Ex-deputado é o nome do PTB para a disputa municipal do próximo ano em Goiânia e fala que, depois de quase cinco anos afastado da política, está mais “maduro” e “agregador”

A Praça Cívica representa um conceito para goiânia. Sua reforma acabou sendo um presente para a cidade” | Foto: Marcello Dantas
Foto: Marcello Dantas

Depois de cinco anos, o “homem da sola de sapato” está de volta à política. Foi assim que Luiz Bittencourt ficou conhecido em suas duas campanhas eleitorais à Prefeitura de Goiânia, em 1992 (pelo extinto PDC) e 1996 (candidato do PMDB). Nesta última, fez frente ao então já consagrado Nion Albernaz, que havia sido duas vezes gestor da capital. Acabou derrotado em um segundo turno muito disputado.

Com vários mandatos como deputado estadual e federal, ex-presidente da Assembleia Legis­lativa e também do Conselho Re­gional de Engenharia e Agronomia (Crea-GO) — ele é engenheiro de formação —, Bittencourt diz que, agora, soma à sua experiência também uma maior bagagem, depois de seu período sabático. “Estou mais maduro, mais agregador, mais conciliador. Tenho conversado com mais pessoas, visitei mais cidades, comparei mais políticas públicas”, diz, para mostrar que está mais cacifado e capacitado para a disputa local.

Nesta entrevista ao Jornal Opção, o hoje petebista analisa o quadro da política local, a gestão da Prefeitura nos últimos anos, diz que a obsessão de Iris pelo poder foi a derrocada do PMDB e garante que tem o aval do governador Marconi Perillo (PSDB) para ser mais um da base aliada a tentar chegar ao Paço.

Cezar Santos — Depois de alguns mandatos como deputado federal, vindo anteriormente de mandatos como deputado estadual, quando até foi presidente da Assembleia, o sr. se retirou da vida política. Muitos pensaram que era sua aposentadoria, apesar da pouca idade. E então resolve voltar. A que se deve essa “reentrée” na política?
Na realidade, não saí da política, apenas mudei o foco de participação. Deixei de disputar eleições por circunstância momentânea, partidária, e passei a contribuir de outra forma. Filiei-me ao PTB, me aproximei dos movimentos organizados e me tornei um observador. Com a experiência adquirida na vida pública, pude reciclar meus pontos de vista. Nos últimos meses, senti a necessidade de contribuir mais efetivamente, até que o PTB me colocou a possibilidade de ser pré-candidato a prefeito.

Há um caldeirão de insatisfações com a qualidade dos serviços que a Prefeitura de Goiânia presta à população. Em função disso, resolvi contribuir com esse debate, trazendo uma visão mais técnica e menos política, abrindo o foco do debate no conteúdo, nas soluções em que se possam trazer as pessoas mais preparadas, mais inteligentes e mais competentes para resolver nossos problemas. Foi essa a motivação, o desafio de novo de tentar ajudar, de poder contribuir, que me fez voltar à cena política.

Euler de França Belém — As cidades têm diferentes aspectos que podem ser aproveitados numa administração. Qual foi a cidade mais interessante que o sr. conheceu e que tenha soluções que poderiam ser aproveitadas em Goiânia?
Barcelona (Espanha) e São Francisco (EUA) são as duas cidades que conheci e que acho que mais parecem com Goiânia, de maneira geral. Barcelona, em determinado momento, entrou em decadência, no final de década de 1930. Então, os arquitetos e planejadores montaram um projeto para revigorar a cidade. Daí, surgiu o planejamento estratégico. Eles tiveram, primeiramente, uma visão do uso, de valorização do espaço urbano; depois a ideia de um projeto econômico associado a isso. Barcelona passou a ser uma referência no mundo, durante muitos anos. É uma cidade acolhedora, receptiva, que inova; não tem hierarquia de uso dos espaços; rico e pobre se misturam, não há segregação. E é uma cidade que respira cultura.

Marco Nunes Carreiro — Como o sr. enxerga Goiânia atualmente?
Ao longo dos anos, a administração pública de Goiânia perdeu o foco no planejamento estratégico. A cidade foi fundada na década de 1930 com o objetivo de modernizar o Estado e de ocupar um papel importante na chamada Marcha para o Oeste. E, durante muitos anos, Goiânia liderou essa posição na rede nacional de cidades. Brasília surgiu depois, como cidade administrativa, e Goiânia cumpriu o papel do ponto de vista econômico. Ao longo dos anos, isso foi perdendo sentido e hoje a cidade acabou prisioneira desses equívocos administrativos.

Os problemas na saúde se agravaram aceleradamente; há um caos no trânsito; o transporte coletivo é deficiente; a burocracia é crescente; o aumento de impostos é mola para melhorar a arrecadação; o meio ambiente se degrada. Enfim, isso tudo tem de ser repensado.

Está faltando gestão, faltando inteligência, faltando planejamento de curto, médio e longo prazos. Falta debate com a sociedade e tudo isso irrita o cidadão. As administrações nos últimos anos se transformaram na plataforma de um projeto político pessoal. O prefeito que queria ser governador, o outro que queria reeleição. A administração propriamente dita ficou em segundo plano.

