O que muda na guerra em Gaza com a morte do líder número 1 do Hamas
18 outubro 2024 às 08h21
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O principal líder do grupo terrorista Hamas, Yahya Sinwar, foi morto nesta quinta-feira, 17, por forças do exército de Israel. Sinwar foi o idealizador do ataque do dia sete de outubro de 2023, no qual o Hamas coordenou vários atentados à nação judáica, matando mais de mil pessoas e sequestrando outras centenas num único dia. O atentado deu início ao conflito entre Hamas e Israel, que dura há mais de um ano.
Esse ponto do conflito pode ser determinante, podendo levar, inclusive, ao fim da guerra. O Hamas já vinha sofrendo com múltiplos assassinatos de suas lideranças, e a morte de Sinwar desestabiliza ainda mais as forças do grupo terrorista. A depender de quem assumirá o comando do Hamas, os rumos da guerra podem mudar radicalmente.
Fim da guerra?
Yahya Sinwar, antes de se tornar líder do Hamas, havia passado anos de sua vida fortalecendo militarmente o grupo. Ele assumiu o controle do Hamas após a morte do antigo líder, Ismail Hanyeh, que comandou a organização paramilitar desde 2017, até seu assassinato em julho deste ano.
Atribui-se a morte de Ismail Hanyeh à Israel, que teria orquestrado o bombardeio em Teerã, no Irã, responsável pela morte do antigo líder do grupo nacionalista, que governa a Faixa de Gaza desde 2007.
Após a morte de Hanyeh, Sinwar assumiu o controle do Hamas. Dessa forma, o assassinato de Yahya Sinwar se coloca como uma grande conquisa para Israel, e dá a possibilidade de encerrar o conflito em Gaza, pouco mais de um ano após seu início.
Próximos passos
“A oportunidade de encerrar a guerra totalmente, assim como no Líbano, está inteiramente em nossas mãos”, afirmou Giora Eiland, ex-chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel, ao Canal 12 de Israel. Para ela, a morte do orquestrador do ataque que deu início ao conflito pode ser motivo para que Israel apresente suas condições para encerrar os conflitos não apenas em Gaza, mas também no Líbano (onde se desenrola um conflito com o Hezbollah, grupo islâmino xiita paramilitar do Líbano).
O início de novas negociações é um desejo que parte, inclusive, das famílias dos israelenses sequestrados. Em uma publicação nas redes digitais, Elinav Zangauker, que tem um filho detido pelo Hamas, pediu ao primeiro-ministro de Israel: “Netanyahu, não enterre os reféns. Vá agora até os negociadores e o público israelense e apresente uma nova iniciativa israelense”. Apesar de reconhecer os esforços para assassinar Sinwar, parte da população israelense prefere que o governo foque seus esforços num possível acordo.
Leia também: O fim da “guerra” em Gaza está cada vez mais distante
Apesar da esperança, Netanyahu não dá sinais de que pretende parar por aqui: “A guerra ainda não acabou”, declarou o primeir-ministro em uma declaração em vídeo após o assassinato. Vale destacar que, as operações do exército israelense no norte de Gaza foram intensificadas nas últimas semanas.
O primeiro-ministro governa com o apoio de dois partidos de extrema-direita que já ameaçaram dar um golpe de estado, caso a guerra termine em um cessar-fogo. A mesma ameaça foi repetida após a morte do líder do Hamas. Além disso, os mesmos partidos já se mostraram a favor da criação de assentamentos israelenses dentro da Faixa de Gaza, o que foi publicamente descartado por Netanyahu.
Especialistas apontam que o prolongamento da guerra pode servir como ferramenta política para Benjamin Netanyahu, que ganha mais apoio e prestígio a cada conquista. Apesar das acusações de corrupção dentro de Israel e das condenações por crimes de guerra no direito internacional, o comando do primeiro-ministro se solidifica.
Os outros líderes
Durante as negociações para cessar-fogo e libertação de reféns, Sinwar era visto como aquele que dava a palavra final sobre qualquer acordo ligado ao futuro de Gaza. Ele possuía ligações inegáveis com a ala militarizada do Hamas.
Suas defesas iam diretamente contra as posições de Israel. Apesar do território palestino estar coberto em ruínas e mais de 42 mil pessoas terem sido mortas pelas forças israelenses (conforme relatam autoridades locais), Sinwar defendia a retirada total das forças de Israel de Gaza, a liberação de centenas de reféns e um cessar-fogo duradouro.
Com a morte de Sinwar, Khalil al-Hayya, Khaled Mashaal e outros delegados do Hamas nas longas negociações com Israel ganham mais poder e flexibilidade dentro do grupo.
Nenhum desses líderes estão escondidos em Israel. Alguns deles se encontram no Catar, que pode ter mais influência nas decisões sobre o conflito.
Líderes do Hamas já se mostraram descartáveis
A morte de Yehya Sinwar representa um duro golpe para o Hamas, deixando um vácuo significativo na liderança do grupo militante que opera em Gaza. Sua ausência aumenta as incertezas sobre o futuro da organização, já enfraquecida pela sucessiva eliminação de seus principais líderes.
Em março deste ano, um ataque aéreo israelense matou Marwan Issa, vice-comandante da ala militar do Hamas. A ofensiva intensificou-se em julho, com o assassinato de Ismail Haniyeh, ex-líder político do grupo, em uma explosão em Teerã, atribuída a Israel.
Mais recentemente, em agosto, as forças israelenses anunciaram a morte de Mohammed Deif, chefe militar do Hamas e um dos arquitetos do ataque de 7 de outubro, em outro ataque aéreo. Contudo, o Hamas ainda não confirmou oficialmente o falecimento de Deif.
Apesar de terem se mostrado substituíveis, com tantos líderes e comandantes assassinados, até o momento, não está claro quem vai assumir o lugar de Sinwar.