Recém-chegado ao PP, o ministro das Cidades diz que a grande conquista do partido veio com as filiações de políticos importantes aos quadros da sigla

Foto: Fábio Costa / Jornal Opção

Homem de confiança do presidente Michel Temer (MDB), o ministro Alexandre Baldy (PP) tem sido tratado à frente do Ministério das Cidades como “o articulador do governo federal”, assim como afirmou o ex-governador Marconi Perillo (PSDB). Titular de uma das quatro pastas mais ricas do governo federal, Baldy diz que o trabalho realizado em curto prazo tem rendido até 60 reuniões com prefeitos diariamente e a liberação de recursos para obras importantes em Goiânia, como a retomada das obras do BRT Norte-Sul, nos municípios goianos e em outros Estados.

Recém-chegado ao PP, que mudou de nome e agora se chama Progressistas, Baldy encara a missão de presidir o partido e fortalecer a chapa de deputados estaduais e federais. “Um desafio que foi para mim motivo de grande oportunidade de poder demonstrar que o nosso trabalho também pode influenciar o campo partidário. Em praticamente dois a três dias úteis nós conseguimos assegurar filiações importantíssimas do ponto de vista da qualidade política e eleitoral.”

No final da janela partidária, encerrada no dia 7 de abril, o PP atraiu para seus quadros figuras como a do deputado federal Heuler Cruvinel (ex-PSD), o ex-prefeito de Senador Canedo Vanderlan Cardoso (ex-PSB) e o empresário Professor Alcides Ribeiro (ex-PSDB). Mas o ministro e presidente do partido lembra que toda a renovação deve acontecer sem deixar de lado o fortalecimento de nomes importantes da legenda. “Fazer com que o deputado federal Roberto Balestra, que é o mais tradicional militante do partido, seja importante e prestigiado pela envergadura que tem e merece. Precisamos fazer com que o deputado Sandes Júnior tenha a oportunidade de vir para a próxima eleição de uma maneira robusta, com condições reais de vencer o pleito eleitoral”, explica.

Augusto Diniz – Como foi para o sr. chegar ao PP e assumir a presidência estadual do partido? Como ficou a legenda com o fim da janela partidária?
Com absoluta certeza, para mim foi com muito desafio que assumi o diretório estadual do PP, pelo fato de ser um partido extremamente tradicional. Um partido de grande história e com uma grande envergadura no Estado de Goiás e nacionalmente. Um desafio que foi para mim motivo de grande oportunidade de poder demonstrar que o nosso trabalho também pode influenciar o campo partidário. Em praticamente dois a três dias úteis nós conseguimos assegurar filiações importantíssimas do ponto de vista da qualidade política e eleitoral.

Trazer o deputado federal Heuler Cruvinel foi um grande ganho para o quadro do PP, assim como foi trazer Vanderlan Cardoso para o partido. Trazer outros quadros muito importantes como Professor Alcides Ribeiro, que é pré-candidato a deputado federal, e pré-candidatos a deputado estadual. Em poucos dias conseguimos fazer acima da minha expectativa e da expectativa – acredito eu – do partido. Tudo isso de um modo unido. Fazer com que o deputado federal Roberto Balestra, que é o mais tradicional militante do partido, seja importante e prestigiado pela envergadura que tem e merece. Precisa­mos fazer com que o deputado Sandes Júnior tenha a oportunidade de vir para a próxima eleição de uma maneira robusta, com condições reais de vencer o pleito eleitoral.

Para nós, o PP em Goiás foi uma excelente oportunidade para mostrarmos nosso trabalho de articulação. E no nacional demonstramos toda nossa capacidade de apoiar o governo federal, de mostrar nossa articulação política e nos tornando, neste momento, a maior bancada do governo na Câmara Federal. Até porque os partidos ainda não apresentaram todas suas mudanças.

Cezar Santos – A janela foi boa para o PP, que se tornou a segunda ou terceira maior bancada na Câmara dos Deputados, ficando atrás apenas do PT e do MDB [o resultado oficial do tamanho das bancadas sai no dia 18].
E a primeira da base. Que é o que nos interessa.