Frederico Vitor — O que o sr. pensa do adensamento da cidade em torno de eixos e corredores?
O adensamento é uma ferramenta que se usa no planejamento urbano para estabelecer uma série de programas e um deles é esse. Faz-se o sistema de transporte baseado nos eixos e corredores ou no sistema de troncos e circulação e, a partir daí, adensando nas margens desses corredores se têm a previsão de crescimento e a ocupação de espaços e inclusive da mobilidade, permitindo mais acessibilidade das pessoas. O Plano Diretor de Goiânia sempre foi relegado a uma questão secundária, era feito, mas não discutido, equalizado e seguido. Temos de trazer isso para a mesa, discutir qual a cidade que queremos.

Qual é o objetivo principal, a razão de existir uma cidade? Morar, trabalhar e ter lazer. Associado a isso, se tem uma complexidade de outros fatores: recursos naturais, meio ambiente, poluição, recursos econômicos e outros. O Plano Diretor estabelece regras pelas quais se pode estabelecer o adensamento, se mais no subúrbio ou se mais no centro. Eu defendo o adensamento do centro, onde já há infraestrutura, o que diminui custos.

Euler de França Belém — Pode co­me­­çar por aí a revitalização do Centro?
Exatamente, podem-se criar subsídios cruzados, reduzir impostos, melhorar a relação dos projetos de arquitetura, criar centros diferenciais de comércio etc. Existem me­ca­nismos que já são usados em outras cidades do mundo. Não precisamos inventar a roda, isso pode ser aplicado com sucesso em Goiâ­nia. Mas para isso, repito, é preciso pla­nejamento, gestão eficiente, para alcançar novos patamares de desenvolvimento urbano e cidadania.

Marcos Nunes Carreiro — Sobre o Centro, o que se fez foi a revitalização da Avenida Goiás, em que o então prefeito Pedro Wilson (PT) importou de Barcelona a ideia dos bulevares, e é assim que a avenida ainda está preservada hoje. Mas entra em discussão agora a revitalização do Centro como um todo, seu centro histórico, buscando atrair a população não só para preservar o patrimônio físico, mas também o patrimônio cultural. Como o sr. avalia esse debate?
Vejo com bons olhos e sempre defendi recuperar o papel cultural do Centro de Goiânia, tendo inclusive um projeto econômico de turismo, de eventos, de negócios, de atividades econômicas de baixo impacto. Com isso, se poderá trazer as pessoas novamente para o Centro, como era quando a cidade foi fundada, em que as pessoas andavam por lá. Eu mesmo, quando criança, cansei de passear pela Avenida Anhanguera, pela Goiás, pelo Centro.

O “grade” da rua era nivelado com o da calçada, o sistema de transporte era menos agressivo. Isso já foi realidade para nós. Agora temos de associar isso a um projeto econômico, de ocupação desses espaços de forma a interessar todos os setores organizados da sociedade e da população.

Marcos Nunes Carreiro — A reforma da Praça Cívica foi uma obra importante?
Foi importante, porque, além de ser um marco histórico e cultural na vida de Goiânia, a Praça Cívica representa um conceito. Lá é onde os Poderes estão instalados e temos a maior referência da nossa história. A praça já passou por várias reformas, mas talvez esta tenha sido a mais significativa do ponto de vista de melhoria daquele espaço, até porque devolveu à cidade áreas que tinham sido invadidas pela própria Prefei­tura. É o caso daquele velho centro administrativo [Palácio das Cam­pinas, que foi demolido] construído lá na década de 70, entre outros projetos executados em desconformidade com o plano inicial. Isso acabou sendo um presente à cidade.

Cezar Santos — Com o excessivo número de veículos, um fenômeno mundial, muitas cidades estão cada vez mais restringindo a circulação deles no centro. É o caso de Londres, que cobra um caro pedágio para quem quer andar de carro na área central. Goiânia não terá de partir para essa solução?
Goiânia já tem quase 1 milhão de carros nas suas ruas, um dos maiores índices do Brasil. Precisaremos de soluções ousadas para melhorar o trânsito na cidade. De modo geral, cerca de 40% dos problemas de uma cidade são resolvidos com gestão: faz-se o diagnóstico de causas e consequências e de resultado e faz-se a gestão. Esse é o primeiro ponto em qualquer administração, seja pública ou privada.

O segundo ponto é resolver o conflito que existe entre o elástico, o carro, com o inelástico, a rua. Tem de haver hierarquia, priorização. A solução mais óbvia é o transporte coletivo de qualidade. Se não houver transporte coletivo de qualidade, estaremos sempre aumentando o número de veículos nas ruas, porque as pessoas querem se locomover e acabam usando o carro.

Existem vários instrumentos para melhorar isso. Poucos sabem, mas 35% das pessoas vão a pé para o trabalho, então a calçada é um elemento importante na melhoria do trânsito. Transporte coletivo é fundamental. A sinalização facilita a fluidez. Vários mecanismos podem ser adotados. Vejo que esse é o grande debate, o uso do carro e do transporte coletivo de melhor qualidade.

O problema do transporte de Goiânia está manifestado nas pesquisas. Li uma pesquisa recentemente em que 73,3% da população diz que o transporte coletivo é péssimo ou ruim e 86,7% dizem que o transporte coletivo piorou bastante nos últimos dois ou três anos. Esta é a realidade do transporte coletivo da cidade, da falta de gestão do município nesse setor.

Cezar Santos — O que o sr. diz sobre as soluções que a atual administração têm colocado?
Vejo um descompasso entre as decisões tomadas por técnicos descompromissados, que ficam contrariando a lei da gravidade todos os dias, e a real necessidade das pessoas. Os projetos são implantados sem debate com os segmentos organizados, sem estabelecer sinergia com os governos estadual e federal. É o que eu disse, a Prefeitura funciona mais como plataforma de política pessoal do que instrumento de gestão e planejamento. Isso leva a esse descompasso.

