Com um ano à frente da administração do município, prefeito fala que continuará a priorizar a educação e dá a receita para ter bom trânsito com o Legislativo da cidade

Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Suceder qualquer administração municipal não é algo fácil. Qualquer que seja a herança — positiva ou “maldita” —, o fardo virá pesado, com muitas cobranças. Imagine então assumir a cadeira de um dos prefeitos mais bem avaliados do País. Essa foi a missão que coube ao então vice João Gomes quando Antônio Gomide decidiu deixar a gestão com menos de 15 meses do segundo mandato para concorrer ao governo pelo PT.

Correligionário do antecessor, o empresário (condição que Gomes faz questão de ressaltar) não se intimidou e manteve o padrão de qualidade. Ao contrário de outras gestões petistas — como a do prefeito de Goiânia, Paulo Garcia e a da presidente Dilma Rousseff —, em Anápolis não há problemas com o Legislativo. Pelo contrário: até prováveis rivais na eleição do próximo ano mostram-se, no momento, parceiros da Prefeitura.

Em sua segunda entrevista ao Jornal Opção, João Gomes mostra o rumo e o ritmo que quer imprimir à gestão, critica a face midiática da crise e diz que a descrença do cidadão nos partidos não atinge só o PT, mas todos. “Houve uma grande movimentação pós-campanha presidencial e quem perdeu não aceita o resultado. Do ponto de vista da democracia, é algo ruim.”

Elder Dias — Em Goiânia, o prefeito Paulo Garcia tem tido muita dificuldade com o Legislativo, ao contrário do que ocorre em Anápolis, onde sua gestão tem apoio até de prováveis adversários em 2016. Qual a fórmula? O sr. é uma pessoa de fácil convivência?

Nos últimos seis anos, como vice-prefeito e prefeito, minha relação com a Câmara de Vereadores foi sempre muito boa. Sempre recebi os vereadores em meu gabinete. Como empresário na cidade, criamos ali uma amizade, o que facilita e amplia o diálogo. Quando assumi como prefeito isso não mudou, aliás, até aumentou. Faço questão de chamar os vereadores até meu gabinete, conversar e visitar suas bases, saber suas demandas. É preciso entender que o Executivo precisa ter mais contato com a população. E isso se faz também por meio dos vereadores. O vereador é esse nervo que liga o povo ao prefeito. Esse nervo não pode estar inflamado. Então procuro ter uma relação muito boa com a Câmara e isso tem dado certo. Esse tipo de atitude facilita o trânsito tanto para o governo como para os vereadores. Eu os respeito, independentemente de partido. Temos conseguido um bom relacionamento e aprovamos todos os projetos sem nenhuma dificuldade.

Elder dias — Com a aproximação da disputa de 2016, isso deve mudar. O sr., logicamente, é o principal nome de seu partido para a disputa. O “nervo” de que o sr. falou não pode se inflamar?

A relação respeitosa vai continuar, independentemente do posicionamento dos partidos a partir do momento em que a campanha for deflagrada. O vereador que for candidato à reeleição ainda assim seguirá sendo vereador na atual legislatura. E eu também continuarei sendo prefeito. Só precisamos saber separar isso, o que já acontece hoje. Alguns vereadores poderão tomar determinadas atitudes consideradas eleitoreiras e eu devo respeitar isso, mas aos poucos vamos conversando e nos entendendo. No ano que vem isso pode agudizar, mas estamos preparados para negociar e entendemos cada momento perfeitamente.

Elder Dias — O sr. tem também uma relação boa com o governador Marconi Perillo (PSDB), que no entanto, em termos partidários, é um adversário e conta com sua base em Anápolis para ajudá-lo na sucessão dele em 2018. Como isso vai ficar no ano que vem? Não haverá aí um contorno de acirramento?

O governador Marconi sempre teve uma votação muito boa em Anápolis, indiferentemente ao fato de a Prefeitura ser ou não de sua base. Aliás, nas últimas eleições, nenhuma das prefeituras era da base dele e ainda assim ele saiu dessas cidades [Goiânia, Aparecida e Anápolis] com votação expressiva. A votação dele em Anápolis no segundo turno, no ano passado, lhe deu mais uma vez o mandato de governador. E ele reconhece isso, independentemente de ter o prefeito da base aliada dele. Na vida e na política é preciso construir um caminho, que se dá na relação do político com o cidadão, com o eleitor. Estamos vivendo hoje um momento muito acima de partidos. Alguns partidos se voltaram contra um só e todos agora estão no prejuízo político. Os eleitores vão estar mais focados no candidato, na pessoa, do que em partido, principalmente em relação aos cargos executivos. O foco será no projeto, na proposta. O governador, que é um animal político, inteligente, sabedor da realidade de Anápolis, certamente entenderá isso. Acredito que a atuação dele será forte no sentido de mudanças. Penso que ele se preocupará mais em investir na cidade, que é parte da base eleitoral dele, em vez de deflagrar um processo eleitoral contrário a essa ou àquela candidatura.

Hoje, temos é de manter o diálogo, essa relação institucional, republicana, que o governo federal tem com o Estado, na pessoa do governador, e que automaticamente ocorre também da parte dele com a Prefeitura de Anápolis. À medida que for acalorando o debate eleitoral, mais perto da campanha, vamos administrar a situação. Estamos numa sequência importante de governo, num planejamento tocado já há alguns anos e que tem dado certo. Pretendemos continuar nessa sequência.

Frederico Vitor — Seu colega Paulo Garcia está enfrentando sérios problemas de caixa em Goiânia, tanto que quer promover uma reforma administrativa. Como está a situação de Anápolis?

