O que explica o ‘boom dos condomínios’ em Goiânia?
01 março 2024 às 12h00
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Nos últimos anos, temos testemunhado um notável fenômeno urbano na cidade de Goiânia, marcado pelo crescimento expressivo dos condomínios horizontais fechados. Segundo dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, os moradores neste formado de residência dobraram em relação a 2010. Anteriormente cerca de 25.233 pessoas viviam neste tipo de habitação, hoje são 56.668.
Com um aumento de 124.57% em pouco mais de uma década, isso reflete um sinal socioeconômico das transformações na dinâmica urbana e de preferência na população. Segundo especialistas consultados pelo Jornal Opção, a segurança e a privacidade seriam algumas entre as motivações para que os moradores busquem esse formato de habitação.
“Sem dúvida nenhuma, a segurança é a principal motivação dos moradores”, aponta José Eduardo, presidente da Associação dos Condomínios Horizontais (Asconh) em Goiás. “Também é importante ressaltar que a integração entre as famílias, a privacidade e a liberdade dos condôminos. Essas e outras vantagens nos fazem escolher residir e criar nossos filhos em um condomínio horizontal fechado e com controle de acesso”, justifica.
Para o presidente da Associação dos Desenvolvedores Urbanos de Goiás (ADUGO), João Victor Araújo, as vantagens dos condomínios horizontais fechado atraem os goianienses.
“Historicamente, a população de Goiânia sempre recepcionou muitíssimo bem esse produto por conta da questão histórica da cidade e da cultura brasileira. Se olhar nos milhares de municípios brasileiros, a maioria dos moradores vive de maneira horizontal. Isso já é natural e faz parte da cultura do brasileiro, proveniente do modelo de colonização e do crescimento das cidades ao longo das décadas”, explica o especialista da ADUGO.
De acordo com os dados da ADUGO, houve um salto comercial dos condomínios horizontais fechados. Em 2023 foram lançadas 4.172 do modelo de habitação, sendo apenas 1.961 em 2022. Cerca de 3.394 unidades também foram comercializadas no último ano, o que representa um aumento de 32% nas vendas em comparação com 2022 (2.564).
Oferta e demanda
Conforme justificou Araújo, a expectativa é que a demanda por condomínios horizontais fechados continue em alta por conta da cultura do morador brasileiro. Fora pelas vantagens apontadas por José Eduardo que atraem as pessoas para o formato de moradia.
“Particularmente, eu vislumbro que a Região Metropolitana de Goiânia consegue comportar com tranquilidade novos condomínios horizontais com controle de acesso”, analisa o presidente da Asconh. Ele indica que as regiões próximas da GO-020 e da GO-403 podem comportar novas unidades, apesar de possuírem diversos condomínios e terem outros na fila de lançamento. Além de destacar que as localidades citadas possuem uma boa infraestrutura, com presença de escolas, supermercados, panificadores, igrejas, etc.
Por outro lado, Araújo aponta que inúmeros projetos estão se posicionando nos municípios da Região Metropolitana. Ele aponta que as cidades próximas de Goiânia, como Bela Vista de Goiás, Goianira e Senador Canedo, estão tendo um bom crescimento nos últimos anos e estão oferecendo mais vantagens para a instalação de condomínios.
Problemas urbanos
Com vantagens citadas para os moradores, os condomínios horizontais fechados podem trazer impactos e problemas significativos para as cidades. Entre os problemas apontados pela professora Maria Ester de Souza, docente da Pontifícia Católica de Goiás (PUC-GO), estão questões relacionadas a mobilidade na capital de Goiás.
“Os portões fechados no loteamento conduzem o volume para um ponto único, o que demanda uma certa estrutura. Considerando que os condomínios ficam longe dos centros de serviço, as vias mais próximas são adaptadas, mas na medida que os acessos a essas vias ficam reduzidos, isso causa acúmulo de veículos nos horários de pico. Além de que os usuários de transporte coletivo também sofrem pelas longas distâncias para chegarem nos locais, fora que não há nenhum sistema interno, o que torna a mobilidade individual como solução, seja para os moradores ou os trabalhadores”, explica a professora.
Por conta da distância dos centros urbanos, Maria Ester aponta que essa desvantagem é um ponto que leva os moradores a deixarem os condomínios. “Como arquiteta, já elaborei vários projetos residenciais em que os moradores voltaram para os bairros abertos. Eles alegam que o tempo de deslocamento seria a desvantagem, seja o deslocamento para o trabalho, escolas ou comércios”, relata.
Ao mesmo tempo, a professora também destaca que Goiânia não estaria pronta para receber mais loteamentos por conta dos serviços públicos necessários. “Por exemplo, a capital tem tido problemas para a coletiva de lixo nas áreas urbanizada, o que indica que ela não está pronta para novos loteamentos. Será que teremos água e coleta de esgoto para ir mais longe, teremos transporte coletivo para todos?”, questiona.
Por outro lado, José Eduardo ressalta que os condomínios horizontais fechados geram economia para o município. “Entre os muros não há nenhuma prestação de serviços públicos, como troca de lâmpadas, recuperação da malha asfáltica, recolhimento de lixo, limpeza de vias públicas, jardinagem. Consequentemente todo esse serviço interno gera inúmeros empregos diretos e indiretos”, destaca.
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