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Com três mandatos consecutivos na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), Virmondes Cruvinel (UB) tem se destacado como uma das principais vozes do parlamento goiano em temas como inovação, infraestrutura, educação e articulação política. Relator da primeira lei estadual de regulamentação da inteligência artificial no Brasil, o deputado também acompanha de perto a execução de obras financiadas pelo Fundeinfra e mantém forte interlocução com prefeitos, lideranças regionais e o governo estadual.

Nesta entrevista ao Jornal Opção, Virmondes Cruvinel comenta os desafios enfrentados pela Prefeitura de Goiânia diante do estado de calamidade financeira, analisa o papel do governador Ronaldo Caiado na construção da sucessão estadual, fala sobre bastidores da federação União Brasil–PP e avalia o cenário da oposição em Goiás. O parlamentar também projeta os próximos passos da própria carreira política e revela como vê o futuro da Assembleia Legislativa.

Euler de França Belém — Deputado estadual Virmondes Cruvinel, a Assembleia Legislativa de Goiás aprovou a prorrogação do estado de calamidade financeira em Goiânia. O que isso significa para a Prefeitura?

O prefeito de Goiânia, Sandro Mabel, assumiu com a intenção de fazer a diferença, colocar a casa em ordem e reorganizar a cidade. Uma das primeiras decisões foi a escolha do secretário da Fazenda, Valdivino Oliveira, que é uma pessoa experiente — já foi presidente do Conselho Regional de Economia, professor universitário e ex-secretário da Fazenda. Ele fez um diagnóstico da situação econômica e financeira da cidade e identificou um grande desequilíbrio.

Houve uma transição com prestação de contas que acabou maquiando dados do cenário financeiro. Muitos elementos importantes não foram incluídos nem no relatório de transição, nem enviados ao Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-GO). Detectamos problemas graves em áreas como saúde e consignados de servidores. Só nesta semana surgiram notícias sobre R$ 250 milhões em dívidas de consignados — um verdadeiro rombo deixado pela gestão anterior.

A prorrogação do decreto de calamidade financeira tem como objetivo permitir que o município, dentro da legalidade, consiga reorganizar essas contas. A Prefeitura tem mantido os pagamentos atuais em dia e quer reestruturar os débitos herdados, inclusive contratos bastante questionáveis.

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Virmondes Cruvinel: “O foco deve estar no futuro da cidade, a tensão alimentada por grupos que perderam espaço político precisa ser superada” | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Italo Wolff — Até pouco tempo atrás, havia a perspectiva de que o decreto não seria prorrogado pela Alego, certo? O que aconteceu para convencer os deputados? Houve diálogo?

O prefeito esteve na Assembleia Legislativa, conversou com todos os deputados, junto com o secretário de Finanças, e demonstrou boa vontade e compromisso com a cidade. Ele busca virar a página e resolver os problemas deixados, com transparência e responsabilidade. Diferente do prefeito anterior, que sequer teve força política para chegar ao segundo turno da eleição, o atual tem legitimidade e apoio popular. É o momento de buscar o reequilíbrio e seguir em frente.

O que precisamos é deixar de lado o radicalismo e os ataques pessoais quando tratamos de temas relevantes. Estamos falando da gestão da capital do estado e do futuro de Goiânia.

O prefeito buscou esse caminho: promoveu um diálogo de alto nível com a Assembleia, conversou com praticamente todos os deputados, pediu apoio e trouxe o secretário da Fazenda para apresentar, de forma técnica, a real situação econômica e financeira do município.

O diálogo contribuiu para avançarmos. Esse tipo de tensão, alimentada por grupos que perderam espaço político, precisa ser superado. O foco deve estar no futuro da cidade, e não em disputas passadas.

Euler de França Belém — O prefeito está há seis meses no cargo. Na sua opinião — como deputado de Goiânia e filho de uma vereadora da capital — o que já melhorou na gestão e o que ainda precisa avançar?

