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O Senador da República Vanderlan Cardoso se aproxima do fim de seu mandato e da candidatura à reeleição com uma lista extensa de realizações: trouxe para Goiás a Codevasf, Companhia responsável por criar o polo de irrigação e fruticultura no Vão do Paranã; foi presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e vice-presidente da Comissão de Constituição e Justiça — as duas comissões mais importantes do Senado. 

Empresário conhecido do ramo de alimentos, tem uma longa trajetória na política e nos negócios. Foi prefeito de Senador Canedo e é atualmente presidente do PSD em Goiás. Como líder do partido, Vanderlan Cardoso diz que tem conversado com o presidente do PL em Goiás, Wilder Morais, e com a base do governo estadual. 

Nesta entrevista ao Jornal Opção, Vanderlan Cardoso analisa o panorama econômico atual, com tentativas do governo federal de aumentar a arrecadação e as dificuldades de estimular o desenvolvimento; fala sobre o projeto que relata para incentivar a instalação de data centers no Brasil; e prevê o cenário político para Goiás em 2026. 

Ton Paulo — A Câmara vota a suspensão dos efeitos do decreto do governo que altera regras do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Como foi a articulação desta medida provisória no Congresso?

O governo tem errado muito, principalmente em relação a esses aumentos de impostos. A nova Medida Provisória (MP) alterando o aumento de IOF não foi debatida com o Congresso antes de ser apresentada. E, como tem sido comum neste governo, primeiro se faz e depois se discute.

O desgaste vem acontecendo. Esse embate que está havendo em relação ao IOF mostra que não houve acordo sobre o que foi publicado. Ou seja, não adianta recuar em alguns pontos e aumentar em outros. Foi exatamente isso que fizeram. Aliás, o valor do imposto que será arrecadado com o novo decreto é muito maior do que o previsto na primeira medida provisória. Portanto, não houve entendimento.

“O governo tem errado muito com aumentos de impostos. A nova MP do IOF não foi debatida com o Congresso e também deve cair”

Assim que foi publicado, comecei a receber ligações do Brasil inteiro, de vários segmentos prejudicados. Apresentei um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) suspendendo a medida provisória.

Isso gerou discussões entre o Senado Federal e a equipe do ministro Fernando Haddad, mas não houve um acordo. Tanto é que vocês viram: partidos como União Brasil e PP já estão pressionando para derrubar a medida. Da forma como foi feita, de maneira abrupta, essa medida não deve ter êxito.

Existem várias formas de buscar recursos em setores que hoje praticamente não pagam impostos. Um exemplo são as bets. Hoje, essas casas de apostas pagam 12% de impostos. Nos Estados Unidos, elas pagam 40%. Se o governo, em vez de aumentar para 18%, elevasse a alíquota para 30% ou 40%, arrecadaria o que está buscando.

Vanderlan Cardoso e jornalista Ton Paulo | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

Ton Paulo — Mas o aumento da tributação das bets não foi uma das medidas incluídas na MP de hoje?

Sim, mas aumentaram de 12% para 18%. O que estou dizendo é que, se aumentassem para 30% ou 40%, chegariam mais perto do objetivo de arrecadação. Esses jogos de aposta estão trazendo, a meu ver, muitos transtornos para o brasileiro. Já que é difícil acabar com as bets, então vamos taxá-las de forma mais justa para poder arrecadar. Com 40% de contribuição, o governo arrecadaria até R$ 60 bilhões das bets. 

Ton Paulo — E como está hoje? A MP deve ser derrubada?

Com certeza. Eu mesmo votarei a favor da derrubada. E acredito que será da mesma forma tanto na Câmara quanto no Senado.

“A desoneração da folha fez sentido na pandemia para estimular a contratação, mas hoje esse benefício precisa ser reduzido”

Italo Wolff — O senhor não acha que os subsídios da União também podem ser diminuídos para tentar recompor esse orçamento?

Temos várias áreas em que os subsídios já deveriam ter sido encerrados. Durante a pandemia, estendemos benefícios para diversos setores, mas eles continuam sendo prorrogados. A desoneração da folha, por exemplo, substitui a contribuição previdenciária patronal, de 20% sobre a folha de salários, por alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta. Fazia sentido na pandemia para estimular a contratação, mas viemos postergando esse benefício que dá em torno de R$ 12 a R$ 15 bilhões por ano em isenções.

