Bom uso das redes sociais garante eficiência na campanha

27 fevereiro 2016 às 12h06

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Internet é a grande ferramenta para quem quer levar sua mensagem e se apresentar para sua excelência, o eleitor

Cezar Santos
Comícios, carreatas, passeatas, carros de som propagando textos e músicas irritantes, farta distribuição de “santinhos”, shows com artistas populares… Essas e outras ações fazem parte do passado nas campanhas eleitorais, seja por proibição expressa na atual legislação eleitoral, seja por ineficiência mesmo, por demandarem muito esforço com pouco ou nenhum retorno. Se há um bom tempo o mundo ingressou definitivamente na era digital, na política, então, a virtualidade é o que conta.
Fazer campanha política na internet, utilizando suas várias ferramentas, é um imperativo. Pode-se dizer sem medo de errar que, a não ser em localidades minúsculas, candidato que não tiver presença de forma inteligente nas redes socais estará fora do jogo. A pena, sem dúvida, será passar em brancas nuvens na percepção do eleitor, com o risco real de perder a eleição.
Talvez a grande prova do sucesso no uso das redes sociais em Goiás foi dada no ano passado, com o candidato tucano a deputado federal Delegado Waldir, que fez campanha praticamente apenas na internet. Sucesso absoluto: Waldir foi o mais votado para a Câmara Federal, estabelecendo um recorde que deve demorar a ser batido em Goiás, com mais de 274 mil votos.
O candidato tucano era assíduo no Facebook, postando mensagens principalmente sobre segurança pública, o que atraiu uma legião de admiradores que cravou seu número nas urnas. A campanha de Waldir Soares tornou-se o que se chama de “case”, um exemplo de como utilizar a rede social numa eleição.

Diogo Luz: o espaço virtual é a praça pública da era moderna
Ferramentas
As principais ferramentas da internet para os candidatos são as páginas eletrônicas, ou sites, e o que se pode considerar a cereja do bolo, perfis nas redes sociais, que são websites cujo objetivo é reunir pessoas e incentivar a intera-ção/comunicação entre elas. Considerando as redes sociais como um conglomerado de pessoas, ou seja, possíveis eleitores, é um ambiente propício para abordar e atrair novos eleitores e manter e reforçar os já convictos.
Essas redes ganharam grande popularidade no Brasil e no mundo. Atualmente, o Facebook é a maior e mais famosa rede social. Há outras redes, como o Twitter, para compartilhamento rápido de informações; o Youtube, para compartilhamento de vídeos; Google+, para interação total com amigos e conhecidos. Há mais e um bom profissional na área vai saber indicar as mais adequadas ao cliente.
De forma inteligente e sem ostensividade definidamente eleitoral, sem pedir voto diretamente, o pretenso candidato, ou pré-candidato, pode trabalhar praticamente em tempo integral, de qualquer lugar, utilizando as facilidades do celular para aparecer, participar de debates, postar conteúdo e conclamar seguidores a se posicionarem.
O risco — e sempre há esse risco — é não se preparar adequadamente, cometer barbeiragem, fazer besteira, entrar de forma atabalhoada em temas polêmicos. Ou seja, se o candidato não souber se comportar, se cometer excessos e não tiver preparo, vai se expor e mostrar sua fragilidade. Nesse caso, as redes sociais vão se tornar sua inimiga.
Para evitar ou minimizar esse risco, existem profissionais e empresas que prestam serviço de alto nível aos pré-candidatos. Esses profissionais podem definir quais as melhores ferramentas, as mais produtivas e a melhor forma de utilizá-las. Detalhe importante: o candidato deve ter também profissionais que produzam conteúdo, porque é importante que o material a ser colocado na rede seja de bom nível, compatível com a imagem e o interesse do candidato.
Profissionais e empresas
Em Goiás, há empresas e profissionais que podem ajudar os candidatos a otimizarem suas campanhas. E isso com um diferencial importante: fazer campanha eleitoral na internet pode ser — é quase sempre é — mais em conta que a forma tradicional. Outra grande vantagem é que na rede, o candidato não fica limitado aos prazos do calendário eleitoral determinado pela Justiça Eleitoral.