Tenho acompanhado algumas áreas específicas, principalmente a educação. Visitei muitas escolas, conversei com a secretária municipal e observei a implementação de uma alternativa interessante: o sistema de ampliação de vagas na rede de ensino. Já são 8.500 novos alunos atendidos, o que ajuda a enfrentar um problema que se arrasta há mais de uma década. Desde a época em que fui vereador, essa dificuldade era evidente — muitos pais não tinham onde deixar seus filhos para estudar, o que é um direito constitucional. Esse avanço, portanto, é uma conquista relevante.

Outro ponto que acompanhei de perto foi o transporte coletivo, com destaque para o projeto de metronização. Trata-se do uso de tecnologia nos ônibus — um sistema de tags que se comunica com os semáforos. Por exemplo, no trecho da Avenida 90, entre o Terminal Isidório e a Praça Cívica, há 12 cruzamentos. Antes, o ônibus fazia sete paradas; com esse novo sistema, foram apenas duas. Isso aumentou em 30% a velocidade média no percurso, melhorando a mobilidade urbana e permitindo que o trabalhador chegue mais rápido ao destino. É uma iniciativa que valoriza o transporte coletivo, que deve ser prioridade logo após o pedestre.

Na saúde, também vejo avanços. A Prefeitura tem buscado oferecer atendimento pediátrico 24 horas, o que é essencial. Há ainda ações pontuais em mobilidade urbana, como a criação de ondas verdes nos semáforos e o alargamento de algumas vias. São medidas planejadas, que demonstram boa vontade da gestão.

Deputado estadual Virmondes Cruvinel concede entrevista a Euler de França Belém e Italo Wolff | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

Italo Wolff — O que ainda precisa melhorar?

Destaco a necessidade de ampliar o diálogo com a sociedade. Seria importante manter ações permanentes nos bairros, e não apenas iniciativas pontuais como mutirões. Também vejo espaço para a Prefeitura assumir papel mais ativo em programas sociais — principalmente os que complementam ações do Estado. Um exemplo seria criar iniciativas semelhantes ao Bolsa Estudo, do governo estadual, voltadas à permanência de jovens na escola. Outro desafio urgente é enfrentar a situação das pessoas em situação de rua, que precisa de soluções integradas.

Vejo, sim, que há boa vontade na gestão. O prefeito Sandro Mabel tem bom trânsito político — tanto aqui na Assembleia quanto com o governador Ronaldo Caiado e em Brasília. E isso é fundamental. Ter acesso direto aos ministérios pode facilitar a liberação de recursos importantes, principalmente para áreas críticas como a saúde. Lembro que prefeitos como Maguito Vilela e Iris Rezende se destacaram justamente por saber abrir portas na capital federal. ACM Neto, em Salvador, por exemplo, foi colega no parlamento de um deputado federal que hoje é ministro do Supremo — esse trânsito é importante para conseguir destravar pautas para a cidade. Esse é um ponto positivo da atual gestão.

Euler de França Belém — E a relação com o governador Ronaldo Caiado, continua boa?

Continua, sim. Houve alguns atritos pontuais, talvez em pautas específicas, como a questão do lixo, mas, no geral, a relação é boa. Vejo da parte do prefeito Mabel muita gratidão — a mesma que, no passado, o governador Caiado demonstrou pelo ex-prefeito Iris Rezende, quando teve a oportunidade de ser candidato ao Senado em uma chapa com ele. Da mesma forma, o convite de Caiado para que Mabel fosse candidato a prefeito foi um gesto relevante, e essa gratidão permanece.

Euler de França Belém — Qual a sua posição sobre a questão do lixo e o conflito entre a secretária estadual de Meio Ambiente, Andrea Vulcanis, e o prefeito Sandro Mabel?

Acredito que esse tema precisa, sim, avançar. Aqui na Assembleia aprovamos o novo marco legal do saneamento, que trata justamente dessas pautas — resíduos sólidos, esgoto, cooperação entre municípios, além da organização das macro e microrregiões.

É fundamental que esse diálogo aconteça de forma integrada. Não pode ser uma posição isolada de Goiânia, desconsiderando os demais municípios. Pelo contrário: precisamos fortalecer parcerias regionais por meio de consórcios. O que é parceria? É saber ceder algumas coisas em prol da construção conjunta de algo maior. 

