Wilde Cambão: “Vou fazer uma liderança concisa junto à base e à oposição”
12 fevereiro 2023 às 00h00
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Aline Bouhid, Euler de França Belém e Marcos Aurélio Silva
A liderança do Governo na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) foi oficializada pelo governador Ronaldo Caiado (UB) há duas semanas. O ofício indicando o deputado Wilde Lopes Roriz, mais conhecido como Wilde Cambão (PSD), para função confirmou o que já vinha ganhando projeção nos bastidores da política Goiana e parece ter agradado não só a base governista, como também a oposição, que demonstra profundo respeito ao parlamentar.
Entre os deputados estaduais Wilde Cambão tem uma fama: a de ser conciliador. Dono de um discurso sempre ponderado, o parlamentar vai exercer a função de defender a aprovação de projetos enviados pelo Estado para a Casa, e dialogar com a oposição – tarefa que ele diz estar preparado. Ele também terá que garantir articulação interna entre deputados. Cambão foi eleito no ano passado para o segundo mandato na Alego, 29.908 votos, tendo como base eleitoral a região do Entorno, onde já ocupou o cargo de Secretário de Obras no município de Luziânia. Em entrevista ao Jornal Opção, o deputado falou sobre a relação do governo Caiado com o Legislativo, além dos avanços e demandas que a região do Entorno ainda necessitam.
Euler de França Belém – Há na Assembleia Legislativa de Goiás alguns nomes que compõem a oposição que são aguerridos. Inclusive, já assistimos a algumas cenas pesadas, como um deputado lançar um tablet contra outro. O senhor está preparado para enfrentar essa oposição?
Sim. Estou preparado. Talvez por isso o governador me escolheu, pelo meu perfil. Tenho boa convivência com todos e amizade próxima com o Major Araújo (PL) e com o Paulo César (PL). Há uma respeitabilidade no trato e na relação.
Meu perfil não é aquele de ir para a Tribuna para atacar seus pares. Eu farei as defesas em função daquilo que é técnico e com informações baseadas em dados. É assim que trabalho. Quero fazer uma liderança concisa junto a base e a oposição.
Euler de França Belém – Defender um governador que conseguiu formar uma ampla base como o caso de Ronaldo Caiado é algo mais fácil?
O atual governo é muito técnico. O projeto que ele mandou este ano para reforma administrativa demonstra isso. Há metas estratégicas. Veja que nos últimos anos, na saúde, Ronaldo Caiado avançou muito mais do que se imaginava. Tínhamos dez unidades muito centralizadas aqui na região metropolitana. Hoje temos cerca de 30 hospitais que estão descentralizados, com unidades em Formosa, Luziânia, e tantas outras como as policlínicas. Assim, percebe-se que as metas que foram propostas foram cumpridas, indo até além, em função da crise que o governo tinha. Vivíamos com uma capacidade pequena de investimento.
Em 2018 tínhamos quase R$ 7 bilhões de incentivos fiscais. Trata-se de um custo muito alto a ser pago, pois não havia retorno na mesma proporção. Esse foi um grande desafio do início do governo de Ronaldo Caiado. Mas ele acabou por conseguir reduzir esses incentivos sem afetar em nada a geração de emprego e a instalação de empresas. Não houve empecilhos e houve uma mudança de um incentivo que não dava resultado e nem gerava emprego. Era algo caro para o Estado. Observe que após a mudança o PIB do estado cresceu. Em 2018 tínhamos em torno de R$ 23 bilhões. Hoje estamos chegando a R$ 40 bilhões – se não fosse pela redução do ICMS teríamos R$ 43 bilhões.
O incentivo fiscal precisa ser aplicado em vários pontos. Veja o exemplo do Entorno do DF que necessita de emprego e precisa de uma política voltada para isso, mas tem que fazer os incentivos com metas de geração de postos de trabalho e renda. É preciso que haja esse tipo de trabalho para o Entorno e região norte. Cidades como Rio Verde tem renda per capita de mais de R$ 600. No Entorno tem cidades que não chega a R$ 100. Essas são distorções precisam ser corrigidas e os incentivos precisam fazer bem para o Estado.
