste ano
A tese levantada aqui é a de que o eleitor, diante da enorme insatisfação com os governos municipal, estadual e federal, irá votar de maneira consciente, não levando em consideração apenas a popularidade dos candidatos, mas os projetos apresentados por eles. Isto é, para ser eleito, o candidato precisará mostrar que enxerga os problemas da cidade — se não todos, uma grande parte deles — e apresentar soluções exequíveis.
Isso é o que se chamaremos de consciência nesta análise. Ela é possível? Para o cientista político Wilson Ferreira da Cunha, não. Ele afirma que o eleitor não tem consciência do processo eleitoral e da administração pública. “Isso é um mito. Na verdade, o que existe é uma inconsistência. Ele é levado e manipulado através de marketing, que vende o candidato como um produto”, relata.
Wilson diz acreditar que o eleitor é facilmente manipulado. Porém, ele leva em consideração dois fatores: a descrença popular com a política e o tamanho e características de Goiânia, uma capital com quase 900 mil eleitores e que é plural.
“A vida em cidades médias e grandes exigem sacrifícios, que forçam certo raciocínio por parte da população. Assim, é difícil afirmar que um candidato é favorito ou não dentro de Goiânia, que é diferente do interior, onde existem caciques políticos que nomeiam os candidatos que serão futuramente eleitos. Em uma cidade do tamanho da de Goiânia, o eleitor talvez tenha mais presença nessa decisão”, observa.
Sobre o suposto favoritismo de Iris Rezende e delegado Waldir, Wilson analisa da seguinte forma: “Iris faz parte da política tradicional, populista. Já delegado Waldir nunca ocupou cargo executivo, mas foi muito bem votado nas eleições passadas, em grande parte por sua presença nas redes sociais e por suas posições como delegado da Polícia Civil. Essa figura de justiça deu visibilidade a ele. Os dois têm denso potencial eleitoral, porque o novo ainda não apareceu”.
Para ele, ainda é muito cedo para definir o perfil do futuro prefeito de Goiânia, mas é possível falar que ainda não surgiu um nome que “rompa com as tradições arcaicas da velha política”. “Entre os dois”, Iris e Waldir, analisa Wilson, “a novidade é o delegado, mas não sabemos como ele será como prefeito. O Executivo moderno é aquele que tem ideia de administração e daquilo que pode ser feito com o dinheiro público. Waldir ainda não tem essa experiência”, argumenta.
Esse conjunto de fatores faz com que a disputa à Prefeitura de Goiânia, neste ano, seja uma “porta aberta”, como define o jornalista Bráulio Morais. Ele, que é ex-vereador e está acostumado a trabalhar em campanhas eleitorais, lembra que nunca se pode antecipar uma eleição apontando favoritos antes mesmo que a campanha comece.
“Nós temos exemplos de candidatos que iniciam o processo na frente, mas, com o movimento político, sofrem com a alteração do quadro”, alerta Morais. Dessa forma, as discussões e debates é que vão definir quais serão os escolhidos. “Os dois estão na frente nas pesquisas porque são os mais conhecidos. Mas a população, quando entra no processo eleitoral, passa a observar todo mundo, logo pode haver mudanças.”
Passará a observar como? A tese de que o eleitor levará em conta os projetos apresentados pelos candidatos é correta? O jornalista responde: “O eleitor sempre vota consciente. Agora, a consciência dele é resultado do que ele percebe. Ele busca o melhor; aquele que vai representá-lo da melhor forma possível. O eleitor muda durante a campanha; os motivos são muitos e ele considera o que é melhor para ele naquele momento, mas ele vota consciente”.
Dessa forma, seguindo o pensamento de Morais, o candidato que tiver o melhor desempenho e maior capacidade para debater com a população, mostrando a ela alternativas, será bem sucedido nesta eleição. “Ninguém vai votar pelo nome; ao contrário, nesta eleição, o eleitor vai ser mais exigente. Hoje, as pessoas conhecem Waldir e Iris, mas vão votar no candidato que dê a elas conforto e segurança”, afirma.
Pode ser um dos dois? Claro. Mas não apenas. O quadro é maior e é por isso que Gean Carvalho, do Instituto Fortiori, argumenta que esta será uma das eleições mais imprevisíveis de todos os tempos.
Construção de discurso
Gean Carvalho aponta: “Embora as pesquisas mostrem que eles [Iris e Waldir] têm mais intenções de votos que os demais, a margem é pequena. Nenhum deles passa de 30% e eles são muito mais conhecidos que os demais possíveis candidatos que se colocam”. Isso significa que o potencial de crescimento dos candidatos que estão surgindo é, em tese, muito maior que o dos dois.
Iris, especialmente, enfrenta uma dificuldade de crescimento grande, pois já é conhecido por 99% da população. Se não aumenta suas intenções de voto, é porque enfrenta certa resistência. Isso, levando em consideração que a maioria dos outros pré-candidatos é desconhecida, faz com que o cacife de favorito de Iris seja abalado.