Estive recentemente participando da Frente Nacional dos Pre­feitos. A reclamação de todos é a mesma, a situação não é boa. Isso porque há um reflexo da economia mundial no País, que pegou um pouco dessa crise, que, embora não seja essa crise da forma propagada pela mídia, existe sim, não podemos tapar o sol com a peneira.

A grande dificuldade dos municípios brasileiros hoje é a questão federativa. Precisamos de um pacto federativo para separar bem os papéis da União, dos Estados e dos municípios. A vida não acontece na União e nos Estados, mas nos municípios. E é no município que o cidadão tem mais condição de chegar ao gestor, que está mais perto do povo e é o mais cobrado, sendo automaticamente o que mais sofre. É no município que a pessoa busca educação, saúde, serviços essenciais de seu dia a dia. A qualidade de vida se dá no município.

Nesse pacto federativo, a distribuição de recursos nem sempre acontece da maneira devida. Os municípios vêm padecendo muito com isso, porque nos tornamos responsáveis por itens, como a segurança pública, que o cidadão pensa logo em culpar o prefeito. Ele não distingue quem é o responsável e nem quer saber. Quando tem um buraco, lâmpada queimada, uma escola ruim, se é do ensino fundamental ou do ensino médio, o cidadão não quer saber. Nós, prefeitos, sofremos muito com isso. A situação econômica se agrava mais com a queda de receita, com um Fundo de Participação dos Muni­cípios (FPM) menor. Se cai a receita no Brasil, o porcentual do FPM fica bem menor. O mesmo, se ocorre com o Estado, não é diferente. E a própria receita oriunda do município também cai. Mas as demandas do município não caem. Pelo contrário, nossa folha tem um crescimento vegetativo até acima da média inflacionária. É uma grande dificuldade, porque compromete nossa receita e nos engessa. O comprometimento da folha não pode passar de 51,3% da arrecadação, que é o limite prudencial. A grande maioria dos municípios, incluindo Anápolis, já passou disso. Aí temos de cortar na carne, é a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Então, no momento, os prefeitos têm de acordar suas equipes para a realidade e agir como empreendedores — ou seja, onde está havendo dificuldade, e dificuldade real, temos de buscar oportunidades, fazendo mais e melhor com menos recursos.

Marcos Nunes Carreiro — Há poucos dias, ao apresentar balanço de um ano de gestão, o sr. disse que uma das prioridades era continuar pagando o piso salarial aos professores. Anápolis é dos poucos municípios que fazem isso, nem Goiânia está conseguindo. Qual é o segredo, diante das dificuldades econômicas que o sr. já discorreu?

Não só pagamos o piso, como já passamos, em média, de 30% do piso nacional; em algumas categorias de professores, aliás, passa muito disso. Anápolis paga hoje um dos maiores pisos salariais do Brasil. Não é fácil. Fizemos um plano de cargos e salários para os professores e temos investido muito na educação. Poderíamos estar investindo o mínimo, 25% na educação, o que a lei determina, mas Anápolis investe mais de 30%. E também mais de 20% em saúde. Mas se fazemos isso, estamos tirando de alguma coisa, vai acabar faltando em infraestrutura, por exemplo. Mas estamos elegendo prioridades e a educação segue sendo uma delas.

E não é só questão de salário: temos, por exemplo, o kit aluno, com uniforme, material escolar, tênis. Em todas as escolas temos laboratório de informática. Vamos começar agora um novo projeto, uma olimpíada estudantil, envolvendo várias escolas municipais, premiando os alunos com uma bolsa aos que mais se destacarem, ajudando em sua despesa de casa com a família. Vamos premiar professores e escolas. E também vamos começar, em uma escola piloto, um projeto novo, que é um computador em cada carteira, para cada aluno. Estamos implantando o diário online, em que o aluno não precisa responder chamada mais na sala de aula, basta olhar na câmera e sua presença já estará computada. Isso ganha tempo na sala de aula e evita o bullying, que há às vezes com um ou outro no­me. Mais que isso, dá a exata hora em que o estudante chegou à escola, porque às vezes o professor é questionado, a mãe liga dizendo que o filho está na escola, mas ele não entrou na sala de aula, não passou pelos portões. Isso vai melhorar a segurança e garantir para nós a frequência. Para fazer isso, temos de cortar em algum lugar. Para dar o aumento de 13,01% aos professores, também demos um aumento linear de 9% para todos os servidores e estamos pagando em dia, dentro do mês trabalhado.

Entendemos que as grandes transformações de que o Brasil precisa vão partir dos municípios. Educação não é gasto, é investimento. E vamos investir em educação, em saúde, porque isso automaticamente promove qualidade de vida. Repito, não é fácil, é uma matemática difícil de fazer. Mas temos nos esforçado muito e vamos continuar assim. Temos de prestar um serviço de qualidade por meio do servidor, e o professor é um deles. Mas eu entendo a dificuldade dos municípios que sofrem para pagar o piso salarial aos professores.

Marcos Nunes Carreiro — Quantos servidores Anápolis tem hoje?

Hoje contamos com mais de 9 mil servidores ativos. Entre os inativos, só neste último ano foram mais de 500 que se aposentaram. Isso também tem causado dificuldade para nós, porque precisamos fazer aporte financeiro para pagar os benefícios. Para ter ideia, só no mês passado cerca de 10% de nossa folha foram para aporte de nosso instituto, cerca de R$ 3 milhões de uma folha de R$ 33 milhões. De R$ 64 milhões, mais da metade vai para a folha. É bom lembrar que isso serve ao desenvolvimento econômico do município, porque esse recurso está sendo investido em Anápolis. A Prefeitura é a maior empregadora, a maior prestadora de serviços e quem mais contribui com a economia do município.