Marcos Aurélio Silva – Mas o setor produtivo tende a não entender as mudanças dessa forma. Quando houve a implantação do novo modelo de incentivos, o chamado Pró-Goiás e agora com a criação do Fundeinfra, os empresários se distanciaram do governo. O senhor acredita que o setor produtivo não consegue perceber que essas mudanças têm reflexo para população como um todo?
Os bons conseguem ter essa visão. Antes tinha R$ 7 bilhões de incentivos para um número reduzido de empresas, que trazia pouco benefício para população. Pense que esse é um valor cujo o qual 25% deixou de ir para saúde e 12% que não chegou para educação. Ou seja, é um reflexo que não chegou para comunidade. O governo tem que trabalhar para as pessoas que mais precisam e não atrapalhar o setor produtivo.
A questão do Fundeinfra não está atrapalhando ninguém. Está apenas taxando aqueles que não pagavam nada. É um setor que exporta commodities sem recolher nada. A lei Kandir favoreceu esse grupo, afinal é um ramo estratégico de alimentação, mas é preciso deixar um pouco (de recursos) no Estado também.
Perceba que no primeiro momento essa cobrança vai gerar em torno de R$ 2 por saca. Mas efetivamente, no decorrer de 3 ou 4 anos vai reduzir quase R$ 8 no custo de transporte. O Estado de Mato Grosso já aprovou isso. Já estão até ampliando. É um modelo que pode se estender para o País inteiro, por ser uma política pública relevante e interessante.
“A política de responsabilidade precisa ser pensada em nosso País”
Não estou dizendo que imposto é bom, porque de fato não é. Mas quer uma situação pior do que taxar o aposentado em razão do rombo que existe na previdência? Não existe dor maior para um governante sério do que taxar aposentado, mas se não faz isso, o Estado estaria quebrado.
Euler de França Belém – O senhor acha que a adesão à taxa do Fundeinfra será grande?
Acho que sim. Veja que 98% da soja é exportada e a partir do momento que ele não quiser mais exportar ele deixa de pagar o tributo. Na verdade, se ganha mais exportando do que vendendo aqui dentro do Estado. E com o aumento da safra sabemos que é o grande carro chefe da balança comercial, chegando a R$ 6 bilhões de exportações.
Euler de França Belém – O governador disse ao Jornal Opção que a política dele vai ser para descentralizar o desenvolvimento. Ele fala dos incentivos em Anápolis, Rio Verde e basicamente no sudoeste e na região metropolitana. Como fazer para desenvolver os municípios de todas as regiões de forma técnica?
Esse é um ponto importante. Qual seria a primeira medida a tomar para levar desenvolvimento para o norte e nordeste do Estado? Estradas e infraestrutura. É preciso facilitar a logística para que se tenha, por exemplo, um novo eixo de desenvolvimento agrícola no norte e nordeste. Se tem boas terras e água, falta só a logística para poder atrair as indústrias e investimentos.
Em dado momento foi importante demais desenvolver, por exemplo, a cidade de Rio Verde, que hoje é uma das poucas cidades com capacidade orçamentária, ou seja, é uma cidade que graças ao seu desenvolvimento, pouco depende do FPM (Fundo de Participação dos Municípios). Por outro lado, mais de 90% das nossas cidades vivem do FPM.
Então a política de descentralizar e desenvolver os municípios passam prioritariamente pelas rodovias e logística. É impossível desenvolver uma região que esteja isolada. Esse é o primeiro eixo central que o governador está atacando. Com certeza ele percebeu isso.
Tendo a estrutura de rodovias, torna-se possível levar as policlínicas para essas regiões que antes dependiam exclusivamente da capital. Até para pegar um remédio de alto custo era preciso vir a Goiânia. Quem precisa de hemodiálise também precisa vir à capital, agora já tem cidades que fazem. São pontos cruciais. O desenvolvimento vai descentralizar e o ponto primordial é a logística. Ou seja, precisamos de rodovias e estradas.
