“Um político que já disputou o governo duas vezes e a Prefeitura de Goiânia quer ser ouvido”

03 junho 2018 às 00h00

COMPARTILHAR
Insatisfeito com situação no PSB, onde alega que não era consultado na hora das decisões partidárias, ex-prefeito de Senador Canedo migrou para o Progressistas

Duas eleições ao governo estadual, uma à Prefeitura de Goiânia e duas vitórias em Senador Canedo nas urnas. Esse é o histórico político de Vanderlan Cardoso, que trocou o PSB na janela partidária pelo Progressistas do também recém-chegado no partido, o ministro Alexandre Baldy. “A decisão do projeto do PSB de declarar apoio ao governador foi muito antecipada. Não fomos consultados sobre esse assunto. Isso pesou bastante para a minha saída do partido”, explica Vanderlan.
Ao se dizer ainda desanimado – o que pode mudar – a disputar qualquer cargo eletivo em outubro, o agora progressista diz que a construção do projeto do novo partido tem respeitado o seu direito a ter voz nas decisões da sigla. “O Progressistas está no caminho certo, tem conversado e não fechou porta para ninguém. Não houve recomendação do ministro Baldy de não conversar com qualquer que seja o pré-candidato.”
Augusto Diniz – O que motivou a saída do PSB e a filiação no Progressistas?
O PSB foi o partido que me recebeu e pelo qual tive a oportunidade de ser candidato a governador e a prefeito de Goiânia. A decisão do projeto do PSB de declarar apoio ao governador foi muito antecipada. Não fomos consultados sobre esse assunto. Isso pesou bastante para a minha saída do partido. Uma decisão tão séria como essa deveria ter sido conversada com as lideranças do partido, o que não aconteceu.
O convite do ministro Alexandre Baldy, que havia acabado de assumir o Progressistas, me deu liberdade e veio com o compromisso de discutir no momento certo com quem caminhar nas eleições deste ano. Tenho um carinho muito especial por todos no PSB, inclusive pela direção nacional, que me deu total respaldo quando estive no partido.
Augusto Diniz – O vereador Elias Vaz diz que tentou convencê-lo a permanecer no PSB. Como foram essas conversas e como ficou a relação do sr. com a senadora Lúcia Vânia?
A relação é excelente. Quando tomei a decisão, procurei conversar com a senadora. Fui até a casa da Lúcia Vânia e comuniquei a minha decisão de sair do partido. Até aquele momento, não tinha decidido para qual partido iria. Conversava com outros partidos e bastante com Elias Vaz. Nas últimas três eleições que participei – como candidato a governador e a prefeito de Goiânia -, o vereador é uma das pessoas que esteve ao meu lado e me ajudou bastante. Tenho um respeito muito grande pelo Elias e fui um dos incentivadores para que ele colocasse o nome como pré-candidato a deputado federal. Essa postulação tem crescido e espero que Elias seja eleito deputado federal para ajudar o nosso Estado.
Foram várias as conversas com o vereador, que pediu para que eu não saísse do PSB. Mas a decisão já havia sido tomada, estava muito desconfortável com a minha situação no partido. Um político que já disputou o governo duas vezes, a Prefeitura de Goiânia – com quase 300 mil votos no segundo turno na capital -, quer ser ouvido. Embora ainda não tenha projeto definido para este ano, queremos ouvir e participar do processo. No PSB eu estava muito engessado.
A situação hoje no Progressistas é o contrário, aqui eu participo das conversas e definições do partido. Eu, que não tenho problema com nenhum dos pré-candidatos a governador, tenho total liberdade para conversar com todos eles. Lógico que a decisão será tomada mais adiante pelo partido, e com certeza será por todos.
Patrícia Moraes Machado – O sr. se queixa de não ter sido ouvido no PSB. O Progressistas não corre o mesmo risco, quando o sr. e Baldy têm dialogado com o senador Ronaldo Caiado (DEM) e o deputado Daniel Vilela (MDB), mas a base de deputados e prefeitos do partido defende a aliança com o governador José Eliton (PSDB)?