Há muitos setores que podem, sim, contribuir mais com o país. Já cresceram muito com esses incentivos e têm condições de colaborar. Os setores que foram beneficiados com a desoneração da folha de pagamento poderiam passar por redução gradual do benefício. Em vez do que é hoje, poderíamos cortar 30% ou 40% dessa desoneração — isso já geraria entre 6 e 7 bilhões de reais por ano.

Se começarmos pela desoneração da folha e avançarmos para outros setores, é possível arrecadar R$ 6 bilhões aqui, R$ 3 bilhões ali… daqui a pouco, temos em torno de 100 bilhões de reais.

Jornalistas Fabrício Vera e Italo Wolff entrevistam Vanderlan Cardoso | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

Italo Wolff — Muitos economistas apontam a indústria automotiva como um setor que não é competitivo, mas que se mantém por conta de incentivos. O senhor compartilha dessa visão?

Olha, isso já é uma questão de sobrevivência. Precisamos avaliar cada caso. No caso das montadoras brasileiras, o custo Brasil é altíssimo. Hoje, com a concorrência de empresas chinesas, que têm incentivos e custos de produção muito baixos, fica difícil competir.

Mesmo com os impostos aqui, o preço de fabricação desses carros é tão baixo que eles entram no país apenas para serem montados. Ou seja, geram empregos lá fora e não aqui. Isso precisa ser revisto. As montadoras nacionais estão enfrentando dificuldades para sobreviver diante desse cenário.

Acho que é preciso reavaliar esse modelo. Estamos enfrentando uma concorrência desleal, com empresas estrangeiras entrando no mercado com isenções totais, enquanto as que produzem aqui dentro são penalizadas pelo alto custo Brasil.

Essa discussão tem sido frequente no Senado, especialmente quando estive à frente da Comissão de Assuntos Econômicos. Defendemos setores que sofrem com alta carga tributária enquanto competem com produtos importados que entram no Brasil com taxas muito inferiores. Ou seja, essas empresas acabam sendo mais competitivas produzindo lá fora do que aqui dentro.

Ton Paulo — Economistas apontam que podemos ter uma invasão de produtos chineses por causa das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Como o senhor avalia o momento do comércio internacional para o Brasil?

Acho que cada setor precisa ser avaliado de forma individual. Temos setores no país em que não há produção ou fabricação de determinados produtos, e, nesses casos, é necessário incentivar para que essas empresas venham produzir aqui. Um exemplo disso é um projeto que estou relatando atualmente: a regulamentação dos data centers com uso de inteligência artificial.

Hoje, o Brasil não produz equipamentos para esses supercomputadores que operam os data centers. Se não desonerarmos os impostos, que são muito altos atualmente, esses centros serão montados no exterior. Com isso, nossas empresas e o próprio governo acabarão armazenando dados fora do país — nos Estados Unidos, Coreia, Japão ou China. Precisamos aproveitar esse potencial. Por isso, insisto: cada caso é um caso.

Temos muitos pontos fortes. O Brasil talvez seja o único país do mundo em que cerca de 90% da energia gerada é limpa. Isso não acontece na Europa, nem nos Estados Unidos. E data centers consomem muita energia. Hoje vivemos um cenário que não imaginávamos: sobra de energia. O país está com excedente e não tem para quem vender. Por isso, minha defesa — e estou realizando audiências públicas sobre isso — é para que o Brasil tenha, o mais rápido possível, uma política de incentivo aos data centers.

“O Brasil deve ter uma política forte de incentivo aos data centers, ou acabaremos armazenando dados de governo e empresas fora do país”, diz Vanderlan Cardoso | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

Fabrício Vera — Como seria esse estímulo? Quem bancaria esses incentivos?

Quando falamos em incentivo para setores que não existem aqui, isso não pode ser tratado da mesma forma que o incentivo dado a setores que já operam no país e estão apenas competindo com produtos importados. Entende? Cada situação é diferente.

Há estimativas de que bilhões de dólares serão investidos em data centers no Brasil. E, segundo as conversas que estamos tendo com o Ministério da Fazenda, o governo deve retirar todos os impostos sobre esse setor. Mas isso vai para a conta pública? Não se pode contabilizar dessa forma. Quando se dá incentivo a um setor inexistente no Brasil, o objetivo é atrair empresas, gerar emprego, renda e manter nossos dados aqui.

