O médico nutrólogo que está agendado para atender Bolsonaro em Goiânia, na próxima sexta-feira,18, é suspeito de fazer parte de uma quadrilha que fraudava vestibulares e responde por associação criminosa. O processo, que corre em sigilo no Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), envolve seu pai, Rogério Cardoso de Matos Filho, e seus irmãos, Rodolfo Gomes Matos e Ricardo Gomes Matos. Segundo o TJGO, são vários processos que envolvem Rogério, mas todos correm em segredo de justiça.

A defesa de Rogério declarou que “não há nenhuma decisão judicial afirmando qualquer participação de Rogério em qualquer fraude” [veja a nota ao final].

A denúncia foi feita pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) em 2017. Além da família Cardoso de Matos, outras seis pessoas foram acusadas de participar da organização criminosa, especializada em fraudar o vestibular de medicina da Universidade de Rio Verde (Unirv) – Campus Goianésia. O grupo pedia entre R$ 80 e R$ 140 mil de cada candidato para integrar a fraude.

“A ação penal foi instaurada com vistas a apurar a atuação de uma suposta organização criminosa, especializada na prática de fraudes em vestibulares de medicina, tendo sido os possíveis líderes do grupo denunciados”, diz trecho da decisão do Tribunal de Justiça, assinado pelo juiz Alessandro Pereira Pacheco.

Foram denunciados pelo crime de organização criminosa (artigo 2º, da Lei nº 12.850/2013): Carlos Menem Alves, Elisângela Nunes Borges, Fernando Batista Pereira, Lucas Souza Soares, Matheus Ovídio Siqueira, Osmar Pereira Evangelista Filho, Ricardo Gomes Matos, Rodolfo Gomes Matos, Rogério Cardoso de Matos e Rogério Cardoso de Matos Filho.

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Nas redes sociais do nutrólogo, que possui mais de 48 mil seguidores, há a promessa da longevidade e do corpo “perfeito”. Rogério Cardoso de Matos Filho, especializado em nutrologia, emagrecimento e hipertrofia, e deve atender o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) na próxima sexta-feira, 18, para ajudar o ex-capitão em seu processo de emagrecimento.

De acordo com o promotor, foi demonstrado que “se trata de uma organização criminosa, com diversos tentáculos e atuantes em vários municípios brasileiros, causando, há anos, prejuízos à sociedade, com dano incalculável à lisura de certames de interesse público, demonstrando, assim, a necessidade da custódia cautelar para a garantia da ordem pública, bem como também para a garantia da instrução processual e aplicação da lei penal”.

Na época da denúncia, o pai do nutrólogo, que foi acusado de liderar a associação criminosa, passou 1 ano e meio foragido no estado de Goiás. Rogério Cardoso de Matos era um dos alvos de mandado de prisão da operação “Gabarito” da Polícia Federal (PF), em 2015. No entanto, só foi preso em abril de 2017 e liberado, dias depois, por um habeas corpus emitido pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Redes Sociais de Rogério Cardoso de Matos. | Foto: Redes Sociais

Em nota enviada ao Jornal Opção, a defesa declarou o que segue:

“Rogério Cardoso de Matos Filho é inocente e em juízo demonstrará a absoluta improcedência dos termos da denúncia contra si ofertada pelo Ministério Público. Não há nenhuma decisão judicial afirmando qualquer participação de Rogério em qualquer fraude em qualquer exame vestibular. O processo ainda se encontra em fase inicial e a produção de provas revelará sua inocência.”

O esquema
Segundo a denúncia do MPGO, de forma planejada cada denunciado possuía sua função na organização criminosa, desde o aliciamento dos vestibulandos até o treinamento destes e recebimento do valor cobrado pelo esquema. Rogério de Matos era o chefe operacional da organização. Ele arquitetou todo o projeto, bem como selecionou os participantes que atualmente integram o esquema. Rogério de Matos Filho, Ricardo Gomes e Rodolfo Gomes são irmãos, filhos de Rogério de Matos, e tinham a função de aliciar os vestibulandos para participar das fraudes e de negociar os valores.

Osmar Evangelista, Lucas Soares e Carlos Menem também eram aliciadores. Eles captavam vestibulandos interessados na compra de vagas do curso, bem como utilizavam-se de redes sociais para essa finalidade. Cabia a Fernando Pereira treinar os vestibulandos que participavam da fraude, bem como ser o mensageiro. Unido a Elisângela Nunes, sua mulher, eles repassavam para os vestibulandos o gabarito por mensagem de texto.

Já Matheus Siqueira era “piloto”, se inscrevia no vestibular, fazia a prova e repassava por mensagem de texto o gabarito para Fernando e Elisângela que, após recebê-lo, enviava para os vestibulandos que integravam a fraude.

Envolvimento dos candidatos
Após aceitar participar do esquema, o vestibulando tinha que desembolsar a quantia negociada, que variava de R$ 80 mil a R$140 mil, sendo o pagamento parcelado de acordo com a negociação. Na semana do vestibular, os candidatos recebiam um treinamento, oferecido pela organização, bem como o aparelho celular utilizado na fraude, o qual recepcionava as respostas às questões já resolvidas pelo “piloto”. Em tal treinamento, os contratantes eram orientados sobre como deveriam se vestir para esconder o aparelho, além de como se portar quando o gabarito chegasse por mensagem de texto.

No dia do vestibular, os “pilotos” inscritos faziam a prova e repassavam as respostas para os mensageiros que, em posse do gabarito, o repassavam por mensagem de texto aos alunos aliciados, os quais, ao sentir o aparelho celular vibrar, pediam ao fiscal da prova para irem ao banheiro, onde visualizavam o gabarito e, ao retornar para sala, repassavam para suas respectivas provas.