Euler de França Belém – As UTIs que foram implantadas nas cidades do Entorno durante o momento mais crítico da pandemia foram mantidas?
Em Luziânia foram mantidas. Havia em torno de 50, mas ficaram funcionando agora cerca de 20 UTIs. Lembrando que era uma região que não tinha nenhuma UTI antes da pandemia. Sem falar que esse hospital que existe hoje na cidade foi construir quando fui secretário de Obras, ou seja, era municipal e repassado para o Estado. O governador acabou abrindo as portas do hospital regional de Luziânia e atendendo a demanda do Entorno. Ainda há o hospital de Águas Lindas para ser entregue. Em Formosa haverá o investimento de mais R$ 120 milhões. E tem muita coisa para se concluir agora.
Aline Bouhid – O senhor acredita que de fato a situação da saúde no Entorno, na região norte e nordeste do estado melhorou?
Houve avanços. É claro que precisa muito mais. Nossa região tem grandes demandas. O hospital de Luziânia, por exemplo, é grande para o município, mas pequeno para a região toda. Precisa ter uma estrutura de estado que possa dar um atendimento melhor.
O fato da regulação ter vindo para o Estado é um grande avanço. Talvez seja o maior ganho que a saúde estadual teve nos últimos anos. Ter o controle da sua regulação significa muito. É uma medida que dá equilíbrio para distribuir os leitos pelo Estado e dar a chance para de fato descentralizar o atendimento à saúde. Vejo como ganho e avanço para as questões das cirurgias eletivas, das urgências e emergência.
Marcos Aurélio Silva – Atualmente o que o senhor considera como a principal demanda da região do Entorno?
No Entorno o governador tem atacado muito a questão da BR-040, que hoje é o principal empecilho para o desenvolvimento da região. Não temos trafegabilidade nessa região, pois a BR-040 – que liga Brasília a São Paulo e Rio de Janeiro – hoje é possível ficar de 4 a 6 horas para ir de Luziânia a Brasília. Antigamente isso ocorria em horário de pico, mas hoje é o dia todo.
É uma rodovia duplicada, mas em função da grande aglomeração ela fica estrangulada. É uma rodovia que no trecho não possui viadutos ou passagens. Entre Luziânia e Brasília a rodovia tem 60 km e é esse o trecho mais complicado.
Temos ainda o BRT que buscamos viabilizar. É um trecho que vai de Santa Maria até Luziânia, que vai resolver a questão do transporte público. O que aconteceu no Entorno é que não se tem transporte público, se tem o individual. Todos vão e voltam do trabalho de carro, por exemplo.
Euler de França Belém – Mas como ficou essa questão depois que o governador interferiu no processo que previa o aumento do preço da passagem na região do Entorno?
O governador Ronaldo Caiado criou a Região Metropolitana para poder buscar melhorias. Ao se dissipar as bacias do Entorno, ninguém vai querer participar do edital de concorrência do transporte público. Isso porque não há lucro. Se uma empresa normalmente possui 20 motoristas, ela vai precisar de mais do que o dobro, porque o ônibus sai e não chega no horário previsto. Enquanto isso os passageiros se acumulam. O custo fica muito alto.
O ideal é criar um eixo para o transporte público, que vai desafogar a rodovia. Há também a necessidade de criar os dispositivos para facilitar o acesso das pessoas que moram de um lado ou outro da rodovia.
Aline Bouhid – O governador Ronaldo Caiado declara que vai focar a atual gestão nas questões sociais. Sabemos que a região do Entorno tem essa demanda também. Como o senhor avalia essa priorização?
A região é bem atendida pelo projeto Aluguel Social. O programa Mães de Goiás também ajuda muito as cidades do Entorno. Há uma preocupação de fazer com que essas políticas públicas atendam quem não esteja em nenhuma outra do governo federal. A nossa região é carente e precisa de geração de emprego e renda.
