Talles Barreto iniciou a vida política nos movimentos estudantis, no final da década de 1980. Foi presidente do PFL Jovem; Procurador jurídico do Gabinete Civil; Presidente do Fundo Especial de Revitalização do Estádio Serra Dourada e, presidente da Agência Goiana de Esporte e Lazer. O deputado estadual está em seu quarto mandato, atuando na liderança do governo estadual na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). 

Na função, Thalles Barreto dedica especial energia a compreender os projetos importantes para o governo. “Para estar preparado, você tem de estar à par desses projetos, por isso invisto muito tempo lendo-os, interagindo com os secretários, para poder defender na Assembleia os projetos de leis que vão viabilizar a atividade do Estado”, afirma. 

Nesta entrevista ao Jornal Opção, o deputado estadual traça um panorama do cenário político atual. Talles Barreto está seguro de que o pré-candidato da base governista já está classificado para o segundo turno das eleições, mesmo que ainda não tenha sido escolhido. O parlamentar explica ainda a boa aprovação do governo de Goiás e dá sua visão a respeito dos rumos que seu partido, União Brasil, deveria seguir. Por último, Talles Barreto faz previsões políticas para o futuro: Caiado presidente e Gracinha senadora. 

Euler de França Belém — Como você avalia o quadro político em Goiânia neste momento? Já temos uma definição dos pré-candidatos Adriana Accorsi (PT), Gustavo Gayer (PL) e Vanderlan Cardoso (PSD).

As últimas eleições foram disputadas por 17 candidatos. Tivemos senadores, ex-governadores, ex-deputados federais. Essa eleição tem um perfil diferente. Sabemos que, historicamente, o PT sempre tem candidatos fortes em Goiânia. Adriana Accorsi consegue buscar o eleitor que não se identifica tanto com a esquerda, pois é uma candidata moderada, que veio da segurança pública. Convivi com ela por três mandatos e entendo que ela tem um perfil menos extremo do que outros petistas, como Mauro Rubem e Bia de Lima.

Gustavo Gayer é um bolsonarista. Ele herda o público de Bolsonaro (PL), porque ele sempre foi extremamente fiel ao ex-presidente. Mas é um político que ainda não demonstrou de forma alguma a experiência necessária para administrar uma capital. Ele nunca teve a oportunidade de conhecer, nem mesmo na Câmara Municipal, os processos da cidade.

Vanderlan Cardoso é um político experiente, senador da República, tem uma história forte em Senador Canedo. Há o problema da insegurança quanto a sua postura política — ele era bolsonarista e hoje está na base do governo federal, do PT. Essa instabilidade fragiliza seu perfil, mas ele tem experiência como gestor, como candidato e como empreendedor, que é uma qualidade que o eleitorado valoriza. 

Italo Wolff —  Qual explicação para não termos ainda um nome da base da base governista, sendo que o governador é muito bem avaliado na capital? 

Transferir votos é muito difícil, mas o governo do doutor Ronaldo Caiado (UB), com aprovação superior a 80% em Goiânia, tem condições de buscar um candidato com perfil adequado e colocá-lo no segundo turno sem dificuldades. Agora, temos de ter muita serenidade para passar pelas avaliações necessárias, fazer as ponderações para escolher a pessoa certa.

Infelizmente, a gestão do atual prefeito é uma gestão que está muito aquém dos goianienses. Essa é uma visão generalizada entre os moradores da capital. O consenso na sociedade goianiense em relação à administração de Rogério Cruz (Republicanos) é que o prefeito se perdeu dentro do seu quadro de secretários. Vindo de dois mandatos de vereador, não conseguiu ter uma Câmera que o apoie em seus projetos. Rogério teve muitas dificuldades administrativas e eu ainda não vi ainda uma forma de o prefeito conseguir se viabilizar eleitoralmente. 

Ton Paulo — Temos alguns nomes cotados como pré-candidatos da base, mas nenhuma definição. Entre os personagens hoje debatidos, quem é aquele que mais se encaixa nos planos do governador?

Há vários nomes colocados que são bem-vindos. Vejo em especial o Jânio Darrot (MDB) como um homem sério, correto, competente política e administrativamente. Ele foi deputado comigo e foi prefeito duas vezes da cidade de Trindade, além de secretário de Estado. É empresário, o que agrada o eleitor. Tem sensibilidade.

José Vitti, que foi presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), também foi cogitado. Estive com ele por dois mandatos. O considero uma pessoa que tem condições plenas de concorrer. Agora, tudo depende de uma construção da candidatura. 

