Candidatos evangélicos disputam cadeiras e igrejas

18 agosto 2018 às 08h40

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De olho nas vagas da Câmara dos Deputados, concorrentes buscam preferência de líderes religiosos
Felipe Cardoso
Foi dada a largada rumo à Câmara dos Deputados. Com isso, os candidatos que participam da disputa buscam, a todo vapor, o melhor combustível para intensificar os trabalhos e garantirem suas cadeiras no Congresso Nacional. Neste momento, toda ajuda é bem-vinda, principalmente quando por trás das alianças há multidões de apoiadores.
Uma vez que o perfil religioso do brasileiro vem se transformando ao longo dos anos, líderes religiosos aglutinam forças na intenção de dar musculatura à campanha de diversos candidatos. Uma coisa é fato: o Brasil tende a ficar cada vez mais evangélico. Para quem duvida, os números divulgados por institutos de pesquisa mostram o quanto a aceitação deste segmento tem sido maximizada no País.
Em 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que houve uma consolidação do crescimento da população evangélica. Os números comprovam que a quantidade de adeptos cresceu de 15,4% para 22,2% entre 2000 e 2010. Pode até parecer pouco, mas o percentual é sinônimo de um crescimento de aproximadamente 16 milhões de pessoas. Paralelamente, apesar de permanecer majoritário, o número de católicos no Brasil diminuiu.
O resultado do levantamento desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Datafolha apontou que o maior número de evangélicos são frequentadores de igrejas como Assembleia de Deus, Universal do Reino de Deus, Congregação Cristã e Quadrangular do Reino de Deus. Do total, 34% pertencem à primeira.
Tudo isso para se chegar à conclusão de que, em termos quantitativos, apesar de estarem abaixo dos católicos, a igreja evangélica tem ficado cada vez mais encorpada com seus fiéis, que buscam, por diversas razões, a contemplação dos cultos e reuniões promovidos pelo segmento. E é aí que mora o “x” da questão: a igreja sempre demostrou grande interesse em estar presente nas tomadas de decisão da política brasileira.
Ao longo do tempo, pode-se perceber o crescimento de bancadas evangélicas no Congresso Nacional e nos demais parlamentos do País. Pautados pela concentração de poder, deram espaço a figuras adeptas da religiosidade e eleitas para defender os princípios da igreja perante o Estado. Diante do crescimento do número de fiéis e de olho na dança das cadeiras em Brasília, candidatos disputam a preferência de líderes religiosos que possam trazer a segurança necessária para serem eleitos.
Em Goiás, os bastidores foram pautados por muitas conversas, negociações e decisões. Para tornar mais claras as definições estabelecidas pelas lideranças, o Jornal Opção conversou com alguns dos principais nomes que compõem o segmento goiano.
Favoritismo evangélico
Uma das grandes lideranças no estado e candidato à reeleição pelo PSDB é o deputado federal Fábio Sousa. O parlamentar assegura que muitas igrejas estarão ao seu lado na disputa por um novo mandato. “Além da Grande Goiânia e Anápolis, eu tenho o apoio de igrejas como a Fonte da Vida, a Igreja Quadrangular, Igreja de Deus, Luz para os Povos, algumas das Igrejas de Cristo e muitos ministérios independentes.” Em relação aos apoiadores de Anápolis, enfatizou que possui uma frente consolidada, quase unânime.

“Minhas propostas devem representar o Estado como um todo e evidentemente os evangélicos que eu defendo.” Durante a campanha do tucano serão reforçadas as bandeiras em defesa da vida, os valores da família e demais princípios pregados pelos evangélicos. “Isso para mim é inegociável.”
O deputado federal disse acreditar que o político, advindo ou não de uma igreja, não deve representar um segmento específico da sociedade. “É lógico que trazemos na bagagem tudo aquilo que aprendemos e os nossos valores, mas acho importante ressaltar que devemos pensar em representar e trabalhar Goiás como um todo.”
O deputado estadual e membro da Igreja Luz para os Povos, Simeyzon Silveira (PSD), confirmou que a denominação, ou seja, todo o ministério da igreja irá apoiar a candidatura do deputado Fábio Sousa. O parlamentar justificou a afirmação dizendo que essa é uma aliança “fácil de ser estabelecida”, tendo em vista que ele está mais próximo daquilo que a igreja busca. Nos identificamos politicamente com ele e acreditamos que continuará nos representando como igreja”, pontuou.
Outro a declarar integralidade por parte da igreja foi o pastor da Universal do Reino de Deus e deputado estadual Jeferson Rodrigues, do PRB. Segundo ele, 100% da igreja está com o deputado federal João Campos (PRB). “Em todo o Estado de Goiás, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, onde houver uma Universal, seu núcleo estará com João Campos.”
Para confirmar as informações declaradas por Jeferson Rodrigues, a reportagem conversou com outros líderes da Igreja Universal. Rogério Cruz (PRB), que é pastor e vereador por Goiânia, ainda que timidamente, salientou que irão apoiar a candidatura de João Campos. Inicialmente, o vereador declarou que “não é de costume” falar que o deputado federal é o candidato da Universal, pois ele é da Assembleia de Deus. Posteriormente, porém, disse que a igreja “com certeza” apoia a candidatura de João Campos.
Por sua vez, o coordenador estadual da Universal, Ricardo Quirino, apesar de avaliar positivamente a relação da igreja com o federal, disse que os fiéis permanecerão livres para apoiar quem quiserem. “Temos uma proximidade maior com João Campos, mas não faremos nenhuma indicação a fim de que os fiéis escolham ele ou qualquer outro candidato”, garantiu. “Entre as opções, talvez o candidato seja o mais viável, devido à sua proximidade e afinidade com a comunidade evangélica.”
Outro notório líder religioso do estado é o pastor Oídes José do Carmo. Ele, que está à frente dos trabalhos da Assembleia de Deus Campo de Campinas, assegurou que, oficialmente, a igreja apoia a reeleição de João Campos. “Nunca existiu uma imposição pela unanimidade, mas ele é o majoritário e temos trabalhado nesse sentido. É um candidato que está no quarto mandato e, além de ser um deputado atuante em Brasília, construiu um bom relacionamento no Congresso e defende pautas que compactuam com os nossos ideais.”