Já existe uma legislação federal que trata dos consórcios públicos ambientais, e ela deve ser aplicada. A solução para os lixões, os aterros sanitários e demais desafios relacionados ao lixo não deve recair exclusivamente sobre o município de Goiânia. É preciso uma atuação coordenada com os demais municípios da Região Metropolitana — e o prefeito pode liderar esse processo.

Italo Wolff — O que pode ser feito para auxiliar os prefeitos a cumprirem o marco do saneamento? Como está a adequação dos aterros sanitários por parte dos municípios do interior?

A verdade é que nem toda gestão consegue arcar com os custos da destinação correta do lixo. Isso é um problema grave enfrentado pelas cidades, não só em Goiás, mas em todo o Brasil. Prova disso é que, mesmo com a legislação federal em vigor, os municípios vivem pedindo prorrogação de prazos — e isso vale para todos os estados.

É preciso buscar soluções inovadoras e sustentáveis, com uso de tecnologia e reaproveitamento de resíduos. São alternativas que precisam ser trazidas para a realidade local. A pauta das cidades inteligentes, por exemplo, envolve justamente esse tipo de iniciativa, como o aproveitamento do lixo para geração de energia renovável.

Também é essencial capacitar as equipes técnicas dos municípios. Defendo a descentralização do licenciamento ambiental — hoje, muitas decisões estão concentradas na Secretaria de Estado de Meio Ambiente, o que dificulta a execução nos municípios. A descentralização ajudaria não apenas na questão do lixo, mas em toda a gestão ambiental, inclusive na fiscalização.

Outro ponto importante é a cooperação entre os municípios. Sou um entusiasta dos consórcios intermunicipais, especialmente na área de saneamento. Eles permitem a união de esforços e a captação conjunta de recursos. O mesmo modelo pode ser aplicado também à saúde.

A verdade é que os prazos para adequação são cada vez mais apertados, e a realidade das cidades nem sempre permite o cumprimento imediato. Às vezes, o Ministério Público determina, por exemplo, que se instale um aterro sanitário em cinco dias — mas nenhuma cidade consegue executar algo assim em tão pouco tempo. Por isso, é preciso construir soluções realistas, com apoio técnico e articulação regional.

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“É preciso uma atuação coordenada com os demais municípios da Região Metropolitana — e o prefeito Mabel pode liderar esse processo”, diz Virmondes Cruvinel sobre destinação do Lixo | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Euler de França Belém — Na questão da saúde, os médicos estão querendo entrar em greve ou não?

O início de governo é sempre um pouco tenso. Há questões relacionadas ao plano de carreira e outras pendências que a administração anterior deixou sem cumprir. Isso exige agora diálogo e adequações.

Tenho conversado bastante com os secretários municipais, tanto o de Educação quanto o da Saúde, Luiz Pelizzer, que vem da gestão de Aparecida de Goiânia — uma escola muito interessante. O secretário de lá, Alessandro Magalhães, é uma referência na área, e Luiz Pelizzer traz essa bagagem.

É preciso enfrentar essas questões de frente. A experiência que ele teve em Aparecida pode ser bastante útil aqui, inclusive pelo bom trânsito político em Brasília, o que também ajuda.

Euler de França Belém — E qual é o principal problema da saúde hoje em Goiânia? Pergunto porque sua mãe é médica e também vereadora.

A principal dificuldade é a falta infraestrutura e carência de profissionais nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). É o momento certo para se fazer um concurso público, chamar novos servidores, como enfermeiros e médicos. Também é importante estreitar parcerias com os conselhos locais de saúde, que têm um papel fundamental como termômetro do que está acontecendo nas unidades. Eles sabem exatamente quais são os gargalos, os principais motivos de reclamação da população.

