Deputado federal por Goiás e líder da bancada do PSL na Câmara diz que é hora de construir a base para garantir que projetos do Executivo tenham chance de ser aprovados no Congresso

Deputado federal Delegado Waldir Soares (PSL) | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

O Delegado Waldir Soares, ainda pelo PSDB, foi o campeão de votos em Goiás para o cargo de deputado federal em 2014, quando foi o escolhido por 274.625 eleitores nas urnas. Em 2018, pelo PSL, o delegado licenciado praticamente repetiu a votação recebida quatro anos antes e foi, pela segunda vez, o parlamentar mais bem votado no Estado: 274.406 votos.

Conhecido por suas declarações polêmicas e discursos fortes contra o crime, Delegado Waldir mudou de lado. Deixou de ser, como o próprio político define, o causador do incêndio para assumir o papel de bombeiro. Se antes Waldir era oposição aos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), agora o deputado federal foi eleito como um dos homens de confiança do presidente Jair Bolsonaro (PSL), é o presidente estadual do partido em Goiás e lidera a banda da legenda na Câmara.

Com mais responsabilidades, ao mesmo tempo em que tem proximidade com o chefe do Executivo nacional, Delegado Waldir não encara como problema ver a roupa suja do PSL ser lavada publicamente, quando extrapola os áudios e textos no grupo de WhatsApp. Para o parlamentar, a forma como a sigla se expõe é a garantia da transparência de um novo momento na política.

Rodrigo Hirose – Como está a negociação para garantir a aprovação da Reforma da Previdência no Congresso?
O presidente preferiu o alinhamento das bancadas temáticas. Só que elas votam assuntos apenas de seus interesses. Não votam assuntos polêmicos com Reforma da Previdência, pacote anticrime, Reforma Tributária. É preciso a partir de agora um novo alinhamento para que o governo construa sua maioria. Sem maioria o governo não consegue nenhuma reforma.

Rodrigo Hirose – O governo está próximo de conseguir maioria no Congresso?
Na semana passada houve a primeira reunião oficial, na qual o presidente trouxe para si o comando da articulação. Os parlamentares estavam aguardando um carinho, uma sinalização.

Rodrigo Hirose – E houve esse carinho?
O carinho é a sinalização, chamar para conversar. Isso ocorreu. Houve uma reunião no palácio na qual estiveram todos os partidos que podem formar uma futura base do governo.

Euler de França Belém – Com a indicação da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) para liderar o governo no Congresso, o Major Vitor Hugo (PSL-GO) ficou esvaziado?
Na verdade os dois têm papeis distintos. Existe o líder do governo na Câmara, que é o Major Vitor Hugo, o líder do governo no Senado, que é o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), e há o líder do governo no Congresso. Joice Hasselmann foi escolhida pelo presidente da República. Joice construiu essa liderança com pedido e apadrinhamento do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Joice foi espetacular. É uma pessoa extremamente competente. Tem um berço esplêndido, porque a origem de Joice Hasselmann é nada mais nada menos do que o jornalismo. Vocês acham que uma pessoa que vem do jornalismo está despreparada? É extremamente capacitada. Minha amiga. Ajudei na construção dessa liderança. Tem meu respeito, meu carinho. Com certeza terá um grande destaque.

E terá mais protagonismo do que o líder do governo na Câmara e o líder no Senado. Pela própria natureza da deputada, pelo perfil da Joice, ela tem esse protagonismo. O governo precisa disso.

Augusto Diniz – Independente da possível capacidade da Joice Hasselmann líderar o governo no Congresso, como o sr. viu as primeira polêmicas que envolveram a deputada, como o culto inter-religioso para exorcizar do gabinete 825 do anexo 4 da Câmara a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ocupou aquele espaço enquanto foi deputado até janeiro de 1991 e quando discursou na tribuna da Casa e indagava quem tinha matado Bolsonaro, sendo que o presidente estava internado no hospital em recuperação da cirurgia de reconstrução de parte do intestino?
Joice é uma pessoa muito inteligente. É uma parlamentar que busca o protagonismo o tempo todo. A deputada tem estrela, tem brilho próprio. E não há quem ou cena que vá conseguir apagar o brilho de Joice. No final do ano passado, a única voz na Câmara contra as oposições era o Delegado Waldir.