O ministro é recém-chegado ao Progressistas. Baldy está agendando uma reunião para começar as discussões sobre projetos eleitorais. Sabemos da preferência dos deputados federais do partido por acompanhar a base do governo. Isso é público e notório. Claro que isso terá um peso grande porque são deputados federais, são políticos que estão há muitos anos no partido. Quando o ministro me procurou para que começássemos a conversar, disse que procuraria os deputados no momento certo para que todos participem das definições.
Antes de chegar ao Progressistas, já estava conversando com os pré-candidatos, tanto Caiado, quanto Daniel e José Eliton. Conversamos diversas vezes. Eu não deixarei de conversar com qualquer um deles. Sendo procurado, por conta própria ou a pedido do ministro, mas sempre com muita cautela para respeitar as preferências que cada filiado tem por determinado projeto. No momento certo haverá um consenso para decidir com qual projeto caminharemos. E isso deve acontecer com a proximidade das convenções.
Augusto Diniz – O Progressistas tem dois deputados – Roberto Balestra e Sandes Júnior – que tem uma identificação antiga com a base do governo. E ao mesmo tempo tem atuado de forma suprapartidária ajudando prefeitos de diversos partidos por meio do ministro Alexandre Baldy. Qual é o peso desses dois parlamentares na decisão do partido? Baldy tem defendido que é preciso esperar até o dia 5 de agosto.
Eles serão decisivos. Balestra e Sandes têm uma história de muitos anos no partidos. O deputado Heuler Cruvinel acabou de chegar ao Progressistas e também será decisivo, é uma liderança do Sudoeste goiano. As discussões vão passar por eles. O Progressistas tem ajudado muito a Prefeitura de Goiânia, mas também o Estado e outros municípios por meio do ministro, deixando de lado a questão partidária.
Marcelo Mariano – Essa posição de aguardar até o dia 5 de agosto não passa a impressão de que o partido está fazendo barganha política ao invés de se preocupar com os interesses do Estado?
Não passa. Se você observar, são pouquíssimos os partidos que já decidiram essa questão. Talvez os partidos menores, que podem declarar apoio hoje e amanhã mudarem de lado. Os partidos maiores sempre têm essa característica de esperar um pouco mais para ver quais candidaturas irão se firmar antes de tomar uma decisão. Muitas vezes é melhor tomar uma decisão madura do que se precipitar e ter de voltar atrás.
O Progressistas está no caminho certo, tem conversado e não fechou porta para ninguém. Não houve recomendação do ministro Baldy de não conversar com qualquer que seja o pré-candidato. Não menosprezamos ninguém, porque não há eleição ganha ou perdida. Vimos o prefeito de Belo Horizonte – Alexandre Kalil (PHS) – começar a campanha com 1,5% sozinho e foi eleito.
Patrícia Moraes Machado – O sr. conviveu com os três pré-candidatos. Esteve com Caiado, Daniel e em 2016 ao lado de José Eliton. Como o sr. os vê enquanto figuras políticas e o que esperar de cada um deles como governador?
Cada um tem o seu estilo. Com Ronaldo, tivemos um projeto para o governo do Estado por quase dois anos. Caiado acabou deixando o projeto quando Marina Silva compôs com Eduardo Campos. Estive por um ano no MDB. Praticamente todas as viagens que fizemos pelo interior conhecendo a família do MDB Daniel estava junto, assim como Pedro Chaves e outros membros do partido. Com José Eliton a aproximação aconteceu durante as eleições de 2016, quando o governador me apoiou e me ajudou na campanha. Mesmo depois do atentado trágico em Itumbiara.
São estilos diferentes. Como governador, José Eliton está impondo o seu ritmo. Ele sabe das dificuldades que enfrentará e é preciso acelerar o passo mais do que os outros porque está com o poder na mão. José Eliton tem que, em um curto espaço de tempo, mostrar que tem condição de governar o Estado. Por isso que implantou muitos projetos com boa avaliação da população e que, com certeza, vai colher frutos. Talvez o maior adversário do governador hoje sejam os 20 anos que o PSDB tem de comando no Estado. O que já aconteceu com o MDB em Goiás e tem acontecido com Geraldo Alckmin em São Paulo. É algo natural. Não é porque o governador é José Eliton.
