O Homem que Odiava Machado de Assis traz um triângulo amoroso com o Bruxo do Cosme Velho

05 julho 2025 às 21h01

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Mariza Santana
Imagine um romance que tenha o famoso escritor brasileiro Machado de Assis como um dos vértices de um triângulo amoroso, ao lado de sua esposa Carolina Novais e de um terceiro personagem, filho de um cafeicultor paulista proprietário de escravos? Pois este é o enredo do livro “O homem que odiava Machado de Assis”, do escritor potiguar José Almeida Júnior. A obra recria o clima do Rio de Janeiro do fim do século XIX, a política do Segundo Império, a campanha abolicionista, os costumes e tradições do período.
A narrativa é apresentada por Pedro Junqueira, filho de um aristocrata do café, que se forma em Direito em Coimbra e depois passa um tempo na Sorbonne, em Paris. Em suas memórias, ele relata quando ficou órfão da mãe ainda pequeno e foi acolhido por uma tia, na Providência, no Rio de Janeiro. Na cidade, conhece o menino Joaquim e a garota Joana, que eram protegidos de sua parente. Esse garoto se tornaria o escritor Machado de Assis e se casaria com a portuguesa Carolina Novais.

Entretanto, muitos anos depois Carolina se mudou de Portugal para o Brasil justamente após uma desilusão amorosa sofrida com Pedro Junqueira, que retornou ao seu país disposto a reconquistar a antiga namorada, mesmo ela já sendo casada. O protagonista também se envolve com a política brasileira e, ao trabalhar no Gabinete do Visconde do Rio Branco, é o responsável pela redação do projeto de lei do Ventre Livre. Depois ele se integra ao movimento abolicionista, a convite de José do Patrocínio, apesar de ser o único herdeiro de um grande senhor escravagista.
“O homem que odiava Machado de Assis” é um romance histórico, onde convivem personagens fictícios e históricos, a ponto de em certo momento o leitor começa a acreditar que, de fato, houve no passado um triângulo amoroso envolvendo o Bruxo do Cosme Velho (apelido do Machado de Assis), sua esposa Carolina e o janota Pedro Junqueira. Isso porque os fatos são entrelaçados com maestria pelo escritor.

O romance tem uma narrativa fluida, que facilita para o leitor acompanhar as aventuras e desventuras de Pedro Junqueira, seus casos amorosos e envolvimentos políticos, ao mesmo tempo que mostra sua rivalidade com o escritor, surgida ainda na infância, e que o tempo se encarregou de tornar mais acentuada devido à disputa pelo amor de Carolina Novais. No desfecho, o autor brinca com o tênue limite entre ficção e realidade, ao citar o romance “Dom Casmurro”, romance de Machado de Assis e um clássico da literatura brasileira, cujo tema central é o ciúme de Bentinho por Capitu.
José Almeida Júnior nasceu em Mossoró (RN), mas reside atualmente em Brasília. É escritor e defensor público do Distrito Federal, formado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com pós-graduação em Direito Processual e Direito Civil. Com seu primeiro livro, “A Última Hora”, sucesso de público e crítica, foi vencedor do Prêmio Sesc de Literatura de 2017 e finalista do Prêmio Jabuti e do Prêmio São Paulo de Literatura.
Mariza Santana é jornalista e crítica literária.
(Email: [email protected])