Agora mesmo estamos assistindo à gestão anunciar que a administração vai funcionar apenas até as 13 horas, ou seja, só até a metade do dia. Imagine isso! No momento em que todos querem a Prefeitura 24 horas funcionando, ela vai funcionar só durante metade do dia. Os problemas da cidade se reduziram pela metade? É um contrassenso, mas está acontecendo.

Marcos Nunes Carreiro — As soluções da prefeitura para o trânsito se baseiam principalmente nos corredores exclusivos de ônibus e nas ciclovias ou ciclofaixas. Isso tem funcionado em outras cidades, como as que o sr. citou, Barcelona, Londres e cidades da América Latina. Por que em Goiânia não funciona?
Porque os projetos são feitos por imposição e não por debate com a sociedade. Assim não vão funcionar nunca. É preciso haver aceitação e convencimento. O essencial da política é convencer ou ser convencido, e a política de administração é a mes­ma coisa. A Prefeitura precisa debater com os segmentos organizados, estudar os detalhes, se aproximar da academia. É preciso trazer todos para sentar à mesa com os técnicos mais especializados e fazer o debate. Os projetos precisam ser implantados como consequência de uma discussão e tendo objetivos claros e definidos. Não é porque deu certo em São Paulo ou em Barcelona que vai dar certo aqui. Falta essa visão, falta aproximar a Prefeitura do cidadão. O gestor público precisa enxergar a cidade com os olhos do coletivo.

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Fotos: Marcello Dantas/Jornal Opção

Marcos Nunes Carreiro — Esse é um discurso que tem sido feito há muito tempo. Não só nos municípios, co­mo nos Estados e no governo federal. Todos os candidatos dizem que é necessário fazer estudos técnicos, trazer a academia e aproximar a gestão da população. Porém, ninguém consegue fazer isso. Por quê?
Porque as pessoas não querem fazer. Ao vencer o processo eleitoral ou assumir posição importante na administração pública, elas se voltam para seus projetos pessoais e esquecem o mais importante. Então, minha proposta é justamente esta: afastar-me da velha política, dos conchavos de gabinete, dos acordos feitos em salas refrigeradas, do processo político-eleitoral apenas visando à próxima eleição. Minha tese é a discussão técnica, a transparência, o debate com a presença de novas tecnologias. Temos de ter uma cidade moderna, na qual as pessoas possam se manifestar e o poder público possa dar respostas claras e convincentes às demandas. E, como ex-presidente do Crea, ex-presidente da Assembleia, deputado estadual e federal, tive a oportunidade de debater e ter os instrumentos de realização nas mãos, sempre apresentando projetos exequíveis. Então, acho que falta vontade, eficiência, inteligência e iniciativas ousadas.

Cezar Santos — Fala-se muito em ITU e IPTU progressivos, mas não temos conseguido fazer isso funcionar. O sr. acha essa uma boa proposta para reduzir a especulação imobiliária?
É uma solução boa, desde que bem aplicada. As ideias existem; precisam ser bem aplicadas. O que não dá mais é, a qualquer problema no setor público, aumentarem a carga de impostos sobre o cidadão. Então, aumentam o combustível, dobram o IPTU ou criam uma taxa nova. Ninguém aguenta mais isso. A Prefeitura tem de enxugar custos e mostrar onde está aplicando os recursos. Ela tem de criar um conselho permanente de administração com representantes do setor empresarial, das universidades, das associações. É preciso haver uma nova forma de governar que não seja a atualmente conhecida: autoritária, arrogante, fechada dentro dos gabinetes com ar-condicionado, sem discutir a real situação das pessoas.

Frederico Vitor — O metrô é um modal de transporte coletivo importante, mas que parece muito distante de nossa realidade. Onde é bem executado, resolve os problemas de mobilidade urbana. O que o sr. acha dessa solução para Goiânia?
Toda solução de transporte público pode resolver o problema: o metrô, o VLT, o BRT. A questão principal disso são os custos e as receitas. O metrô é um meio de transporte de alta concentração e o custo de implantação é elevadíssimo. Então, são poucas cidades em que o metrô funciona. Em Brasília tem metrô e ele dava um prejuízo em torno de R$ 10, 12 milhões por mês. Quando se fala em implantar o trem-bala entre Rio de Janeiro e São Paulo, é viável. Mas em outra região do Brasil já não é. Na Europa, uma passagem de trem-bala custa 300 euros.

Tudo isso pesa na concepção. Goiânia é uma cidade que se espelhou muito nos conceitos adotados em Curitiba, uma cidade modelo, porque Jaime Lerner [arquiteto e ex-prefeito de Curitiba] participou do conselho mundial de cidades e absorveu bem a ideia do planejamento estratégico, além de ser uma pessoa pragmática. Então, as boas intervenções feitas em Goiânia nas décadas de 70 e 80 foram pensadas por ele. Só que isso não evoluiu. O transporte sobre rodas tem muitos problemas e dificuldades, mas em uma cidade plana como Goiânia, ele pode ser melhorado bastante. O nosso sistema — se mais bem ajustado à realidade vivida atualmente, de forma inteligente e adicionando uma série de elementos novos para melhorar a velocidade do transporte e o acesso ao veículo — permite que as pessoas usem o transporte. Mas o raciocínio básico de tudo o que se faz na administração pública é custo, receita e despesa.