Apesar de apoiar a reeleição do federal, Oídes ressaltou que Glaustin da Fokus (PSC) tem uma “boa aceitação” no meio evangélico, inclusive dentro da própria Assembleia de Deus. “Não é à toa que ele pertence ao PSC, um partido com expressão positiva no meio evangélico.”
Trata-se de um empresário, agropecuarista e pastor que comanda o Grupo Fokus e a Adoralle Alimentos. Glaustin é conselheiro na Associação Goiana de Supermercados (Agos) e diretor da Associação de Distribuidores e Atacadistas de Goiás (Adag). Irá pleitear a vaga de deputado federal pela primeira vez.

“Escolhi o caminho da honestidade e do merecimento, da luta e da fé. Devemos fazer aquilo que temos vocação e a minha é gerar empregos e promover o desenvolvimento das pessoas”, afirma Glaustin ao definir a empregabilidade como forma de fortalecer a economia do Estado a partir dos municípios.
De acordo com o pastor e presidente do PSC, Eurípedes do Carmo, Glaustin é um “empresário bem-sucedido” e possui uma “boa estrutura” para desenvolver sua campanha “com êxito”. Disse, ainda, que têm trabalhado incansavelmente para levar o nome do candidato a todos os lugares. Ao ser questionado sobre o envolvimento da igreja, argumentou: “Em função do nosso relacionamento com a comunidade, temos uma penetração interessante no meio evangélico. Porém, o nome do candidato é tido com aceitação em todos os demais segmentos”.
Glaustin da Fokus também possui projetos em defesa dos interesses da família goiana. Por essas e outras razões, obteve apoio de alguns campos das Assembleias de Deus do Estado. “Por questões de afinalidade, de compartilhar os mesmos ideais e objetivos, optamos por apoiar a candidatura do Glaustin. Acreditamos que ele será capaz de defender os interesses não só da igreja, mas de toda a sociedade”, afirmou o pastor da Assembleia de Deus do Ministério Madureira e presidente da Associação de Pastores de São Simão, Arnon José Afonso.

Arnon sublinhou que cada uma das igrejas poderá optar pelos seus candidatos, mas a orientação recebida pelo conselho da Assembleia de Deus é que escolham entre João Campos e Glaustin da Fokus.
Outro nome a pleitear o cargo em Brasília é o vereador Oséias Varão. Atualmente, possui apoio somente do Ministério Fama da Assembleia de Deus. Porém, não deixou de considerar a possibilidade de ampliar as alianças. Oséias garante que irá trabalhar para despertar a atenção dos fiéis por meio de uma campanha diferente do padrão tradicional. “Vou me aproximar do eleitor com propostas diferentes. Entendo que os dois maiores desafios da administração pública são o combate à corrupção e a eliminação da má gestão dos recursos públicos. Esses são os dois gargalos que consomem grande parte do dinheiro que é arrecadado do povo e que precisa ser trabalhado.”

Tendo em vista a estreita relação com os demais ministérios, Varão assegurou que as pessoas que são de fora do segmento tendem a pensar que os fiéis seguem cegamente as opiniões de seus líderes. “Mas não é assim. Muitos possuem suas convicções. É preciso conquistá-las. Nesse sentido que irei trabalhar. Quero conquistar as pessoas através de minhas propostas e do meu perfil.”
Quanto à Igreja Quadrangular, alguns pastores possuem simpatia por Fábio Sousa, outros por João Campos e alguns por Jeovane Lopes, que já divide também as preferencias da igreja, explicou Frederico Bispo (Patriota), candidato a deputado estadual e membro da Quadrangular.
Candidato pelo PHS, Jeovane Lopes busca ganhar musculatura na disputa e destacou ao que, apesar de ser membro da Quadrangular há mais de 15 anos, tem o apoio de várias outras igrejas, sendo elas a Igreja Cristã Evangélica, Igreja de Deus, Assembleia de Deus, Maná Celeste, Família de Deus e outros campos. “Não quero citar nomes para não complicar ninguém, mas tenho um grande apoio político. Minha maior base é aqui em Goiânia, especialmente na região do Conjunto Vera Cruz”, pontuou.

De acordo com Jeovane, apesar de pertencer ao segmento evangélico, caso eleito não irá fechar as portas ou deixar de trabalhar em prol dos demais membros da sociedade. “Quero ser um deputado que represente o povo, não só os evangélicos. Por isso, ao decorrer da campanha irei apresentar propostas em defesa do servidor público, dos direitos e valores da família, combate a dependência química e outras que serão estudadas.” Na disputa pelo mandato eletivo em outubro deste ano, o PHS lança também os nomes de Daria Cristina, Dr. Osório e Marcelo Augusto, todos pertencentes ao meio evangélico.
Quanto às articulações da Igreja Videira, o pastor Aluízio Silva foi pontual: “Para deputado federal a Igreja Videira não apoia ninguém, e não há possibilidade de optarmos por apoiar nenhum dos nomes postos ao decorrer das próximas semanas”.