Quem era parlamentar eleito naquele momento, sem poder participar, veio com muita ansiedade e sede de fazer esse protagonismo com a esquerda. Não só Joice Hasselmann, como Carla Zambelli e dezenas de outros parlamentares da nova geração do PSL, como Alexandre Frota, buscaram, buscam e terão esse protagonismo. Hoje o PT não fala mais sozinho. Hoje o Psol não fala mais sozinho. Não são dezenas contra um.

Agora o jogo empatou. A esquerda não está acostumada com esse enfrentamento. O PT sempre praticou atos de tentativa de humilhação da direita. Não aceitamos mais isso. Só estamos devolvendo com juros e correção monetária algumas dessas provocações.

Rodrigo Hirose – O sr. citou que Joice Hasselmann vem da escola do jornalismo. O jornalismo de Joice não é o das fake news?
O jornalismo da Joice é o jornalismo que a tornou a mulher mais votada da história do País. Joice não se tornou a mulher mais votada da história do País pelo Estado de São Paulo simplesmente por ser Joice. Conseguiu esse espaço porque teve uma escola, que foi o jornalismo. Como eu tive uma escola, que foi a polícia. São escolas idênticas, com as suas diferenças, e que nem todos os jornalistas viram uma Joice. Nem todos os delegados e policiais viram um Delegado Waldir.

Você precisa ter um plus que te faça alcançar esse protagonismo. joice é cotada hoje para ser a prefeita de São Paulo, para ser a próxima governadora ou senadora por São Paulo. Qualquer disputa que Joice pense nos próximos anos é um nove viável. Tanto que foi lançada como pré-candidata a prefeita de São Paulo nada mais nada menos do que pelo governador João Doria (PSDB), que é o ex-prefeito de São Paulo.

“A esquerda não tem limite para para suas condutas criminosas”

Durante ato de campanha, o então candidato da presidente Jair Bolsonaro levou uma facada no abdômen em Juiz de Fora (MG) no dia 6 de setembro | Foto: Reprodução

Euler de França Belém – A Polícia Federal se reuniu na segunda-feira, 25, com o presidente Jair Bolsonaro e informou que o inquérito só chegou à conclusão de que Adélio Bispo de Oliveira teria agido sozinho na tentativa de homicídio contra Bolsonaro em Juiz de Fora (MG) durante a campanha no dia 6 de setembro. O sr. concorda com essa conclusão?
Discordo. Eu conheço, sou investigador. Fui o delegado que investigou as esquerdas quando ocorreu a invasão no Parque Oeste Industrial, a maior invasão urbana da história do País. Eu que me imiscuí no meio deles. Passei por eles, entrei na invasão como cidadão comum, frequentei o boteco que eles iam. Sei como é o treinamento e preparo dessas pessoas para determinadas ações. Depois investiguei os black blocs. Fui autor da prisão de vários deles no 8º Distrito Policial (DP). Sei a forma de atuação criminosa desses grupos de esquerda. Investiguei ações do MST. Tenho essa habilidade.

Euler de França Belém – Pelo o que o sr. falou, a esquerda pode estar envolvida na tentativa de matar Jair Bolsonaro?
Não tenho dúvidas de que a esquerda está envolvida. Foi um ato premeditado. Não sai da cabeça de uma pessoa armar-se com uma faca, ir a um evento e esfaquear um candidato a presidente. Isso é planejado. A pretensão da esquerda naquele momento era destruir a candidatura da pessoa mais forte a se tornar presidente da República. E se tornou realidade.