Nesse caso, o governo não está abrindo mão de algo que já tem — ele está criando uma nova base de arrecadação. Se oferecer 30% ou 40% de isenção para tornar o investimento atrativo, não está perdendo receita, porque essa receita sequer existia antes. Tampouco existiam os empregos ou os investimentos.

Sempre participei do debate sobre incentivos fiscais. Em qualquer discussão, inclusive nas reformas tributárias, quando se critica os incentivos concedidos por estados como Goiás ou Minas, é importante lembrar o que esses estados eram antes disso. Voltemos 30 anos atrás em Goiás: éramos apenas produtores de matéria-prima e mandávamos tudo para fora. Hoje, com os incentivos fiscais, as agroindústrias vieram. Passamos a agregar valor à nossa produção — soja, milho, entre outros. E isso foi possível graças aos incentivos.

Se não houvesse esse tipo de política, essas empresas teriam se instalado em outros lugares, como São Paulo ou Minas, onde está o grande consumo.

Ton Paulo — Como o senhor avalia o investimento que o estado de Goiás tem feito na área de inteligência artificial?

O estado de Goiás está muito à frente nessa questão. Está à frente de muitos outros estados. O governador Ronaldo Caiado tem atuado fortemente nesse sentido, inclusive em viagens estratégicas. E tem um secretário da área — Adriano Rocha Lima — que é entusiasta da pesquisa, ciência e tecnologia.

O Brasil precisa correr, e os estados estão se movimentando. Quem tiver uma legislação específica para isso, sai na frente. Já conversei com o prefeito de Goiânia, Sandro Mabel, e com o prefeito de Aparecida de Goiânia, Leandro Vilela, sugerindo que aprovem leis específicas para atrair data centers e iniciativas em inteligência artificial. Os municípios também podem contribuir, oferecendo incentivos como redução de impostos e cessão de áreas para instalação de indústrias tecnológicas.

Vanderlan Cardoso: “Estamos em posição privilegiada para a inovação: somos um dos poucos países no mundo onde sobra energia limpa” | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

O estado realmente saiu na frente. Temos aqui, em Goiás, uma parceria importante com a Universidade Federal de Goiás (UFG). Acompanho de perto o trabalho da universidade, que tem uma liderança excepcional nessa área. Os professores da UFG estão entre os melhores — não só do país, mas do mundo. O primeiro curso de graduação em inteligência artificial do Brasil foi criado justamente na UFG. E muita gente ainda não reconhece o valor disso.

O Google, por exemplo, desenvolveu junto com a UFG uma inteligência artificial inteiramente em português, chamada Gaia. Goiás se destacou pela regulamentação e pelos investimentos que tem feito nesse setor.

Outro exemplo importante é o data center instalado em Goiânia, que pertence ao grupo Soluti. É o único data center do país com capital 100% nacional. A empresa emprega quase 500 jovens em inovação aqui na cidade. Isso mostra que Goiás está, de fato, investindo em tecnologia e no futuro.

Fabrício Vera — Como está sendo o uso das emendas parlamentares pela Prefeitura de Goiânia na administração de Sandro Mabel? Em comparação com a gestão anterior, de Rogério Cruz, houve melhora na utilização dos recursos que o senhor encaminhou? 

Com o prefeito Rogério Cruz, muitas emendas destinadas a Goiânia foram perdidas por falta de ação e ausência de apresentação de um plano de trabalho. Cito o caso da Unidade Básica de Saúde do Jardim Curitiba. Destinei emendas orçamentárias para a unidade, mas os recursos foram perdidos porque não houve projeto, nem processo de licitação ou empenho. Valores enviados para Goiânia simplesmente desapareceram — alguns, inclusive, foram desviados.

Agora vocês estão acompanhando a auditoria que o Ministério da Saúde está realizando nas três maternidades da cidade, a pedido da vereadora Aava Santiago (PSDB). Eu destinei recursos para as três unidades. No caso da Maternidade Dona Iris, há três anos encaminhei verba para a substituição de todos os equipamentos da UTI neonatal e das incubadoras. Nada foi executado. Com essa auditoria, concluiu-se que o dinheiro sumiu. Ninguém sabe explicar o que aconteceu na gestão anterior. A mesma coisa aconteceu com a verba destinada à compra de um mamógrafo de última geração, com inteligência artificial. O recurso foi encaminhado e simplesmente desapareceu.