Ele tem um curto espaço de tempo para crescer nas pesquisas, o que influencia muito. Por ter disputado o governo duas vezes, sei o quanto pesquisa ainda influencia muito o eleitorado goiano.
Patrícia Moraes Machado – Mas quem são Caiado e Daniel para o sr.? O que esperar dos dois como governador?
Ronaldo Caiado ainda não foi testado no Executivo. Legislativo é uma coisa, Executivo é completamente diferente. Uma coisa é falar, principalmente na oposição, e cobrar. Quando se está na oposição, as coisas parecem ser mais fáceis do que são. Se Caiado tivesse experiência no Executivo, provavelmente não faria algumas promessas que tem feito. Mas hoje é o líder das pesquisas, tem uma aprovação no Legislativo. Tem sido um bom senador para Goiás. O momento está favorecendo uma candidatura como a do Caiado.
Mas ainda não sabemos o efeito da greve dos caminhoneiros nas eleições. Estamos vivendo no Brasil uma situação diferente a cada dia. O que hoje parece estar indo podem amanhã pode complicar. O Brasil tinha começado a recuperar a economia, as pessoas começavam a mostrar otimismo. De repente, está indo tudo por água abaixo. As coisas têm mudado muito rápido no nosso País.
Daniel vem como um jovem, que, se não me engano, tem a mesma idade de Marconi Perillo (PSDB) quando venceu as eleições em 1998: 35 anos. Na época, Marconi foi muito criticado pela sua juventude, por sua falta de experiência. Assumiu e implantou muitos programas que até hoje trazem resultado, como o Cheque Moradia, Cheque Reforma e a Bolsa Universitária. Daniel tem o perfil da renovação pela sua juventude e tem opinião própria, que é algo muito positivo. Tem a figura do pai, Maguito Vilela (MDB), que fez um governo bem avaliado e saiu de uma administração muito exitosa em Aparecida de Goiânia.
Poucas pessoas com a importância nacional que tinha Maguito queriam governar Aparecida pela quantidade de problemas que a cidade tinha. Hoje é uma cidade que as pessoas têm orgulho de dizer que moram ali.
José Eliton vem de uma experiência de sete anos como vice de Marconi e que acaba de assumir o governo. Experiência administrativa ele tem, vai depender muito dele. Já mostrou a sua forma de governar, que é um pouco diferente do ex-governador Marconi Perillo e também de Alcides Rodrigues. E tem conseguido passar para as lideranças e para a opinião pública a imagem de que tem uma forma de governar.
Não existe qualquer possibilidade de dizer que a eleição está definida. Os três têm condições de serem eleitos. Vai depender muito de como vão se apresentar, qual será o plano de governo, o que apresentarão para a sociedade. O eleitor tende a escolher um projeto mais consistente.
Marcelo Mariano – O sr. aceitaria ser candidato a vice-governador na chapa de qual dos três?
Não tenho nada definido sobre candidatura nestas eleições. Temos conversado e vejo surgir meu nome para vice ou participando de uma chapa majoritária. Pelo momento que o País atravessa, estou muito envolvido com a situação das minhas empresas. Estou avaliando a possibilidade, mas o momento é de diálogo. O pouco tempo que tem me sobrado tenho procurado conversar sem fechar as portas para ninguém. Tenho dialogado com todos aqueles que me procuram. Não tenho problema com nenhum dos três. E nem quero ter. Vim para a política para fazer amigos. Até porque o adversário político de hoje pode ser o aliado de amanhã.
Cezar Santos – Há pouco o sr. disse que Caiado, pela falta de experiência no Executivo, tem feito propostas que são prova da falta de conhecimento. Quais propostas seriam essas?
Com os ânimos muito exaltados, o desespero da classe empresarial e trabalhadora com relação à greve, fala-se muito em redução de tributos. E para se fazer isso, é preciso saber de onde tirar. E para reduzir determinado tributo, aprovado por lei, é preciso tirar de algum outro lugar. Não vejo hoje Goiás em condição de reduzir a carga tributária em cima dos combustíveis.