De que forma? Que aquela pessoa com “surto psicótico” matasse ou ferisse o candidato a presidente e que aquelas pessoas que estavam ao redor do presidente matassem o autor do crime. Para que a esquerda tivesse um herói. Um membro do Psol. Do dia para a noite aquele homem ia virar um herói. Acabaria com a eleição de um presidente da República. A esquerda não tem limite para os seus ataques, para suas condutas criminosas. Não têm limites.

E falo com a experiência de delegado, como parte do que investiguei. São piores do que terroristas. Não interessa quantos vão morrer, o importante é a causa. A causa é mais importante que vidas. Assim foi no Parque Oeste Industrial, assim é nas guerras dos black blocs, assim é nas ações do Psol, do PT. Não estou falando isoladamente, basta vocês buscarem os fatos políticos que envolveram a esquerda. Todos tinham a mesma linha e visão.

Euler de França Belém – Por que no dia do crime tinha o registro de uma passagem do autor da facada no Congresso?
Não posso falar desses fatos. Vamos esperar que a Polícia Federal. Temos visto a esquerda pedir a apuração do crime da Marielle [Franco]. Pois quero a apuração não apenas do crime da Marielle, mas de todas as mulheres que são assassinadas diariamente no País e ficam sem resposta. De todos homens brancos, negros, comerciantes, empresários, que todo dia são assassinados. E quero também que a Polícia Federal dê a resposta a esse crime político que aconteceu durante a campanha em que tentaram matar o meu presidente e que não foi um ato isolado. Falo com quase 24 anos de atividade policial. Sei o que acontece.

Augusto Diniz – Ninguém questiona a capacidade do sr. como integrante de uma força policial. O sr. foi titular de várias delegacias. Conhece mais do que ninguém aqui como é feito um inquérito. No entanto, apesar de o sr. duvidar da conclusão à qual a Polícia Federal chegou…
A Polícia Federal não chegou a essa conclusão ainda. O inquérito não foi concluído.

Augusto Diniz – Euler fez uma pergunta sobre o registro de entrada horas depois do autor do crime contra o presidente no Congresso no dia da tentativa de homicídio.
Foi o acesso de uma funcionária.

Augusto Diniz – Segundo a polícia legislativa, teria sido uma funcionária que, horas depois do crime, foi pesquisar sobre o caso e acabou por registrar de forma equivocada a entrada do autor do crime com visitante no Congresso. Isso é o que consta no inquérito.
A ficha de filiação dele no Psol é falsa ou não?

Augusto Diniz – A Polícia Federal também tem essa informação de que o Adelio foi filiado ao Psol de Uberaba (MG) de 2007 a 2014.
Euler de França Belém – É importante que a Polícia Federal também trabalhe a versão de que pode ser um álibi. Se o autor do crime tivesse conseguido fugir seria um álibi.
Augusto Diniz – No momento em que as investigações estão, o sr., como integrante de uma força policial, questionar os integrantes de outra força policial que dizem que o autor da tentativa de homicídio contra um candidato a presidente da República agiu sozinho, e o presidente da República duvidar do trabalho da Polícia Federal não geram uma instabilidade institucional?
Queremos a verdade dos fatos. Queremos que os indícios sejam apurados. E onde há fumaça há fogo. Queremos a resposta verdadeira, seja ela qual for. Que venha a Polícia Federal e demonstre que não existem esses fatos. Mas você sabe que a investigação de John Kennedy havia uma nuance e depois apareceu outra. Hoje existem várias versões com o amadurecimento do tempo.

Estou alertando para outra vertente. Se, em nenhum momento, essa pessoa tivesse uma ficha de filiação do Psol, eu não estaria neste momento fazendo essa argumentação. Não é trazer instabilidade. Queremos trazer a verdade. Não perdi, e nem o presidente da República, o poder da contestação das informações.