Conversei com o prefeito Sandro Mabel, e ele me afirmou que vai adquirir esses equipamentos. Infelizmente, muitas entidades filantrópicas que receberam recursos da bancada acabaram perdendo o dinheiro, e agora é o atual prefeito quem está tendo que assumir essas pendências. São recursos que fazem falta.

A situação chegou a um ponto em que a bancada passou a se afastar e a deixar de destinar emendas para a cidade, porque elas não chegavam ao destino correto. Foram mais de R$ 50 milhões destinados ao Hospital Araújo Jorge que nunca chegaram. E hoje o hospital passa por dificuldades justamente por isso: a gestão passada não executou os serviços nem repassou os recursos da bancada ou do governo federal.

Na atual gestão do prefeito Sandro Mabel, destinei quase R$ 25 milhões para Goiânia. Já foram entregues algumas máquinas e equipamentos para o aterro sanitário, e outros recursos devem chegar nos próximos 60 dias. Também farei a entrega de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Campinas.

Neste mandato, destinei mais de R$ 100 milhões para entidades filantrópicas da capital, como o Hospital das Clínicas, a Universidade Federal de Goiás e o Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage (Hugol).

A gestão anterior foi um desastre para Goiânia. O fato de não ter atendido instituições como o Hospital Araújo Jorge gera transtornos até hoje. Ainda há pagamentos em atraso, e agora estou liberando R$ 2 milhões para ajudar a manter parte dos atendimentos. O atual prefeito Sandro Mabel está tendo que trabalhar dia e noite para resolver as contas abertas deixadas pela administração passada.

“Como senador e responsável da Codevasf, conseguimos nestes anos alguns bilhões de reais em recursos para Goiás; mas para isso foi necessário muito trabalho”

Italo Wolff — O senador Jorge Kajuru comentou que se sente traído porque o senhor, que estaria na oposição ao governo federal, agora estaria sendo favorecido por Lula com recursos. O que pensa dessa declaração?

Eu, por ter sido responsável pela Codevasf no estado de Goiás, direcionei máquinas, equipamentos e recursos para a agricultura familiar. Entregamos mais de dois mil equipamentos — tratores, niveladoras, ensiladeiras, entre outros.

Nunca fiquei falando de colegas parlamentares. O senador Jorge Kajuru gosta de fazer lacração e de ficar choramingando porque passou seis anos sem trabalhar. Agora resolveu colocar culpa nos outros. Ao mesmo tempo que diz que sou adversário do governo, afirma que estou sendo privilegiado. Mas o mesmo tipo de recurso que eu recebo, ele também tem acesso.

A diferença está no trabalho. Em uma das últimas visitas que fiz ao Ministério dos Transportes, fui acompanhado pelos prefeitos de Luziânia e Valparaíso e pelo deputado Célio Silveira. Naquele encontro com o ministro, conseguimos destravar a obra de um viaduto sobre a BR-153, que a prefeitura não tinha mais condições de executar. O ministério assumiu a obra e ainda fará mais duas passarelas. Só essa ação representa cerca de R$ 70 milhões. Isso é resultado do trabalho. Não ficamos parados.

Recentemente, também conseguimos, por meio da Codevasf, autorização para construir uma ponte de quase 500 metros sobre o Lago dos Tigres — uma demanda antiga. E eu tenho certeza de que o senador Kajuru nem sabe, mas 20% do orçamento próprio da Codevasf tem de ser aplicado em irrigação. Por isso batalhei tanto para trazer a Codevasf para Goiás. Hoje temos um polo de irrigação estruturado.

Sem a presença da Codevasf no estado, nada disso teria acontecido. A companhia já investiu mais de R$ 1 bilhão em Goiás, somando recursos próprios e emendas parlamentares. Em Flores de Goiás, por exemplo, implantamos um polo de fruticultura em parceria com o governo estadual. Já são quase 100 pontes construídas com recursos da Codevasf.

Além disso, junto ao Ministério de Minas e Energia, eu e o deputado José Nelto conseguimos destravar o leilão para fornecimento de energia aos polos de irrigação, com valor estimado em R$ 450 milhões.

Esse é o trabalho que a gente faz. No fim das contas, quando se trabalha de verdade, as emendas representam a menor parte. Se eu somar tudo o que conseguimos nestes seis anos e meio, os recursos trazidos para Goiás chegam a alguns bilhões de reais. As emendas diretas não passam de R$ 800 milhões nesse período. O importante é trabalhar para trazer recursos que sejam bem aplicados.