Importante, para confirmar essa realidade: além dos 12 mil servidores ativos e inativos, temos indiretamente cerca de 4 mil pessoas que estão trabalhando em obras contratadas pelo município. Se somarmos isso, chegamos a 15 mil ou 16 mil tranquilamente.

Elder Dias — Há uma reclamação geral de que não há gente qualificada para o trabalho. Mas educação é um trabalho de longo prazo. Para os políticos em geral, a educação é sempre prioridade, mas acaba virando uma “prioridade secundária”, no fim das contas. Em Anápolis, pelo que sabemos e pelo que o sr. confirma no que fala, parece que a educação é tratada realmente de forma especial. Mas já há alguma coisa palpável — seja em índices, seja em conquistas, premiações etc. — em termos de resultados nessa área?

É uma grande cobrança nossa. Temos feito reuniões com o Conselho Municipal de Edu­cação, com diretores, secretários, professores e gente do sindicato para responder a isto: se estamos fazendo tantos investimentos, o que estamos colhendo disso? Essa Olimpíada que vamos começar também visa retratar o quadro. Queremos saber como estão nossos alunos, qual é sua média de aprendizado.

Eu acredito que já podemos ter algum reflexo, mas educação é algo nem de curto nem de médio prazo, sempre é algo para o longo prazo. Hoje vivemos o reflexo do que foi feito cinco anos atrás. O que nós fizermos a partir do ano passado vai começar a ter frutos talvez em 2016 ou 2017. O que é palpável é a participação, a assiduidade dos alunos. Temos instalações mais modernas, equipamentos, uniforme padronizado. Isso aumenta no estudante a disposição de ser mais participativo. A frequência tem aumentado porque estamos investindo.

Por outro lado, o que chamamos de “segundo turno”, as escolas de tempo integral, estão tirando as crianças da rua no contraturno e promovendo reforço, saúde, esporte, arte, tudo dentro da escola. Anápolis vai colher bons frutos em um futuro bem próximo, até porque não está faltando investimento. O que ocorre com a maioria dos prefeitos — e eu não tiro a razão de alguns — é que não conseguem mensurar esse resultado. E a questão é que quem faz não vai ver mesmo, porque não é coisa para um ou dois mandatos. É algo para plantar, regar, adubar, para no futuro colher.

O que estamos colhendo hoje na educação é aquilo que foi plantado. Ou seja, se plantou muito pouco. O que se investiu em educação na história do povo brasileiro até pouco tempo atrás era uma vergonha. Não adianta pensar que vamos reverter 500 anos de história em 12 ou 14 anos. Não, não vamos. Isso envolve cultura e gerações. Esperamos que cada uma dessas gerações venha, a partir de agora, melhor do que a anterior. O que posso dizer é que a educação no Brasil está melhorando hoje porque há investimentos. Nos municípios temos de fazer nossa parte. Em Anápolis estamos fazendo.

Marcos Nunes Carreiro — Anápolis ganhou relevância nacional por causa dos investimentos na indústria — polo farmacêutico, aeroporto de cargas, todas as coisas que estão, de alguma forma, ligadas ao Daia [Distrito Agroindustrial de Anápolis]. O que essas empresas, de fato, devolvem para a cidade?

Nossa relação com o setor produtivo é muito profícua. Eu venho do setor produtivo: estou prefeito, mas sou empresário em Anápolis. É desse setor que geramos emprego e renda na cidade. Estamos cobrando mais investimentos no Daia. Quando cobramos a criação de um novo Daia, para atração de novas empresas, é entendendo a importância disso para a cidade e para o Estado, para a geração de ICMS. O que sai de imposto de Anápolis serve para a elaboração do Coíndice, que indica a participação de cada município no ICMS.

O Daia contribui muito para a cidade, assim como outras indústrias no município — é bom lembrar que a Ambev é a maior indústria arrecadadora do Estado está em Anápolis, mas não no Daia. Temos mais de cem indústrias em plena atividade, com cerca de 20 mil pessoas empregadas somente no Daia. Isso é muito importante para a economia anapolina.

"Quando cobramos  a criação de um novo  Daia é por entender a importância disso para  a cidade e para o Estado, para a geração de ICMS.” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
“Quando cobramos a criação de um novo Daia é por entender a importância disso para a cidade e para o Estado, para a geração de ICMS.” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Marcos Nunes Carreiro — A Ambev anunciou que deverá investir mais R$ 26,6 milhões em Goiás neste ano. Boa parte desse montante deve ir para a fábrica de Anápolis, já que é seu principal investimento no Estado. Segundo a empresa, desde 2010, já foram R$ 460 milhões aplicados aqui, grande parte em sua cidade. Porém, uma parte significativa dos empregados foram deslocados de Goiânia. O sr. acha que Anápolis poderia contribuir mais em termos de qualificação de mão de obra, para aproveitar mais gente da própria cidade?

Certamente. A cidade do Estado que mais investe em formação e qualificação de jovens, sobretudo no primeiro emprego, é Anápolis. Foram mais de 30 mil vagas ofertadas pelos cursos que contratamos, principalmente com o Pronatec [Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego]. Temos o Senai e o Senac, entre outros, que estão preparando mão de obra. No caso de uma indústria de cervejaria é que ela requer gente muito especializada, formada no próprio chão de fábrica. Outro fato hoje é que poucas áreas na indústria de bebidas são contratadas diretamente. A maioria é de terceirizados.

Este ano já disponibilizamos mais de 5 mil vagas. Temos três Centros de Formação Profissional (Cenfor) em parceria com o Senai e com cursos do Pronatec. Queremos agora construir mais unidades, em área periféricas, para dar oportunidade a gente de outras regiões de fazer os cursos. Temos parceria também com o IFG [Instituto Federal de Goiás] em Anápolis, pela qual entregamos recentemente mais de mil certificados.