O secretário precisa estar próximo da cidade, conversar com a população e com os gestores locais — mas também ser firme na cobrança de resultados. Às vezes, essa firmeza envolve discutir produtividade, mas tudo isso tem um objetivo claro: melhorar a entrega para o cidadão. O morador de Goiânia precisa ser bem atendido ao chegar em uma unidade de saúde.

Italo Wolff — O que o senhor acha que deveria ser feito? Desde o início do mandato há essa situação de negociar dívidas da gestão anterior. É possível investir na saúde em meio a uma calamidade financeira?

O prefeito tem buscado todas as formas de captar recursos. Tem ido com frequência a Brasília, dialogado com ministros, visitado o Ministério da Saúde, o Ministério dos Transportes, entre outros. Acredito que o primeiro passo é justamente esse: garantir condições econômicas e financeiras para executar suas prioridades.

Ele está aplicando em Goiânia a mesma lógica de gestão que utilizou quando esteve à frente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG). Lá, um dos focos foi a cooperação para fortalecer a educação — e isso está sendo trazido para a gestão municipal. Também há um esforço para melhorar a eficiência no transporte e implantar uma gestão mais voltada a resultados, com foco na produtividade.

Sandro Mabel tem se mostrado equilibrado nas tratativas — algo raro de se ver. Não me lembro de outro prefeito participando de reuniões dentro do Sindicato dos Servidores Municipais de Goiânia (SindiGoiânia), por exemplo. Ele esteve lá, conversou com sindicalistas. É um prefeito que, ao menos, está tentando manter um diálogo direto. Claro que nem tudo será resolvido de imediato, mas o simples fato de estar presente e disposto a ouvir já demonstra uma postura coerente.

Euler de França Belém — O governador Ronaldo Caiado é pré-candidato à Presidência pela União Brasil e, em função da federação, também pelo PP. No entanto, o PP atua isoladamente para lançar o vice do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Como está essa questão? O governador é, de fato, o pré-candidato do partido?

O governador Ronaldo Caiado vive o melhor momento político da sua carreira — é isso que ele mesmo nos diz. Ele costuma afirmar: “Já tive a realização de ser governador de Goiás eleito duas vezes no primeiro turno”. Ou seja, não tem mais pretensões eleitorais no estado. O foco agora é, de fato, um projeto nacional.

Ele lançou antecipadamente sua pré-campanha à Presidência justamente para ter tempo de percorrer o país nos fins de semana, visitar municípios e articular apoios. E conta com uma estrutura ampla dentro da federação: são mais de 100 deputados federais, 16 senadores e seis governadores — um bloco político expressivo para uma pré-campanha.

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“O governador Ronaldo Caiado vive o melhor momento político da sua carreira”, diz Virmondes Cruvinel | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

O senador Ciro Nogueira (presidente nacional do PP) é uma figura habilidosa, com grande capacidade de articulação no Congresso, especialmente junto à bancada. E o governador Caiado tem trabalhado para construir pontes: recentemente, promoveu um encontro com os deputados federais do partido, com apoio do presidente do PP em Goiás, Alexandre Baldy, que também atua nessa interlocução. Este é um momento de buscar consenso.

Particularmente, vejo o nome de Tarcísio como o mais competitivo dentro do espectro da direita hoje. Mas há uma grande possibilidade de ele preferir buscar a reeleição em São Paulo — e essa decisão pode definir muita coisa.

O principal impasse está nas prévias: se Tarcísio decidir disputar a Presidência, isso pode afetar diretamente a composição da federação e o espaço para Caiado. Mas, se ele optar por permanecer em São Paulo, o caminho fica livre para que Ronaldo Caiado se consolide como o candidato presidencial de um projeto de direita.

A estrutura político-partidária do União Brasil e PP tem um peso significativo e pode dar protagonismo a Caiado no campo da direita

Italo Wolff — O senhor vê a possibilidade de saírem dois candidatos da direita?

Hoje, sim. Vejo que há um cenário em que isso pode acontecer. O PSD, por exemplo, tem nomes qualificados, como o governador do Paraná, Ratinho Junior, e o do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

Em um cenário em que o governo Lula da Silva (PT) está derretendo, sou defensor da ideia de que o país precisa de lideranças com entregas concretas — cases de gestão. Ou seja, pessoas que tenham demonstrado, na prática, resultados positivos à frente de seus estados, e que possam apresentar isso como um cartão de visita para o Brasil.

