Brasil tem 365 espécies invasoras que prejudicam infraestrutura, saúde e meio ambiente

03 abril 2023 às 15h38

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O Brasil lida há décadas com a multiplicação de espécies exóticas – seres vivos introduzidos no território onde originalmente não existiam. Parte desses invasores já são conhecidos pelos produtores rurais por devorar lavouras. Entretanto, publicações científicas têm reportado aumento expressivo no número de invasões biológicas ao longo dos últimos anos. Caso as “bioinvasões” não sejam controladas, além do prejuízo financeiropela perda da produção rural, os brasileiros podem enfrentar ameaças à saúde pública, danos à infraestrutura e perdas ambientais irreparáveis.
Especialistas mostram que algumas dessas espécies se dispersaram naturalmente, mas a esmagadora maioria invadiu outros ecossistemas devido à ação humana. Desmatamento, mudanças climáticas e outras formas de degradação ambiental trazem risco de aumento expressivo das invasões biológicas ao longo desse século.
Enquanto o debate sobre controle de espécies exóticas no Brasil fica centrado na polêmica “ambientalistas versus pecuaristas”, reduzida no tema da autorização da caça, o assunto é agravado pela invasão de novas espécies exóticas. A lista do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de espécies exóticas que se estabeleceram no Brasil chega a 365 nomes, e no estado de Goiás são 40 espécies. A relação inclui desde cães e gatos até tilápias, rã-touro, tucunaré, coral-sol, peixe-leão, eucalipto e o mosquito aedes aegypti.
Terra
Uma espécie bioinvasora conhecida pelos agricultores é o javali (Sus scrofa), espécie trazida pelos portugueses ainda no século XVI para servir como caça. Sem os predadores e parasitas naturais que o suíno encontra em seu continente de origem, ele se multiplicou no Brasil consumindo raízes, frutos, castanhas e sementes. Além de causar prejudicar lavouras, o javali desequilibra o sistema ecológico devorando caracóis, minhocas, insetos e ovos de aves. O javali também ameaça a biodiversidade brasileira por competir por recursos e espaço com os animais locais. Apesar de ter se tornado selvagem ao longo dos séculos, o problema se agravou nas últimas décadas com a entrada de espécies mais competitivas e com o cruzamento entre o javali e o porco doméstico, que dá origem ao híbrido “javaporco”.
Água
São 101 animais invasores apenas nos ambientes de águas doces. O mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), por exemplo, causa 120 milhões de dólares por ano em danos às hidrelétricas brasileiras, segundo estudo da PeerJ. Desde sua chegada à região Sul brasileira, na década de 1990, esse molusco bivalve asiático vem danificando barragens, dragas e ductos. Até agora, o mexilhão invadiu cerca de 40% das usinas hidrelétricas do Brasil. Apenas a Usina Hidrelétrica Governador José Richa do Iguaçu, que gera energia para 4 milhões de pessoas, gasta cerca de 1 milhão de reais por ano bombeando produtos químicos tóxicos que impedem a proliferação de mexilhões nos tubos de água que circundam e resfriam suas turbinas. Se os tubos entupirem, a água para de correr e as turbinas podem superaquecer e parar. Conchas afiadas de mexilhões revestem as escadas e corrimãos nas câmaras da represa, tornando difícil para as tripulações fazer a manutenção de rotina.