Marcos Nunes Carreiro — O programa Qualificar continua ativo?

Sim, e entregamos mais de 5,5 mil certificados entregues no ano passado. Em 2015 queremos ampliar ainda mais.

Elder Dias — Um prefeito, se não é, deveria ser como um síndico: em vez de fazer grandes obras, fazer o básico, não deixar faltar saúde e educação, enfim, cuidar da cidade. Dentro dessa perspectiva, qual é o maior desafio de Anápolis hoje?

O que a população espera da Prefeitura é a prestação de serviços. É nisso que somos bem ou mal avaliados. A missão do prefeito é colocar sua equipe imbuída desse projeto de cuidar da cidade. Nossa grande dificuldade é que hoje fazemos investimentos muito acima da média em educação e saúde, sabendo que esses pontos porcentuais acima do que ordena a Lei de Responsabilidade Fiscal correspondem a milhões de reais estão sendo tirados de infraestrutura. Ou seja, estamos deixando de fazer algum tipo de serviço ou de obra para investir em saúde, educação e até em segurança pública — no ano passado foram R$ 3 milhões só em segurança, pelo banco de horas.

A angústia do prefeito e de sua equipe em fazer vez às demandas é muito grande, porque a população espera sempre mais. A população cobra, a matemática é outra. A partir do momento em que chega o asfalto no bairro, nasce outra demanda, uma praça, uma creche, uma nova escola. E a população vai cobrar essa nova obra. De nossa parte, temos tentado administrar isso. Em Anápolis temos vontade de fazer as coisas acontecerem. Temos traduzido a arrecadação em qualidade de vida para a população, que não vive na U­nião nem no Estado, mas no mu­nicípio, trabalhando no Centro ou no Daia, mas morando em um bairro. É lá que eu preciso chegar. Então, o grande desafio segue sendo este: traduzir desenvolvimento econômico em qualidade de vida para a população.

Elder Dias — E há a questão de o sr. ser oriundo do setor empresarial, onde o tempo é bem diferente do da máquina pública.

Muito diferente. Tenho sempre pedido celeridade nos processos, buscado fazer a equipe entender isso, fazer essa leitura. Precisamos fazer um serviço mais célere para o contribuinte. Essa é uma dificuldade. Prezo também pela qualidade do serviço. Uma obra pública precisa ser da maior qualidade possível, porque não pagamos barato por ela. Precisamos exigir: se é varrição, que seja uma varrição de primeira qualidade; se é iluminação pública, da mesma forma; o mesmo vale para saúde, educação, não importa. Estamos investindo dinheiro público e precisamos traduzir esse investimento em qualidade. É isso que os anapolinos esperam.

Confesso minha angústia por ver as coisas não acontecerem tão rápido quanto eu gostaria, o que vem do fato de eu ser do setor produtivo. Mas também reconheço que nós avançamos muito. Para conseguir alvará para construção em Anápolis a demora era de 30 a 40 dias. Hoje é tudo mais rápido — claro, depois tudo será fiscalizado. Em breve será também o uso do solo será online. Precisamos melhorar a qualidade dos serviços, para ter uma dinâmica melhor na cidade.

Temos de lembrar que Anápolis tem 108 anos. Não é uma cidade jovem e não foi planejada. Apre­senta uma malha viária muito antiga, deteriorada, e isso faz com que nós tenhamos grandes investimentos em operações tapa-buracos, por exemplo. No balanço de um ano de administração, tivemos redução de 30% nos gastos com essa tarefa, ou seja, fizemos um serviço melhor. Eu fui às ruas ver o serviço de tapa-buracos ser realizado, área em que tenho certo conhecimento. Passamos um momento difícil, o do período chuvoso, sem muita atribulação, com poucas reclamações. Os próprios vereadores notaram isso. A qualidade do serviço se manteve por mais tempo, 30% não é pouco coisa, se considerarmos que estávamos investindo R$ 10 milhões por ano nessa operação. Ora, significa cerca de R$ 3 milhões a menos de gastos. Com serviços de qualidade, o gasto é menor e a satisfação do contribuinte é maior.

Marcos Nunes Carreiro — Semanas atrás, no Encontro Nacional dos Prefeitos, em Brasília, o sr. falou aos chefes do Executivo de todo o País acerca das intervenções no trânsito com os recursos do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] da Mobilidade. Que recursos seriam esses?

São recursos significativos, que conseguimos por meio de financiamento da Caixa Econômica Federal e do Ministério das Cidades. Os aportes já foram contratados e estamos em fase adiantada de licitação. São intervenções importantes. Não adianta ficar no discurso de que Anápolis não foi uma cidade planejada, é preciso começar a planejar.

“Estamos criando seis corredores de transporte coletivo”

Frederico Vitor — Quantos corredores serão implantados?

Estamos criando seis corredores de transporte coletivo importantíssimos. Tivemos de fazer algumas mudanças para melhorar, envolvendo mais pessoas e estudos, por isso um pequeno atraso na licitação. Vamos criar dois novos viadutos e um terceiro que não estava no pacote, mas estamos viabilizando-o em uma parceira com o governo estadual. No que diz respeito à parceria com o governo federal, por exemplo, teremos dois viadutos importantes, um no encontro das avenidas Goiás e Brasil, e outro no cruzamento da Brasil com a Avenida Amazílio Lino de Souza. Essas obras seriam trincheiras, mas agora serão elevados. Vamos fazer um novo modelo com custo um pouco menor e uma resposta melhor. Esses seis eixos criarão um corredor principal na Avenida Brasil Norte-Sul, por onde correrá o nosso BRT [transporte rápido por ônibus]. É como a espinha dorsal do transporte coletivo de Anápolis, o que não é pouca coisa: se levado em consideração o trecho dentro do Daia, teremos algo em torno de 16 quilômetros. São 32 quilômetros para o BRT, ida e volta. Vamos criar as linhas alimentadoras dessa espinha dorsal. A grande dificuldade eram os recursos, mas estamos fechando o projeto.