Na redação do Jornal Opção, Talles Barreto cede entrevista a Euler de França Belém, Italo Wolff e Ton Paulo | Foto: Leoiran / Jornal Opção

Outros nomes do União Brasil também poderiam ter suas candidaturas construídas, como o deputado federal Zacharias Calil, que está em alto conceito na sociedade goianiense, ou a deputada Silvye Alves, que teve uma votação muito expressiva e é uma surpresa política. Mas agora, essa decisão depende de um conjunto de pessoas: membros do UB juntamente com membros de outros partidos que compõem a base aliada. 

Nós temos um comandante, que chama-se Ronaldo Ramos Caiado. Quando existe a figura de um comandante, não adianta os outros quererem. Primeiro, os próprios candidatos precisam se viabilizar. Quem buscar esse espaço com trabalho, dedicação e plano de governo, receberá o apoio do comandante.  

Euler de França Belém — Bruno Peixoto (UB) pode se filiar ao PSB, com liberação do UB. Acha que se ele mudar de partido, pode ser um candidato consistente?

Olha, já estou com Bruno Peixoto há quatro mandatos. No Congresso, passei por vários presidentes das casas legislativas, e Bruno Peixoto se destacou. No comando da Alego, se provou um grande gestor. Vejo grande participação — é o primeiro a chegar e o último a sair — vive a política de forma muito intensa. Se você conversar com o Bruno sobre pescaria, verá que ele não entende disso; de futebol, o Bruno também não gosta; nem bebida alcoólica ele ingere. Do que é que o Bruno gosta? De política. 

Por essa proximidade que tenho com ele, tenho segurança de que a situação já foi definida: ele é candidato a deputado federal pelo União Brasil. Está viajando muito, trabalhando duro por sua eleição. Bruno Peixoto é um político jovem que terá muito tempo para se tornar não apenas prefeito de Goiânia, mas governador de Goiás algum dia. Por enquanto, entretanto, ele precisa de ter calma, habilidade e paciência. 

“Por ter proximidade com Bruno Peixoto, tenho segurança de que a situação já foi definida: ele é pré-candidato a deputado federal pelo União Brasil” 

Talles Barreto

Acho improvável que ele saia do partido, pois sempre teve o doutor Ronaldo Caiado como uma referência política. Foi líder dele durante quatro anos, e ele tem um carinho muito forte por Dona Gracinha Caiado, a primeira-dama. Não enxergo nele essa busca por outro partido. Por fim, para ganhar as eleições, ele precisaria do apoio do governador, então não vejo como essa movimentação possa acontecer. 

Ton Paulo — Outros deputados estaduais ouvidos pelo Jornal Opção garantem que a candidatura de Bruno Peixoto ainda está de pé. 

Muitos deputados incentivam Bruno Peixoto a disputar as eleições porque querem ocupar a presidência da Alego amanhã. Eles não estão pensando no Bruno, na base ou em Goiânia, mas em si próprios. Isso é muito comum na política — os deputados têm um projeto próprio, e como Bruno Peixoto já está eleito para o segundo biênio dessa legislatura, muita gente “põe fogo” hoje para buscar seus desejos amanhã. 

São 41 deputados. Tira o Bruno Peixoto e eu — que sinceramente não gostaria de ser presidente da assembleia — os outros 39 parlamentares todos gostariam de ocupar seu lugar. 

Italo Wolff — Por que você não gostaria de ser o presidente da Assembleia?

Estou em outra fase. Estou curtindo a liderança, trabalhando o máximo possível. Além disso, ser o ordenador de despesas é uma responsabilidade imensa. Meu nome é muito limpo, sou casado com uma desembargadora, meu pai foi juiz, meu sogro foi juiz. Eu não quero para mim qualquer tipo de estresse. Não quero me colocar em uma situação que pode me gerar problemas amanhã, não tenho vontade. Tem outros para ocupar essa cadeira. 

“No meio político, as reações à intenção do doutor Ronaldo Caiado de concorrer nacionalmente são muito positivas”, diz Talles Barreto | Foto: Leoiran / Jornal Opção

Euler de França Belém — Estamos a sete meses da eleição. O candidato da base governista vai mal em Aparecida de Goiânia, em Anápolis e em Goiânia. As três cidades juntas têm 1,6 milhões de eleitores — quase a metade dos eleitores de Goiás. O que está havendo?

Essa é uma pergunta difícil de responder, porque temos grandes quadros. Mas acredito que há tempo para nos fortalecermos. Em Anápolis, a base tem condições de construir um nome forte — o candidato pode ser Amilton Filho (MDB) ou Márcio Corrêa (MDB). Qualquer um pode construir uma candidatura forte que concorre em pé de igualdade com o primeiro colocado nas pesquisas, Antônio Gomide (PT). 