Por isso, sou entusiasta da candidatura do governador Ronaldo Caiado. Ele tem esse perfil. E acredito que sua pré-candidatura vem para somar, podendo até complementar a movimentação do PSD. Mas, hoje, a estrutura político-partidária do União Brasil com o PP tem um peso significativo e real potencial de protagonismo nesse campo da direita.

Euler de França Belém — Não acha exagero dizer que Lula está derretendo?

Se olharmos para as pesquisas e indicadores, o governo vive um momento de tensão e desgaste. Há um confronto direto com outros poderes — embates com o Parlamento, com o Judiciário — e, ao mesmo tempo, uma escassez de entregas concretas para a sociedade. Questões como o aumento de impostos, do IOF, e escândalo do INSS, outros temas importantes têm ficado em segundo plano.

Mesmo com o peso dos programas sociais, vejo que o governo está enfrentando um processo de desgaste no cenário político — está, de certa forma, derretendo em termos de apoio.

Faltam agendas positivas, algo constante e visível para a população. Apesar disso, reconheço que há ministros empenhados na gestão. Observo, por exemplo, o trabalho do ministro Renan Filho na área de infraestrutura, que tem sido relevante. E tenho simpatia pela atuação do vice-presidente Geraldo Alckmin, especialmente na agenda de empreendedorismo e indústria.

Italo Wolff — O União Brasil e o PP têm ministros no governo federal. Já existe uma data para o desembarque dessas siglas?

Acredito que esse movimento deve ocorrer no momento da pré-campanha, antes do período das convenções partidárias. Entre março e abril, deve acontecer a descompatibilização, especialmente no caso de nomes que pretendem disputar as eleições. Esse será o momento natural para a entrega dos cargos ocupados no governo federal.

Italo Wolff — Internamente, a federação entre União Brasil e PP muda a dinâmica política? Em Goiás, os dois partidos já integravam a base do governo. A federação impacta o trabalho na Assembleia Legislativa?

Sim, a federação dá mais peso político e eleitoral. Hoje, a formação de chapa para deputado estadual e federal conta com uma base sólida, apoiada por uma bancada expressiva. O PP tem força, com ex-prefeitos e prefeitos que devem contribuir nas eleições.

Além disso, com a possibilidade de o vice-governador Daniel Vilela assumir o governo de Goiás em 2026, representando o MDB, a tendência é que essa federação ganhe ainda mais espaço. Minha expectativa é que tenhamos um número maior de deputados eleitos, tanto na Assembleia Legislativa quanto na bancada federal.

“A solução de continuidade do governo estadual apresentada por Daniel Vilela já está bem encaminhada”, diz Virmondes Cruvinel | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Euler de França Belém — O cientista político Alberto Carlos de Almeida, autor do livro A Cabeça do Eleitor, diz que um governador avaliado com mais de 70% de aprovação faz seu sucessor. Com 86% de aprovação, Ronaldo Caiado pode ser decisivo nesse processo?

Sem dúvida. Ele é um cabo eleitoral fortíssimo. Caiado já demonstrou isso na eleição municipal em Goiânia — quando entra em uma campanha, ele se dedica de verdade, gosta do embate político e participa ativamente.

Vejo que a solução de continuidade do governo estadual está bem encaminhada. O vice-governador Daniel Vilela tem mantido uma postura discreta, mas é bastante presente nas agendas institucionais ao lado do governador, especialmente nas entregas relacionadas a programas sociais, habitação e infraestrutura.

Conversando com ele, percebe-se que domina tecnicamente o tema das obras viárias. Fala com propriedade sobre infraestrutura, como se fosse engenheiro. Está preparado nesse aspecto e, além disso, tem ampliado o diálogo político com lideranças regionais.