A região do Entorno teve a construção Brasília a partir da ideia brilhante de Juscelino Kubitschek, que desejava descentralizar o desenvolvimento e entendia que essa região seria central. Mas aconteceu que naquela época os legisladores não se preocuparam com a aprovação de loteamentos. A lei não exigia que os empreendimentos tivessem obrigação de fazer rede de infraestrutura. Aprovou-se no Entorno quase 500 mil lotes em menos de 10 anos. Talvez essa seja a região com maior número de lotes registrados. Isso fez com que pessoas que vinham para Brasília em busca de uma vida melhor e não adentravam o funcionalismo público acabassem indo para o Entorno e comprando terrenos por lá. Fiz um estudo mostrando que Brasília entregava para as cidades do Entorno cerca de 300 mil habitantes a cada dez anos.
Marcos Aurélio Silva – Tem outro tema que é relevante quando se fala do Entorno: a segurança pública. A região vivenciou crimes de repercussão nacional devido à violência com que foram cometidos. O senhor percebe alguma evolução nesse quesito?
Essa violência ocorre em função da falta de infraestrutura que vivenciamos. Tínhamos uma falta de escolas para formação de nossas crianças. Mas a segurança melhorou muito. Se consultar os índices, a região do Entorno está melhor que a região metropolitana de Goiânia.
Houve uma política acertada do governador Ronaldo Caiado de levar alguns batalhões para lá, como a Rotam. Eles atuaram de forma efetiva. Um concurso com novos delegados e agentes da Polícia Civil levou gente com muito preparo para a região. As investigações se tornaram mais efetivas, o que garante que o criminoso vai ficar atrás das grades.
Como deputado estadual tenho priorizado os recursos para pontos que deem estrutura para a polícia trabalhar, como a reforma dos Ciops (Centro Integrado de Operações de Segurança). Sou o deputado que mais tem investido na segurança pública da nossa região. Como fui secretário de Obras de Luziânia, percebi que o município é quem cuidava dos prédios do Estado. Muitas vezes era o município quem tinha que fazer a manutenção porque os recursos não chegavam. Agora tenho essa visão e busco contribuir como deputado.
Euler de França Belém – Os prefeitos da região estão se articulando para negociar com a Saneago investimentos no tratamento do esgoto e fornecimento de água, devido ao novo Marco Legal do Saneamento. Qual sua posição sobre essa demanda e pressão dos prefeitos sobre a Saneago?
Acho que é justo. A Saneago entregou pouco na nossa região. Essa não é uma situação de uma cidade, mas de todas. Os contratos ainda estão vigentes e acho que está tendo um erro jurídico grave. Se brigar com a Saneago, vai perder. É uma opinião. Não sou jurista. Mas acho que na mão do Estado se tem uma estrutura melhor para atender as demandas desses municípios. Se tem o Estado preocupado com isso, para reduzir preço de tarifa de água e esgoto, além de tratar de uma região e não de uma cidade individual. É uma briga que precisa ser feita, mas no meu entendimento, muitos prefeitos assinaram termos aditivos com a Saneago com regras e prazos para serem executados.
“Ronaldo Caiado é o governador do Entorno“
O Entorno precisa de investimentos. Há uma demanda gigante. Veja o exemplo do Jardim Ingá – bairro mais populoso de Luziânia, com mais de 100 mil moradores – não têm sequer um metro de esgoto. Há um déficit muito grande.
Aline Bouhid – Como o senhor tem acompanhado a questão da criação e nomeação de uma pessoa para comandar a Secretaria do Entorno?
O governador quer ouvir os prefeitos da região de forma individual sobre os nomes a serem indicados. A maioria defende um nome político. A discussão sempre traz o nome do Célio Silveira (MDB). Ele agrega muito.
Na minha é preciso um nome técnico para criar e montar uma estrutura que a secretaria ainda não tem. Nesse processo um nome técnico seria importante. Se não tiver uma estrutura, um político não faz e não age. Mas não há nenhum nome técnico sendo debatido.