Cabe a qualquer cidadão – está na Constituição – o direito à livre expressão e da manifestação ideológica, partidária, sexual, religiosa. A Constituição não foi rasgada. Está na Carta Magna. É isso que estamos fazendo. Coloco um pouco de sal e pimenta considerando que sou um especialista nesse tipo de investigação. Talvez eu tenha mais habilidade e mais conhecimento do que a Polícia Federal.

Quantas investigações essa autoridade policial fez de grupos semelhantes? Vamos pegar a ficha do delegado responsável pela investigação e ver quantas vezes ele investigou esse tipo de crime. E se ele foi a fundo de como é o treinamento de militantes do Psol que participam de eventos. Eu tenho essa expertise.

Esse delegado buscou quantas pessoas foram treinadas em Cuba e na Venezuela no período antes do PT assumir o poder, no período em que o PT estava no poder ou em outros países? Quando militantes desses países estiveram no Brasil com passagens pagas para treinar militantes de esquerda? Você tem esse trabalho investigativo?

Estou trazendo argumentos para ampliar a sua visão dos fatos. Eu fiz esse trabalho nas minhas investigações. Estudei. Tenho informações que não posso passar para você, mas que é da minha atividade policial.

“É um opção pessoal do Jean Wyllys, que tem os motivos dele, e que vá com Deus”

Registro de uma das últimas atividades na Câmara, em dezembro, do ainda deputado Jean Wyllys antes de deixar o Brasil | Foto: Alex Ferreira/Câmara dos Deputados

Euler de França Belém – O sr. passou quatro anos na mesma Casa que o ex-deputado Jean Wyllys (Psol). Por que o sr. acha que Jean Wyllys resolveu sair do Brasil? Procede a alegação das ameaças ou há outras motivações?
Não posso falar sobre a vida de quem não conheço e com quem não tenho relacionamento. É um opção pessoal do Jean Wyllys. Ele tem os motivos dele. E que vá com Deus.

Augusto Diniz – O sr. disse que não tinha proximidade com Jean Wyllys.
Meu gabinete era vizinho do dele.

Augusto Diniz – O sr. disse que não era amigo nem nada.
Nenhum relacionamento com Jean Wyllys. Nunca falei com ele. Inclusive nos encontramos no corredor várias vezes. Nem cumprimentar nos cumprimentávamos.

Rodrigo Hirose – Por que mesmo sendo parlamentares de gabinetes vizinhos os srs. não se falavam?
Eu não posso mostrar o dente para quem não me cumprimenta. Vou cumprimentar quem não me cumprimenta? Não. Se você me cumprimentar eu vou te cumprimentar. Nós tínhamos visões ideológicas radicalmente contrárias. E Jean Wyllys foi autor de uma cusparada no meu presidente. Não tenho de conversar com essa pessoa. Fez algum pedido formal de desculpas ao meu presidente? Não.

Se ele não fez um pedido de desculpas, por que tenho de agradar e adular uma pessoa que se comportou dessa maneira? Quem tem discurso de ódio? Meu presidente foi esfaqueado, levou cusparada, foi atacado e eu que tenho de cumprimentar alguém que tem um comportamento com essa característica?

Tenho de ser amigo de quem quer ser meu amigo. Devo respeitar quem respeita aqueles que estão ao meu lado. Tenho uma defesa e um carinho todo especial pelo meu presidente da República. E se fizer mal ao meu presidente está fazendo mal a mim.

Augusto Diniz – O sr. mesmo reforçou que tem uma proximidade e carinho especial pelo presidente Jair Bolsonaro. Isso ficou muito claro na campanha quando o sr. foi escolhido o novo presidente estadual do PSL. O sr. chegou a conversar com Bolsonaro e houve alguma explicação do por que o presidente nunca quis dar qualquer declaração sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes no dia 14 de março no Rio?
Nós não temos imiscuir em assuntos que tratam de situações de outro país. Meu presidente era candidato a presidente. Bolsonaro não podia se manifestar. Mas eu dei a resposta há pouco. Nós temos milhares de Marielles. Outro dia o Psol fez uma Rua Marielle. A preocupação deles é com Marielle. Do Psol.