Da mesma forma, vejo que em Aparecida de Goiânia, as intenções de voto vão migrar para Vilmar Mariano (MDB) quando ele receber o apoio formal da base governista. O ex-prefeito da cidade, Gustavo Mendanha, é muito bem avaliado e acredito que vai mudar o cenário. 

Em Goiás, o governador tem esse peso. A máquina do estado é muito forte, evidentemente porque está produzindo resultados positivos, seja na educação, seja na segurança pública, seja na saúde, seja na infraestrutura ou no social. 

Essa influência também atinge Goiânia. Eu não tenho dúvidas que, a partir do momento que a prefeitura estiver mais alinhada ao governo estadual, teremos grandes resultados. Creio que dará tempo, sim, de mostrar isso para a população. 

Euler de França Belém — Segundo as pesquisas, os eleitores realmente ainda não estão motivados. Quando chega o momento de fazer esse trabalho?

Apartir de agora, as coisas já começam a se esquentar. A definição do candidato de fato acontece cerca de 90 ou 100 dias antes das eleições. Aí, o eleitor começa a sintonizar e ver quem é quem dentro do processo. O que eu entendo e acredito que nós, na base governista, temos de tomar cuidado é o fato de que nessas eleições não há uma polarização ideológica tão forte. Por isso, o investimento em candidaturas que apostam muito na divisão entre bolsonaristas e lulistas não deve render tantos resultados. Mas acredito que o governo está muito alerta em relação a essa situação. 

Ton Paulo — Temos apurado a construção de um “blocão” da direita, não só em Goiás mas em todo o Brasil, que envolve PP, UB e Republicanos. Como está essa articulação em Goiás?

Essas conversas de fato têm acontecido, mas não acredito que possam ser consolidadas antes das eleições municipais. A aliança pode ter um peso muito grande, porque esses três partidos somam 147 deputados federais e 22 senadores. Esse bloco terá um papel importante nas decisões da ala mais conservadora do Congresso e na disputa de 2026. Em Goiás, não acredito que essa federalização acontecerá a tempo para as eleições de 2024.

“A aliança entre PP, UB e Republicanos vai somar 147 deputados federais e 22 senadores”, diz Talles Barreto | Foto: Leoiran / Jornal Opção

Italo Wolff — Como funciona o rodízio de líderes do governo na Alego? Qual seu trabalho nesta função?

Quando o governador se reelegeu, ele tinha duas opções de líderes bem claras: Wilde Cambão (UB) e eu. Caiado me explicou sua ideia de fazer um rodízio, com Cambão liderando no primeiro ano e eu no segundo. 

É uma linha de trabalho muito interessante, conversar com secretários e membros do governo, buscando uma aproximação. Todos os projetos de lei construídos dentro das secretarias passam pela Casa Civil e, posteriormente, vão para a Assembleia. Na posição de líder do governo, tenho o trabalho de representar o governo nos debates, defendendo as matérias, esclarecendo a posição do governo nos debates da Casa. 

Particularmente, gosto muito dessa função: conhecer  as matérias, fazer estudos para defendê-las em debates. Estou sempre em contato com o secretariado para atender às suas demandas, criando leis específicas que possibilitem programas importantes e facilitem a atuação do Estado. 

Para mim, é um prazer e uma honra imensa poder representar este governo dentro da Assembleia Legislativa, pois é um governo sério. Vejo que o doutor Ronaldo Caiado e seus secretários são extremamente dedicados ao serviço público e têm interesse em fazer o bem pelas pessoas. Isso me faz gostar muito do meu trabalho.

Italo Wolff — Dentro da Alego, temos a impressão de que Caiado é quase uma unanimidade. Com uma oposição reduzida, quais os principais desafios do líder do governo?

Na área política, não há dificuldades. O grande desafio é estar preparado para defender os projetos importantes para Goiás. Para estar preparado, você tem de estar à par desses projetos, por isso invisto muito tempo e energia interagindo com os secretários, para poder compreender todas as matérias. 

Ton Paulo — O governador está pavimentando seu caminho para a eleição presidencial de 2026. Ele já deixou claro que o apoio dos bolsonaristas seria muito bem vindo. Acredita que isso deve influenciar sua relação com Gustavo Gayer? Ele pode se tornar o candidato da base na Capital?