Cezar Santos – Em Goiás, o partido não tem deputado estadual nem vereador na capital. Qual é a projeção que o sr. faz para o PP nas eleições deste ano? Qual é a capacidade eleitoral da sigla?
Se você verificar que nós somos hoje a maior bancada federal do Estado com três deputados no exercício do mandato, mesmo com o meu licenciamento estando como ministro das Cidades, com as filiações que fizemos no campo dos pré-candidatos a deputado estadual, creio que temos condições de ter grande êxito na eleição proporcional para a Assembleia Legislativa. Acredito que vamos surpreender. Nosso desejo é fazer a construção de uma chapa proporcional pura, só com pré-candidatos a deputado estadual do PP. Que tenhamos condição de fazer uma bancada de deputados estaduais. Mas que também tenhamos condições de construir uma bancada de deputados federais. Que consigamos no mínimo manter os três deputados federais do partido na Câmara Federal.

E tem um quadro fundamental para a chapa majoritária, que é o nome do Vanderlan Cardoso, que foi candidato a governador em 2014 e que saiu muito bem da disputa pela Prefeitura de Goiânia em 2016. Ter Vanderlan no partido é ter um político apto a disputar qualquer posição nas eleições.

Euler de França Belém – O sr. defende Vanderlan Cardoso como pré-candidato a vice-governador na chapa de Daniel Vilela (MDB) ou José Eliton (PSDB)?
Creio que para qualquer posição majoritária. A minha forma de administrar, de atuar e de gerir não vai ser diferente do partido em qualquer lugar que eu atue. É horizontalizar as decisões. Não tem decisão vertical. Até porque na política eleitoral ninguém constrói ou conquista nenhum apoio determinando esta aliança. É preciso demonstrar a capacidade, a viabilidade e – é claro – a possibilidade da perspectiva do poder.

Augusto Diniz – A decisão de permanecer no cargo de ministro parecia certa até o final da janela partidária, quando surgiu uma possibilidade de o sr. deixar o Minis­tério das Cidades e disputar a reeleição como deputado federal. Por que da decisão de não concorrer novamente a uma vaga na Câmara e permanecer no governo?
Quando falo que desejava e mantenho firme meu propósito de construirmos uma nova política, é preciso sair do campo da palavra e passar a dar exemplo. Tenho hoje, na minha vida pessoal, a oportunidade mais expressiva e desafiadora de fazer tudo que eu possa realizar para a reconstrução do meu País. Se eu fosse individualista – pensar única e exclusivamente na minha posição –, como tradicionalmente se pensa, poderia dizer que a decisão de me afastar do ministério para ser candidato seria natural.

Mas, independentemente de que seja um, dois, três ou dez meses à frente de uma pasta com a envergadura do Ministério das Cidades, com as atribuições que tem, é o desafio de conseguir ajudar definitivamente o governo a reconstruir econômica e socialmente o Brasil e de realizar as políticas públicas que o País precisa para fazer com que essa reconstrução seja efetivamente realizada.

Marcelo Mariano – Em que cargo o sr. espera estar no ano que vem?
Não tenho a menor expectativa para o ano que vem. Só quero que tenhamos um Brasil melhor para os brasileiros. Que consigamos efetivamente ter um Brasil melhor! Como disse para todos meus amigos que me seguem e que sempre me apoiaram, não tenho expectativa de cargo nem de função, porque graças à Deus não vivo de política. Quero fazer da política algo que possa melhorar a vida das pessoas. Senão é melhor eu estar na minha empresa e tocar minha vida individual.

Euler de França Belém – Quem o sr. apoiará ao cargo de presidente da República?
Quando nós tivermos as candidaturas oficializadas, poderemos dizer quem serão os concorrentes.

Euler de França Belém – Mas o sr. tem simpatia por um dos pré-can­didatos postos até o momento?
Para apontar uma candidatura nacional, primeiro tenho de escutar o meu partido para dizer que a sigla tomará uma posição de apoiar determinado nome. E o senador Ciro Nogueira, que é o presidente nacional do PP, sempre disse que a nossa decisão tem de amadurecer até dia 5 de agosto de 2018. Até lá temos toda a condição de avaliar, perceber quem são os candidatos e a viabilidade desses nomes.

Euler de França Belém – Como bom analista de cenário, o sr. percebe que o momento abre espa­ço para um candidato de centro?
Acredito. Porque os extremos vão, neste momento, se enfraquecer e se autoflagelar.

Euler de França Belém – O sr. não acredita que haja espaço para a esquerda com o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), nem para a direita com o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL)?
Não acredito. E esse é um ponto de vista pessoal. A população vai entrar na eleição de fato, que são os 45 dias de campanha com 35 de TV e rádio, nos últimos 20 dias.

Euler de França Belém – Há uma tendência de o centro se unir?
Não acredito que seja uma tendência hoje.