Por que eles não se preocupam com as Marias da Venezuela? Por que não se preocupam com os Joãos da Venezuela? Por que não se preocupam com as 64 mil pessoas que morreram no último ano no País? Por que não questionam a morte de cada uma dessas pessoas? Por que não questionam as pessoas que morrem por falta de UTIs no País? Por que não questionam as pessoas no analfabetismo?

A esquerda está tentando criar uma santa, um mártir. Não. Marielle é mais uma pessoa entre as 64 mil que foram assassinadas. Eu quero a resposta das 64 mil mortes. E eu quero a resposta da tentativa de homicídio contra o meu amigo, o meu presidente, como as centenas de milhares de tentativas de homicídios que ocorrem, como a do meu presidente Jair Bolsonaro.

Augusto Diniz – O sr. não acredita que da mesma forma que a investigação sobre a tentativa de homicídio contra o então candidato a presidente Jair Bolsonaro, dentro da Lei de Segurança Nacional, o inquérito sobre a morte da vereadora Marielle não deveria ter andamento, já que falamos de uma investigação praticamente parada? Não são dois casos que merecem uma atenção igualmente especial por se tratar de um então candidato a presidente da República e uma militante negra e parlamentar pela cidade do Rio de Janeiro?
Temos milhares de militantes, cidadãs, mulheres negras, policiais, que são assassinadas todo dia no Rio de Janeiro. Milhares de policiais que são assassinadas. E eu não venho em nenhum momento a esquerda se levantar na defesa dessas policiais que defendem a vida dos militantes até de esquerda que saem de casa de manhã e não sabem se voltam.

Quero o que está na Constituição, questão de igualdade e defesa. A investigação é de atribuição da polícia do Estado do Rio de Janeiro. Pelo que sei, o governador era o Pezão (MDB) e agora é o Wilson Witzel (PSC). Cabem a essas instituições a apuração dos fatos.

Augusto Diniz – O sr. acredita que houve algum tipo de interferência do Pezão na investigação do caso Marielle e Anderson?
Não posso comentar. Não conheço a investigação. Houve um pedido recente do Psol ao ministro [Sergio] Moro [Justiça e da Segurança Pública] que trouxesse a Polícia Federal para as investigações. E o ministro Moro, que é criticado, atacado, pisoteado, humilhado pelo Psol e pela esquerda, determinou que a Polícia Federal entre nas investigações.

É um tratamento diferenciado. Está dando um privilégio na investigação. Enquanto mulheres da PM que são assassinadas, soldadas, professoras, estudantes que são estupradas e assassinadas não têm investigação da Polícia Federal. Está se criando um privilégio. Diferente do presidente, que foi em um ato político, que é de competência de investigação da Polícia Federal.

Cria-se um privilégio na investigação por ser uma militante negra. Enquanto várias militantes negras, professora negras, mulheres negras que são assassinadas e são estupradas não têm a investigação conduzida pela Polícia Federal. Não é esse privilégio que queremos no País. Queremos um país de igualdades.

“Houve uma investigação e foram presos dez parlamentares. Flávio Bolsonaro sequer foi investigado”

Caso Fabrício Queiroz segue sem explicação | Foto: Reprodução

Euler de França Belém – O caso Fabrício Queiroz no Rio de Janeiro tem algo estranho que ainda não sabemos o que é.
Que venham as investigações e tragam a resposta.

Euler de França Belém – O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) ligação com o caso Queiroz? Há envolvimento com milícias?
O Rio de Janeiro tem 70 deputados estaduais. Houve uma investigação, Furna da Onça, e foram presos dez parlamentares. Flávio Bolsonaro sequer foi investigado. Depois das investigações, o Ministério Público pediu ao Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras] informações dos 70 deputados. Nessas informações apareceram movimentações financeiras, que são irregularidades administrativas e tributárias. Não tem crime praticado.