Embora discorde muito da taxa, que eu considero muito abusiva, com um ICMS de 30%. Isso não valor de imposto para ser cobrado. O ICMS sobre o diesel é altíssimo, porque o diesel que gera riqueza e renda. São os pivôs, a lavoura, os tratores e o agronegócio que dependem do diesel. E esse ICMS é altíssimo.
Precisamos ter muito zelo em um momento como esse. Não adianta apresentar determinadas propostas só pelo momento. É preciso analisar melhor de onde virá o recurso para cobrir a redução de determinado imposto.
“A disputa eleitoral fez com que eu me afastasse um pouco das minhas empresas”

Patrícia Moraes Machado – Para reduzir um importo seria necessário retirar benefícios conquistados?
Busca de recurso extra. Seria preciso partir para uma quebra de incentivos, muitos deles garantidos por lei. Correria-se o risco de empresas buscarem outros lugares para se instalar pela desvantagem em manter o negócio em determinada região. Por isso é preciso ter muito zelo. Sempre me preocupei em ser muito cauteloso na hora de apresentar um plano de governo, para dizer quanto custaria cada proposta e de onde viria o recurso.
Em 2014, andamos o Estado inteiro e mostramos, por exemplo, como arcaríamos com as cirurgias eletivas, quanto custaria e como funcionaria nos quatro anos de gestão. Mas algumas propostas que surgem em época de pré-campanha e campanha que podem até funcionar para o momento. Tem muita gente que acredita. Como foi o caso de Goiânia, que foi emblemático.
Fernanda Garcia – Foi noticiado que o senador Wilder Morais (DEM) estaria trabalhando para convencer Daniel a compor chapa com Caiado. Essa seria uma boa decisão?
Nem vem ao caso se seria ou não uma boa decisão. Mas é algo impossível de acontecer pela forma que Ronaldo agiu com relação aos prefeitos do MDB. Aquilo afastou ainda mais Daniel de Caiado. Se tornou algo muito pessoal. Quando parte para uma disputa pessoal começam as brigas e boatos. Vejo Daniel e Caiado muito distantes.
Marcelo Mariano – MDB então estaria mais próximo do PSDB em uma possível aliança no segundo turno?
Vejo bom diálogo do MDB com o PSDB. Vejo lideranças do MDB conversando com o PSDB. Mas não acredito em aliança do MDB com PSDB no primeiro turno. Dependendo de quem vá para o segundo turno, pode ser que aconteça a união.
Augusto Diniz – O sr. tem sido cotado como possível candidato a vice-governador, até mesmo a senador. Há o interesse em ser candidato?
O fato de ainda não estar empolgado para disputar a eleição não me dá preferência para ser vice, concorrer ao Senado ou a deputado. É preciso aguardar um pouco mais. Estou muito envolvido com as empresas. Tudo depende de conseguir reorganizar a vida profissional. Depois disso, quem sabe eu não me anime a discutir alguma proposta. Coloquei meu nome à disposição do partido para discutir, mas é preciso algo mais até as convenções para definir sobre uma candidatura. No momento quero participar das conversas. Vamos ver mais para frente o que o partido vai definir. Não sou eu quem define.
Augusto Diniz – Por que ainda falta empolgação para disputar a eleição?
O momento político está muito difícil. Venho de três eleições pesadas com três derrotas. E a disputa eleitoral fez com que eu me afastasse um pouco das minhas empresas. Não sou político 100%. Tenho as empresas, muitos funcionários. Tem funcionário que está comigo há 30 anos. Tem quem viva da política, que se profissionalizou na política e a vida dele é aquilo. Não é o meu caso, que sou empresário. Há outros empresários, que também participam da vida pública, e que estão na mesma situação.
Estou há mais de um ano fora das discussões, atividade que só retomei agora, mas preciso pensar na crise que o País enfrenta, preciso cuidar das empresas para também não entrarem em crise. Chega o final do mês e a minha preocupação é pagamento de folha, impostos, fornecedores. Quem se dedica 100% à política sai na frente. Meu tempo fica mais curto para cuidar das discussões eleitorais pela vida profissional.