Euler de França Belém – Há uma tendência histórica de união do centro. Mas neste ano o sr. acredita que a realidade possa ser diferente?
Não acredito que será diferente. Só percebo que o cenário hoje traz muita dificuldade para que essa tradição se mantenha.

Marcelo Mariano – Há previsão de liberação de recursos do Ministério das Cidades até o final do governo Temer?
Todo dia liberamos recursos.

Marcelo Mariano – Mas não há um valor estimado?
Até o final do ano devem ser liberados pelo menos mais R$ 70 bilhões.

Marcelo Mariano – O fato de ter um goiano à frente do Ministério das Cidades tem mudado a relação da pasta com os municípios goianos?
Acredito que esta relação esteja excepcional. Porque todos os dias em que estou no ministério recebo de 40 a 60 prefeitos de todo Brasil. No dia de hoje (11) pela manhã devo ter recebido quase 40 prefeitos em audiências. É uma agenda extremamente massificante, mas quando há uma relação com o Estado de origem do ministro, as visitas dos prefeitos goianos acontecem quase todos os dias. Até pela relação de amizade.

Fazemos com que o pior dos desafios para ajudar os prefeitos de todo o País seja encorajar os prefeitos a realizar projetos, porque o governo vem nessa condição de retomada de investimentos a cada dia. As contas vêm melhorando, a arrecadação tem melhorado e a economia vem se recuperando, o que consequentemente ajuda a recuperar cada vez mais a arrecadação. Isso se traduz em capacidade de investimento. E onde os investimentos se dão? Primeiro no Ministério da Saúde, seguido do Ministério da Educação, Ministério dos Transportes e em seguida o Ministério das Cidades.

Augusto Diniz – No final de 2016, a população de Goiânia viu as obras do BRT Norte-Sul serem paralisadas por falta de recursos. Como está a negociação para a retomada da construção desse eixo do transporte na capital goiana?
A negociação do BRT foi concluída. A obra foi retomada e os recursos estão completamente assegurados – em 15 de março, o governo federal autorizou a liberação de R$ 140 milhões do Fundo de Ga­rantia do Tempo de Serviço (FGTS), com R$ 52,6 milhões de contrapartida da Prefeitura de Goiânia, para o retorno das obras do trecho dois do BRT Norte-Sul, com valor que deve chegar a R$ 270 milhões.

Augusto Diniz – O que o Ministério das Cidades destinará de recursos pa­ra a realização das obras do BRT?
Todas as demandas da prefeitura, que é quem executa a obra, foram atendidas. O Ministério das Cidades não executa obra, seja de mobilidade, saneamento ou habitação. A pasta investe, autoriza projeto. Asseguro que não vai faltar recurso para a obra do BRT.

Euler de França Belém – Agora o BRT realmente sai?
Da nossa parte não há nenhum entrave. E há a possibilidade de outras obras em Goiânia saírem. Estamos avaliando e averiguando obras como a extensão da Avenida Leste-Oeste, duas intervenções da Marginal Botafogo. Tem outras obras que nós estamos, juntamente com a Prefeitura de Goiânia, avaliando suportar o investimento.

Cezar Santos – Tanto Estados quanto prefeituras, estas mais, têm dificuldade na elaboração de projetos. Isso é relatado constantemente por órgãos responsáveis pela aprovação de obras e liberação de recursos. O sr. ainda percebe essa dificuldade das gestões municipais na elaboração e apresentação de projetos?
Total. Absolutamente. Tanto que os Estados sempre foram mais ousados porque têm mais condição em pessoal e capacidade, e acabam por apresentar mais projetos. No último dia de 2017, liberei para o governador Marconi Perillo mais de R$ 900 milhões para o governo de Goiás. Quando assumi o ministério, o governador veio apresentar os projetos em diversas áreas que estavam prontos. Foram R$ 260 milhões para fazer rodovias. Outros R$ 200 milhões para obras de pavimentação e infraestrutura urbana. E mais R$ 470 milhões para saneamento.

Cezar Santos – O governo de Goiás se destaca na elaboração de projetos?
Sim, porque tem mais condição. Não se pode comparar um governo com uma prefeitura. A prefeitura não tem corpo técnico e equipe suficiente para elaborar projetos.