Recentemente, esteve presente em diversas regiões estratégicas, como o Entorno do Distrito Federal, a região de Catalão — onde o prefeito Adib Elias tem grande peso político — e também em Rio Verde, com Wellington Carrijo. Ele tem circulado por esses polos e dialogado com lideranças importantes.

Daniel também mantém proximidade com entidades como a Associação Goiana dos Municípios (AGM), presidida por Zé Délio (UB), e a Federação Goiana dos Municípios (FGM), presidida por Paulo Vitor Avelar (UB). Ele tem buscado construir soluções em conjunto com os prefeitos, o que demonstra articulação política e disposição para liderar.

Euler de França Belém — Na sua opinião, quem é mais competitivo: Wilder Morais (PL) ou Marconi Perillo (PSDB)?

O Wilder reflete muito a cara do bolsonarismo, enquanto o Marconi tem influência política entre grupos de oposição nos municípios. O Marconi tem capilaridade, presença política nas cidades. Já o Wilder reflete o movimento de oposição do cenário nacional. São estratégias diferentes, mas ambas buscando espaço para enfrentar o governo.

Euler de França Belém — O Jornal Opção publicou uma matéria dizendo que Valdemar Costa Neto, presidente do PL, defendeu Wilder como candidato ao governo de Goiás. No entanto, um bolsonarista de Brasília me disse que Valdemar e Bolsonaro não falam a mesma língua — e que a possibilidade de composição entre o PL e Daniel Vilela continua de pé. O que o senhor acha desse comentário?

Pelas conversas de bastidor com lideranças e parlamentares, percebo que há, de fato, um esforço do grupo de Daniel Vilela para manter o diálogo e tentar trazer o PL para a base aliada. Existe um interesse claro do ex-presidente Bolsonaro em formar uma bancada forte no Senado — esse é um dos focos centrais dele no cenário nacional. E essa lógica também se aplica a Goiás.

Além disso, uma parte expressiva dos prefeitos do PL no estado tem preferência por aderir à base. Uma participação na chapa majoritária — por exemplo, ocupando a vaga ao Senado — pode ser suficiente para consolidar esse acordo.

No entanto, hoje, pela direção nacional do partido, Wilder Morais está sendo trabalhado como pré-candidato ao governo. Resta saber se isso vai se sustentar até o fim. Como você mesmo mencionou, nem sempre o que Valdemar Costa Neto afirma se alinha exatamente ao que o Bolsonaro decide. A definição ainda está em aberto.

Euler de França Belém — Em relação ao vice de Daniel Vilela, existem algumas correntes. Dizem que, se ele estiver bem avaliado, o nome será técnico — como Adriano da Rocha Lima ou Pedro Sales (que pode ser candidato a deputado federal). Mas, se a eleição estiver mais competitiva, com nomes como Wilder no páreo, o vice poderia ser alguém mais político, como José Mário Schreiner, Paulo do Vale ou alguém do Entorno do DF. Como o senhor avalia essa discussão?

Acredito que, desta vez, a escolha do vice vai ser uma decisão construída diretamente com participação do governador Ronaldo Caiado. A aliança que dará sustentação à sucessão vai passar por ele.

Vejo com bons olhos a possibilidade de uma liderança política e classista, como o José Mário Schreiner, compor a chapa. Mas também considero muito válida a ideia de um nome técnico — como Adriano da Rocha Lima, Pedro Sales ou a professora Fátima Gavioli. Esses membros técnicos da gestão ajudaram Caiado a fazer política — não são coisas totalmente distintas. Por que não dar uma oportunidade desse corpo técnico que garante a gestão participar da chapa majoritária?

Os técnicos contribuíram com entregas concretas para a população: na infraestrutura, na educação e na modernização da gestão pública. A área de tecnologia, por exemplo, teve avanços importantes sob liderança do secretário Adriano, que acompanhei de perto. E o governador valoriza muito esse perfil voltado para resultados.

Portanto, penso que esses nomes — José Mário Schreiner, Adriano da Rocha Lima, Pedro Sales e Fátima Gavioli — estão entre os mais bem posicionados para compor a chapa majoritária. 

