Atlas, o sensacional desfecho da série As Sete Irmãs, de Lucinda Riley
23 julho 2023 às 00h00
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Mariza Santana
Em agosto de 2021 escrevi um texto para o Jornal Opção com o título “Morte de Lucinda Riley deixa leitoras órfãs no mundo e no Brasil” (por sinal, o texto de minha autoria mais lido no jornal, com mais de 55 mil acessos únicos). A escritora irlandesa havia falecido, vítima de câncer, no mês anterior. Como integrante da legião de fãs da literatura de Lucinda, eu lamentava sua perda prematura (viveu apenas 56 anos), de cujas obras sempre havia protagonistas femininas fortes e dramas familiares.
Um dos destaques da bibliografia de Lucinda Riley, com milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, com certeza foram os romances que compõem a série “As Sete Irmãs”, da editora Arqueiro, inspirada na mitologia a respeito de uma famosa constelação: as Plêiades. Conta o mito grego que o titã Atlas, aquele que foi obrigado por Zeus a sustentar o mundo nas costas, tinha sete filhas. Quando ele teve de cumprir a tarefa, suas filhas foram perseguidas por um monstro e, para serem poupadas, solicitaram ajuda ao supremo deus do Olimpo e foram transformadas em estrelas no firmamento.
Com base no mito da constelação das Plêiades, Lucinda Riley construiu seis personagens femininas, todas adotadas por um mesmo multimilionário misterioso, e vindas de diversas partes do planeta, como Brasil, Austrália, Espanha, Noruega e Inglaterra. A sétima estrela era a filha desaparecida. Assim, foram sendo publicados os livros de cada uma dessas filhas e a história delas em busca de suas raízes e do seu passado familiar. Cito os livros pela ordem de publicação: “As Sete Irmãs”, “A Irmã da Tempestade”, “A Irmã da Sombra”, “A Irmã da Pérola”, “A Irmã da Lua”, “A Irmã do Sol” e “A Irmã Desaparecida”.
Mas logo depois que escreveu o último livro (“A Irmã Desaparecida”), Lucinda Riley nos deixou, com a promessa de um oitavo romance, onde contaria a história de Pa Salt, o milionário que adotou as seis filhas. Foi uma frustração para a legião de fãs da série “As Sete Irmãs”, que esperavam ansiosamente a conclusão daquela longa história, tão perfeitamente tecida por meio de personagens, dramas e cenários especiais.
Mas, para a alegria dessas mesmas fãs (coloco no feminino porque acredito que a obra é mais atrativa para as mulheres, admitindo, porém, que posso estar enganada), eis que é anunciado o lançamento do oitavo e último livro, da conclusão da série. Para ser concretizado, o projeto do romance “Atlas — A História de Pa Salt” foi assumido pelo filho da escritora, Harry Whittaker, baseado nas ideias deixadas pela mãe escritora.
No prefácio, ele conta que Lucinda havia escrito uma sinopse, diante da proposta de sua série ser adaptada para o cinema. Assim, ele ampliou a argumentação da mãe e surgiu o novo livro, que conta em detalhes todo o drama de Atlas, cuja vida foi marcada por dramas e perdas, cruzando fronteiras, passando fome e empreendendo fugas. Entretanto, o protagonista também encontrou pessoas generosas que o acolheram e o apoiaram, o que fortaleceu laços de amizade que perduraram por décadas e foram decisivos na sua decisão de ter filhas adotivas.
A narrativa do livro “Atlas — A história de Pa Salt” se dá em dois tempos distintos. Enfim reunidas, as sete filhas estão a bordo super iate de propriedade do milionário, cruzando o Mediterrâneo em direção a uma ilha grega, para homenagear o pai, um ano após sua morte. No caminho, recebem cópias do diário escrito por Atlas, onde ele relata sua longa vida, desde o menino russo fugitivo dos bolcheviques (que tomaram o poder na Rússia, m 1917, e criaram a União Soviética) que foi encontrado desmaiado no jardim da casa de um famoso escultor em Paris, passando por sua carreira de músico, o amor pela órfã judia Ella, a perseguição implacável de uma figura do passado, o enriquecimento e a adoção de meninas em várias partes do planeta.
Todas as pontas soltas nos romances anteriores são magistralmente amarradas com coerência, tendo o contexto histórico em alguns momentos sendo o responsável pelos rumos do destino do protagonista. Afinal, o século XX teve muitos episódios turbulentos, como a Revolução Russa e as duas Guerras Mundiais, só para citar os principais.
Confesso que no início achei a história meio mirabolante. Como um garotinho, que se negava a falar com medo de entregar suas origens e sua trágica história, poderia ter se tornado um multimilionário dono de uma majestosa mansão à beira do lago Genebra, na Suíça? Mas Whittaker e Lucinda fazem tudo parecer verossímil, à medida que os eventos vão acontecendo, e resta ao leitor ficar admirado com tamanhas criatividade e capacidade de contar boas e envolventes histórias. Afinal, esse é o objetivo do romance.
Mas vai aqui um aviso. Para entender verdadeiramente “Atlas — A História da Pa Salt”, é preciso antes ter lido os sete livros anteriores da série, para conhecer detalhes das histórias de suas filhas e dos demais personagens que surgiram ao longo dos romances anteriores. O desfecho também é surpreendente. Então, fica, desde já, a sugestão de que essa série literária incrível possa mesmo inspirar a produção de uma série de TV (um filme não seria suficiente para reproduzir tantas histórias). Vamos esperar.
Mariza Santana é jornalista e crítica literária. Email: [email protected]