Marcelo Mariano – A troca do no­me do PP para Progressistas já aconteceu? Na prática, como essa nova roupagem pode influenciar o desempenho do partido nas eleições?
Sim. O melhor de tudo são as figuras que estão no partido. Que elas possam fazer da intenção a palavra em si do progresso. É o que nós desejamos para o Brasil: progredir. O PP é um partido muito unido. Percebe-se isso na intervenção que fiz na questão da vacina contra o vírus H1N1. Na sexta-feira, 6, quando vim a Goiânia, eu liguei para o ministro da Saúde [Gilberto Occhi] e falei a ele do problema. A resposta foi a seguinte: “Baldy, o que você disser nós vamos fazer”. E não foi diferente. Tanto que todo mundo ficou um pouco assustado com a declaração.

Augusto Diniz – Inicialmente o Ministério da Saúde informou que não teria condições de antecipar a vacinação contra o vírus H1N1 em Goiás.
Na segunda-feira, 9, fizemos um vídeo com o ministro da Saúde para assegurar que a vacinação seria antecipada. E a vacina chegou na quarta-feira, 11, para a Secretaria Estadual de Saúde [a campanha foi iniciada na sexta-feira, 13].

Cezar Santos – Em que pese o otimismo do sr., o PP é o partido com mais indícios de irregularidades e políticos investigados pela Lava Jato, incluindo o pre­sidente da sigla, Ciro No­gueira. Isso pode abalar o po­ten­cial de votos do partido nas eleições?
O partido é feito dos seus personagens. Cada um responde por aquilo que faz. Em Goiás, estamos fazendo o melhor para que o partido seja um aliado do povo goiano. Investir no Estado, fazer o Estado crescer e progredir. Cada um paga pelo o que faz. Cada um assume as suas responsabilidades.

Marcelo Mariano – Qual impacto que a Lava Jato terá nas eleições?
Com toda força. Porque a população tem se politizado cada vez mais.

Augusto Diniz – A posição nacional que o sr. ocupa faz com que seja chamado a discutir outros assuntos além do PP e do ministério. O sr. acredita que a prisão do ex-presidente Lula (PT) foi uma manobra da Justiça ou tende a ser a primeira de muitas prisões?
Nunca fui chamado a discutir a prisão do Lula. Primeiro porque não sou juiz, não sou advogado e nem parte do Ministério Público.

Augusto Diniz – Mas como político tem uma opinião sobre o assunto.
Hoje eu sou ministro. Por participar do governo, acredito que precisamos ter muita cautela para poder emitir opiniões. O governo é o governo. A minha opinião pode ser considerada como a opinião do governo. Tanto que os que acompanharam a minha trajetória vão saber qual é a minha posição.

Augusto Diniz – O fato de o sr. não ser candidato e permanecer no ministério favorece de alguma forma a sua mulher ou o seu irmão caso um dos dois venha a ser pré-candidato a deputado?
Acredito que a minha decisão por permanecer no governo não está vinculada a uma decisão de colocar um membro da minha família para ser candidato a cargo algum. A única coisa que eu desejo é fazer com todos aqueles que sempre foram meus aliados o mesmo que sempre fiz: conseguir que eles possam ter representantes que tenham condições de ajudá-los e trabalhar por eles da mesma forma que eu trabalhei.

“O PP vai estimular a formação de lideranças”

Fotos: Fábio Costa / Jornal Opção

Augusto Diniz – Dada a facilidade que o sr. diz ter em casos específicos, como a antecipação da campanha de vacinação contra o vírus H1N1 em Goiânia, como o sr. vê a sua posição como um possível articulador no governo federal?
Eu já me considero – até porque o próprio [ex-]governador Marconi Perillo (PSDB) disse explicitamente “o articulador do governo federal” quando fala que liberei recursos para fazer rodovias, o Goiás na Frente – um articulador para ajudar. Sou representante do Estado como deputado federal. Tenho toda responsabilidade de tentar buscar ajudar o Estado dentro das minhas condições e limitações. E dentro dos objetivos de cada assunto para poder executar o que for preciso.

Augusto Diniz – Qual é a estrutura de recursos do ministério frente às outras pastas do governo federal? É a pasta que tem mais recursos?
Está entre os quatro maiores ministérios em termos de orçamento.

Cezar Santos – Em Goiás, o PP optou por não tentar eleger deputado estadual que já tenha cargo eletivo, o que acabou por afastar políticos que já estavam como certos no partido, como o deputado estadual Lucas Calil (PSD). Por que essa decisão?
Porque nós desejamos dar oportunidade para os que estão realmente querendo ingressar na política nas eleições. Nosso desejo é o de fomentar novas candidaturas. Com todo o respeito a quem detém mandato. Lucas Calil é meu amigo, pessoa com a qual andei por várias cidades em 2014. Mas foi uma decisão da comissão como um todo. Não foi uma decisão do partido ou de pessoa A ou B. Foi uma decisão de toda a comissão do partido de que nós deveríamos fortalecer uma chapa pura do partido e também ficou decidido que deveríamos promover nomes que não detivessem mandato.