Acho que no decorrer desta semana os nomes devem se consolidar e pode até ser anunciado esse novo secretário para o Entorno.
Euler de França Belém – Antes do governo de Ronaldo Caiado todos os anos se tinha uma discussão de transformar o Entorno do DF em um Estado. Agora esse é um assunto que não é mais tocado. O que mudou?
O governador Ronaldo Caiado está devolvendo o sentimento de pertencimento. Hoje um morador de Goiás que vai ao litoral ou outro lugar para visitar ele tem orgulho de dizer que é de uma cidade do Entorno.
Isso é algo tão sério que antes nós não tínhamos nem carros emplacados nas cidades do Entorno. As pessoas iam emplacar seus veículos em Brasília para dizer serem de lá. Não tinham orgulho de onde moravam. Esse sentimento acabou. As pessoas têm um governador que pela primeira vez na história entende a realidade local. Ronaldo Caiado é o governador do Entorno. A criação da região metropolitana muitos falaram, mas ele teve coragem de fazer, enfrentando muitos desafios. Essa mudança significa muito para a região, pois os prefeitos terão possibilidade de fazer novos convênios e buscar mais recursos nos poderes estadual e federal. É daí que podem surgir os consórcios de infraestrutura, meio ambiente, saúde e tantos outros.
Vou dar um exemplo: quando fui secretário de Obras em Luziânia, no ano de 2013, fui o primeiro a apresentar ao Ministério das Cidades um projeto de captação de recursos em que o município não precisa pagar. Tem aprovado mais de R$ 200 milhões para água, esgoto e galerias pluviais. Gastamos quase R$ 18 milhões com recursos municipais. Isso era o suficiente para asfaltar um bairro à época. Mas não resolve a situação. Investimos em um projeto. O governo Bolsonaro não priorizou esses projetos e essa necessidade. Mas foi um avanço do governo de Dilma Rousseff (PT) que precisamos colher. Eu sabia que o prefeito cujo eu estava auxiliando não teria os benefícios desse recurso, mas se não fizesse o projeto Luziânia nunca receberia o aporte de recursos que pudesse resolver os problemas graves. Hoje os recursos estão separados para serem aplicados no Jardim Ingá. Não resolve tudo, mas já vai ajudar um município que tem um valor de R$ 6 milhões por ano. Muito pouco para o prefeito fazer sozinho. Essa é a política de responsabilidade que precisa ser pensada em nosso País. Caiado tem feito isso. O que vai ficar de bom para o estado não é o que o governador está entregando hoje, mas sim o legado dele.
Marcos Aurélio Silva – O senhor foi o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LOA). Isso fez com o que o senhor se aproximasse da realidade financeira do Estado. Como o senhor avalia a gestão do orçamento do governo?
Preciso contar um fato: em 2018 eu não apoiei a candidatura do Caiado. Gosto muito de dados e da questão técnica, por isso ao assumir a cadeira de deputado fui estudar os índices do governo. Eu sabia por A + B que se o governador não mandasse aquelas reformas ele não iria recuperar o Estado. A minha preocupação era: vai mandar e vai executar? Vai ter coragem de fazer? Porque senão iríamos ficar como Rio de Janeiro e Espírito Santo, que fizeram as reformas mas não aplicou de fato.
Eu tenho um irmão que trabalha como auditor no TCU (Tribunal de Contas da União). Falei com ele sobre esses dados e sabia que o Estado estava quebrado ao ponto de em médio prazo não conseguir pagar a folha se não houvesse reformas aprovadas com urgência e que fossem executadas de forma responsável. E foi isso que o governador fez. Eu não votei para taxar aposentado com meu coração feliz, mas era a alternativa que tinha do aposentado receber o seu salário.