Com base nessas informações, passou-se a se fazer uma série de acusações contra Flávio. Na verdade são ilações. Se houve algum erro tributário ou administrativo de qualquer pessoa, que seja punido. E até do Flávio, do Carlos [Bolsonaro], meu, do presidente. Queremos igualdade de tratamento.

Euler de França Belém – Flávio mantinha no gabinete parentes chefes de milícia. O sr. não acha que isso é preocupante?
Eu te contrato para o meu gabinete, sei se você é homem, mulher, sei da sua vida passada, quem são seu amigos e amigas? Você acha que eu te contrato e sei de toda sua vida? Você acha que quando alguém é contratado, sabe-se o número da fralda quando a pessoa nasceu, qual roupa vestiu na infância, se deu pedrada, roubou manga no quintal do vizinho, quantas pacholas fez, quantas galinhas roubou com os amigos para comer? Não sabemos de tudo. Contratamos a pessoa pelo profissional que é.

Queiroz era um policial militar, que foi de confiança da família Bolsonaro durante muito tempo e é isso que aconteceu. Se o Queiroz tiver participação criminosa que seja punido. Não temos medo da Polícia Federal, do Ministério Público. Queremos que se faça justiça em todos os casos.

Augusto Diniz – O que já é de conhecimento das relações do Queiroz não aumentam a suspeita sobre Flávio Bolsonaro? Um então assessor parlamentar que, segundo o Flávio, era responsável pelas contratações no gabinete, que tem uma filha suspeita de ser uma das funcionárias fantasmas do gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara. Fabrício era amigo da família Bolsonaro há anos e mora em uma comunidade que é controlada por uma das milícias mais perigosas do Rio. Milícia essa que tinha parentes empossados no gabinete do Flávio. Tudo isso não aumenta a suspeita de envolvimento de Flávio Bolsonaro no caso?
Vou fazer um comparativo. Você mora em Senador Canedo, tem uma namorada, uma filha e os dois trabalham em um jornal. Você passa a ser investigado como suspeito por tráfico de entorpecentes. Seu chefe é responsável, sabe que você é traficante? Ele é culpado, responsável por todos seus atos? Seu chefe é responsável por sua filha também trabalhar na mesma empresa?

Augusto Diniz – Mas a suspeita não é grande?
Então você está dizendo que, caso você fosse investigado por um crime, cairia sobre seu chefe uma suspeita grande de que é traficante, se você mora em Senador Canedo, está sendo investigado pela polícia? O que você está dizendo é que o seu chefe teria responsabilidade caso você fosse investigado de um crime? Nós não podemos transferir a responsabilidade de uma pessoa para outra. Cada pessoa tem a sua responsabilidade pelos seus atos e suas condutas.

Não sei ondem está nenhum dos meus servidores neste momento. Se um deles quiser assaltar, você acha que a culpa é minha? Se um funcionário bater na mulher agora e matá-la e queimar o corpo, eu que sou o culpado? Você sabe o que seus filhos estão fazendo neste momento? Você sabe o que seus irmãos estão fazendo agora? Se um deles embriagado pegar o carro, atropelar e matar uma mulher grávida você é responsável, seu pai ou sua mãe? Se nem sobre os filhos nós atemos autonomia e conseguimos controlar, quanto mais com terceiros.

Rodrigo Hirose – Mas no caso de Nathalia Queiroz, que estava lotada no gabinete do presidente durante dois anos, e no horário de expediente trabalhava como personal trainer de artistas da Rede Globo. Não há nada muito escondido de que Nathalia estava exercendo outra função no horário de trabalho. Nesse caso, o gabinete não tinha como ter notado que a filha de Fabrício Queiroz não cumpria com suas funções quando deveria trabalhar como assessora do gabinete?
Se você quiser fazer um trabalho investigativo, você vai pegar cada vereador e seus funcionários. Depois os servidores do gabinete de cada deputado estadual, federal e senadores. Os funcionários que trabalham na base, enquanto estou em Brasília a semana inteira, fazem trabalho político. Se um deles ficou na academia o dia todo, em um hotel…

Rodrigo Hirose – Mas no caso trata-se de uma funcionária que postava sua atividade profissional no Instagram.
Você pode postar no Instagram ou fazer o que você quiser. Você acha que eu, parlamentar, vou ficar nas redes sociais de cada um dos mais de 20 funcionários olhando o que eles fazem o dia todo? Você acha que eu tenho tempo para isso? É absolutamente impossível. Então temos de mudar a legislação.