O jornalista Paulo Bittencourt é um veterano do marketing político tradicional e, mais recentemente, digital. Do alto de sua experiência, com campanhas realizadas em Goiânia e no interior, Paulo é peremptório: “Fora das redes sociais, pelo menos por enquanto, não há salvação. Em síntese: candidato que não souber usar bem ou usar de forma amadora as redes sociais está frito”.
Se trabalhar um candidato conhecido é teoricamente mais fácil, Paulo Bittencourt diz que a virtualidade, por todas as suas vantagens de instantaneidade, oferece um alento aos novatos. “A internet é fundamental no embate contra adversários que têm recall por terem se estabelecido no cenário político há mais tempo. O novato pode aparecer, difundir sua imagem também.”
Paulo diz que na eleição deste ano, políticos e profissionais de marketing não têm mais o direito de utilizar as mídias sociais como plataformas experimentais ou secundárias, como aconteceu em eleições anteriores. “A internet entrou para valer na ordem do dia”, reforça.
Por isso, diz Paulo Bittencourt, é nas redes que o grande debate político já está sendo travado, quem sabe até suplantando no curto prazo a hegemonia da televisão, que já dura décadas. “Não só deflagrou-se o processo de democratização do conhecimento como também percebemos, com grata surpresa, que houve a incorporação de novos personagens e agentes às discussões que concernem às pautas do nosso cotidiano.”
Outro aspecto importante das mídias digitais apontado pelo jornalista é a possibilidade de estender a discussão entre políticos e a população para além do período eleitoral, que está cada vez mais curto.
E é bom não esquecer, a portabilidade proporcionada pelos celulares smartphones potencializa a campanha. O jornalista lembra que para os próximos cinco anos, a estimativa é de que haja 5,5 bilhões de telefones celulares com acesso à internet pelo mundo afora, o que é mais do que o número de pessoas que têm, por exemplo, acesso a eletricidade (5,3 bilhões). “No Brasil, seremos 80% nos próximos anos.”
O escritor Umberto Eco, há pouco falecido, dizia que as redes sociais deram voz à turba de idiotas que antes só vomitavam bobagens em mesas de bar. Paulo Bittencourt diz ver a questão sob outro ponto de vista, bem mais positivo: as redes sociais amplificaram boas ideias e bons debates que antes ficavam restritos a pequenos grupos.
Potencializar a comunicação
Formada por dois profissionais experientes, os jornalistas Britz Lopes e Diogo Luz, a Polítika Pesquisa e Comunicação é uma nova empresa na área. Diogo informa que o trabalho da Polítika começa por analisar o que o cliente já tem, os perfis, a forma como atua, e a partir daí se começa a desenhar a consultoria para fazê-lo se comunicar melhor.
“Normalmente o candidato já se comunica, mas na maioria dos casos, se comunica mal. Alguns não se adaptam à internet, exageram nas fotos, no tamanho de textos e dos vídeos. Analisamos isso, damos uma identidade visual ao candidato e vamos utilizando ferramentas modernas para otimizar a comunicação dele e a interatividade com o eleitor”, diz o jornalista.
Ele lembra que a “aposentadoria” de recursos como carro de som, foguetes e comícios dá cada vez mais espaço para as mídias digitais. “E com a nova legislação, que encurta o prazo de campanha, a pré-campanha assume importância maior, e mais coisas são permitidas na internet.”
Diogo Luz teoriza que o espaço virtual tornou-se a praça pública da era moderna, onde as discussões são travadas. É muito raro, diz, que alguém tenha perfil nas redes sociais e não discuta com a família e os amigos alguma notícia ou ação difundida na internet.
Essa situação facilitou o contato do político com o cidadão, que antes só tinha acesso pelo que saía em jornal, rádio e televisão. “Hoje o cidadão tem acesso a tudo o que o político faz praticamente 24 horas por dia. Isso é bom, mas pode ser ruim no caso do político que não sabe se comunicar bem. Se ele for repetitivo, chato, vai ser negativo. Então, o candidato tem de se comunicar bem, de forma clara e buscando uma interação com o eleitor.”
“2016 será o divisor de água na política”