Hoje, eu vejo no meio político que as reações à essa intenção do doutor Ronaldo de concorrer nacionalmente são muito positivas. Em seis anos de administração no Estado refletem em uma boa sensação quanto a esse projeto — em especial quanto ao combate ao crime organizado. Desde os presídios até a rua, a imagem de Goiás repercute bem nacionalmente. E essa é uma grande demanda do país, o brasileiro quer um grande gestor que conseguiu por meio da dedicação e boa relação com as tropas atingir resultados significativos na segurança pública.

Ronaldo Caiado está em processo de se viabilizar. Faz parte do União Brasil, uma sigla de história e com uma projeção nacional muito grande. O UB veio do PFL, onde eu mesmo comecei minha vida política; fui presidente da Juventude do PFL. Ronaldo Caiado pertenceu ao PFL, que foi um partido com ligações com o Instituto Friedrich Naumann, organização alemã liberal. Então Ronaldo Caiado está bem alinhado com o perfil de direita do eleitorado bolsonarista. Esse eleitor de Bolsonaro se encaixa muito bem no eleitorado de Ronaldo Caiado. 

Isso não vai acontecer de uma hora para a outra. Essa assimilação vai acontecer dentro dos três anos que temos até as eleições presidenciais. É uma construção que eu vejo Caiado plenamente capacitado e preparado para fazer. É um homem honrado, que faz política para o bem das pessoas. Eu vejo muita disposição nele, com muita energia para perseguir esse projeto.

Em relação à aproximação com Gustavo Gayer, eu não tenho convivência com ele. Em questão de postura política, não o vejo com experiência política suficiente para administrar Goiânia. 

“Não vejo a cara do União Brasil dentro desse governo federal. Mesmo tendo 3 ministérios, não consigo enxergar o UB participando desse projeto”, diz Talles Barreto | Foto: Leoiran / Jornal Opção

Italo Wolff — O UB tem três ministérios no governo Lula (PT) e Ronaldo Caiado busca aproximação com Bolsonaro. Como é conviver com políticos de matizes muito diferentes no partido? 

Particularmente, eu não vejo a cara do antigo PFL dentro desse governo federal. Mesmo tendo 3 ministérios, não consigo enxergar o UB participando desse projeto. Evidentemente, no Brasil inteiro você tem vários perfis; no Nordeste, as coligações lá são maiores e o UB tem de ser mais flexível. Ainda assim, eu não consigo ver como o União Brasil pode participar do governo Lula, acho muito difícil.

Ton Paulo — E quanto aos seus projetos políticos? O senhor vai disputar a reeleição? Pretende tentar o Congresso Nacional?

Tenho uma meta muito clara: quero fazer um bom trabalho na liderança do governo na Alego. Quero ajudar os prefeitos que me ajudaram,  recebi 32 mil votos, e manter compromissos; mas, em especial, meu maior objetivo em 2024 é ser um bom líder do governo na Assembleia, seguindo as determinações do doutor Ronaldo Caiado. 

Sobre o futuro, eu não sei. Farei avaliações lá na frente para decidir qual será minha atividade política. Eu estou muito tranquilo e sereno tendo tido quatro mandatos, duas vezes secretário de estado, enfim, uma trajetória. 

Ton Paulo — Como vê a preparação de Daniel Vilela (MDB) para 2026?

Daniel Vilela é um político jovem, que desde muito novo foi preparado politicamente. Ele tem berço palaciano, tem muitas habilidades e capacidades. É um grande nome. Tenho convicção de que, a partir do momento que ele assumir o governo caso o governador se afaste para disputar as eleições presidenciais, vai fazer também um excelente trabalho.

Conversando com Daniel, vejo que ele tem hoje o Caiado como uma referência administrativa e política. Isso é muito importante, manter a referência de um caminho a ser trilhado. Daniel Vilela tem um histórico político como deputado federal, foi deputado estadual comigo, foi vereador de Goiânia e agora tem como vice-governador uma oportunidade de dar seguimento ao trabalho executado pelo doutor Ronaldo.

Italo Wolff — Qual a sua perspectiva sobre o projeto de Gracinha Caiado disputar o Senado?

Excelente nome. Gracinha tem uma postura ímpar. Como primeira-dama, ela briga pelos mais pobres, para ajudar as pessoas mais necessitadas. Ela gosta de participar, tem ideias em todas as áreas e disposição para enfrentar os desafios. Tenho admiração muito especial pela história e a trajetória dela. Tem uma energia de tirar o chapéu. Tem olhares sociais. Tenho certeza de que vai fazer uma história muito bonita dentro do Senado Federal para Goiás.

Ton Paulo — Já há sinalização de quem pode ser o próximo líder do governo na Assembleia?

A prerrogativa de escolher o líder é exclusiva do governador. No ano que vem, o doutor Ronaldo escolherá outro líder seguindo seus critérios apenas.