Existe liberdade. Você pode ficar o dia todo na academia e pode trabalhar aqui no Jornal Opção. Você pode trabalhar de noite, de madrugada, em eventos no final de semana. Na Câmara, a jornada é de 40 horas semanais. O funcionário entra na segunda 8 horas. Só que no mesmo dia tem sessão até 2 horas da manhã. O servidor entrou às 8 horas e trabalhou até as 2 horas. Ele trabalhou 18 horas na segunda.

Vamos imaginar que na terça esse funcionário complete as 40 horas com mais 22 horas de trabalho. Ou então até quarta. Se ele quiser ir para a praia na quarta a tarde e ficar quinta, sexta, sábado e domingo, o funcionário fica na praia. Porque a jornada a cumprir é de 40 horas. A moda agora é trabalhar em casa, no celular, de outra forma.

Esse questionamento é amadorístico. É de quem não conhece a realidade política e de trabalho. Eu desafiei jornalista da Folha de S.Paulo a ser presidente do PSL em Goiás nas próximas eleições. Estou esperando que o profissional aceite o convite. Até agora não apareceu ou me deu resposta. A gente tem de conhecer como funciona cada situação. Não podemos ficar com ilações, criar fake news a respeito de determinados assuntos, quando a pessoa não conhece o dia a dia da política, de como funciona a contratação das pessoas.

Está na lei. São 40 horas. Como ela vai cumprir essas 40 horas não interessa. Faz política. Ou faz jornalismo. Você precisa ficar 40 horas aqui dentro do Jornal Opção? Você não tem de ir para a rua fazer matéria, você não pode ir à Câmara, na casa de prostituição que você sabe que tem uma informação importante? Você é um profissional que tem mobilidade na atuação.

“O único partido aliado do governo hoje é o PSL”

Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção

Rafael Oliveira – O DEM tem a presidência da Câmara e do Senado. O Democratas é hoje o principal aliado do governo Bolsonaro? Quem são os partidos mais próximos do Palácio do Planalto?
Quem tem de afirmar isso é o Democratas. O único partido aliado do governo hoje é o PSL. Os outros, enquanto não declararem, não são aliados. E o Democratas não tem só isso, tem três ministérios. E são os três ministérios mais importantes. Mas até agora não declarou apoio ao presidente. O principal e único aliado que o presidente tem hoje é o PSL. Estamos esperando os demais que queiram fazer essa composição com o governo que venham declarar apoio. Se não quiserem declarar apoio ao governo, que apoiem as reformas que o País precisa.

Euler de França Belém – O que o DEM de fato quer? O Democratas quer o controle da Câmara e do Senado?
O DEM conquistou pelos seus próprios méritos, com o apoio do PSL e de outros partidos, a presidência da Câmara e do Senado. A divisão dos ministérios, a cota é pessoal do presidente, independente do partido, seja o DEM ou qualquer outro.

Euler de França Belém – O que o sr. destaca de mais importante no pacote anticrime? O sr. acredita que todas as medidas incluídas nos projetos serão implementadas?
O combate ao caixa dois e a prisão em segunda instância são os itens que considero mais importantes. O projeto tem integral apoio da bancada do PSL. Na semana passada estive com o ministro Sergio Moro, que pediu a minha ajuda e do parlamento para a aprovação dessas propostas. E terá.

