Pela primeira vez no Brasil, o conceito de mundo híbrido entre físico e digital é explorado na política, como faz Ugton Batista

Jair Bolsonaro e Ugton Batista (ambos PL) | Foto: Reprodução

A campanha eleitoral propriamente dita começa em 16 de agosto, com comícios, distribuição de material gráfico e pedidos abertos de voto. Mas, para este pleito, mais do que as tradicionais caminhadas, candidatos analisam o histórico de influência crescente do ambiente virtual e preparam investida especial em novidades como o Metaverso

Com consciência de que a tecnologia ainda não se espalhou para o público geral, candidatos que vão fazer parte de suas campanhas no metaverso afirmam buscar na estratégia a exposição do pioneirismo e chegar cedo para encontrar água limpa. O mundo “figital” (físico e digital) deve deslanchar apenas em alguns anos, com o barateamento dos óculos de realidade virtual e aprimoramento da tecnologia, mas especialistas estimam que as potencialidades da ferramenta são quase inesgotáveis. 

Os concorrentes ao poder público exploram uma zona ainda enevoada para o próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As plataformas dos candidatos que investem no metaverso misturam a estética do videogame com as tradicionais landing pages de marketing digital. Nelas, eleitores têm acesso aos acervos de vídeos, material de campanha, comunicação direta com o candidato (devidamente encarnado em seu avatar – réplica digital com sua aparência real). 

Pioneirismo

Um dos primeiros candidatos a incluir o metaverso em seu projeto de campanha é o aspirante a deputado federal por Goiás, Ugton Batista (PL). Embora a plataforma de Márcio França (PSB), ex-candidato ao governo de São Paulo, tenha sido lançada antes, Ugton Batista afirma que seu projeto é anterior e “uma Ferrari comparada com o Fusca de Márcio França, pois tem muito mais funcionalidades”, em suas palavras. (Márcio França desistiu de disputar o Governo nesta sexta-feira, 8).

Metaverso de Ugton Batista | Foto: Jornal Opção

Ugton Batista mostrou as possibilidades de seu metaverso em entrevista realizada dentro da própria plataforma, onde seu avatar conversou com o Jornal Opção como visitante. O espaço se parece com um jogo de videogame que se passa em um grande museu digital. O usuário pode personalizar seu avatar e enxergar o espaço em primeira pessoa (pelos olhos do personagem virtual) ou em terceira pessoa (vendo o personagem no centro do quadro, como em um filme).  A tela pode ser a de um computador, de um celular (por meio de aplicativo para smartphone), ou idealmente por meio de um óculos de realidade virtual. 

No espaço de Ugton Batista, as paredes estão cobertas por links para seus posts em redes sociais, para fotos e vídeos elogiosos gravados por apoiadores célebres, como o biólogo Richard Rasmussen, o ex-jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho, e políticos como Tarcísio de Freitas e o próprio presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). “As pessoas não querem ter de procurar por vídeos relevantes, elas querem que tudo já esteja selecionado e de fácil acesso”, comenta Ugton Batista. 

Outras funcionalidades ainda serão acrescentadas. “A ideia é realizar comícios, shows virtuais, construir um grupo que tenha uma linha direta de comunicação comigo”, diz Ugton Batista. O pré-candidato a deputado federal antecipa ainda a possibilidade de monetizar a ferramenta para financiar sua campanha. “Podemos vender NFTs e cobrar ingressos de shows para subsidiar a candidatura – tudo de acordo com as normas do TSE para campanha no mundo físico.”

Metaverso de Ugton Batista | Foto: Jornal Opção

Para fazer os eleitores conhecerem seu metaverso, o pré-candidato pretende tornar este seu principal endereço. Enquanto a maioria dos candidatos se faz presente na internet por meio de um perfil nas redes sociais, Ugton Batista quer integrar suas redes e redirecionar os usuários para o espaço, onde o eleitor deve encontrar uma curadoria com os “melhores momentos” do candidato. Além disso, todo material impresso de Ugton Batista, como santinhos, terão um QR Code e endereço para seu metaverso. 

Com isso, o pré-candidato está mirando o público jovem, de 16 a 30 anos de idade. “Em quatro anos, as pessoas estarão aqui”, diz Ugton Batista, em concordância com analistas de mídias sociais e engenheiros da computação. “Esse movimento já está acontecendo, com a investida da empresa Facebook no ‘Meta’. No futuro, pessoas terão empregos no metaverso, atividades cotidianas vão ser feitas no metaverso. Decidi ser o primeiro na política, mas, no futuro, esse movimento acontecerá em massa. Talvez o TSE tenha de criar normas específicas para isso.”

Atualmente, o tribunal encara o metaverso como um site comum onde ficam hospedados banners, vídeos e textos sobre o pré-candidato. Ugton Batista e o programador responsável pelo desenvolvimento de seu espaço digital, Anderson Medeiros, afirmam que, pela novidade, existe pouca legislação específica para o metaverso, e que, por isso, a dupla teve de se deter na exploração das funcionalidades.

Possibilidades

Anderson Medeiros, que desenvolveu o metaverso de Ugton Batista em cerca de 30 dias, afirma ter apresentado a ideia para Tarcísio Freitas, ex-ministro da Infraestrutura e pré-candidato a governador de São Paulo. Segundo o desenvolvedor, a ideia empolgou, e a equipe de plano de governo está estudando possibilidades no Metaverso, para disponibilizar serviços públicos no possível governo de Tarcísio Freitas. A proposta é recriar a cidade de São Paulo dentro do metaverso, onde cidadãos poderão ir digitalmente aos centros de atendimento do Estado para retirar documentos e protocolar outros atendimentos sem sair de casa. A proposta foi confirmada pela assessoria de Tarcísio Freitas. 

As funcionalidades vão ainda além, segundo Anderson Medeiros: “No metaverso, podemos fazer reuniões a qualquer momento com pessoas em todo o mundo. Com câmera ligada, poderemos falar com pessoas, fazer coletivas de imprensa, passar recados, fazer reuniões privativas; enfim, tudo que hoje demanda muito tempo será instantâneo e corriqueiro. Muita gente pensa que o metaverso veio para separar as pessoas, segregá-las em outro meio – mas a realidade é que o metaverso veio para unir os meios digital e físico. Vamos viver em um mundo híbrido, dinâmico.”