Carlos Willian: ferramentas certas potencializam a mensagem
André Moraes, da Tuddo Web, presta serviços virtuais a corporações e também a candidatos, tendo atuado em campanhas eleitorais dando consultoria, coordenação e planejamento. Ela lembra que a tecnologia é simplesmente imprescindível para buscar o voto dos eleitores, principalmente em um cenário de concorrência acirrada. E tecnologia significa assessoria qualificada de empresas e profissionais preparados. “Não dá mais para fazer campanha política sem falar em HTML, PHP, CSS, etc. Um bom desenvolvedor é necessário”, afirma.
Como consequência, outro fator importante é a equipe. Segundo André, não tem como improvisar com curiosos ou gente apenas bem-intencionada. Os candidatos vão precisar de equipes que se dediquem exclusivamente no digital. “Não fuciona na base do ‘jeitinho’ aproveitando profissional de off no on. E 2016 vai ser o divisor de águas nisso.”
Ele aponta como um fator extremamente importante para quem quiser ter sucesso na grande rede mundial nessa campanha o já estar trabalhando, ou seja, a antecedência. André lembra que um bom resultado depende diretamente da quantidade de ‘leads’/contatos gerados pelo político. “Com a recente reforma eleitoral (que diminuiu o tempo de campanha), será impossível criar uma boa base, e consequentemente um bom alcance, só durante a campanha. Os candidatos vão ter que se antecipar. Na verdade, já devem estar trabalhando.”
Nesse sentido, também será importante o monitoramento do que é dito sobre assuntos de interesse do candidato/partido. Monitoramento, lembra o profissional, deverá ser feito em tempo real, com relatórios diários. “Com a quantidade de concorrentes nas mídias sociais, ficar sem monitoramento será, literalmente, trabalhar no escuro.”
Se há certo fascínio pela postagem de vídeos, André Moraes diz que é preciso cuidado com esse recurso. Quem souber fazer vídeo com a linguagem da internet terá vantagem. Não adianta pegar programa de TV, por exemplo, e sair postando nas mídias sociais “Isso não terá efeito considerável.”
Atenção com a mídia móvel é um imperativo, visto que praticamente todo mundo tem celular. É o tal Mobile. “Quando falo de Mobile, não falo ‘apenas’ do formato (responsividade, legibilidade, tempo de carregamento de site, etc), falo também de WhatsApp, Periscope, Instagram… que são mídias sociais nativas do Mobile. Formato e timing do mobile são diferentes do desktop e notebook.”
O profissional dá uma dica importante aos candidatos no que diz respeito a conteúdo: usar o humor. Mas não o humor de qualquer jeito. “Não estou falando de qualquer humor, tem que ser humor memetizado. Humor que não viraliza tem pouco efeito prático. E o humor também vai ser muito utilizado para desconstrução de imagens, para atacar os adversários.”
Por fim, o técnico dá outra dica importante, sobre o uso de E-mail Marketing, que muita gente considera uma mídia ultrapassada. Ele diz que quem desconsiderar o e-mail nessa campanha achando que é coisa antiga vai se autossabotar. E dá um toque importante para quem acha que entupir a caixa de mensagem do eleitor com e-mail rende voto: spam também é autossabotagem.
Carlos Willian Leite é um dos mais requisitados profissionais goianos na prestação de serviços de redes sociais a políticos e empresas. Teve e tem em sua carteira de clientes governadores e vices, senadores, deputados federais e estaduais e prefeitos tanto em Goiás quanto em outros Estados – está sendo sondado pela senadora Marta Suplicy, pré-candidata à Prefeitura de São Paulo.
A Eureka Comunicação de Carlos Willian e seu sócio administra nada menos que 15 milhões de perfis nas redes sociais Facebook, Twitter e Instagram. Ele ressalva que a rede social é a forma mais econômica que existe para divulgação de imagem. “Nenhuma outra mídia atinge tantas pessoas. Um dado interessante nisso: de cada dez usuários de internet, um tem Twitter, um não tem nada e oito têm Facebook. A pessoa, por mais simples que seja, está no Facebook.”
Willian diz que o Face hoje, depois da televisão, é a mídia que mais aparece, sendo mil vezes mais barato que a TV. Só que na TV, há limitação de uso, a Lei Eleitoral não permite inserções promocionais de candidatos. Mas no Face é completamente liberado. “O candidato pode divulgar suas ideias por um preço muito mais acessível, pelo menos até o dia 3 de junho (data das convenções).”
O jornalista se refere ao fato de que o Facebook aceita inserções pagas, posts patrocinadose páginas sugeridas. O perfil puro e simples é gratuito, mas só atinge 16% dos seguidores. Quando é página simples, o resultado é ainda menor. A forma de contornar isso é criando estratégias no Facebook, através de ações pagas.
Umas das ações mais eficazes, diz Carlos Willian, é a geolocalização. Ele dá um exemplo: é possível o candidato atingir um bairro específico na cidade. “Vou descobrir quantas pessoas daquele bairro são usuários do Facebook, e mando para aquela região específica a mensagem do candidato com o conteúdo que ele acha adequado.”
O controle desses públicos é uma arma poderosa. Em Goiás, que tem mais de 6 milhões de habitantes, há cerca de 3 milhões de usuários do Facebook, informa Willian. “Conse-gue-se geolocalizar esse público, direcionando as ações que convêm ao candidato. Pode-se concentrar a ação num bairro, numa região, numa cidade, no Estado. O espaço virtual é um oceano. Não adianta jogar a mensagem de qualquer jeito nessa vastidão.”
Carlos Willian não trabalha com marketing digital especificamente, mas sim com redes sociais. Por isso, depende da estrutura de comunicação do próprio político para produzir conteúdo. Ele é um profissional de redes sociais, que sabe a melhor hora de postar para atingir a máxima eficiência, por exemplo. “Há toda uma estratégia de horários, baseada nos perfis de uma página. Há uma parafernália de ferramentas que nos dá isso com muita precisão.”
Mas para isso é preciso um profissional que conheça essas nuances. “Não faço a mensagem do candidato. Não sou estrategista político. Sou o vetor da mensagem, não crio. O candidato deve ter seu jornalista, seu profissional de comunicação próprio ou terceirizado que elabore o conteúdo a ser jogado na rede social, que é a nossa parte.”
Willian lembra de um político conhecidíssimo em Goiás que tinha uma página no Facebook havia quatro anos, com 10 mil seguidores. Com dois meses trabalhando para este político, Willian lhe deu mais 20 mil seguidores. É uma mostra da eficiência no uso das ferramentas adequadas, potencializando o alcance de usuários.
O fato é que não dá mesmo para dispensar a internet na caça ao voto. Quem faz bom uso sai na frente. Empresas e profissionais para ajudar os candidatos estão aí no mercado. A sorte está lançada.