Cezar Santos — O sr. já foi candidato a prefeito por duas vezes e não conseguiu vencer. O que o sr. apresentará de novo ao eleitor goianiense, se for candidato?
Eleição se vence de todas as formas. O importante é estar no debate, apresentando suas ideias. Fui candidato em 1992 por um partido pequeno, o PDC. E lembro que, na época, eu fui a sensação da eleição, pelas propostas e pela forma como fiz a campanha: gastando a sola do sapato, visitando os bairros e apresentando soluções ousadas para os problemas que enfrentávamos naquela época. Muitas daquelas propostas, se tivessem sido adotadas, teriam impedido o surgimento de vários problemas desde então.

Quando fui candidato em 1996, vivi uma experiência semelhante: comecei lá embaixo nas pesquisas, venci o candidato apoiado pela Prefeitura da época [o prefeito era Darci Accorsi (PT) e o candidato apoiado era o também Valdi Camarcio], fui para o segundo turno contra um político de peso que já havia sido prefeito da cidade duas vezes [Nion Albernaz, do PSDB] e levei a eleição até o último minuto do dia de votação. O resultado só saiu quando foram apurados todos os votos, quando foi possível verificar uma diferença mínima a favor do outro candidato. Então, a ideia é a mesma: vou continuar defendendo as minhas propostas, que evidentemente evoluíram. Estou mais maduro, mais agregador, mais conciliador, tenho conversado com mais pessoas, visitei mais cidades, comparei mais políticas públicas de solução e vou tentar passar essas ideias para a população — na saúde, na burocracia, no transporte coletivo, no caos do trânsito, na complexidade da proteção dos recursos naturais e do meio ambiente.

Sabemos da série de itens que afeta nossa vida no dia a dia, mas o debate nasce de um eixo primordial: a cidade foi feita para morar, trabalhar e ter lazer. Todo o resto está agregado a um planejamento estratégico de desenvolvimento econômico, algo que Goiânia sempre teve, mas que nos últimos anos perdeu sua referência frente à região Centro-Oeste, principalmente em relação a Brasília, que deixou de ser uma cidade essencialmente administrativa e passou a competir conosco. A criação de Palmas [capital do Tocantins] também fez perdermos um pouco de nosso vigor econômico.

Marcos Nunes Carreiro — O sr. diz que Goiânia sempre teve um planejamento técnico para a cidade. Mas a verdade é que, desde a década de 1940, observamos um crescimento desordenado, fator agravado na década de 1980, quando Iris Rezende incentivou a habitação da região Noroeste, criando um vácuo urbano entre o Centro e aquela região. E esse vácuo foi aproveitado pelas construtoras e imobiliárias, que desde então tomaram conta da cidade e que podem, agora, travar Goiânia. Isso não demonstra que falta planejamento há muito tempo?
Essa visão não é 100% correta. A cidade sempre teve planos e projetos adequados em vários momentos de sua história. Goiânia não ficou sem planejamento. Ela cresceu desordenadamente, mas com um planejamento mínimo. O que se perdeu foi a oportunidade de realizar conexões para evitar grandes problemas. Mas essa é uma realidade.

Eu digo que ela perdeu seu papel na região Centro-Oeste. E a expansão das cidades foi muito intensa no Brasil inteiro, não só em Goiânia, que é uma cidade até privilegiada por não ter grandes acidentes geográficos, inundações e favelizações. Isso porque a iniciativa privada também participa como grande amortecedor.

Muitas vezes os projetos públicos abandonam a população ao deus dará naqueles conjuntos sem infraestrutura, sem asfalto, sem escola, sem praça. A iniciativa privada, não. Ela leva infraestrutura, senão ela não abre espaço no mercado. É lógico que sempre vai existir especulação. A atividade econômica é o que puxa o desenvolvimento como um todo. Agora, o que falo de planejamento é que o Plano Diretor foi, ao longo dos anos, esquecido. Goiânia é uma das poucas cidades do Brasil 100% planejada. Claro que, com o crescimento desordenado, houve uma fragmentação, mas indiretamente ela sempre foi planejada, pois possui ligações entre os bairros que pode ser melhoradas. A cidade teve um crescimento explosivo, mas o Brasil também teve. Na década de 60, 50% da população morava na cidade e 50% no campo; atualmente, 90% dela está na cidade e 10% no campo. Então, o que precisamos é de uma forma decisiva de o poder público intervir: com discussão, com inteligência, com ligação direta com os segmentos que podem ajudar.

“Falam de política e se esquecem dos problemas da cidade”

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Pré-candidato à Prefeitura de Goiânia, ex-deputado Luiz Bittencourt: “Procuro intensificar minha presença na cidade” | Marcello Dantas/Jornal Opção

Frederico Vitor — Uma questão de grande demanda atual da sociedade é a segurança pública. É um dever do Estado e da União, mas há também uma crescente cobrança do poder municipal. Qual o papel da Prefeitura quanto a este assunto?
Muitas experiências da participação da administração municipal na segurança pública já foram feitas em várias cidades e lugares do mundo. O mais direto é quanto ao combate ao pequeno delito; é você estabelecer um controle e a prefeitura pode auxiliar nisto limpando lotes, destruindo os “mocós”, que são casas abandonadas, iluminando ruas, com uma vigilância adequada de equipamentos públicos e em escolas, conversando com os pais nos programas de relacionamento social e, principalmente, ajudando na polícia inteligente. A Prefeitura pode criar uma central com câmeras de vídeo em lugares de maior índice de criminalidade, nos pontos mais conturbado, pode contribuir de diversas maneiras, mas tem deixado de fazer isso. A segurança pública em Goiânia é uma questão grave. As pessoas têm medo hoje de sair às ruas.

