Em meio a briga por herança, família de Djalma Rezende vende Ferrari para pagar dívida de R$ 1,8 mi

19 janeiro 2024 às 09h33

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A família do magnata Djalma Rezende, um dos advogados mais bem-sucedidos do Brasil, precisou se desfazer de um dos carros da coleção de luxo deixada pelo empresário para arcar com uma dívida milionária de renegociação fiscal (Refis) do Ministério da Fazenda. O valor do imposto, com juros, já estava em R$ 1,8 milhão. O empresário faleceu no início de 2023 vítima de insuficiência hepática.
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O veículo escolhido pela família para quitar o montante foi uma Ferrari vermelha F8 Spider, conversível, que constava no espólio da herança. O carro de luxo foi vendido pela bagatela de R$ 3,5 milhões. A venda do automóvel ficou acertada em três parcelas, todas pagas em junho de 2023.
A primeira foi no valor de R$ 140 mil, já a segunda chegou a R$ 1 milhão e a terceira R$ 2,4 milhões. O acordo judicial era de que, após abater a dívida, o resto do montante ficasse para o espólio, sendo dividido entre os seis herdeiros do patrimônio: cinco filhos do advogado e a viúva do magnata, Priscila Maura Rezende.
“O valor obtido com a venda deverá ser utilizado exclusivamente para a quitação da dívida negociada no programa Refis, devendo a inventariante prestar contas nestes autos, promovendo o depósito do saldo remanescente em conta judicial, no prazo de 30 dias”, diz trecho da ordem judicial no processo do inventário, que era administrado por Priscila.
Os demais herdeiros cobraram o cumprimento da decisão em novo processo para destituir a madrasta dos filhos como a responsável por gerenciar o inventário. De acordo com o processo, R$ 850 mil teriam sido pagos em espécie, mas nunca foram depositados no inventário e também não houve prestação de contas por parte de Priscila.
As acusações fizeram com que, em outubro, a viúva perdesse a responsabilidade de gerir o espólio milionário deixado pelo marido. Na decisão, o juiz Eduardo Walmory Sanches destacou Priscila “não se preocupou sequer em cumprir uma simples determinação judicial para juntada de extrato de conta que permitiria ao juízo verificar se a mesma cumpriu com exatidão a ordem judicial”.
Para o juiz, a atitude revela “evidente falta de zelo pelos bens do espólio e o descumprimento de determinação judicial”.

Herança
A herança deixada por Djalma é estimada em R$ 50 milhões. O espólio apresenta itens de luxo, como uma Land Rover Range Rover Vogue 3.0 blindada, um Porsche Panamera, imóveis em condomínio de luxo, mobílias desenhadas por Oscar Niemeyer, bem como quadros e esculturas de artistas brasileiros e europeus.
Djalma também tinha esculturas de um dos mais importantes nomes brasileiros: Alfredo Ceschiatti, responsável pela obra da Justiça cega em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Consta ainda na coleção uma serigrafia de Romero Britto e uma peça da artista Bia Doria, mãe do ex-governador João Doria (PSDB-SP).
“Competia a inventariante trazer ao processo o extrato de movimentação da conta provando que houve a entrada do dinheiro e as únicas saídas de numerário foram exclusivamente para o pagamento do Refis. Optou a inventariante em não trazer, em não apresentar a prova em juízo, descumprindo a determinação judicial e assumindo o ônus dessa conduta omissa. […] Sua remoção é medida necessária para retomada do bom andamento do processo”, afirmou o juiz.
Em nota enviada ao Metrópoles, a defesa de Priscila destacou que não há qualquer controvérsia sobre a venda do veículo e que a viúva, em um momento de luto, assumiu o difícil ônus de ser inventariante do espólio, conduzindo com ética e transparência (veja nota a íntegra abaixo).
Briga por herança
A briga familiar pela herança ocorre desde o falecimento do magnata. Em junho de 2023, por exemplo, vieram à tona as rixas envolvendo os herdeiros do profissional. Parentes afirmaram à época que Priscila teria bloqueado os filhos de Djalma das redes sociais após a morte do marido. Os dois filhos mais novos do advogado, que são menores de idade, inclusive, não estariam recebendo o valor referente à pensão desde a morte do pai.
Djalma e Priscila eram casados há sete anos. O matrimônio ocorreu em 2016 em uma festa luxuosa de R$ 8 milhões, que contou com celebridades, menu exclusivo e mais de mil convidados, fazendo jus à fama de endinheirado do advogado.
A comemoração contou com mais de 70 mil flores, 100 lustres e decoração inspirada no Palácio de Versailles, que transformaram o casamento em um cenário de filme ostentação. O bolo, de 2,5m de altura e 1,20m de base, foi transportado durante 14 horas para chegar à festa. The King Cake, de São Paulo, foi a responsável pela criação, decorada com rendas exclusivas e mais de mil orquídeas de açúcar.
Djalma chegou a contratar jatinhos particulares para buscar alguns convidados em Brasília. Da capital federal, foram convocados o cerimonialista César Serra, o fotógrafo Celso Junior e o bufê de Celso Jabour, da Sweet Cake. A noiva também usava joias da brasiliense Miranda Castro.
Aeronaves e carrões
Em imagens, Djalma e Priscila ostentam passeios em Ferraris. O apreço pela marca é tão grande que inspirou o design único de um avião luxuoso adquirido pelo advogado goiano e avaliado em R$ 13 milhões. A referência da aeronave modelo Piaggio P180 Avanti II era a Scuderia Ferrari.
À época da compra, a aeronave foi recebida por mais de 200 convidados, em grande festa, com recepção regada a bebida e animada por uma banda musical. O avião não está entre os bens do inventário da família. Isso porque a aeronave foi apreendida pela Receita Federal, anos após a compra. O órgão apurou que, sem o conhecimento do comprador, a empresa que vendeu o veículo aéreo ao advogado teria sonegado impostos.
Antes que o crime fosse identificado, o milionário já realizava o pagamento, em parcelas, e teria gastado cerca de R$ 7 milhões no acordo. Após ser confiscada, a aeronave foi destinada ao transporte de órgãos para transplante.

Nota na íntegra de Priscila Maura Rezende
“Não houve qualquer controvérsia sobre a venda do mencionado veículo, isto porque a alienação do bem se deu mediante expressa autorização judicial (pública e transparente), sem qualquer óbice pelos interessados.
A senhora Priscila, em momento de luto, assumiu um difícil ônus de ser a inventariante do espólio do Dr. Djalma Rezende, cujos bens e compromissos financeiros são de grande complexidade, além das inúmeras despesas ordinárias para manutenção dos ativos.
Assim, a Priscila conduziu o cargo de inventariante com retidão, ética e transparência apesar do momento de luto.
Ocorre que, infelizmente, por se tratar de um inventário judicial não consensual, partes com interesses distintos, utilizaram do direito de petição e de questionar, independente de estarem munidas de razão.
Na condição de advogado, informo que a Priscila está, como sempre esteve, à disposição para prestar todo e qualquer esclarecimento quando intimada judicialmente, certa de que seu principal compromisso é com a brilhante história do seu, então, marido, o advogado Djalma Rezende e o legado que deixou, não só como profissional, mas sobretudo como ser humano incrível que ele foi”.