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Virmondes Cruvinel: “O Fundeinfra já começa a dar resultados — o primeiro passo foi a aprovação e regulamentação, e agora começam as entregas” | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

Euler de França Belém — As obras financiadas com recursos do Fundeinfra já saíram do papel?

Estão saindo, sim. O primeiro passo foi a aprovação e regulamentação da legislação, e a partir daí as obras começaram a avançar. Tenho acompanhado de perto o andamento, inclusive com visitas a municípios como Hidrolândia e Palmeiras, onde já é possível ver entregas importantes.

Em Hidrolândia, por exemplo, o prefeito Zé Délio teve um papel fundamental — ele entregou o projeto já pronto, o que facilitou a execução. Está sendo construído um anel viário que ligará Aragoiânia, Hidrolândia e Bela Vista, formando um anel sul de Goiânia. Essa obra vai ajudar a desafogar o trânsito na capital, e está sendo viabilizada com recursos do Fundeinfra.

No norte do estado, em cidades como Campinorte, Uruaçu e Porangatu, também já há obras em andamento dentro desse programa. No Sudoeste, acompanhei três projetos de perto que também já estão em execução. Então, o Fundeinfra já começou a entregar resultados — o destravamento inicial foi essencial, e agora os efeitos começam a aparecer.

Italo Wolff — O senhor acredita que o modelo do Fundeinfra, que não segue o modelo tradicional de licitação, pode servir de referência para outros estados ou até para o governo federal?

Eu defendo fortemente a busca por novas soluções que melhorem a gestão pública, e esse é um exemplo interessante. Houve um debate técnico importante dentro do governo estadual e da Procuradoria-Geral do Estado, e o modelo representa um avanço.

A construção do Complexo Oncológico do Estado de Goiás — o Hospital Cora — e outras intervenções em infraestrutura dentro do Fundeinfra são exemplos práticos de como esse modelo pode funcionar com eficiência. Acredito, inclusive, que essa lógica pode ser ampliada futuramente para incluir parcerias com os municípios. Seria possível aplicar modelos semelhantes por meio de consórcios intermunicipais, fortalecendo a capacidade de investimento local com mais agilidade e menos burocracia. É algo que merece ser estudado por outros estados e, quem sabe, até pelo governo federal.

Euler de França Belém — Alguns deputados têm comentado que vão retomar a proposta das emendas impositivas de 2%. Isso procede?

Não acredito que essa pauta vá avançar neste momento. Estamos caminhando para a conclusão do mandato, e há um diálogo muito sólido entre o governo e a Assembleia Legislativa, especialmente conduzido pelo vice-governador Daniel Vilela. Ele tem sido muito presente nessas tratativas relacionadas às emendas parlamentares e ao cumprimento dos prazos. O próprio governador Ronaldo Caiado escalou o Daniel para conduzir esse diálogo institucional com os deputados, o que tem funcionado bem. Por isso, não vejo espaço, neste momento, para que essa discussão sobre emendas impositivas de 2% seja retomada.

Euler de França Belém — Goiás está sendo considerado pioneiro no Brasil pela forma como lida com inteligência artificial. A Alego aprovou a primeira lei estadual de regulamentação de IA no país, e o senhor foi o relator do projeto. Como foi esse processo?

Olha, foi uma experiência muito positiva. O governador Ronaldo Caiado tem sido um verdadeiro entusiasta dessa pauta, o que facilitou o avanço do projeto. Tive a oportunidade de relatar a Política Estadual de Estímulo ao Desenvolvimento da Inovação em Inteligência Artificial no Estado de Goiás, que é o primeiro marco legal sobre IA aprovado no país — até mesmo antes da regulamentação federal.

Esse novo marco se soma a outras iniciativas que temos em Goiás. Já havíamos aprovado o Marco Legal da Inovação, também de iniciativa do governador, e uma lei de nossa autoria que criou a Política Estadual de Incentivo a Startups. Agora, com a regulamentação da IA, o objetivo é fomentar pesquisa, atrair investimentos e estimular negócios na área de tecnologia.