Frederico Vitor — O sr. acha que Guarda armada é algo eficiente?
Não, sou contra a Guarda Municipal armada. Sou a favor do que disse: combate ao delito, vigilância permanente dos prédios públicos, integralização entre a ação da Guarda com a da Polícia Civil, criar uma polícia especializada para atuar na cidade na área de trânsito, na área de combate aos pequenos crimes, diferente da polícia de responsabilidade do governo estadual e federal.

Cezar Santos — A base do governo já tem alguns nomes colocados ou ventilados: Jayme Rincón, Waldir Soares, Fábio Souza, Giuseppe Vecci (todos do PSDB), Thiago Peixoto, Virmondes Cruvinel, Francisco Júnior (os três do PSD) e agora também seu nome. Por sua experiência, o sr. acredita que todos esses partidos da base devem lançar sua candidatura própria?
O PTB entrou no debate da sucessão de Goiânia apresentando candidatura independente, não é subalterna a nenhum partido político. Temos propostas, ideias consistentes para resolver os problemas da cidade e vamos debater isso dentro do contexto político-administrativo do município. A base aliada é outra situação. Inevita­vel­mente, serão cinco ou seis candidatos e existe uma tendência muito grande de vir PMDB, com a candidatura de Iris, e o PT — com seu nome ou em uma aliança com o PMDB — formando um polo de discussão. Eles estão aí há mais de dez anos e não conseguiram resolver os problemas da cidade. Outros candidatos de outros partidos vão apresentar uma proposta diferente da que existe hoje. Ninguém tem como escolher adversário, nem prever uma situação antecipada. Há um movimento forte no PSDB em lançar uma candidatura e o PSD tem bons quadros, que estão se colocando.

Também por aí há a possibilidade de mais candidatos. Vanderlan Cardoso (PSB) já se manifestou inicialmente. Então, eu acredito que será mantida a tradição da eleição em Goiânia que é de justamente ter cinco ou seis candidatos.

Marcos Nunes Carreiro — Percebemos que, embora haja muitos candidatos nos bastidores, nenhum deles se movimentou efetivamente para discutir a cidade, debater os problemas da cidade. Por quê? Está cedo ainda?
As candidaturas, de certa forma, ainda não estão maduras. As pessoas falam sobre a questão política, mas se esquecem dos problemas da cidade, que é aquilo que o PTB tem feito, de forma diferente. Temos propostas concretas para debater Goiânia e eu posso dizer que nasci em Goiânia, cresci aqui, conheço a cidade como a palma da minha mão. Disputei a Prefeitura duas vezes, estudei, sou engenheiro, fui presidente do Crea, visitei outras cidades, estabelecendo um elemento comparativo com os problemas daqui e as soluções que foram encontradas; leio sobre isso e tenho um ânimo enorme para discutir a cidade. Sinto prazer nisso, é bacana visualizar o problema e encontrar uma solução, tanto que, desde o primeiro minuto em que coloquei minha candidatura, tenho falado sobre os problemas, soluções e ideias, caminhos que podemos percorrer. Não serei um candidato messiânico, como alguns se colocam: “Vou resolver os problemas de Goiânia em seis meses” [promessa de Iris Rezende, em 2004, sobre o transporte público], isso não existe; precisamos ter planejamento a curto, médio e longo prazo. As pessoas ainda não têm um conhecimento exato das causas e consequências dos problemas que enfrentamos e a forma de resolvê-los.

Euler de França Belém — O sr. se encontrou com o governador Marconi Perillo. Como foi a conversa?
Foi uma conversa entre dois políticos com propósitos definidos. Ele, como governador de Goiás, filiado ao PSDB, e eu, como pré-candidato à Prefeitura de Goiânia e filiado ao PTB. Eu falei a ele sobre a intenção do partido em avançar com nossa pré-candidatura, das ideias que vão nortear o nosso debate, nossa participação na pré-campanha e ele disse da parceria que o PTB tem com seu projeto, da ajuda que lhe dei nas duas últimas eleições, da relação que temos de cordialidade e respeito. No fim, estimulou o nosso trabalho: “Coloque suas ideias, seus projetos, que o governo do Estado tem todo interesse em ter uma Prefeitura mais parceira, mais resolutiva nos problemas que a cidade enfrenta.” Foi uma conversa positiva, em que discutimos muitas questões relacionadas à cidade e, na questão política, há o respeito mútuo entre o partido dele e o nosso partido.

Euler de França Belém — Ele não fez restrição alguma a sua candidatura?
Em momento algum ele manifestou restrição ao projeto do PTB, a minha pré-candidatura ou aos demais companheiros, até porque o partido tem dado a ele um apoio sistemático em sua administração e durante todos os seus governos o PTB esteve na linha de frente.