Marcelo Mariano – O sr. prefere se apresentar como político ou empresário?
Os dois. Gosto de fazer a boa política. Não tenho vergonha em hipótese alguma de dizer que sou político. Eu não participaria e estaria ajudando nas discussões se não gostasse de política. Gosto e acredito na boa política.
Marcelo Mariano – O sr. disse que no momento não está empolgado em ser candidato. Mas o que motiva mais o sr., a disputa pela Prefeitura de Goiânia em 2020 ou ao governo em 2022?
Disputar a Prefeitura de Goiânia foi uma experiência que me fez conhecer bem a capital. Como eu fui para o segundo turno, é natural pensar nas eleições de 2020 em Goiânia. Se eu disser que não estaria mentindo. Mas é muito cedo para dizer que vou disputar. Vamos ver como vai ser até lá. Goiânia como está hoje é um desafio. A capital precisa de gestão, acompanhamento de perto, dedicação. A população está muito desanimada com os rumos que Goiânia tem seguido.
Cezar Santos – Foi uma decepção para o sr. ver um político com a experiência e história de Iris Rezende fazer uma gestão tão abaixo do esperado?
O Iris que nós conhecemos – ele era prefeito de Goiânia quando fui prefeito em Senador Canedo – era aquele que me ajudava a resolver todos os problemas que tínhamos na divisa com rapidez. Era uma agilidade muito grande que víamos no Iris, até pelo histórico de suas administrações. Ver a maneira como Goiânia está sendo administrada nos deixa sem entender. Mas temos tentado ajudar, por meio do ministro, com liberação de verbas para a Marginal Botafogo, BRT.
Temos visto uma participação grande do Progressistas. Como o partido está ajudando a prefeitura, o ministro me pediu para também ajudar. Para mim a eleição passou. Não torço pelo quanto pior melhor. Lamento que hoje Iris esteja administrando Goiânia com problemas se agravando.
Marcelo Mariano – O que o sr. teria feito de diferente se tivesse sido eleito?
Muita coisa. Goiânia precisa urgentemente de um programa de geração de emprego. Apresentamos a proposta dos polos de desenvolvimento, que depois foi copiada no decorrer da campanha, tínhamos projeto para buscar ajuda com recursos do governo federal e do BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento] para a Marginal Botafogo. Enquanto aquele problema não for encarado de frente a cidade vai jogar dinheiro fora. Tínhamos projetado a abertura da Marginal, com uma proposta completamente diferente. É caro, mas enquanto não fizer vai ficar sem solução.
Fernanda Garcia – Até que ponto a gestão Paulo Garcia travou a Prefeitura de Goiânia, já que a administração de Iris alega que as dívidas impedem que a cidade avance?
É um discurso usado como desculpa pelo mau momento enfrentado. Todo candidato que enfrenta uma eleição importante como a de Goiânia precisa saber a realidade do município para apresentar propostas. Se ele fez as propostas que fez é porque sabia da realidade do município. Não tem feito o que prometeu, mas por que não está acontecendo? Não pode jogar a culpa no outro. É um desculpa para justificar o não cumprimento das promessas de campanha.
Pode ser que venha a cumprir as promessas, como a criação das regionais – subprefeituras -, que seria uma solução para reduzir custos. Até hoje não foi criada nenhuma. Os polos de desenvolvimento estão sendo copiados agora. Chegaram à conclusão de que os polos são importantes para manter as pessoas nas regiões e incentivar o desenvolvimento.
“Se não fossem os caminhoneiros seria outra categoria”
Patrícia Moraes Monteiro – Henrique Meirelles disse que se a política econômica implantada pelo governo Temer precisa ser mantida para que o Brasil volte a crescer. Como empresário, como que o sr. tem avaliado os pré-candidatos a presidente?
Qualquer que seja o próximo presidente, se os problemas crônicos do País não forem atacados de frente, pode ser quem for que não vai resolver. É preciso resolver o problema da previdência, reforma tributária, melhorar a divisão da arrecadação com os municípios. Precisa ser encarada de frente a questão do limite de gastos e salários. Meirelles, Bolsonaro ou quem quer que seja. Temos problemas crônicos, sérios, para resolver e não adianta ficar tapando o Sol com a peneira. Não tem mais de onde tirar recursos.