Serão intervenções nas avenidas Presidente Kennedy com a Uni­versitária, chegando à Avenida Fernando Costa, na Vila Jaiara. As intervenções na Avenida Univer­sitária vão beneficiar até o Setor Recanto do Sol, com mais de 50 mil habitantes. A Avenida Pedro Ludo­vico, muito grande e que alimenta uma parte grande da cidade, também será beneficiada. A parte leste que será alimentada pela Avenida Mato Grosso, para a qual estamos criando um eixo próprio. Obras na Avenida JK e na Avenida São Francisco também estão nesse projeto.

Marcos Nunes Carreiro — São corredores de ônibus exclusivos ou preferenciais?

Dois serão exclusivos, na Brasil Norte e na Brasil Sul, e quatro preferenciais. Não teremos condições de fazer mais eixos exclusivos por causa da caixa das ruas, muito estreitas e nas quais não temos como fazer alargamento.

Marcos Nunes Carreiro — Haverá desapropriações, como teremos no BRT de Goiânia?

Teremos alguns problemas não nos eixos, mas em alguns pontos onde teremos interligação, como da Avenida Brasil, sentido Centro, com a Marginal Ayrton Senna, passando pela Avenida Miguel João chegando até a Brasil, nas proximidades da Amazílio. Ali teremos de fazer algum tipo de desapropriação, mas sem interferir nos eixos, apenas nas espinhas alimentadoras. Nos eixos, teremos de retirar algumas invasões de parte das calçadas, em especial na Avenida Brasil.

Marcos Nunes Carreiro — Quanto recurso virá do PAC?

Serão R$ 77 milhões. A esse total, acresce-se 5% da Prefeitura, dando em torno de R$ 80 milhões.

Marcos Nunes Carreiro — As ciclovias tem ganhado importância nas administrações petistas, como em São Paulo e como também se tenta agora em Goiânia. Em Aná­polis existem ciclovias nas praças, mas há algum projeto para se criar uma malha cicloviária?

Na Brasil Sul existe uma ciclovia grande. Fizemos agora mais uma pista neste primeiro ano de administração, porque vimos que as pessoas estavam usando a ciclovia como pista de caminhada. Então, construímos outra pista, ao lado. Esta­mos fechando nosso plano municipal de mobilidade urbana, que deve ficar pronto em 30 dias e prevê ciclovias em vários pontos da cidade. Mesmo Anápolis sendo uma cidade em fundo de vale, com subidas e descidas, nosso plano contempla vários espaços para a ciclovia. Vamos ter ciclovias como forma de transporte na Brasil Norte-Sul e na Brasil Sul. Se não der para fazer ciclovias, teremos ciclofaixas.

Marcos Nunes Carreiro — Há algumas críticas em relação ao transporte coletivo de Anápolis, como falta de ônibus ou pouca manutenção. Como está a situação, de fato?

É preciso entender que o poder público dá a concessão para que o serviço seja explorado. Há quatro anos, fomos obrigados pela Justiça a fazer uma licitação no transporte coletivo para escolha da nova empresa de ônibus que operaria em Anápolis — até porque a que opera [a TCA] faz isso há 50 anos sem licitação.

Nós fizemos a licitação há dois anos e, de lá para cá, isso está emperrado na Justiça. Era um agravo que deveria ser resolvido e julgado em 30 dias, mas já se passou um ano e meio, criando dificuldades em Anápolis. A empresa que hoje desenvolve o trabalho não vai fazer investimentos se não tem um contrato, para fazer investimentos de compra de novos ônibus. Isso tem agravado a situação e a qualidade do serviço está cada vez pior. Isso não é bom para a cidade.

Tivemos agora a continuidade do processo licitatório, mas já se fala em nova paralisação. Nós dependemos disso para as obras que estamos fazendo. Por exemplo, no grande eixo da Brasil Norte-Sul, as paradas não serão mais no lado direito, mas na esquerda com outro tipo de ônibus, tipo sanfonão, como temos aqui em Goiânia no Eixo Anhanguera.

Outra questão é que um ônibus não se compra de um dia para o outro. Além disso, hoje temos um sistema de terminal, em que todas as linhas de ônibus convergem para o mesmo lugar. Isso é chamado de trajeto negativo, ruim para as pessoas. Com a licitação, vamos criar o cartão temporal, onde o usuário desce onde quiser e pega ônibus na sequência, com a mesma passagem. Ou seja, vamos ter vários pontos de terminação, otimizando o tempo para o usuário. Em alguns casos, a pessoa leva hoje duas horas para chegar em casa de ônibus. Isso não é pouca coisa. Mas nós vamos reduzir isso aí em 50%, ou seja, a pessoa vai chegar uma hora mais cedo. Uma hora a mais para ficar com a família. Precisamos que o processo termine logo, para que a empresa vencedora possa fazer os investimentos necessários.

Marcos Nunes Carreiro — Anápolis tem encampado alguns discursos na área de tecnologia e tem sido feliz, pelo que temos acompanhado. Recentemente, a prefeitura se juntou a várias cidades do mundo —– da Europa, dos EUA, Canadá, cidades de países mais desenvolvidos que o Brasil —– em relação à internet do futuro, um projeto que foi lançado em Hannover, na Alemanha. Além disso, o município acaba de assumir a vice-presidência do Fórum Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Como Anápolis pretende se desenvolver nesse aspecto de inovação e o que tem sido feito até o momento?

