Medicamentos milagrosos, que prometem curar qualquer tipo de vírus ou doença, inclusive, o próprio câncer ou HIV, causador da AIDS. Há também produtos para dar um jeito na timidez, indicado para pessoas com problemas sociais. O preço de 100 ml do remédio “cura tudo” que a própria medicina não conseguiu alcançar? Apenas R$ 30, mas o frete é por conta do comprador. 

Os anúncios diários de remédios surreais, no qual o Jornal Opção teve acesso, fazem sucesso nas plataformas digitais. Os vendedores também garantem, além da cura de pelo menos 23 diferentes doenças e vírus, que os produtos não são prejudiciais ao organismo, visto que são feitos de raízes, folhas e cascas de determinadas plantas. 

“Envio para todo o Brasil. Indicado para inibir os efeitos colaterais das vacinas e vírus de todas as espécies, regenera o DNA, HIV, herpes, câncer, limpa o sangue e o intestino”, afirma trecho de uma das várias publicações. 

A prática, conhecida como curandeirismo, porém, é uma modalidade de estelionato, onde os responsáveis também podem responder pelo exercício ilegal da medicina. Os anúncios, inclusive, escancaram a audácia por parte dos estelionatários, nos quais, enganam a vítima para obter algum tipo de vantagem, na maioria das vezes em dinheiro. 

Em Goiás, por exemplo, foram registradas 35.686 vítimas de golpes apenas em 2023. Conforme os dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), por hora, pelo menos oito pessoas foram induzidas ao erro por criminosos entre janeiro e junho. O número equivale a 198 casos por dia ou 5.947 vítimas ao mês. 

Publicação do Facebook. (Foto: Reprodução/redes sociais)

Golpes mais comuns 

Entre os golpes mais comuns, conforme o delegado Leonardo Dias, do Grupo de Repressão a Estelionatos e Outras Fraudes (Gref) da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), se destacam o novo número, falso intermediário e falsa central telefônica. Entretanto, mesmo que sejam distintos, os três têm algo em comum: o uso de plataformas digitais.

No golpe do falso intermediário, por exemplo, o criminoso atua como “intermediário” na negociação. Segundo Leonardo, após identificar algum produto ou serviço a venda (por rede social, site de anúncio, grupo de WhatsApp), o criminoso começa a anunciar o mesmo bem só que por um valor abaixo do de mercado, atraindo potenciais compradores. 

Em seguida, ao ser procurado pelos compradores, o criminoso faz contato com o real vendedor e agenda uma visita ou demonstração, pedindo tanto ao comprador quanto ao vendedor que silenciem sobre as condições de pagamento e preço. Ao firmar o acordo e termos da negociação, o criminoso pede que o comprador faça o pagamento na conta por ele indicada.

“Nesses golpes é muito comum que o criminoso diga que o produto que está sendo negociado faz parte de algum outro acordo ou dívida e que será dado como forma de pagamento. É necessário sempre desconfiar de preços abaixo dos comumente praticados e somente fazer pagamentos em conta do proprietário do bem a ser comprado”, orientou o delegado.

Novo número

Nesta modalidade, de acordo com Leonardo, o criminoso envia mensagem de texto (geralmente pelo WhatsApp) para a potencial vítima, se passando por familiar, geralmente algum filho (a). O criminoso, então, alega que trocou de número em razão de problemas no aparelho celular.

A vítima, ao continuar a conversa, acaba fornecendo informações sobre o nome da pessoa por quem o criminoso está se passando, parentesco, situações ou ocasiões em que estão vivenciando no momento, facilitando o golpe.

O delegado conta que após “fisgar” a vítima, ganhando sua confiança, o criminoso alega estar com algum tipo de dificuldade em realizar pagamentos (boleto, PIX, depósito) e, então, pede para que a vítima faça algum tipo de transação.

“Essa primeira transação, em geral, é de valor mais baixo, como forma de testar a vítima. Sempre é preciso tentar outra forma de confirmação além do WhatsApp, seja por ligação de áudio ou vídeo. Tentar contato com o familiar ou amigo pelo número ‘antigo’ é uma forma de verificar se efetivamente houve a mudança”, explicou. 

Falsa central telefônica

O investigador da Gref diz que a falsa central telefônica consiste na atuação dos criminosos como se fossem funcionários de instituições financeiras, onde eles entram em contato alegando que a conta ou cartão da vítima foram clonados ou estão sofrendo ataques hacker. 

Após a ligação, eles simulam uma nova conversa com o número de telefone do banco e, novamente, se passando por funcionários, pedem que a vítima digite no teclado sua senha e entregue seu cartão bancário a um motoboy, que o coleta na própria residência.

Este golpe, no entanto, possui uma variação chamada “mão fantasma” ou “golpe do espelho”, conforme Leonardo. Ao invés de pedirem que a vítima entregue seu cartão ao motoboy, solicitam que instale um aplicativo de acesso remoto, também conhecido como “espelhamento de tela”.

“Ao instalar esse aplicativo, solicitam que acesse seu banco por meio do celular e, dessa forma, os golpistas conseguem obter os dados bancários. Nunca deve se informar ou digitar senhas por telefone em ligações recebidas de suposta central. Caso precise descartar o cartão, sempre é necessário quebrar o chip. Em caso de dúvida, é preciso procurar a agência bancária”, concluiu.