A classe que gera emprego e renda nesse País não aguenta mais, a que arca com bilhões em benefícios que foram criados por politicagem sem saber de onde virá o dinheiro, caso não seja encarado de frente esse problema e acabe com isso. A consequência está na greve dos caminhoneiros. Isso estava previsto. Se não fossem os caminhoneiros seria outra categoria. Ninguém aguenta mais!
Por exemplo, o trabalhador não ouve nada sobre redução do imposto de renda retirado do salário. O que acontece é só o aumento do imposto de renda. Para as empresas darem um benefício de R$ 0,05 da Cide [Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico], o governo aumentou o imposto da folha de pagamento. Aumento de imposto aprovado de um dia para o outro para 28 cadeias produtivas. Só se fala em aumentar imposto.
Vejo candidatos a presidente jogando para a plateia. Fazem pesquisa e descobrem o que o povo quer ouvir. Isso é um perigo. Surgem propostas mirabolantes e o risco é o povo embargar nessa.
Marcelo Mariano – Com o fim da janela partidária, o Progressistas passou de 38 deputados federais para 54, atrás apenas do PT, que tem 57 parlamentares. Por que o partido é coadjuvante no cenário nacional, sem nomes cotados para vice-presidente ou candidato a presidência?
O que vejo no Progressistas, como acontece no MDB, é o trabalho eleitoral para conseguir eleger deputados e senadores. O MDB acaba por indicar a vice e participar da administração do País – com muitos cargos no governo. O Progressistas tem procurado conseguir o maior número possível de deputados federais e ser protagonista ao lado de quem estiver no poder. O PSB e o PSDB sempre trabalham para ter candidato a presidente. Em todas as eleições os dois partidos vem com nomes – e bons nomes – para a Presidência da República. Cada partido tem seu perfil, que é histórico.
Cezar Santos – Até o início da semana, o prejuízo da greve anunciado pelo governo federal seria de mais de R$ 9 bilhões. O sr. sabe dizer qual o prejuízo a paralisação trouxe às suas empresas?
Não porque a greve não acabou completamente. O prejuízo é imensurável. Esse levantamento de R$ 9 bilhões não será nem 10% do prejuízo. O prejuízo maior ainda não chegou. Santa Catarina, por exemplo, com as granjas e os suínos, esse valor será muito maior. Em Goiás, as empresas foram praticamente obrigadas a parar. Algumas foram obrigadas a parar. A nossa chegou a operar com 30% da capacidade, com o risco de ficar sem matéria-prima e ter de interromper as atividades, tanto aqui quanto no Norte e Nordeste. Parece que esse é só o começo da conta.
Só a Petrobras perdeu R$ 142 bilhões em valor de mercado na bolsa. Há empresas que não têm mais fôlego para voltar. Muita empresa já estava vendendo o almoço para comprar a janta. Uma pancada dessa na economia não é fácil de reverter. Perdem as empresas, que precisarão demitir. Com isso perdem os trabalhadores. Em uma reunião com empresários de Senador Canedo, por exemplo, uma multinacional francesa que emprega 1,8 mil pessoas. Foi obrigada a parar as atividades.
Cezar Santos – A recuperação da economia, que dava sinais lentos de retomada, sofreu um baque grande.
Um baque violento. Um nocaute.
Augusto Diniz – Qual avaliação o sr. faz da paralisação dos caminhoneiros?
O objetivo dos caminhoneiros autônomos foi atingido. Conseguiram a redução do diesel. Se perderam. Na última semana, tivemos um grupo que passou a manipular os caminhoneiros, a serviço de partido político. Com as ações feitas pela polícia, que tem desbloqueado muitos pontos nas rodovias, foram presas pessoas com ordens de prisão expedidas. Caminhoneiro sendo ameaçado sem poder sair do lugar. Caminhoneiro que quer ir para casa é ameaçado de morte e impedido de deixar a interdição. É preciso que o País volte à normalidade. O governo tem de agir com mais pulso, tanto o governo federal quanto nos Estados.