Cezar Santos – Com o objetivo de estimular novas lideranças?
Com certeza. Estimular novas lideranças e novas candidaturas.

Marcelo Mariano – O índice de renovação na Câmara e na Assembleia tende a aumentar ou diminuir?
Acredito que vai diminuir.

Marcelo Mariano – Por que o sr. diz acreditar que o índice de renovação tende a diminuir?
Creio que esse momento que vivemos no Brasil não estimula que os “outsiders” entrem na política.

Augusto Diniz – É uma discussão contraditória, porque o levantamento “Retratos da Sociedade Brasileira – Perspec­ti­vas para as eleições de 2018”, da CNI/Ibope, mostrou em março que 62% dos eleitores diz ser importante o candidato ter experiência e trajetória política, mas praticamente metade dos brasileiros (varia de 46% nos com superior completo a 55% entre aqueles com até a 4ª série do fundamental) pretende votar em candidatos que não sejam políticos profissionais. Por que o partido apostou em uma chapa de novatos?
Acreditamos que o momento é propício a que se apresente essa solução, que é ambígua e desafiadora. Ao ponto que levamos o deputado federal Roberto Balestra como candidato a reeleição, que é um político que tem experiência, traquejo, relação e que ajuda muito o Estado de Goiás. Mas ao mesmo tempo dobrando com um novo nome de candidato a deputado estadual. É possível aliar nessa configuração esses dois desejos, colocando um político cacifado, que tenha acesso para ajudar o Estado, com o novo político, que é aquele que quer ser eleito buscando uma nova trajetória.

Euler de França Belém – O sr. deixou bem claro que o PP decidirá sobre as alianças até agosto, mas a tendência, a considerar suas relações partidárias, seria ficar ao lado de Daniel Vilela (MDB) ou José Eliton (PSDB). O senador Ronaldo Caiado (DEM) está excluído?
Não temos hoje formada nenhuma tendência. Tenho uma relação com os três pré-candidatos a governo. De uma forma horizontal, vamos definir o candidato que será apoiado pelo partido.

Euler de França Belém – O PP tem ao menos dois candidatos a deputado federal, que são Sandes Júnior e Roberto Balestra, que têm interesse em permanecer na base aliada do governador José Eliton. Consideran­do o peso desses nomes, o que acontecerá com o partido se eles mantiverem a in­tenção de se manterem na base?
Os dois, juntamente com os demais, terão de sentar, dialogar e discutir. Não tenho dúvida de que eles estejam preocupados primeiro com a eleição de cada um, de se viabilizarem candidatos com real perspectiva de vencer. Em segundo lugar, Sandes e Balestra querem ter o sucesso dando condição proporcional para deputado estadual no PP.

Euler de França Belém – Neste momento, o PP está conversando com os três pré-candidatos a governador citados?
Vou dizer que hoje nós dialogamos com todos. Não tenho dificuldade nenhuma com o senador Ronaldo. Não tenho dificuldade nenhuma com o deputado Daniel. Não tenho dificuldade nenhuma com o governador José Eliton.

Euler de França Belém – Se o partido vier a apoiar o senador Caiado, o que o PP dirá ao eleitor? E qual seria o argumento usado se o apoio declarado for a Daniel ou José Eliton?
Só definimos com o quadro que temos. E só teremos um quadro definido lá na frente. Quem garante que os candidatos que estão postos hoje ficarão até o fim?

Euler de França Belém – Um deles pode desistir?
Não sei. Depende de cada um deles. Como nós não temos candidato a governador, temos de entender quais são as candidaturas e qual a mensagem de cada um.

Euler de França Belém – Se fosse apoiar Caiado, o que o sr. diria ao seu eleitor?
Primeiramente, eu tenho que internamente definir quem é o candidato que nós desejaríamos apoiar para entender qual é a mensagem que o senador Ronaldo deseja passar à população. O mais importante não é apoiar o candidato A, B ou C, é ter o candidato que saiba transmitir a correta mensagem à população de Goiás.

Euler de França Belém – Na sua opinião, os três representam propostas de modernização do Estado?
Confesso que ainda não tive tempo de poder avaliar as propostas e projetos de cada um.