Vanderlan Cardoso: Como senador e responsável da Codevasf, conseguimos nestes anos alguns bilhões de reais em recursos para Goiás; mas para isso foi necessário muito trabalho” | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Italo Wolff — Também se diz que o senhor é de direita, mas apoia o presidente Lula. Gostaria de abrir espaço para o senhor responder: como é a sua relação, e a relação do PSD, seu partido, com o governo federal?

Minha relação com o governo federal é excelente. Não tenho problema com ninguém — assim como também não tive no governo anterior, do presidente Jair Bolsonaro.

No Senado, nós, do PSD, somos livres para votar conforme a nossa consciência. Não temos uma relação de troca de votos por ministérios ou cargos. O presidente do partido, Gilberto Kassab, e o nosso líder no Senado, Omar Aziz, sempre defenderam que os parlamentares do PSD votem de forma independente, e é isso que eu tenho feito.

Se você pegar minhas votações no governo anterior, talvez eu tenha votado com o presidente Bolsonaro em 75% a 80% das vezes. Se olhar para este governo, a taxa é menor — ou, no máximo, equivalente. Já presidi a Comissão de Ciência e Tecnologia, a Comissão de Assuntos Econômicos, e atualmente sou vice-presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que é uma das mais importantes do Senado. Cheguei a esses espaços pela minha conduta.

Se surgir um projeto que eu considere importante, que seja bom para o país, eu defendo — seja proposto pela direita ou pela esquerda. Foi assim na aprovação da reforma tributária. Agora dizem que essa reforma é “do Lula”, mas, na verdade, tentamos aprová-la ainda no governo Bolsonaro. A pandemia atrapalhou naquele momento. Essa não é uma reforma de governo, é uma reforma do Congresso Nacional.

Italo Wolff — O governador Ronaldo Caiado (UB) afirma que a reforma tributária prejudica Goiás. O que o senhor pensa sobre isso?

Penso que esse debate foi polarizado. Já existia uma data definida para o fim dos incentivos fiscais, que é 2032. A reforma tributária só começa a valer a partir de 2033. Então, não faz sentido dizer que ela vai acabar com os incentivos de Goiás — os incentivos acabariam de toda forma.

Acredito que o estado precisa pensar em outras formas de se tornar atrativo para empresas, indústrias e produtores. E existem, sim, outras maneiras. Poucos estados têm o potencial que Goiás tem — aqui temos energia, matéria-prima e mão de obra qualificada, inclusive para empresas de tecnologia. Tudo isso traz riqueza e renda para o estado.

Senador Vanderlan Cardoso: “Com Marconi, PT e Wilder, as eleições de 2026 serão mais difíceis do que muitos imaginam” | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Não faz sentido afirmar que a reforma inviabiliza Goiás. Precisamos parar com essa polarização ridícula de dizer que, se algo acontece no governo Lula, é automaticamente ruim. Temos que aproveitar o que há de bom aqui e estimular o crescimento. Precisamos motivar os jovens a ocuparem novas áreas. Há um certo comodismo em querer manter os incentivos como estão. Temos que correr atrás e nos adaptar.

Entendo que a reforma aprovada não é perfeita, mas ela é melhor do que o modelo antigo. Inclusive, várias emendas minhas foram incorporadas agora na regulamentação da reforma, contribuindo para esse avanço. E eu falo também como empresário: ninguém aguenta mais esse pandemônio que é a legislação tributária atual, cheia de regras que mudam de estado para estado e com inúmeras pegadinhas fiscais.

Ton Paulo —  O senhor é pré-candidato natural à reeleição ao Senado. Como está a movimentação para 2026, e como estão as conversas com a base do governador Ronaldo Caiado? Há possibilidade de o senhor integrar uma chapa com Gracinha Caiado (União Brasil)?

Não acredito nessa possibilidade e nunca trabalhei para viabilizar essa chapa. Eu sigo fazendo o meu trabalho.

Em 2018, quando o governador se candidatou, eu concorri ao Senado na chapa com Daniel Vilela. O governador Ronaldo Caiado, que é muito estratégico, não declarou apoio exclusivo a nenhum candidato ao Senado naquela eleição — e recebeu apoio de vários. A mesma postura ele adotou em 2022. Acredito que pode ocorrer novamente em 2026: Caiado pode optar por não apoiar nenhum dos que hoje estão se movimentando para apoiá-lo.