Euler de França Belém — O PTB, antes de o sr. entrar no páreo, estava pretendendo lançar o deputado estadual Henrique Arantes, filho do presidente regional do partido, Jovair Arantes, como vice de uma chapa com o candidato Iris Rezende. Isso acabou de vez? Está sepultada esta aliança?
Minha pré-candidatura passou por essa situação. Havia, sim, uma discussão aberta com outros partidos políticos, no sentido de fazer alianças para o debate eleitoral de Goiânia. Com minha pré-candidatura, esse assunto se encerrou, até porque o deputado Jovair foi muito incisivo nesse convite a mim, no sentido de que o PTB pudesse ter um candidato que caminhasse de forma independente, sem ser subalterno, mas com capacidade de apresentar soluções aos problemas que enfrentamos.

Cezar Santos — Na eleição passada, o sr. chegou a ter seu nome cogitado à Prefeitura de Senador Canedo. O sr. chegou a pensar em se candidatar ou foi só um balão de ensaio?
Na realidade, na eleição passada, eu transferi meu título para Senador Canedo porque eu não queria passar pela hipótese de ter uma candidatura em Goiânia. Fui procurado por muitos partidos e muito incentivado também pelo PTB, tanto que lançou a candidatura de Jovair. Então, quis me assegurar de não ter essa recaída de voltar à política, achava que precisava de mais um tempo fora, refletindo, modificando a minha forma de encarar o mundo. E isso foi bom, pois me aprimorei mais, me purifiquei. Hoje, eu estou menos político e mais técnico. Estou renovado na luta política.

Euler de França Belém — O sr., quando era deputado federal pelo PMDB, na campanha para governador, continuou no partido, mas não quis apoiar Iris Rezende, que era de seu partido. Qual foi o motivo? Renovação?
Já havia um desgaste muito grande em nossa relação. Iris, quando venceu as eleições para prefeito, fez a roda da história rodar para trás, pois ele tinha sido prefeito na década de 60 e tinha passado por todas as experiências: prefeito, governador por duas vezes, senador, ministro. Ao voltar à Prefeitura, bloqueou todas as lideranças do partido que tinham possibilidade de ter uma ascensão política mais efetiva. Acabou impedindo que Maguito Vilela fosse candidato à reeleição para o governo [em 1998] e fez com que saíssem do PMDB quadros como Barbosa Neto, Sandro Mabel [ex-deputados federais], Jovair Arantes [deputado federal], Lúcia Vânia [senadora pelo PSB], Nion Albernaz, Mauro Borges [ex-governador], Henrique Santillo [ex-governador] e mesmo Marconi Perillo. Todas essas lideranças do PMDB saíram por causa da insistência de Iris em seu projeto pessoal. Naquele momento, nós, que éramos poucos remanescentes da força política que o PMDB tinha, eu mesmo disse: “Se Iris for candidato a prefeito, ele será um candidato com chance de ganhar, pois é muito forte e muito respeitado politicamente em Goiânia e ganhará, pois os adversários não são capazes de derrotá-lo. Depois, será candidato à reeleição, candidato a governador, voltará à reeleição e nós ficaremos aqui, eternamente, disputando eleição de deputado federal.” Isso acabou exaurindo o partido, porque todos nós tínhamos a intenção de disputar outros espaços.

Assim, o PMDB acabou definhando, perdeu muito de sua representatividade em Goiás e, hoje, é um partido equiparado a partidos menores, dada sua falta de densidade, de representantes. Em segundo lugar, passou a ter uma falta de inserção no debate político. Seus líderes, os maiores do PMDB, não discutem, não se reúnem e não têm um projeto grande nem para a cidade nem para Goiás.

Euler de França Belém — O sr. não está no partido, mas, ao mesmo tempo, poucas pessoas conhecem tão bem o PMDB. Existe uma rebelião lá dentro. Afirmam que Iris Rezende quer ser candidato ao governo do Estado de novo, em 2018, alegando que não terá Marconi como rival e que, sem ele, ganhará. Seu vice seria o deputado Luis Cesar Bueno (PT), que assumiria quando ele renunciasse para a disputa do governo. Pelo que o sr. conhece, o deputado Daniel Vilela (PMDB) tem alguma chance nessa luta? Ele “pôs o pé na porta” e conseguiu uma “microvitória” na disputa do diretório — o que, em se tratando de Iris, na verdade, é uma grande vitória.
Há mesmo uma rebelião interna, as lideranças dos municípios e os parlamentares já estão exauridos. Há uma fadiga dessa imposição política de um nome e de um projeto político repetitivo que está se tornando um samba de uma nota só. A chance de uma nova derrota, o esvaziamento político que o partido passou a ter, a insignificância do debate político eleitoral de Goiás, tudo isso acabou agravando a relação. Os deputados se rebelaram e foram para as vias de fato. Acho que isso será ruim para Iris de um lado e bom para o PMDB do outro. Essa é a chance que o partido tem de se revigorar e se renovar.

Euler de França Belém — Fala-se que nas eleições de Goiânia há um brasileiro e os outros são todos “japoneses”. Se tirar do páreo esse “brasileiro”, que é Iris Rezende, sobram apenas os japoneses. O sr. vê dessa forma?
Na medida em que começo a aparecer novamente nas pílulas do PTB, começo a ser reconhecido novamente nos shoppings, na feira e outros lugares como supermercado. Percebo que as pessoas estão me enxergando. Neste cenário, tenho mais consistência do que os outros candidatos, já que sempre tive votação expressiva em Goiânia. Nas eleições de 1992, por exemplo, fui o candidato que mais cresceu, sai de 1% para 12%. Naquela época as pesquisas eram muito manipuladas e me apontavam com 1%. Nas eleições seguintes, sai com 5% e fui para o segundo turno, superando o candidato do PT [Valdi Camarcio], que estava na Prefeitura. Disputei a etapa seguinte da eleição com um candidato fortíssimo [Nion Albernaz] que tinha uma relação de reciprocidade com a população que era muito forte. Sinto que nos próximos meses posso ficar mais reconhecido dos eleitores.