Hoje, Anápolis figura entre as dez cidades digitais do País. Nós temos várias praças digitais e é possível navegar na internet em vários pontos da cidade. As pessoas estão no trânsito e conseguem acessar a internet de graça. Até dirigindo, é possível parar um pouco e ter esse acesso, disponível nos principais logradouros do município. Junto com nosso secretário de Ciência e Tecnologia [Fabrizio de Almeida], temos feito vários investimentos para Anápolis se aprimorar como cidade digital. Nos próximos dois anos, ou menos que isso, Anápolis estará entre as cinco cidades mais digitais do Brasil. O cidadão mora em um bairro que não tem acesso a internet na casa dele, mas anda alguns metros até uma praça e tem condição de acessar por um smartphone e ficar conectado com o mundo. Temos hoje também um planetário que, em nível de tecnologia e inovação, é número um. São investimentos importantes que a cidade tem feito.

Frederico Vitor — Em relação à segurança pública, recentemente, o Simve [Serviço de Interesse Voluntário Militar Estadual], criado pelo governo, foi considerado inconstitucional pelo STF [Su­premo Tribunal Federal]. Um desfalque grande no efetivo da Polícia Militar não só em Goiânia, mas no Estado; em Anápolis não será diferente. O sr. tem conversado com o secretário de Segurança Pública, sobre essa questão? Quem irá substituir esses policiais?

Prefeito João Gomes: “Se o PT indicar o nome para prefeito, os partidos aliados vão indicar o vice na nossa chapa” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
Prefeito João Gomes: “Se o PT indicar o nome para prefeito, os partidos aliados vão indicar o vice na nossa chapa” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Marcos Nunes Carreiro — O sr. comentou que há um investimento muito grande da cidade em relação ao banco de horas da segurança. Com a saída do Simve, esse banco de horas deve aumentar?

Existe um compromisso com o governo do Estado, mais precisamente com a Secretaria de Segurança Pública. O secretário Joaquim Mes­quita esteve recentemente conosco, junto com os comandantes estadual e local da PM. Foi uma reunião muito produtiva, onde reafirmamos nosso compromisso. A cada centavo do banco de horas do Estado no município, nós colocaremos outro. Hoje, isso está em torno de R$ 250 mil por mês; isso só com a Polícia Militar. Se eu juntar o banco de horas da PM e dos Bombeiros, sobe para R$ 400 mil mensais, chegando a quase R$ 5 milhões anuais. Então, nosso banco de horas com a PM gira em torno de R$ 250 mil por mês. O Estado coloca a mesma contrapartida. Começando o ano, o Estado cortou um pouco disso em vários municípios, mesmo na região em torno de Anápolis, mas não em nosso município. Exigimos e o governo manteve o banco de horas em Anápolis. Em reunião com o comandante local, coronel Wilson Brasil, ele nos relatou sua preocupação, pois perdeu cerca de 70 homens, em função do problema com o Simve. Isso muito ruim para nós. Ainda assim, temos trabalhando com criatividade, potencializando o banco de horas. Não temos condições de aumentar o banco de horas, por questões financeiras, mas temos de tirar dele o máximo que pudermos para suprir esta demanda.

O secretário anunciou que haverá contratações imediatas, também; o Jornal Opção mesmo noticiou que será aberto um processo seletivo, além do concurso. Obviamente deverão contratar boa parte do pessoal do Simve, pois o processo seletivo é basicamente curricular, não é um concurso por prova, simplesmente. Esse processo é temporário, até um concurso para efetivo que vá suprir essa lacuna, que não é pequena. O secretário afirmou, em reunião no Centro Cultural Oscar Niemeyer, que está buscando soluções e uma, de imediato, seria essa. Outra seria a questão do chamamento do concurso público que deverá ser feito; não sabemos quantas vagas há e qual o quadro de reserva que pode ser chamado. Mas, precisamos lembrar que qualquer concurso que for chamar teremos de seis a oito meses até colocar estes policiais nas ruas. De forma provisória, o banco de horas automaticamente dobra o número dos efetivos, já que o policial passa a fazer carga horária de 12 por 36 horas ou 24 por 72 horas. Trabalha um dia e folga dois. Talvez seja essa a solução mais imediata.

Marcos Nunes Carreiro — Politi­camente falando, o ano de 2016 já começou. Embora não esteja, exatamente em voga o assunto, as movimentações partidárias já começaram. Desde 2008, o PT de Anápolis tem tido chapa pura, mas é provável que em 2016 isso não ocorra, pois é importante que haja certa renovação. Como o sr. enxerga isso? É provável que o PT siga a probabilidade de ter o sr. como candidato com um vice de outro partido?

Desde 2008, quando não tivemos vice de outro partido porque nenhum se dispôs, buscamos isso. Naquele ano, tivemos de buscar no próprio quadro e ganhamos as eleições. Em 2012, os outros partidos já queriam, de repente se tornou interessante ser vice do PT. Mas o PT também queria. E houve a compreensão de que o melhor, naquele momento, seria a manutenção do vice, do ponto de vista político a troca geraria um prejuízo, porque iria contentar um partido e descontentar muitos outros.

Agora, obviamente, o momento é diferente. Eu não tenho um vice. Estou na condição de prefeito sem um vice e os partidos que acompanham a nossa base terão a oportunidade de apresentarem nomes. Caso o candidato a prefeito seja indicado pelo PT, o vice deverá ser indicado pelos outros partidos em um consenso. Quem indicar um nome que agregue mais no tocante à eleição terá seu nome escolhido e referendado pelos demais partidos, inclusive pelo PT.