Augusto Diniz – A política de alta dos combustíveis criou a incerteza da volatilidade do valor pago na bomba. Existe solução para esse problema?
Há alguns anos, ouvíamos que o Brasil um dia seria autossuficiente em petróleo. A maioria da população achava que quando fôssemos autossuficientes em petróleo teríamos um preço justo. Quando veio a autossuficiência, chegou também a cobrança do combustível no valor internacional. Não adiantou muito para a população atingir a autossuficiência e exportar petróleo. Se pegarmos a nota fiscal da gasolina pura que é exportada para a Bolívia, veremos que o preço é de R$ 1,57 o litro. Junto veio a alta carga tributária federal e dos Estados.
Hoje temos um dos combustíveis mais caros do mundo. Como a Petrobras é uma empresa brasileira, o petróleo deveria ser trabalhado com um preço mais justo, mas, acima de tudo, que houvesse a revisão dos impostos dos Estados e da União sobre os combustíveis. O diesel e a gasolina que saem da Petrobras ainda não são tão caros, mas o valor ganha corpo no caminho entre o transporte e os impostos pesados: PIS, Confins, Cide, ICMS e outros. Há casos que chegam a 57% do valor.
Cezar Santos – O sr. acredita que Michel Temer conclui o mandato sem sofrer um processo de impeachment?
Nos últimos dias vimos crescer no Congresso Nacional um movimento pela saída do Temer. Até para amenizar os estragos da greve. O presidente ficou muito impopular e parece que tudo que o emedebista fala o povo vai contra, não importa se ele está certo ou errado. Seria um equívoco a saída do Temer muito próximo das eleições de outubro. Mas o movimento de queda do presidente tem crescido.
Augusto Diniz – Com o fim do processo de impeachment contra Dilma Rousseff (PT), apostou-se na recuperação da economia por um governo reformista. A principal delas, da previdência, não aconteceu. O que precisaria ser feito com a questão previdenciária?
Não é simplesmente criar uma reforma para tirar direitos dos trabalhadores. Temos muitas aposentadorias irregulares, que estão acima do teto da categoria e sacrificam os trabalhadores. Há muita fraude na previdência. Temos casos de pessoas que estão na ativa e recebem aposentadoria. É preciso fazer um trabalho sério capaz de reduzir em pelo menos 20% do total, o que pode zerar o déficit. Retirar 20% do bruto da arrecadação da previdência faz com que o déficit tenda a sumir. Os processos de aposentadoria precisam ser mais rígidos. Não é correto pegar da pessoa que contribuiu a vida inteira, com uma renda achatada, e retirar ainda mais da aposentadoria dele.
Cezar Santos – Uma reforma no sistema.
É uma reforma profunda. Vai doer? Vai. Mas é melhor se receber alguma coisa do que não receber nada. Do jeito que está vai quebrar. Vale também para Estados e municípios. Não se pode ter despesa maior do que a arrecadação. Tenho um pouco de experiência em previdência porque assumi a Prefeitura de Senador Canedo com R$ 2,8 milhões em caixa na previdência municipal, mas não era repassada a parte patronal, atrasava muito, havia problemas no recolhimento dos servidores.
Depois de 5 anos e 3 meses, havia quase R$ 70 bilhões nos cofres dos servidores. Só o que se recebia de juros das aplicações pagava todas as aposentadorias e sobrava. Não foram 20 ou 30 anos depois, mas era um trabalho feito com seriedade, sem fraude. Há situações de Estados e municípios nos quais o dinheiro da previdência é desviado para outras funções. Um dinheiro que nunca volta para a previdência.

“Quando resolvemos uma questão política e a economia começou a reagir, outra crise política abalou tudo novamente”
Augusto Diniz – Além das reformas, há o entendimento do mercado de que em alguns pontos governos não conseguem investir o necessário em setores primordiais. A venda da Celg se deu em condições parecidas. Como o sr. avalia o serviço prestado pela empresa após a privatização?