Augusto Diniz – A entrada do deputado federal Heuler Cruvinel no PP se deu no momento em que o presidente estadual do PSD, o ex-secretário Vilmar Rocha, sinalizou uma saída da base aliada para ser pré-candidato a senador, já que Heuler é cotado com um possível pré-candidato a vice-governador de José Eliton. A chegada do parlamentar ao partido não é um forte indício de que esse apoio ao governador já estaria definido?
Deputado Heuler Cruvinel entrou no Progressistas porque entende que é o partido que mais dá condição para que ele possa fazer a boa política, de resultado para a população. Em momento algum, discutimos no partido que o apoio à candidatura majoritária ao governo será de A, B ou C. Nós temos de ter serenidade, paciência. Política não se faz com o estômago, não se faz com o fígado, se faz com a cabeça. E que nós tenhamos a posição horizontal tomada para apoiar o candidato que seja aquele que transmitirá a mais correta mensagem à população.

“Vanderlan Cardoso pode disputar qualquer cargo”

Marcelo Mariano – O sr. diz que o PP não terá candidato a governador, mas ressaltou que Vanderlan Cardoso pode vir a ser candidato a vice-governador. Independente-mente de quem o partido decida apoiar, a vaga de vice na chapa majoritária é uma reivindicação da legenda?
Temos hoje os mais expressivos quadros políticos do Estado. Um partido com o tamanho do PP, que tem um nome da envergadura do empresário Vanderlan Cardoso, tem toda a condição até de contribuir para uma chapa qualitativamente em voto. Quando falamos em eventualmente alçar o nome do Vanderlan a uma chapa majoritária, é porque nós temos voto. Eu tenho voto, Balestra tem voto, Sandes tem voto, Heuler tem voto e Vanderlan tem voto. Não estou falando de ninguém que não tenha voto.

Foto: Fábio Costa / Jornal Opção

 

Euler de França Belém – Se eu entendi bem o raciocínio do sr., Vanderlan pode ser inclusive candidato a governador?
Vanderlan figura como um nome que tem a condição de estar em qualquer posição. É um quadro extremamente qualitativo e que tem uma envergadura expressiva na capital.

Augusto Diniz – O sr. tem vindo a Goiânia como ministro repetidas vezes e construiu uma relação de apoio institucional à gestão do prefeito Iris Rezende (MDB) muito forte.
Minha família mora em Goiânia.

Augusto Diniz – O sr. defende nas ações como ministro o caráter suprapartidário. Além da capital, há outras cidades goianas que têm re­cebido atenção especial do ministério?
Todas as cidades, indistintamente. Irrestritamente. Temos recebido, tratado e atendido todas. A cidade de Vila Boa, por exemplo, tinha um projeto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) parado há anos. Nunca tive qualquer relação política com o município e nunca tinha me encontrado com o prefeito. Quando percebi que havia a condição financeira e econômica de liberar e aplicar o recurso, que se tornou o maior recurso da história da cidade no governo federal, fiz toda a atuação para que fosse liberado, como assim o fizemos.

Euler de França Belém – Há quem acredite que o sr. quer ser candidato a prefeito de Goiânia.
Nós temos um quadro muito mais forte para ser candidato a prefeito de Goiânia [Vanderlan].

Cezar Santos – O sr. vai passar os diretórios municipais que lhe apoiam como deputado federal para quais pré-candidatos do PP?
Eu estive na quarta-feira, 11, com vários prefeitos, deputados, vereadoras, em um encontro para discutir diversos assuntos e fazer um esclarecimento sobre as motivações que me fizeram permanecer à frente do ministério. E que nós vamos, de uma forma sábia, inteligente e principalmente em conjunto, decidir quem seria o melhor candidato para esses amigos e aliados que falei aqui há pouco e que trago comigo com tanto carinho, para que tenha o cuidado e o carinho de cuidar dos municípios como sempre cuidei. Há cidades que nunca receberam tanto investimento como agora, antes mesmo de eu me tornar ministro. Tem cidades pequenas que dizem que nunca receberam um volume tão expressivo de recursos como nós conseguimos agora nesse mandato.

Cezar Santos – Seu irmão, Joel Sant’Anna, será candidato a deputado? Sua mulher, Luana, será candidata a deputada? Um deles será candidato?
Meus aliados é que devem responder. Como eu falo e quero dar exemplo para que façamos uma nova política, não quero determinar meu candidato. Não é o meu curral eleitoral. Não trato as minhas bases políticas e eleitorais como algo que seja patrimônio da minha pessoa, mas é um patrimônio dos resultados do meu trabalho.

Euler de França Belém – Luana Baldy, sua mulher, gosta de política?
Ela gosta e gosta muito.

