Momento político do Brasil e distanciamento da seleção do torcedor são alguns dos motivos que ajudam a explicar

Poucos parecem estar tão interessados na Copa do Mundo como Neymar | Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Uma pesquisa de abril, divulgada pelo instituto Paraná Pesquisas, revelou que 65,8% dos brasileiros estão pouco ou nada interessados na Copa do Mundo da Rússia, que tem o seu início marcado para daqui a 12 dias.

Diretor do Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo tem duas teses que podem explicar este desinteresse. A primeira diz respeito ao momento político do Brasil. Para ele, a mídia não está dando ênfase ao mundial, já que a pauta do momento é a corrupção.

De fato, muitos brasileiros estão mais preocupados com outubro do que junho e julho. E isso é bom para o País. Com a recente greve dos caminhoneiros, o interesse dos brasileiros pela Copa do Mundo foi adiado ainda mais, conforme mostra reportagem do jornal “O Estado de São Paulo”.

“A torcida está mais preocupada com a crise de abastecimento e a consequente instabilidade política e econômica que se segue do que com o esquema tático da seleção de Tite. Ou com a recuperação de Neymar”, diz trecho da matéria, que cita o desaquecimento do mercado de bugigangas da Copa do Mundo.

Mais distante
A segunda tese de Murilo Hidalgo é sobre os clubes onde jogam os atletas convocados. Dos 23, apenas três atuam em equipes brasileiras — Cássio e Fagner, do Corinthians, além de Geromel, do Grêmio.

É o menor índice da história. E isso certamente afasta o torcedor da seleção brasileira. São poucos os que viram alguma partida in loco desses jogadores, pois boa parte deles foi jogar fora do País muito cedo e criaram pouco vínculo por aqui — outros, como Ederson, nem sequer jogaram no Brasil.

A maneira como foi conduzida os treinamentos da seleção brasileira antes de embarcar para os dois últimos amistosos de preparação para a Copa do Mundo também agravou este distanciamento: jogadores chegando de helicóptero à Granja Comary e embarcando para a Europa em um avião luxuoso.

Tudo isso em meio à greve que paralisou a vida de muitos “cidadãos comuns”. Sem contar que não houve jogo nem treino de despedida, como fizeram outras equipes e como o Brasil geralmente fazia antes de mundiais.

Vai mudar
Mas será que, na hora do primeiro gol do Brasil, isso não vai mudar? Circulam no WhatsApp mensagens com as datas e horários dos jogos. Timidamente, churrascos já estão sendo organizados. Quando a Copa do Mundo começar para valer, as ruas devem ficar desertas.

Se opositores à ditadura militar torceram para a seleção de 1970, não há por que não torcer para a de 2018. Há quem já tenha comprado a camisa verde e amarela, apesar de criticar quem a vestiu durante os protestos a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).