Essa legislação permite, por exemplo, a instalação de data centers no estado, incentiva parcerias com centros de excelência e estimula a formação de mão de obra qualificada. Goiás já abriga o maior centro de inteligência artificial do Brasil, sediado na Universidade Federal de Goiás, que também oferece o primeiro curso de graduação em IA — que, inclusive, teve mais procura do que o curso de Medicina, o que mostra o interesse crescente nessa área.

O projeto também prevê levar a discussão sobre inteligência artificial para dentro das escolas, com propostas para incluir o tema na grade curricular e promover competições estudantis. É um marco inovador, que abre espaço para debate e novas experiências, sem engessar o processo.

Além disso, o estado já conta com mais de 200 startups em operação, e vem ampliando seu ecossistema de inovação. Já foi implantado um hub público de tecnologia no Setor Universitário, em Goiânia, e agora o plano é construir um complexo digital ainda mais robusto. Há conexões em andamento com experiências de referência, como o Porto Digital do Recife, e o vice-governador Daniel Vilela está à frente dessas articulações. O projeto também está sendo expandido para o interior, com ações já iniciadas em municípios como Rio Verde.

Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia) da UFG | Foto: UFG

Euler de França Belém — Em relação ao seu projeto político para 2026: hoje o senhor é deputado estadual. Pretende disputar a reeleição?

A ideia é, com essa experiência acumulada, continuar contribuindo ainda mais aqui na Assembleia Legislativa.

Euler de França Belém — E aquela história de que poderia ir para o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM)?

Só de ser lembrado já considero um reconhecimento — é um sinal de que temos uma atuação parlamentar consolidada, além de formação jurídica, e que podemos contribuir em diferentes frentes. Mas a vida é feita de desafios, e o meu foco agora é garantir entregas concretas.

Sou apaixonado pela missão do Legislativo. Gosto de viver de perto a realidade da ponta, dialogar com prefeitos, lideranças e trabalhar na aprovação de leis. Já são mais de 200 leis aprovadas ao longo dos meus três mandatos. Só neste semestre, apresentei 48 projetos; 25 deles já viraram lei. Gosto muito dessa vivência e quero seguir nesse caminho.

Euler de França Belém — O projeto para extinguir o TCM foi, de fato, apresentado?

Até o momento, não. Não há nenhuma discussão oficial na Assembleia Legislativa sobre extinção do TCM. Nada chegou formalmente à Casa.

Italo Wolff — Com o fim do mandato do deputado Bruno Peixoto na presidência da Alego, o senhor pode colocar seu nome à disposição? Pensa em ocupar um cargo na Mesa Diretora?

Primeiro, preciso buscar a reeleição. Nada vem antes disso. Então, o foco agora é trabalhar muito.

Estamos colhendo bons frutos das entregas que fizemos nas cidades. Ampliamos alianças com prefeitos — como o próprio Zé Délio, eleito presidente da Associação Goiana dos Municípios — e temos uma base sólida no interior. Em Goiânia, também temos a atuação da Dra. Rosa, que fortalece nosso grupo político na capital.

A eleição do prefeito Sandro Mabel também foi uma conquista importante, que contribui para a construção do nosso projeto político. E é claro que também tenho sonhos. Me preparei para viver o Legislativo com responsabilidade, diálogo e compromisso — valores que prezo muito.

Sem dúvida, na próxima legislatura quero continuar servindo ao Estado, mantendo um diálogo franco com o vice-governador Daniel Vilela, que é meu amigo. Temos uma trajetória parecida: crescemos juntos, nossos pais trabalharam lado a lado — meu pai foi secretário de governo do Maguito Vilela. Fomos vereadores juntos, pertencemos à mesma geração política.

Assim como meu pai foi leal ao pai dele, quero construir uma relação de lealdade com o Daniel. E, por que não, pensar no futuro da Assembleia? Sonhar com um Parlamento forte, próximo do Executivo, mas com independência e atuação firme. É um sonho para o momento certo, e vou trabalhar por isso quando for a hora.