Euler de França Belém – O sr. se considera machista?
Eu? Acho que não.

Euler de França Belém – Se a Luana disser que quer ser candidata o sr. não colocaria empecilho?
Não. Se a minha base entender que ela seria a candidata ideal, Luana teria toda a liberdade para se candidata.

Euler de França Belém – O sr. realmente não é machista? O sr. parece ser conservador.
Nem um pouco. Sou conservador, mas não sou machista. Até porque nós precisamos ter mais mulheres na política. A Câmara Federal tem 10% de bancada feminina.

Euler de França Belém – O PP terá condições de cumprir os 30% obrigatórios de cota de gênero na chapa?
Acredito que sim.

Augusto Diniz – Em 2016 houve a possibilidade de Luana ser pré-candidata a prefeita de Anápolis. Por que essa candidatura não ocorreu? Como o sr. tem visto a vontade e atuação da sua mulher na busca pela pré-candidatura a deputada federal este ano?
Em 2016 a Luana não foi candidata porque nós encontramos no Roberto Naves um candidato de qualidade que acreditamos ser bom para a cidade. Ele tinha 0,4% de intenção de voto nas pesquisas quando decidimos apoiar a pré-candidatura do Roberto Naves. E por isso nós tomamos uma posição de que seria mais prudente apoiar a candidatura do Roberto e ela permanecer comigo residindo em Brasília. É uma questão de momento. A cada momento se toma uma decisão.

Augusto Diniz – Como o sr. vê a obrigatoriedade de se ter 30% de reserva de gênero na chapa proporcional do partido?
É um desafio grande, mas creio que seja importante para incentivar o ingresso das mulheres na política.

Augusto Diniz – Não corre o risco da regra se tornar uma moeda de troca financeira para simplesmente formar a chapa?
Se pararmos e avaliarmos a boa condução política, acredito que seja importante para poder incentivar. Se não tivéssemos essa obrigatoriedade acredito que seria ainda menor o quadro de representatividade feminina no Congresso.

Marcelo Mariano – O sr. é mais próximo do deputado Rodrigo Maia (DEM) ou do presidente Michel Temer (MDB)?
Acredito que sou próximo a ambos. A diferença da relação é que o presidente Michel eu conheço há muitos anos, o que não é novidade para ninguém. Meu primo primeiro, Elcinho Mouco, é marqueteiro dele há 20 anos. Tenho uma relação com eles de longa data, apesar de nunca ter tido a proximidade. O Rodrigo eu conheci pela relação do [ex-vice-presidente] Marco Maciel com o [ex-governador do Rio] Cesar Maia há muitos anos. E sou padrinho do último filho dele, tenho uma relação muito próxima.

Marcelo Mariano – Com a nova cláusula de barreira, os partidos menores tendem mesmo a desaparecer?
Só acredito que o Brasil precisa ter uma redução do quadro partidário, porque é impossível estar no plenário da Câmara dos Deputados, o que acredito deve ser replicado nas Assembleias e Câmara de Vereança, com 20 a 25 partidos sendo representados.

Euler de França Belém – O sr. conversou com o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), ele chegou a comentar se seria candidato a presidente?
Sim. Pediu apoio.

Euler de França Belém – E o sr. acredita que o MDB bancaria a candidatura do Meirelles?
Não sei. Eu posso lhe falar sobre o Progressistas.

Euler de França Belém – O sr. acredita que Meirelles seria um bom presidente? Ele tem chances de se eleger ou só por meio de decisão indireta?
Henrique Meirelles é um bom candidato, até porque ele vai perceber um pouco mais a realidade do Brasil fora dos gabinetes.

Euler de França Belém – O sr. percebeu um outro Brasil quando saiu do gabinete e começou a viajar? O sr. tomou um banho de Brasil?
Com certeza. Tomei um banho de realidade. Chego a uma comunidade no Rio de Janeiro, em Duque de Caxias, em Nova Iguaçu, que uma pessoa jamais entraria se não estivesse cumprindo uma missão. Com certeza é possível perceber muitos Brasis dentro do Brasil.

Euler de França Belém – E o sr. gostou desses compromissos?
Muito. Quando começamos a tirar pessoas de Duque de Caxias, e no Rio de Janeiro como um todo, da beira de um buraco, de condição sub-humana de vida. Quando se derruba uma casa e essa pessoa é levada para uma moradia digna é de ficar emocionado com o que é a importância de um programa habitacional.

