Mais de 150 botos já morreram devido à seca na Amazônia, o que representa cerca de 10% da população do Lago Tefé. Pesquisadores acreditam que mortes ocorrem pela combinação de seca extrema e temperaturas elevadas na região. O Lago Tefé fica no Médio Solimões, no interior do Amazonas.

No balanço mais recente divulgado na segunda, 16, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que coordena as ações na região, registrou a morte de 153 botos desde o dia 28 de setembro. Do total, 130 botos são vermelhos e 23 são tucuxis, ambos categorizados como espécies com populações em declínio pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Além disso, houve uma grande perda de peixes na região.

No final de setembro, a temperatura da água atingiu 39,1°C, superando em mais de sete graus a média usual. A seca na Amazônia resultou em uma drástica redução nos níveis dos rios, afetando uma região que depende dos cursos d’água para transporte e abastecimento. O governo federal enviou ajuda de emergência para a área, que, antes movimentada às margens dos rios, transformou-se em um cenário de terra rachada, com muitos barcos encalhados. Especialistas atribuem o agravamento da estação seca na Amazônia deste ano ao fenômeno El Niño.

Mariana Paschoalini Frias, especialista em conservação da WWF-Brasil, expressou sua preocupação, afirmando que “é estarrecedor o que está acontecendo no Lago Tefé. O impacto da perda desses animais é enorme e afeta todo o ecossistema local”. Ela destacou que os botos são considerados “sentinelas” da saúde do ambiente onde vivem, e o que acontece com eles tem reflexos em outras espécies, incluindo a humana.

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Enseada

Segundo o instituto, no Lago Tefé há um trecho chamado Enseada do Papucu, considerado o local mais crítico para a morte dos animais, devido à temperatura da água, que chegou a 39,1°C, muito acima da temperatura normal do lago, de 30°C. Os botos e tucuxis acabam sendo atraídos para o local devido à grande quantidade de peixes, que compõem a alimentação básica dessas espécies.

“A estratégia consiste no isolamento da Enseada do Papucu e condução dos animais para fora deste trecho crítico. O isolamento será feito com a implementação de uma barreira física chamada ‘pari’, que é feita de estacas de madeira e é baseada no conhecimento tradicional ribeirinho. Posteriormente, será realizada a condução dos animais para áreas mais profundas e menos quentes do Lago Tefé”, esclareceu o ICMBio.

A condução para águas mais profundas também tem por objetivo evitar uma intervenção direta com os animais, que pode causar mais estresse. Em uma situação mais específica, o setor da operação responsável pelo monitoramento dos animais vivos poderia efetuar o resgate de um ou mais indivíduos.

“No caso de algum indivíduo apresentar sinais de anormalidade, temos condições de resgatá-lo e encaminhá-lo ao Flutuante de Reabilitação, para monitoramento e possível tratamento e intervenção. Até o momento nenhum animal foi resgatado”, disse o ICMBio.

Investigação

As altas temperaturas no lago seguem como a principal hipótese para explicar a mortandade dos botos e tucuxis. Segundo o boletim, 104 animais foram necropsiados e amostras de tecidos e órgãos dos animais enviados para diversos laboratórios especializados distribuídos pelo Brasil.

“Tivemos 17 indivíduos já avaliados com análises histológicas e, até o momento, não há indício de um agente infeccioso relacionado como causa primária da mortalidade. O diagnóstico molecular (PCR) de 18 indivíduos também deu resultado negativo para agentes infecciosos, como vírus e bactérias, associados a mortes em massa”, diz o boletim.

O boletim aponta ainda que a mortandade de peixes na região é considerada normal para eventos de seca extrema. Outra equipe, responsável por monitorar os fitoplânctons no lago, registrou proliferação da alga Euglena sanguinea, desde o dia 3 de outubro.

“Apesar de ter potencial ictiotóxico, isto é, que pode causar mortalidade de peixes, até o momento não há evidências de que sua toxina esteja relacionada à mortalidade de golfinhos nem que tenha causado a morte de peixes no Lago Tefé”, diz o documento.

Além do ICMBio, a equipe que atua na operação de emergência também é composta por pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), contando com o apoio de outras 23 instituições de governo e não governamentais, como Sea Shepherd Brasil, WWF-Brasil, Exército Brasileiro, Marinha do Brasil, GRAD, Aquasis, Aqua Viridi, Instituto Aqualie, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, R3 Animal, Greenpeace Brasil, Instituto Baleia Jubarte, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Conservação de Tefé, Prefeitura de Tefé e Sea World. No total, mais de 100 pessoas estão envolvidas na operação.

*com informações da Agência Brasil