Skate, som e suor: Vert Battle 2025 estreia em Goiânia

10 maio 2025 às 18h28

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O fim de semana dos dias 3 e 4 de maio marcou um capítulo singular no esporte brasileiro. Goiânia, pela primeira vez, se transformou no epicentro da cultura do skate vertical com a realização da etapa inaugural do Vert Battle 2025. O evento aconteceu no monumental Centro Cultural Oscar Niemeyer, espaço onde arquitetura e arte frequentemente se cruzam. Desta vez, porém, a curva de concreto do half pipe rivalizou com a ousadia das linhas do arquiteto. O skate era, ali, o protagonista — e o público, parte ativa da cena.
Criado em 2011 pelo campeão mundial Rony Gomes, o Vert Battle surgiu com uma missão ousada: ocupar lacunas históricas, revelar novos talentos e elevar o skate vertical brasileiro à visibilidade que merece. Embora a modalidade exija técnica apurada, coragem e criatividade, ela ainda encontra poucos palcos no país. Mesmo assim, ano após ano, o campeonato cresceu. Em 2025, ganhou ainda mais fôlego, com quatro etapas confirmadas ao longo do calendário. Coube a Goiânia, portanto, a responsabilidade de abrir o circuito — e a cidade não decepcionou.
A pista, com mais de quatro metros de altura, foi especialmente desenhada para desafiar até os nomes mais experientes do circuito. De acordo com os organizadores, cada etapa do Vert Battle 2025 contará com um novo obstáculo. Em Goiânia, o diferencial foi um módulo com transição agressiva, desenvolvido para ampliar a amplitude dos aéreos. Foi exatamente ali que Gui Khury, de apenas 15 anos, escreveu mais um capítulo da sua jovem e já lendária carreira.
Resultados, estrelas e participações
Khury brilhou com uma linha de manobras técnica e fluida. A combinação de um 900°, um 540° com flip e um 720° arrancou aplausos da arquibancada e fez tremer a estrutura. A nota 95,23 confirmou o favoritismo do atleta, que já soma participações internacionais e virou referência precoce no esporte. No pódio masculino, ele foi acompanhado por Diego Takahashi, que demonstrou precisão e estilo, e Pietro Nunes, cuja criatividade chamou atenção dos jurados.
Por sua vez, na disputa feminina, Helena Laurino foi soberana. Executou dois 540°s com rotação invertida, além de manobras de borda que demonstraram sua versatilidade. Obteve a nota 87,07 — pontuação suficiente para superar a olímpica Dora Varella e a experiente Marina Lima. “A pista exigia muito da gente, mas o público deu força. Goiânia nos recebeu de braços abertos”, afirmou Helena, emocionada, logo após a premiação.

Além das estrelas que brilharam no topo do ranking, o evento também se consolidou como um reencontro de gerações. Atletas como Dan Cezar e Ítalo Penarrubia dividiram espaço com nomes emergentes. Raicca Ventura, que iniciou sua trajetória no próprio Vert Battle, voltou ao campeonato como inspiração para os mais novos. Yndiara Asp, Dora e outras mulheres do circuito mostraram, mais uma vez, que o vertical é também território delas — com garra, técnica e identidade.
Som forte
Logo nas primeiras horas da manhã de sábado, o público começou a ocupar gradativamente as arquibancadas montadas ao redor da pista. Famílias inteiras, jovens entusiastas, veteranos nostálgicos e crianças com olhos arregalados e celulares em punho se espalharam pelo espaço. Todos esperavam ver o impossível acontecer diante dos seus olhos. E aconteceu. Com a locução vibrante de mestres de cerimônia do skate e uma trilha sonora que misturava rap, rock e beats eletrônicos, os atletas começaram a voar.
E nem só de manobras viveu a etapa de Goiânia. A estrutura montada no Centro Cultural Oscar Niemeyer foi pensada para ser vivida por todos. Havia estandes de marcas do universo do skate, praça de alimentação, espaço de convivência e oficinas de grafite. À medida que o sol descia sobre o céu cerrado, o palco ganhava protagonismo. No sábado, a banda Hellbenders abriu os trabalhos com riffs potentes. Já no domingo, Marcelo Falcão levou uma multidão ao delírio com sucessos da época de O Rappa. Supla encerrou a programação com irreverência, dançando entre skatistas e fãs.
Skate em Goiânia
Outro ponto alto do evento foi, sem dúvida, a presença do projeto Comunidade Skate Board. A iniciativa, promovida pela Federação Goiana de Skate Board, levou dezenas de crianças e adolescentes de bairros periféricos para assistir ao campeonato. Muitos deles, até então, conheciam o skate apenas pelas redes sociais ou pelas pistas planas do Setor Pedro Ludovico. No Vert Battle, no entanto, puderam subir em uma minirampa instalada especialmente para esse momento. E, assim, sentiram no próprio corpo o que é deslizar sobre quatro rodas.
O formato da competição, homologado pela Confederação Brasileira de Skateboarding (CBSk), permite a participação de atletas profissionais e amadores, desde que cumpram critérios técnicos. Isso garante dinamismo e diversidade, além de oferecer visibilidade para novos nomes. Em Goiânia, por exemplo, dois jovens de apenas 13 e 14 anos chegaram à semifinal masculina, surpreendendo tanto o público quanto os jurados.
Além disso, a etapa goiana também reforçou a vocação da cidade para receber grandes eventos esportivos. O Centro Cultural Oscar Niemeyer, que nos últimos anos abrigou shows e festivais de porte, mostrou-se plenamente capaz de receber experiências multidimensionais. O espaço permitiu, com naturalidade, a integração entre esporte, arte e comunidade. Mais do que um evento pontual, o Vert Battle desenhou uma paisagem de possibilidades. A cidade respondeu com presença maciça, apoio institucional e uma energia vibrante.
O fim da etapa Goiana
Com o encerramento da etapa em Goiânia, o circuito agora se prepara para seguir sua jornada. A segunda etapa está programada para os dias 30 de maio a 1º de junho, em Niterói, no Rio de Janeiro. Espera-se, novamente, a presença de grandes nomes do skate nacional e internacional, além da introdução de novos desafios na pista. Curitiba e uma cidade ainda a ser definida completam o calendário. A grande final, marcada para o fim de novembro, deverá coroar não apenas os campeões da temporada, mas também o amadurecimento técnico e simbólico do campeonato como um todo.
Entretanto, o maior legado do Vert Battle talvez não esteja nos troféus ou nas notas dos juízes. Está, sobretudo, na memória dos presentes. Na criança que subiu pela primeira vez em um skate. No adolescente que voltou para casa decidido a treinar mais. Na skatista que encontrou ali um espaço de respeito e visibilidade. E também no senhor de boné virado que, entre uma manobra e outra, recordava os tempos em que o skate era proibido nas praças.
Portanto, mais que um campeonato, o Vert Battle é uma celebração. Celebra o corpo em movimento, o espírito de comunidade, a cultura urbana em efervescência. E, se a etapa de Goiânia foi o início, que venham as próximas — com mais velocidade, mais voos e mais vidas transformadas sobre rodas.
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