Euler de França Belém – Essa preocupação social é familiar. Seu pai, Joel Sant’Anna Braga, sempre teve uma preocupação muito grande.
Exatamente. Hoje tenho condição de ajudar em trabalho e dedicação às pessoas talvez em um ano o que meu pai fez em 40 anos. Sempre coloco isso nas minhas decisões.

Augusto Diniz – A retomada da capacidade de investimento que o sr. tem percebido nos ministérios com a recuperação, ainda que tímida, da economia pode sofrer algum abalo com a saída de Meirelles do governo?
De forma alguma. Meirelles sai deixando uma sólida política de reconstrução econômica que dá condição para uma sólida reconstrução da política social.

Cezar Santos – As diretrizes foram estabelecidas por Meirelles.
A credibilidade o Meirelles estabeleceu. O governo como um todo estabeleceu as diretrizes. O Con­gresso como um todo consolidou essas diretrizes.

Augusto Diniz – Com menos de seis meses para as eleições, o governo terá dificuldade no Congresso para aprovar medidas mais rígidas como a possibilidade de aumento de impostos?
Essa pauta não faz parte hoje do calendário do Congresso.

Euler de França Belém – O sr. acredita que o Brasil tem jeito?
Com certeza. Tem total jeito.

Euler de França Belém – De onde vem esse otimismo?
De que cada um tem de fazer a sua parte. Como que há um ano alguém acharia que eu estaria aqui como ministro das Cidades? O Brasil é um país rico. Com um povo extremamente trabalhador. A nossa capacidade de recuperação surpreende a vários países do mundo.

Euler de França Belém – Quando vemos o Brasil na imprensa internacional, a impressão é de que tratam de um país que os brasileiros não percebem, principalmente na recuperação da economia. O governo é bem melhor do que a sensação que as pessoas têm dele, segundo a imprensa de outros países.
É porque as pessoas no Brasil precisam viver aquela realidade para acreditar que ela de fato existe. Isso em função de toda nossa história e das crises pelas quais passamos. O Brasil a cada 20 ou 30 anos tem uma crise que gera uma renovação da Constituição. Desde 1890 nós passamos por isso.

Augusto Diniz – Mesmo com esse início de recuperação econômica, por que a avaliação do governo é tão baixa, cravada na casa dos 6%?
Essa recuperação, que vem de uma maneira mais sólida e sustentável, ainda não chegou a todas as famílias brasileiras. Quando nós percebermos que essa recuperação econômica está de fato ocorrendo, teremos governo e prefeituras também com condição de investir. Primeiro se arruma a casa na base, que hoje é o governo federal. Se o governo federal vai mal… E o que aconteceu?
A Dilma quebrou o setor elétrico, quebrou o setor de mineração, a cadeia de investimento. Quebrou vários setores produtivos. Depois foi lá e quebrou a máquina federal. Quando a crise econômica chegou, o governo não tinha capacidade de investir e o setor produtivo estava com as mãos amarradas para que pudesse também dar a resposta. O governo vem fazendo a tarefa de casa para recuperar mais forte a máquina pública do País. Claro que deixando as amarras do setor produtivo de lado para que haja condições de se reconstruir.

Augusto Diniz – O fato de essa recuperação ser lenta, e pela necessidade de ser fazer o dever de casa, foi o que minou a chance de Temer ser pré-candidato a reeleição?
A percepção do que foi feito e da melhora que, mesmo que de forma gradual, está ocorrendo na vida das pessoas vai se refletir na condução que o presidente Michel exerceu para o País nesse momento. Se você for a Niquelândia, é possível ver o estrago que a ex-presidente Dilma fez na cidade. Quando ela tomou a decisão de mudar o marco da mineração e não mudou, uma das principais empresas de mineração da cidade [Votorantim] foi fechada e a cidade foi arrasada. Essa realidade vem com a sua particularidade.
A empresa de mineração que investia em ouro, a outra que investia em cobre e a outra em ferro-níquel. Quando todas perderam esse elo da mineração, que afeta Goiás especificamente, e a confiança em investir, a riqueza ficou lá sem ser explorada. Mas ela pode ser extraída daqui um ano, 50 ou 200. Mas continua lá. A única coisa que pode acontecer é protelar o investimento, que vai protelar o emprego, a distribuição de renda e que gerou a crise que nós temos hoje, do tamanho da que há em Niquelândia.

Marcelo Mariano – O sr. se tornou um “player” nacional. A tendência é que alce voos mais altos nas próximas eleições?
O único plano que eu tenho é de ser um bom ministro das Cidades. Esse é o único plano que eu tenho. l