Frederico Vitor — Atualmente, em Anápolis, existe um agrupamento político denominado G4 — antes, era chamado de G3.  Estão fazendo algumas reuniões no município, que chamam de seminários. Há possibilidade, até o acirramento do processo eleitoral, de o PT dialogar com esse agrupamento político?

Nós já temos dialogado. Temos conversado com todos os partidos e, pelo menos, dois desses partidos do G4 estão conosco. O G4 está buscando fortalecimento do grupo e isso tudo vai depender da reforma política. A situação de coligação proporcional deve cair por terra, o que dificulta mais. Se não há mais coligação proporcional, como fica o partido que não tem chapa pronta? Então, precisamos esperar o que virará a reforma política, até setembro ou outubro. Mas não temos dificuldade alguma com os partidos, até mesmo com os que não acompanham a base.

Frederico Vitor — E o Solidariedade (SD), do deputado estadual Carlos Antônio?

É o principal partido, faz parte do nosso governo. É um partido que tem secretaria, diretorias, que tem muita gente contribuindo com o nosso partido, gente de primeira grandeza e que é valorizada em nosso governo. A relação de amizade com o deputado é de longa data, pessoal e também política.

Marcos Nunes Carreiro — Temos visto o PT e o PMDB, tanto municipal, estadual, quanto nacional, em um processo de conversação às vezes difícil. Em Goiânia, o PT quer o PMDB, mas o PMDB não tem declarado querer o PT. Em Anápolis, nós sabemos que o PMDB participa do governo. Isso está em harmonia por lá?

Está excelente, não temos dificuldade alguma. A última disputa que tivemos com o PMDB em Anápolis foi em 2008, quando fomos para o segundo turno. Desde então, o PMDB faz parte do primeiro escalão, com vários cargos e vários companheiros que nos ajudam muito na administração. Nossa relação com o vereador do PMDB, o empresário Eli Rosa, é muito boa. Ele tem cumprido muito bem sua função, é um parceiro na Câmara.

Marcos Nunes Carreiro — A situação do PT para 2018 depende de 2016. É importante para o PT manter Anápolis e Goiânia, as duas principais cidades do Estado?

É importante para qualquer partido manter o que tem. O grande desafio de qualquer campanha é manter o que se tem e prospectar crescimento. Se o partido tem 10 vereadores, ele quer ter 15. Se tem um prefeito, quer dois. Se tem a vice, quer a prefeitura. Se não tem, quer a vice. Isso é natural em todo e qualquer partido, e o PT não é diferente. O PT sempre trabalhou dentro dessa prospecção. Hoje temos seis vereadores em Anápolis. Com certeza, trabalharemos para aumentar esse número.

Se crescermos nas eleições de 2016, isso prospecta para 2018 e assim por adiante. O partido precisa pensar no crescimento, mas de forma inteligente. Às vezes é até importante dar um passo atrás para poder pular um obstáculo maior. Nós temos de ter cuidado nessas costuras e entender que ninguém faz política sozinho. Política se faz em grupo e não só no grupo do partido, mas em grupos partidários. Isso fortalece o pleito, ajuda a administrar e a cidade ganha com isso.

Marcos Nunes Carreiro — O PT tem tido algumas dificuldades de modo geral. Em Goiânia, por exemplo, dificuldades administrativas e políticas. Na esfera federal, também. Vemos grande parte das ações do governo federal refém do PMDB, principalmente nesse momento com Eduardo Cunha presidindo a Câmara, Renan Calheiros, o Senado, e o vice-presidente Michel Temer na articulação política. Tudo isso coisa que a presidente, de certa maneira, foi obrigada a ceder para o PMDB. O PT precisa se organizar, em todas as esferas, para dar essa manutenção ao partido nos próximos anos?

O momento não é de conforto para nenhum partido político. A crise política que o país vive hoje coloca em desconforto todo e qualquer partido político. Houve uma grande movimentação pós-campanha eleitoral e quem perdeu não aceitou a derrota. Uma pesquisa da Folha de S. Paulo mostrou que mais de 80% dos participantes das manifestações de 12 de abril em São Paulo foram de eleitores de Aécio Neves (PSDB), que votaram contra a Dilma, contra o PT. Infelizmente, não aceitam o resultado e, do ponto de vista da democracia, é algo ruim. O caminho não é esse.
Em um processo democrático, um ganha e outro perde. Quem ganhou, a presidente Dilma Rousseff, teve a maioria. E essa movimentação apadrinhada por alguns partidos cria esse desconforto para todos. Por isso, o momento é ruim para todos os partidos, não para o PT somente. Esse enfraquecimento que tentaram fazer contra o Partido dos Trabalhadores acabou respingando em todos os demais e, o que é pior, aborrecendo o eleitor. Então, esse desencontro entre o Executivo e o Congresso Nacional se dá muito em função disso, ser contra o Executivo porque é contra o PT. É algo antidemocrático. Dilma Rousseff é presidente do Brasil, que tem vários partidos. Ela não é do PT, mas está no PT. Ela preside também para o Estado de Goiás, que é governado pelo PSDB, e tem parcerias importantes aqui, reconhecidas pelo próprio governador Marconi Perillo de maneira republicana, o que tem contribuído com o desenvolvimento do Estado. É preciso entender isso.
Parte do Congresso não pode apenas dizer que é contra o PT e se unir contra a presidente, se esquecendo de que ela foi eleita pelo povo brasileiro. Anápolis, por exemplo, não pode dizer que é contra o governador porque ele é do PSDB. Ele não é governador “do”, mas “no” PSDB. Ele é governador de Goiás, que inclui Anápolis. O prefeito João Gomes é do PT? Não. É prefeito de Anápolis. Ele está “no” PT, mas que é prefeito das pessoas que estão no PSDB, no PMDB, no DEM, de todos. Da mesma forma, não é prefeito de uma religião A ou B, é prefeito da cidade. Nossos políticos, sobretudo os congressistas, precisam ter maturidade e entender isso. A grande dificuldade da presidente Dilma são essas pessoas que não enxergam o mal que fazem para o Brasil. Precisamos discutir a situação do País, a reforma política, a Petrobrás, as questões financeiras. O povo brasileiro cansou e o Congresso precisa entrar na discussão, mas em alto nível.