Euler de França Belém — Espe­cialistas dizem que Goiânia tem uma classe média muito forte, que observa muito os candidatos e suas propostas, além de suas capacidades pessoais. Temos Iris em 1º lugar, alguém que representaria o antigo e o arcaico, e em 2º um outsider, que não parece ser gabaritado no ponto de vista técnico nem discute propostas avançadas, o deputado federal Waldir Soares (PSDB). Como o sr. avalia um personagem como esse?
A necessidade da população em determinado momento concentra a manifestação do voto em uma candidatura. Waldir encarna isso, o justiceiro que vem para acabar com a falha da segurança pública, com a bandidagem. Ele representa isso, principalmente nos bairros mais afastados, onde este problema é maior e mais acentuado. É uma pessoa boa que, se for candidato, dará trabalho.

Euler de França Belém — A campanha será bem mais curta, com 45 dias no total e apenas 35 dias na TV. A pré-campanha terá de ser mais intensificada. Uma alternativa será trabalhar na internet, pelas redes sociais. O sr. acha isso importante?
Quando comecei a discutir com o PTB o lançamento de uma pré-candidatura, achava que, daqui a um tempo, dois ou três dias, eu iria a um jornal ou a uma rádio para dar entrevistas. Só que, logo depois da reunião à noite, no outro dia pela manhã a notícia já estava esparramada. A disseminação da notícia já tinha ocorrido. Tive de acelerar o passo para comunicar às lideranças mais próximas. Essas ferramentas democratizam mais o processo, porque expõem com mais rapidez e dão a possibilidade de um comício virtual permanente. É preciso estar falando, respondendo, defendendo propostas. Estamos já organizando uma frente tecnológica para divulgar nosso trabalho.

Euler de França Belém — O PTB é da base do governador. Mas as reações mais duras quanto ao lançamento de seu nome vieram não do PT ou do PMDB, mas exatamente dessa base aliada. Por quê?
Em um primeiro momento, não entendi essa frente de ataques à minha pré-candidatura por parte de colegas da base. Mas, independentemente disso, avançamos com nossa postulação. Temos propostas concretas para a cidade e estamos conversando com outros partidos. Já senti que temos a simpatia dessas siglas. E já ouvi manifestação de apoio de gente do PMDB, do PT, do PSDB, do PSD, do PSB. Vejo, então, que meu nome tem um trânsito livre na maioria das forças partidárias. Não sinto dificuldade para me aproximar de setores de outros partidos. Isso é importante, porque é o queremos: uma candidatura com debate técnico, fugindo da política de conchavos de gabinete. Queremos aproximar a administração pública das pessoas, buscando as melhores cabeças em todos os segmentos, para que apresentemos um projeto que possa refundar Goiânia e estabelecer para a cidade uma nova fase virtuosa.

Euler de França Belém — Não há o risco de a base sofrer uma batalha fratricida durante a campanha?
Estou focado em nosso projeto e vamos caminhar sempre na apresentação de propostas, sem responder ataques, sem intrigas pessoais. Vamos focar 100% na resolução de problemas da cidade.

Euler de França Belém — Em Goiânia a coisa mais difícil é ver um idoso andando em nossas calçadas que são, na maioria, inadequadas. É difícil padronizar as calçadas?
Não é. Têm de existir uma fiscalização eficiente e o convencimento das pessoas de que essa ação de mobilidade para o pedestre é necessária. Em alguns lugares de Goiânia, onde houve essa política pública, conseguimos evoluir. Mas a Prefeitura não trata isso prioritariamente.

Cerca de 35% das pessoas vão para o trabalho a pé, como já disse, um fator importante. Se há dificuldade de andar pelas calçadas, as pessoas vão optar por ir de carro. No começo da cidade, as pessoas andavam na Avenida Goiás, na Praça Cívica, porque o nível da calçada com a rua era respeitado. Havia uma fluidez nas calçadas. Isso tem que ser tratado objetivamente. Cada um é responsável por sua calçada, assim todos deveriam pensar.

Cerca vez, vi um rapaz com uma deficiência nas pernas, andando em uma calçada da T-5, próximo a uma banca de jornal, acima do Parque Vaca Brava. A calçada tinha uma lombada que, quando vi, pensei que ele iria cair. Mas deduzi que ele passava ali muitas vezes, a solução encontrada por ele para sobrepor a lombada me chamou a atenção. Ele se sustentou pelos braços em um corrimão de uma escada e saltou a lombada com o impulso. Isso prova que em Goiânia não há preocupação com as calçadas, não há uma cultura de respeito quanto a isso, porque o poder público não se preocupa.

Não adianta fazer ciclofaixa para ser usada no domingo. Trata-se de um projeto improvisado. A velocidade dos carros onde há ciclovias deve ser limitada a 30 km/h. Isto está nos manuais de segurança. Eu mesmo já fui atropelado numa ciclovia no Rio de Janeiro, na praia de Ipanema.

Euler de França Belém — Em todas as cidades modernas do mundo estão eliminando os elevados, mas em Goiânia ocorre o contrário. Esta não é uma política atrasada?
Sim. Esta é uma discussão superada que todo mundo já abandonou. Há muitas outras formas de fazer a ocupação do solo de forma inteligente.