O mesmo vale para Waldir, que é largamente conhecido pela população goianiense, mas não tem apresentado um crescimento que garanta a ele — ainda — a posição de favorito. Diante disso, há espaço para que os outros candidatos consigam se articular e chegar ao pleito de outubro com condições de vencê-lo.
O pesquisador destaca que, com o amadurecimento da democracia, o voto tem se tornado cada vez mais consciente. “Ele pode ser inconsciente nas eleições proporcionais, que as pessoas levam menos a sério. Mas o voto para o prefeito, governador e presidente, as pessoas levam a sério. Não digo que elas prestam atenção nas propostas apresentadas, até porque em uma campanha as propostas praticamente se igualam.”
O que o eleitor leva em consideração, então? “Ele observa o conhecimento que tem do candidato, a vida dele, o perfil etc.”, responde o pesquisador. “Ele faz o juízo de valor acerca do que cada candidato é capaz de fazer de bom ou ruim e, a partir disso, toma a decisão.”
Em outras palavras, quem quiser ser candidato à Prefeitura de Goiânia precisa, desde já, começar a se apresentar para a população. E nada impede que eles debatam a cidade com as pessoas. É bom lembrar que Goiânia é uma cidade plural, logo, a realidade do Recanto do Bosque não é a mesma da do Setor Novo Horizonte.
É exatamente por isso que o provável candidato precisa se antecipar e conhecer as regiões para, assim, formatar um bom programa de governo. E que seja exequível. A população observará, sim, o que o político pensa. Em tempos de crise, não adiantará propor obras faraônicas. Ou seja, é necessário construir um discurso que atinja os eleitores em suas mais diversas realidades.
“Se a eleição está aberta”, argumenta Carvalho, “existe espaço para a construção de um novo discurso.” Isso vale para Vanderlan Cardoso (PSB), Giuseppe Vecci (PSDB), Adriana Accorsi (PT), Francisco Junior (PSD) e Luiz Bittencourt (PTB). Desses, uns tem mais dificuldades que outros.
Os outros
Vanderlan Cardoso (PSB) é um bom candidato, mas sofre um pouco das dificuldades de Iris e Waldir. Já não é exatamente um desconhecido dos goianienses. Basta lembrar que, na última eleição para o governo estadual, o empresário teve quase 180 mil votos na capital. Então, o pessebista tem que se mostrar à população.
Por isso, por meio da Fundação João Mangabeira, o PSB já tem promovido encontros e seminários na cidade, exatamente com o intuito de debater os problemas da capital e, ao mesmo tempo, mostrar que tem pensado em propostas para resolvê-las. Uma explicação: isso, de acordo com a nova legislação eleitoral, é permitido; desde que não haja pedido explícito de voto.
Outro que começou a se movimentar já há algum tempo, promovendo eventos pela cidade, é Luiz Bittencourt (PTB). Lembrado pela velha geração mas desconhecido da nova, o petebista entendeu que, para ter chances nas eleições — caso realmente seja candidato —, tem que se apresentar para o povo.
Giuseppe Vecci (PSDB) é o candidato do governador Marconi Perillo. O tucano é um técnico e tem condições de formatar um projeto de governo consistente e que garanta a resolução dos problemas atuais da cidade. O que pesa contra ele é, ao mesmo tempo, uma oportunidade de vitória: o desconhecimento. Se conseguir difundir seu nome pela cidade, tem chances claras de vencer em outubro.
O candidato do PT será Adriana Accorsi. Adriana tem capacidade para ser uma excelente candidata à Prefeitura, pois, assim como Waldir, também conta com o apelo da segurança pública, uma vez que também é delegada da Polícia Civil. Contudo, ela tem estudado a cidade e achado meios de resolver suas dificuldades para além da segurança.
Se confirmada pelo partido — tudo caminha para que ela seja a candidata, pois é apontada como o melhor nome entre os petistas, mas ainda não há confirmação oficial —, terá condições de apresentar um bom projeto. Pesa contra ela, porém, a resistência que seu partido enfrenta atualmente tanto no cenário nacional quanto municipal. A rejeição à presidente e à atual gestão pode enfraquecê-la.
Já Francisco Junior (PSD) conta seu conhecimento da cidade. Foi secretário de Planejamento na gestão de Iris Rezende, sendo responsável pela formatação do Plano Diretor.
O debate precisa ir além de mutirão e segurança pública
Cezar Santos
A pré-campanha à Prefeitura de Goiânia está em curso. Os principais nomes já se colocaram em campo: Iris Rezende (PMDB), Delegado Waldir Soares (PR), Vanderlan Cardoso (PSB), Luiz Bittencourt (PTB), Giuseppe Vecci (PSDB), Francisco Junior (PSD) e Adriana Accorsi (PT). E quer goste ou não, o ex-prefeito Iris Rezende e o deputado federal Waldir Soares despontam nos primeiros levantamentos.
