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14 fevereiro 2015 às 10h18

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A partir do quadro de recessão pintado pelas novas autoridades econômicas em Brasília, Prefeitura e governo do Estado prometem apertar os cintos

Afonso Lopes
Sentiremos saudades de 2014 e desejaremos que 2016 seja antecipado pelo menos uns seis meses? Difícil responder essa pergunta. O cenário recessivo montado em Brasília, com inflação em alta, crescimento negativo e dólar em disparada, a constatação mais óbvia é que a tal marolinha que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizia que seria o impacto da crise no Brasil era na realidade um tremendo tsunami que pode agora varrer o otimismo de norte a sul, leste a oeste. Aliás, já está varrendo, apesar do clima de carnaval e feriado prolongado. A perspectiva de quarta-feira de cinzas está logo aí.
Os governos de Goiás e de Goiânia anunciaram cortes em suas estruturas para enfrentar a onda monstruosamente negativa que se aproxima velozmente. Isso é bom, sem dúvida. No Brasil, os governos, todos eles, tendem a crescer mais do que podem quando os tempos são favoráveis, e precisam corrigir a rota quando as coisas se complicam. Mas é exatamente nas horas de dificuldades que surgem soluções bem plantadas e inteligentes, embora doloridas.
Tamanho
Qual é realmente o tamanho da crise financeira do Estado e da Prefeitura de Goiânia? Ninguém sabe. Ou melhor, tem quem saiba exatamente a dimensão do problema, mas as administrações públicas são políticas, e é evidente que isso limita a zona de conforto dos governantes quando os assuntos não são nada positivos. Não só no Brasil, mas em todos os lugares do mundo. Na Grécia, por exemplo, o novo governo foi eleito dizendo que daria uma banana para a comunidade financeira da Europa, mas agora começa a rever o discurso.
De qualquer forma, existem sinais emitidos pelas autoridades que podem ser captados e interpretados. Na sexta-feira, 13, em um artigo publicado pelo jornal “O Popular”, a secretária da Fazenda, Ana Carla Abrão Costa, resumiu o tremendo esforço que será feito este ano com uma só frase: “O Estado (governo) deve caber dentro de Goiás”. Durante a semana, o prefeito Paulo Garcia divulgou alguns pontos da reforma administrativa que ele pretende enviar para votação na Câmara dos vereadores. Ele quer cortar nada menos que 10 secretarias. Ou seja, a frase de Ana Carla veste como uma luva perfeita também, no caso: “A Prefeitura tem que caber em Goiânia”.
Esse é o lado, digamos, positivo da visão administrativa que está colocada para este 2015. Administrações financeiramente bem comportadas são sempre muito bem-vindas. O problema é que para se chegar a isso a dor não é pequena, e politicamente costuma ter altíssimo custo. Paulo Garcia já deve ter colocado as barbas de molho. Alguns setores da sua suposta base de sustentação estão francamente inquietas. No Estado, certa dose de insatisfação se tornou pública, através de aliados como o deputado federal e presidente regional do PTB, Jovair Arantes, e tucanos ligados ao Palácio, como Antonio Faleiros e Carlos Alberto Leréia. O governador Marconi Perillo teve que manter o pulso firme para suportar as pressões, e resumiu sua posição ao dizer que sempre foi ajudado pelos amigos/companheiros, mas sempre também os ajudou. Ou seja, o que terá que ser feito, será feito.
Necessidade
E existe mesmo essa necessidade de promover cortes tão profundos como os que estão sendo elaborados no Estado e na Prefeitura? Sem dúvida nenhuma. O Estado, conforme declarações oficiais, convive com um déficit mensal de R$ 100 milhões desde o ano passado. A Prefeitura chegou a extrapolar os limites legais dos gastos com folhas de pagamento e viveu uma crise cotidiana imensurável nos últimos dois anos, quando se apresentou um rombo orçado em R$ 40 milhões por mês. Isso significa que apenas para empatar, a Prefeitura teria que gastar quase meio bilhão a menos este ano, e o Estado, mais de 1 bilhão e R$ 200 milhões.
Paralelamente a esses quadros negativos, existem ótimas notícias. A economia de Goiás tem uma extraordinária capacidade de se recuperar. Marconi Perillo sabe disso como ninguém. E sabe também que se não segurar as pontas agora, vai passar mais tempo na UTI financeira. E o governo não está parado. Agora mesmo, o vice-governador José Eliton, ainda no exercício do cargo de governador, esteve na região norte do Estado entregando equipamentos para cooperativas de produtores e leite e de mel. Coisa não muito grande financeiramente, em torno de R$ 700 mil, mas suficientes para incrementar mais um pouquinho a economia doméstica de suas três mil produtores. Enquanto isso, em sua viagem à Europa, Marconi adoçou a boca dos empresários franceses e, principalmente, italianos, ao revelar que, apesar do pibinho nacional dos últimos dois anos, a economia de Goiás cresce em ritmo chinês, batendo nos 5% em 2014. Isso soa como música nos ouvidos de qualquer empreendedor. Aqui ou lá fora.
Já Paulo Garcia desencadeou uma agenda positiva de obras, ao anunciar o avanço de mais uma etapa no complexo e imenso parque Macambira-Anicuns e o prolongamento da avenida Marginal Botafogo. Quanto ao déficit, a promessa é que as coisas vão entrar nos eixos.
Em resumo, talvez seja, sim, correto imaginar que sentiremos saudades de 2014 e desejaremos que 2016 chegue rápido. Mas se as lições de casa que estão em curso forem completadas, talvez as dores de 2015 representem somente o parto de uma década de anos bem melhores e mais produtivos. De qualquer forma, é uma prova de fogo. Marconi já provou, ao longo de seus mandatos, ter determinação suficiente para corrigir rumos. Paulo Garcia terá agora que provar que não é diferente. E ambos buscam solução interna, ao contrário do que tem feito o governo federal, que pretende avançar sobre os nossos bolsos para corrigir os erros provavelmente originados com a estúpida interpretação de que o tsunami era somente uma marolinha.