Discutir a corrupção, por exemplo. Quando ela nasceu? Nasceu agora? Tem 12 anos de idade? Não é verdade. Não se pode colocar a culpa no PT ou no PSDB. A corrupção vem de longa data, sendo que alguns governos a fomentaram mais, outros menos. Um partido político é composto por pessoas. São elas que fazem a diferença. Bateram no PT em relação à Petrobrás dizendo que o partido queria impedir que Eduardo Cunha ganhasse a eleição no Congresso, mas quando saiu a lista de envolvidos o PT é o partido que tem menos pessoas envolvidas.

Marcos Nunes Carreiro — E a crise econômica?

Essa crise é mais midiática do que real. E é ruim, porque tudo tem um alcance muito grande. As pessoas têm acesso à internet e às redes sociais. Vou dar um exemplo: saiu recentemente nas redes que a presidente Dilma Rousseff havia assinado uma lei para colocar chip, código de barras, em todas as pessoas. Ora, isso agride a questão religiosa, sobretudo os evangélicos, pois já ligaram o código à “marca da besta”, o que não é verdade. Isso é algo que foi discutido em 2011 e trata-se da carteira de identidade com um chip. A assinatura foi no sentido de fazer com que, até 2015, o Ministério da Justiça criasse um cartão de identificação com chip. Todos têm cartões de crédito com chip.

Essas coisas são criadas para colocar setores da sociedade contra a presidente e contra o PT. O partido tem sofrido muito com isso, mas vejo que o Congresso está entendendo que isso é ruim, pois está caindo no colo deles também. E independe de ser Eduardo Cunha o presidente da Câmara ou Renan Calheiros, com apoio do PT, ser o presidente do Senado. E agora Michel Temer, como vice-presidente, vai articular bem esse diálogo com o Legislativo, que precisa ser algo contínuo.

Marcos Nunes Carreiro — Mas isso não deve partir também da presidente Dilma? Parece que ela tem dificuldades em dialogar, não apenas com o Legislativo, mas em geral.

Ela tem demonstrado vontade de que isso aconteça. A escolha de Michel Temer agora é para articular essas conversações. É preciso ter boa vontade, mas o Congresso também precisa ter a mesma boa vontade. Essa harmonia entre os Poderes, certamente trará boas transformações para o Brasil, a começar pela reforma política. Como vamos tratar disso de forma que a questão alcance o cidadão que está na rua, reclamando por mudanças? A reforma pode nos ajudar a ter uma eleição mais democrática, onde se dá às pessoas a chance de maior renovação do Congresso Nacional, por exemplo. Acredito que, para o Congresso Nacional, deveriam ser permitidos no máximo três mandatos consecutivos. Há parlamentares que estão lá há dez mandatos. São 40 anos. Isso é bom? Acredito que não. As diferenças de mentalidade entre essas pessoas e as que estão chegando agora são enormes. Experiências novas oxigenam o Congresso e trazem um retrato mais real do momento vivido pelo País.

Euler de França Belém — Essa ideia é ingênua. As pessoas, por serem mais novas, não são melhores. Hitler e Stalin, quando assumiram o poder, eram novos. É preciso permitir que as pessoas disputem as eleições, senão haverá censura.

Não é censura. Eu sou contra a reeleição. Seria melhor ter mandatos maiores.

Euler de França Belém — Mas o sr. irá disputar a reeleição.

Mas porque existe. Tenho um ano de governo. Se tivesse quatro, talvez não disputasse as eleições. Para mim, é eleição e não reeleição, pois não fui eleito prefeito. Eu sei o peso que é ser prefeito de uma cidade. Então, com um mandato de cinco anos é possível fazer um bom trabalho e permitir que outro venha e dê continuidade ou até melhore o que foi feito. Então, acho que três vezes eleito vereador, deputado ou senador é o suficiente para dar oportunidade para novas pessoas. A reforma deve ser nesse sentido.

Euler de França Belém — Não deve ser também como na Suécia, em que o político não tem direito a carro, alimentação, entre outras coisas?

Acho que o salário deve ser como para qualquer trabalhador. Existe o salário e o político deve ser manter apenas disso, sem outros auxílios. Prefeito, por exemplo, não tem esses benefícios, só o salário. O carro que me carrega é só para serviços da prefeitura. E te digo que cerca de 90% dos serviços que faço para a Prefeitura eu ando no meu carro. Eu uso muito pouco o veículo oficial, embora seja um direito meu usá-lo. Às vezes, sou obrigado a usar por questão práticas, de estacionamento, por exemplo. Mas ninguém nunca me viu usando o carro da prefeitura para eventos pessoais em fim de semana. Qualquer servidor da prefeitura tem tanto direito quanto o prefeito, pois eles recebem o salário deles e eu o meu. Com o deputado é da mesma forma. Sou a favor, por exemplo, do financiamento público de campanha.

Euler de França Belém — Mais dinheiro público na campanha não é algo bom.

Ao contrário, será menos dinheiro público.

Euler de França Belém — Mas as campanhas sempre foram financiadas com dinheiro público.

Mas agora será legal. Os candidatos terão todos “x” reais para fazer campanha e nenhum poderá colocar mais dinheiro. Estarão em igualdade.