Há razão de ser. Iris desfruta de um grande recall. Ex-governador, ex-senador, ex-prefeito, o decano peemedebista disputou as duas últimas eleições para o governo e não tem como não ser o mais lembrado pelos goianienses. Waldir Soares teve uma esmagadora votação para deputado federal em 2014 e só em Goiânia ele tirou mais 170 mil votos. Seu nome também está fresco na memória dos goianos e principalmente dos habitantes da capital.
Iris Rezende, que tradicionalmente procrastina o anúncio de sua candidatura, repete a estratégia (será mesmo uma estratégia?). Mas, fatalmente, vai se confirmar, posto que o partido está praticamente 100% favorável, até pela frente que ele tem nas primeiras pesquisas de intenção de voto na capital.
Waldir Soares, por sua vez, foi ao PR para se consolidar na disputa, fazendo, até agora, o movimento mais efetivo na busca da candidatura. Ele deixou o forte PSDB, onde não teve, como gostaria, uma adesão indiscutível e cega ao seu projeto, para cair no PR de Magda Moffato, que lhe garantiu recursos para a campanha em troca de apoio à candidatura dela ao Senado em 2018.
Esses dois pré-candidatos têm uma similaridade, pois que ambos já têm definidos seus respectivos discursos temáticos fortes para a campanha deste ano: Iris, o obreirismo; Waldir, a segurança pública.
Iris Rezende, como sempre, vai partir para propagar a sua capacidade operativa, de fazedor, calcado nos tais mutirões, verdadeira ideia fixa dele, propagandeada inclusive na campanha ao governo em 2014. Parece que Iris pensa que os tempos continuam como antigamente, de quando ele foi prefeito pela primeira vez (na década de 1960) e governador na década de 1980.
Dessa última experiência, por exemplo, Iris traz a marca de ter construído mil casas num dia — não foi bem assim, mas como marca a coisa funcionou na época e ganhou repercussão nacional. No mandato como prefeito a partir de 2004, seu mote de campanha foi asfaltar a cidade toda. Se não toda, mas ele efetivamente asfaltou muitas ruas. Soube-se depois que a qualidade desse asfalto era sofrível e, hoje, Paulo Garcia deve um bocado de sua impopularidade ao fato de ter de consertar aquilo.
Waldir Soares, por sua vez, vai centrar sua prosopopeia na segurança pública. Foi a cantilena de uma nota só vitoriosa na campanha para deputado federal. Os slogans de campanha “Tolerância Zero” e “45 do calibre e ‘zero-zero’ da algema para o bandido” calaram fundo na expectativa dos eleitores, assustados com a onda de insegurança que assola o Brasil, principalmente nas médias e grandes cidades.
Atualmente, não se discute que as prefeituras devem sim entrar mais diretamente na questão da segurança pública. Ocorre que constitucionalmente a atribuição é dos governos estaduais e governo federal. Prefeitos podem ajudar fazendo seu trabalho de rotina, cuidando bem da iluminação, limpeza de lotes baldios, fortalecendo as guardas municipais. Mas a questão do enfrentamento direto à bandidagem não é com o prefeito.
Portanto, os discursos centrados em obras e segurança pública não dão conta da complexidade de uma capital como Goiânia. Realizar obras e dar maior atenção à segurança são imperativos, claro, mas não bastam. Goiânia quer e precisa de muito mais. E é aí que os outros candidatos podem e estão em condições de apresentar discursos mais adequados aos anseios dos goianienses, visto que são todos eles políticos experientes e articulados.
Giuseppe Vecci é um planejador como poucos no Brasil, um craque numa área em que Goiânia vem sentindo tremenda falta principalmente nos últimos anos, em que a administração municipal vem sendo tocado no improviso, na incipiência. Vanderlan Cardoso é um empresário experimentado, que passou e foi aprovado no teste da administração municipal em Senador Canedo.
Luiz Bittencourt, um ex-deputado estadual e federal de vários mandatos, tem farta experiência política e também se destaca tecnicamente como engenheiro que é. Francisco Júnior é outro experiente planejador, tendo cuidado dessa área quando foi secretário municipal de Planejamento, em 2005, na administração de Iris Rezende. Já Adriana Accorsi tende a vir também com o discurso da segurança pública, ela que igualmente a Waldir Soares é uma delegada de carreira.
Nenhum dos pré-candidatos colocados divulgou pelo menos um esboço de plano de governo, claro. Não é hora disso e nem pode, pelas leis eleitorais. Mas pelas entrevistas, dá para sentir o rumo que cada um vai tomar com mais ênfase na campanha propriamente dita.
E aí caberá aos eleitores goianienses prestar atenção nos discursos que serão apresentados. Apenas mutirão preencherá sua expectativa como cidadão? Apenas a restrita contribuição que a prefeitura pode oferecer na segurança pública resolve a questão?
Ou você, eleitor, quer mais planejamento, que possibilita ganhos sustentados a médio e longo prazos? Você quer uma administração tecnicamente embasada, mais voltada à prestação de serviços de qualidade em termos de limpeza urbana, saúde, educação, lazer e meio ambiente, assistência social e outros itens?
Você decidirá. l