Vou dar outro exemplo: venderam a Celg por cerca de R$ 1 bilhão e pouco. Investiram tudo em infraestrutura em período eleitoral. Eu não sei o que foi feito. Depois o Caiado vendeu a CelgT, que era 10% do que era a Celg como um todo por R$ 2 bilhões e jogou esse valor no fundo, no rombo da previdência. Qual governo que não fosse sério faria isso? Ele fez a grande política. Não resolveu o problema todo, mas possibilitou tirar a cobrança daquele aposentado que ganhava um salário mínimo e passou a cobrar só pra quem ganhava acima de R$ 3 mil.
Isso é a demonstração de que a política tem que ser um modelo de construção. Tem que ser um fator de geração de harmonia e de benefício para as pessoas.
Euler de França Belém – O governo do Estado está com cerca de R$ 10 bilhões em caixa, mas não pode investir. Porque ocorre isso?
Nós somos regidos por dois sistemas. Houve uma lei de 2018 em que os estados que estavam em crise financeira entraram em recuperação fiscal. O ex-governador Marconi Perillo (PSDB) aderiu, mas naquele momento não trouxe muito benefício ao estado. Se tem um limite de teto de gastos que tem que obedecer, não podendo gastar mais do que arrecada. O regime impõe que só pode gastar o índice que for corrigido pela inflação de um ano para outro.
O governador de Caiado conseguiu fazer diferente por ter responsabilidade fiscal. Realmente fez o dever de casa e acumulou essa reserva que é importante para o Estado. Houve ações no caso dos incentivos, que foi muito importante. A partir disso alcançamos a credibilidade com o avanço do PIB goiano, que está acima da média do Nacional. Então Caiado fez essa poupança com Regime Fiscal. Se ele fizesse antes, o governo teria que pagar juros altos porque não respeitou a regra. Mas Caiado fez melhor, renegociou as dívidas, melhorou a capacidade de pagamento e reduziu os juros.
O governo então fez uma economia de R$ 10 bilhões. Hoje, se não fosse a perda da arrecadação do ICMS, teríamos pelo menos mais R$ 5 bilhões. Se o Estado sai do regime, tem que aumentar o pagamento de juros da dívida, já que há essa regra, em que a União paga um pouco para que o estado tenha um respiro.
Então o governador está esperando para ver como vai ser a compensação do ICMS, que o Lula vai entender e vai fazer. A análise que faço é que se o Estado sair do RRF (Regime de Recuperação Fiscal) sem ter a recomposição vamos acabar perdendo essa reserva pagando em juros. Há um cuidado nesse processo e acho que hoje o Estado já estaria pronto para sair do RRF se não fosse as perdas com o ICMS.
Veja que o governador poderia ter optado por sair do regime, pegar esses recursos e usar em ano de eleição. O Caiado não fez isso. Ele não fez a política de quebrar o estado. Ele fez a política de ter caixa no Estado. É por isso que eu sempre apoiei o Caiado. Eu acredito e confio que é um político sério e honesto. O legado de Caiado para o Estado é que os próximos governantes terão que seguir um modelo de gestão honesto que ele está fazendo.
Euler de França Belém – Quando o Ricardo José Soavinski assumiu a presidência da Saneago, surgiu um projeto de privatizá-la. Essa iniciativa não existe mais?
Não. O governo não pensou sobre isso. Acho que nem é uma preocupação. O que se tem pensado é o Marco Regulatório do Saneamento para que haja incremento de recursos públicos e ter avanço nesse setor. A Saneago por vezes não entrega alguma meta porque a licitação emperra. Há uma demora nessas coisas e o setor privado age com mais agilidade.
Euler de França Belém – O PSD terá um cargo no primeiro escalão do governo Caiado e tende a ser o Vilmar Rocha. O senhor apoia essa nomeação?
Vilmar é o grande quadro da política do Estado. Ele é experiente e do bem. É um político de fácil acesso e perfil conciliador. Entretanto ele tem falado que não exige isso e que é preciso ter uma discussão para ouvir outros nomes do PSD. O partido deve ser ouvido e participar do governo. Temos bons nomes nos quadros do partido.