Incluindo relacionamentos passados, Amanda Partata Mortoza, já fingiu estar grávida por cinco vezes. E ela ameaçava desde julho o ex-namorado Leonardo Pereira Alves Filho, filho e neto das vítimas que morreram envenenadas no dia 17 de dezembro, depois de tomar café com ela. As revelações foram feitas na coletiva da Polícia Civil (PCGO) que delineou as conclusões sobre o caso.

Amanda está presa, suspeita de ter assassinado Leonardo Pereira Alves e a mãe dele, Luzia Alves. Ela usava perfis falsos em redes sociais para fazer ameaças ao ex-namorado. “Depois não adianta chorar em cima do sangue deles não”, dizia uma das mensagens, segundo apontou a conclusão da investigação apresentada pela PCGO nesta sexta-feira, 29.

Ela comprou o veneno uma semana antes do crime, sobre o qual, segundo a Polícia Civil, não há dúvidas quanto à autoria. “Tem nota fiscal da compra no nome dela, tem o recebido da entrega e têm vídeos dela transportando as substâncias”, disse o delegado Carlos Alfama. Nos últimos cinco meses, Leozinho, como se referiu os investigadores sobre o ex-namorado, recebeu mais de cem ligações de ameaças.

No dia do crime, conforme relato da polícia, Amanda colocou veneno nos doces, nos sucos e nos pães servidos durante o café da manhã em família. Leonardo e a mãe dele, Luzia, se serviram dos produtos e começaram a ter dores abdominais e vômito poucas horas depois. Eles chegaram a ser internados, mas não resistiram e morreram no hospital. A investigação foi realizada pela Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH) de Goiânia.

O veneno, de acordo com as autoridades policiais, foi adquirido online, com uma nota fiscal em nome da advogada. A substância foi despachada para a residência da suspeita em Itumbiara, município no Sul de Goiás. No entanto, um dia antes do crime, enquanto Amanda se encontrava em Goiânia, ela supostamente solicitou que uma funcionária de sua residência enviasse a substância, contida em uma caixa de papelão, para o hotel onde estava hospedada.

Foram mais de 50 horas de vídeos de câmaras de segurança analisados. Assim, ficou comprovado a autoria do crime, a forma como foi feito e a substância utilizada no envenenamento. Segundo a investigação apontou, foram usadas 100 gramas de veneno líquido para intoxicar as vítimas.

Em nota, a defesa de Amanda afirmou que aguarda o desdobramento da investigação para se manifestar manifestar “quanto ao teor das imputações declinadas pela Autoridade Policial” (confira ao final na íntegra).

O médico Leonardo Pereira Alves Filho quebrou o silêncio sobre o caso na tarde de terça-feira, 26, após prestar depoimento às autoridades policiais. Ao expressar seu pesar pela perda de seu pai e avó, Leozinho afirmou que jamais imaginou algo que pudesse justificar “tamanha brutalidade”.

Como foi o dia do crime

No dia em que comprou o veneno, Amanda chegou a questionar o ex-namorado sobre o maior medo que ele sentia e perguntou se ele sentia mais medo de morrer ou de perder quem ama. Como ela sabia que ele era bastante apegado à família, resolveu matar os familiares para afetar o ex-namorado emocionalmente. Isso tudo porque ela não aceitava o término do relacionamento.

Na manhã de domingo, Amanda Partata dirigiu-se à residência da família de seu ex-namorado, levando consigo um café da manhã completo, composto por pão de queijo, biscoitos, suco e bolos de pote de uma renomada doceria em Goiânia.

Imagens de câmera de segurança registraram Amanda recebendo a substância venenosa, embalada em um pacote, enquanto está no elevador. Em seguida, ela chega ao quarto de hotel e verifica o que está dentro do pacote (veja abaixo).

Na casa estavam presentes Leonardo Pereira Alves, pai do ex-namorado, Luzia Tereza Alves, avó do ex-namorado, e o marido de Luzia. Dentre eles, apenas o último membro da família não participou do café da manhã, por ser diabético. Uma imagem capturou o momento em que Amanda estava à mesa, próxima aos quitutes, doces e suco, que, conforme as autoridades policiais, estariam contaminados.

No dia seguinte, a Polícia Científica esteve no local do crime. “Durante a perícia, Amanda, sem sequer ser intimada, vai até o local acompanhar o trabalho da polícia. Tudo foi registrado por imagens”, completou o delegado.

Nota da defesa de Amanda na íntegra

Os advogados que representam a senhora Amanda Partata informam que aguardam os desdobramentos das investigações, cujo trâmite é sigiloso, para se manifestar quanto ao teor das imputações declinadas pela Autoridade Policial.

Quanto a prisão da senhora Amanda Partata consideramos que se efetivou de forma ilegal na medida em que realizada no período noturno em hospital onde se encontrava internada sob cuidados médicos.

Destaque-se, ainda, que a senhora Amanda Partata compareceu voluntariamente à Delegacia de Investigação de Homicídios, entregou objetos e documentos e, por intermédio de seus advogados, deu plena ciência à Autoridade Policial da sua localização e estado de saúde. As medidas judiciais para preservação e restabelecimento da legalidade serão adotadas oportunamente.

Quem é Amanda Partata

Psicóloga, terapeuta e advogada são algumas das profissões que Amanda Partata Mortoza afirmou exercer pelas redes sociais. Após as investigações, no entanto, ficou comprovado que ela era apenas advogada e estava cursando Psicologia.

Amanda não possui registro ativo no Conselho Regional de Psicologia de Goiás. O órgão informou ainda que, para o exercício legal da profissão, todos os psicólogos são obrigados a manter o registro junto ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) e ao Conselho Regional da região onde realiza o exercício profissional. 

A suspeita, no entanto, de fato cursou Direito na Universidade Luterana do Brasil e tem registro ativo junto à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Itumbiara.

A OAB informou, por meio de nota, que a Comissão de Direitos e Prerrogativas (CDP) do órgão acompanhou a prisão de Amanda e continuará acompanhando as investigações para garantir que os procedimentos legais e as garantias constitucionais sejam respeitados integralmente, tanto em relação à profissional envolvida quanto ao devido processo legal.