Já que a privatização seria a solução para todos os problemas de energia do Estado, esperávamos um serviço melhor. Piorou muito. Nossa empresa hoje quase ninguém trabalhou por queda de energia. Quando era uma empresa estatal e agora, o serviço piorou muito. Está entre as piores empresas de energia. Não vejo investimento em energia alternativa, que é o que muitos Estados e o mundo inteiro tem feito. O Brasil está ficando para trás. Ainda está muito tímido o investimento em outras formas de energia. Não temos visto investimentos na rede de distribuição de energia elétrica como foi prometido.
Marcelo Mariano – O Progressistas é o partido que tem mais investigados na Lava Jato. Isso fez com que o sr. pensasse duas vezes antes de se filiar ao partido?
Até por ter o maior número de parlamentares na Câmara venha a ser o mais investigado. Se formos observar quais partidos têm filiados investigados, seria até melhor ir para a disputa eleitoral sem partido.
Marcelo Mariano – O sr. acredita que a candidatura avulsa seja uma boa ideia?
Isso ainda não foi experimentado no Brasil. Se tivéssemos hoje alguma candidatura avulsa, com a rejeição que a população está aos partidos, poderíamos ver esse caminho acontecer. Mas para disputar é preciso filiar-se a um partido.
Cezar Santos – Candidatura avulsa é a negação da política.
Não é possível resolver os problemas políticos que dependem da estrutura política sem política. Colocar uma pessoa de perfil técnico para resolver uma questão de natureza política dará errado. O bom político tem seu valor e lugar. O problema que estamos enfrentando é político. Quando resolvemos uma questão política e a economia começou a reagir, outra crise política abalou tudo novamente. É difícil um candidato perder a eleição se a economia vai bem. Até mesmo para quem está no poder e apoia um sucessor, como aconteceu quando Lula apoiou Dilma em 2010. A economia vinha bem, em crescimento, e o resultado foi a eleição da sucessora.
Augusto Diniz – O sr. defende o uso de benefícios fiscais. Qual modelo seria o ideal?
Debati muito essa questão nas eleições para o governo. Existem várias formas de benefícios fiscais. Há o que foi implantado, que é quando o Estado tem uma participação com a isenção de parte dos impostos para atrair os investimentos. Mas há alguns incentivos nos quais o recolhimento é zerado. Não vejo isso como incentivo fiscal. Há setores que não pagam praticamente nada de imposto e ainda têm direito a vender os créditos nas compras dos insumos. Alguém paga essa conta.
Incentivos com isenção de parte dos impostos como uma política de atração de investimentos para Estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste são essenciais. Nenhuma empresa se instalará em Goiás se a carga tributária for a mesma de São Paulo, com 40 milhões de habitantes. O Estado de Goiás cresceu justamente com o incentivos fiscais justos, não abrir mão de toda arrecadação de impostos. Todos os Estados que usaram os incentivos de forma correta para atrair investimentos, gerar emprego e renda, cresceram, como no caso de Goiás. Nosso Estado, há 25 anos, toda produção era de commodities. Nada era processado.
A partir do momento que começou a se industrializar, pôde vender valor agregado em seus produtos. E tudo isso aconteceu com base em incentivos fiscais justos.
Augusto Diniz – A arrecadação de impostos é o que dá certa estabilidade para os Estados. Há alguma alternativa a não ser a tributação alta?
O maior problema que estamos passando, e que precisará ser encarado, é o da cobrança de altos impostos sobre o petróleo e o etanol. Não sei como isso poderá ser resolvido, mas é preciso que se equilibre as contas, tanto pelo governo federal quanto nos Estados. Redução de R$ 0,46 no valor do diesel por 60 dias não vai resolver o problema. Só o governo federal querer abrir mão não é suficiente. O diesel há pouco tempo custava R$ 2,30, hoje quase R$ 4. Mesmo com a redução, o aumento efetivo é de mais de 30% nos últimos 16 meses. Os que estão no poder e os que estão pleiteando o poder precisam apresentar propostas concretas de como resolver o problema e de onde sairá o dinheiro para cobrir a falta do recurso.