A pergunta que fica é: o que o governador vai fazer com os membros da sua base que ficarem de fora da chapa? O que fará com nomes como Alexandre Baldy (PP), Zacharias Calil (União Brasil), Gustavo Mendanha (PSD)? Vai excluí-los? Vai deixá-los formar alianças com adversários? Do ponto de vista político, talvez seja mais inteligente para ele não fechar questão com ninguém neste momento.

Por isso, para viabilizar minha reeleição, sigo fazendo o meu trabalho. São seis anos e meio de entregas concretas. Se alianças vierem a acontecer lá na frente, essa será uma decisão que não cabe apenas a mim. Eu não sou o dono do PSD. Temos pré-candidatos a deputado estadual, federal, ao Senado, à Presidência. Antes de qualquer definição, preciso ouvir os que têm mandato e respeitar o processo interno do partido.

Ton Paulo — O senhor acredita que as eleições de 2026 podem ser semelhantes às de 2022, com candidaturas avulsas ao Senado e o candidato do governo como favorito ao Executivo?

Cada eleição tem sua própria história. Em 2026, se o candidato a governador tiver muita certeza de que será eleito, ele pode até fechar questão em torno de um nome ao Senado. Mas, se não tiver essa segurança, talvez seja mais estratégico contar com vários candidatos ao Senado pedindo voto para ele.

Acho que as eleições de 2026 podem ser mais difíceis do que muitos imaginam. O ex-governador Marconi Perillo (PSDB), que teve quatro mandatos e realizou muitos projetos importantes — inclusive alguns que foram copiados por outros estados — aparece em todas as pesquisas com 15% a 18% das intenções de voto.

Temos também o senador Wilder Morais (PL), que, pelas conversas que tive com ele, está decidido a ser candidato. Ele mesmo afirma que não tem como recuar, especialmente com o apoio que recebe do ex-presidente Bolsonaro.

Além disso, devemos ter um candidato da esquerda — que não pode ser subestimado. Em 2024, em Goiânia, foi o eleitor de esquerda que acabou decidindo a eleição ao apoiar Sandro Mabel, justamente para evitar a vitória de Fred Rodrigues (PL).

Considerando todos esses fatores, acredito que teremos segundo turno. Vai ser uma eleição disputada, e longe de ser fácil.

Italo Wolff — O senhor disse que tem conversado com Wilder Morais. Pode apoiá-lo ao governo? Ou deve apoiar Daniel Vilela (MDB) em 2026?

Conversei com o Wilder, sim. Na política, todos procuram dialogar, e é assim que deve ser. Minha esposa é sobrinha dele, ele é meu vizinho no Senado — não tem como não conversar.

Agora, a decisão sobre quem apoiar em 2026, mais uma vez, não é só minha. Temos novos quadros chegando ao PSD, como o Gustavo Mendanha, e esse pessoal vai participar desse processo de definição.

Tudo caminha para que sigamos com a chapa apoiada pelo governador Ronaldo Caiado em 2026 — no caso, apoiar Daniel Vilela. Por quê? Porque hoje os prefeitos que me apoiam também apoiam o Daniel. Os deputados com quem tenho trabalhado — José Nelto, Célio Silveira e Glaustin da Fokus (Podemos) — também estão ao lado dele. Tudo indica que esse será o caminho natural.

Mas isso ainda não está decidido. O PSD vai deliberar com figuras como Ismael Alexandrino e outros quadros do partido. Na hora certa, vamos comunicar essa decisão de forma conjunta.

Italo Wolff — O senhor disse que o PSD confere certa independência aos seus membros para apoiar ou não o governo federal. Então, o senhor apoiaria Ronaldo Caiado para a Presidência?

Sim. Já conversei sobre isso com o presidente do meu partido, Gilberto Kassab. Inclusive, eu disse que seria muito confortável uma chapa para 2026 com Ronaldo Caiado e Ratinho Júnior (PSD), ou mesmo Ratinho e Caiado.

O Ratinho é um governador que admiro, é meu amigo e é do PSD. Então eu me sentiria muito à vontade em apoiar uma chapa com ele. E, sendo o governador Ronaldo Caiado de Goiás, ficaria muito ruim para mim, como senador do estado, não apoiá-lo.

Lembro que, quando o ex-governador Marconi Perillo colocou sua candidatura à Presidência, me fizeram a mesma pergunta. E minha resposta foi: ele é de Goiás, eu tenho que apoiar.