Euler de França Belém — Há um problema na cidade: acabam com as praças para melhorar o trânsito. Na prática, isso acaba resultando em outro problema.
Goiânia era conhecida como a cidade das praças. Uma vez eu trouxe o presidente da Assembleia do Rio Grande do Sul, José Otávio Ger­ma­no, e o do Ceará, Cid Gomes, para Goiânia, e eles ficaram impressionados com as praças da cidade do trajeto do aeroporto até a Assembleia. Nos últimos anos, destruíram as praças de Goiânia, um espaço importantíssimo de convivência e troca de informações. Nestes últimos anos perdemos grandes praças. Acabou piorando tudo, antecipando o congestionamento e a confusão no trânsito.

Euler de França Belém — O sr. disse que Goiânia precisa de um projeto econômico, e realmente precisa. Mas como seria isso? Em quais áreas isso ocorreria?
Vejo que Goiânia tem de ser refundada nesse sentido. Nós exercemos um papel muito forte durante muitos anos: as melhores universidades eram aqui, assim como as grandes empresas de engenharia, as grandes transportadoras, os escritórios regionais dos principais bancos do País, os principais hospitais etc. Fomos perdendo isso, porque Brasília foi deixando de ser uma cidade essencialmente administrativa e tem um aeroporto do qual se vai para qualquer lugar do Brasil ou do mundo. De Goiânia, só se sai para Brasília ou para São Paulo. Se quiser ir para o Recife, tem de pegar um voo para São Paulo e, depois, para lá. Mas fica seis horas dentro do avião.

Isso cria obstáculos enormes para as empresas que querem vir para cá. Como fazer negócios, como gerar riquezas, se a cidade não tem mais um ambiente favorável? Temos de reverter isso urgentemente. Qual o caminho mais curto? O agronegócio. É preciso criar aqui um centro de tecnologia rural, trazer novas empresas da área digital, criar várias possibilidades nesse sentido. É preciso criar todo um ambiente favorável, em todos os aspectos: boas universidades, bons hospitais, transporte coletivo de qualidade, trânsito fluido. É preciso refundar aquilo que já tínhamos, em saúde, em universidades e em relação ao setor empresarial. É bom lembrar que a sede nacional da Encol, da Emsa, o escritório regional do Banespa, do Bradesco e do Banco do Brasil, o centro de conversação da Telebrás, tudo isso era aqui e foi embora para Brasília ou para Uberlândia. Goiânia deixou de ser uma cidade moderna. O agronegócio é uma âncora, nesse sentido. O Estado cresce mais que a média nacional fundamentalmente por conta dele. Estamos segurando a economia por conta da competitividade do produto agrícola e na forte produção que alcançamos em função da tecnologia aplicada na agricultura, na pecuária e na indústria de transformação de base.

Cezar Santos — O partido está trabalhando na formatação dessas ideias?
Estamos trabalhando em estágios. Num primeiro momento, essa discussão política é muito forte, porque tivemos de conversar com os membros do partido. Eu mesmo estive fora por muito tempo. Precisamos também conversar com outros partidos políticos, para formatar uma liderança. Estou também fazendo uma agenda com segmentos organizados e movimentos sociais. Procuro intensificar minha presença na cidade. Goiânia deixou de ser monocentralizada, há vários “centrinhos” espalhados. Vá ao Parque Amazônia, por exemplo: lá tem praças, supermercados, agência dos Correios, bancos, postos de combustíveis, farmácias etc. O mesmo ocorre na Vila Mutirão ou lá no Setor Novo Horizonte. Então, o cidadão resolve sua vida perto de sua casa, mesmo. Isso precisa ser levado em consideração no planejamento, são várias cidades dentro de uma.

É uma situação em que se pode até estimular alguns projetos, em várias áreas.

Euler de França Belém — O Plano Diretor tem um trabalho específico sobre a questão das águas. Como o sr. vê isso?
O problema da água é, de certa forma, mundial. Em Goiânia, temos os córregos, os ribeirões e o Rio Meia Ponte, que é o maior manancial. O João Leite está num projeto de abastecimento da cidade em médio e em longo prazo. É preciso ter um tratamento de proteção das microbacias, de recuperação das nascentes, de cuidar da cobertura vegetal, um projeto de zona verde, que é muito interessante. Não podemos destruir os recursos naturais e a água será um elemento estratégico.

Euler de França Belém — Como o sr. vê a figura de Marconi Perillo? Ele pode ser considerado um modernizador, como foram, no passado, Pedro Ludovico e Iris Rezende? Enquanto outros Estados estão em crise, parcelando salários, Goiás paga 90% até o dia 30, apenas 10% fica até o dia 10 do mês seguinte. Como o sr. o avalia?
Marconi Perillo é sempre um político muito aberto, muito centrado, focado em soluções. Ele se submeteu a um amadurecimento de forma a evoluir sempre. É alguém que dialoga com as universidades, com os segmentos organizados, com novas lideranças, buscando novas ideias. Resumindo, eu digo que ele é um governador contemporâneo, ágil, moderno e sempre atento. O resultado é o que a gente vê em vários setores, como na educação e nos programas sociais, cuja evolução pudemos observar nos últimos anos. Outras lideranças do passado, que quiseram estar no poder sem se aprimorar, acabaram por se perder no caminho.