Rodrigo Hirose – Entrevistei diversos secretários de Segurança Pública recentemente e a opinião quase unânime em relação à prisão em segunda instância é que se trata de uma medida inconstitucional. Advogados também questionaram o mesmo ponto do pacote porque a Constituição seria clara ao dizer que o condenado só pode cumprir a pena depois de o processo transitar em julgado. Na opinião do sr., a prisão em segunda instância não é inconstitucional?
Direito é diferente de matemática. Hoje Lula está preso porque entende-se que a decisão da prisão em segunda instância é que tem validade. É uma manifestação do STF. Se os ministros mudarem de opinião, muda-se o entendimento da Corte e será aplicado. Para mim não é inconstitucional. A condenação em segunda instância é suficiente para que seja levado um criminoso à cadeia.

Existem direitos pétreos, que são o direito à vida, combate à corrupção, a segurança pública. Existe o juris esperniandi, pelo qual advogados e outras pessoas entendem que seria inconstitucional. Discordo completamente dessas pessoas. Na escola onde eu fui formado, onde estudei doutrina, jurisprudência, o meu entendimento é que é indispensável a punição.

Hoje um dos maiores gargalos é a impunidade e a lentidão da Justiça. O pacote anticrime do Moro traz a resposta à questão da impunidade. Não ainda à lentidão do Judiciário e das forças policiais, que terá de ser atacada de outras formas. Mas é uma resposta a uma grave questão no País.

Rodrigo Hirose – Outra questão que gerou muita polêmica é a letalidade policial em sua atividade. Muitos acreditam que a forma como Moro apresentou o excludente de criminalidade, como uma possibilidade de dar mais flexibilidade para se considerar o policial inocente por legítima defesa em uma ação policial, poderia incentivar que mais mortes sejam cometidas por policiais. O que o sr. pensa sobre esse ponto como policial?
O projeto do Moro é um retrato daquilo que eu sempre falei e Bolsonaro sempre falou. Moro simplesmente construiu aquilo que sempre defendemos. 58 milhões de brasileiros querem que aconteça dessa forma, que haja uma proteção ao policial brasileiro.

É inadmissível que um policial acorde, despeça de sua família, volte para casa – não sabe se volta – e de repente encontrar um bandido com uma pistola, um revólver, um fuzil – porque não está ali para brincar, mas para tirar sua vida, a vida do próprio policial – e tenha de cruzar os braços e apenas dizer “esteja preso”. Quando, na verdade, em um descuido o policial será assassinado.

Hoje a legislação diz que o policial pode ser preso, responder criminalmente, a uma sindicância, ação indenizatória, pode perder o trabalho concursado. Qual motivação o policial tem para trabalhar? Quem paga a conta dos quatro processos que o policial responde? Ele tem de tirar do salário que sustenta a família. Qual a garantia que você tem hoje para ser policial no País?

Se você encontra alguém com uma arma, essa pessoa não quer rezar. Não está para brincar. O País tem de preparar forças para o enfrentamento. Precisamos enfrentar aqueles que querem cometer crimes – e não terão esse enfrentamento se estiverem na igreja ou trabalhando. Aqueles que se propõem a roubar o seu carro, te roubar, matar, arrastar sua filha, como o Champinha fez em 2003. Essas pessoas são mais importantes do que as forças policiais?

Temos de dar importância a quem? Quem nós queremos proteger? É uma legislação que vem para proteger o policial. Para dar motivação ao policial para que trabalhe no enfrentamento daquele que estiver armado, que seja bandido, criminoso. Não é para matar cidadão não. É como diz o [governador do Rio] Witzel: é pá [barulho de tiro] na cabeça daquele que está armado.

É essa a linha que temos de adotar no nosso País. Hoje a pena de morte já existe na prática. Se quiser, mando para você 50 vídeos que tenho de execuções praticadas por bandidos por questões muito menores. Não podemos continuar cegos para o enfrentamento à criminalidade.

Euler de França Belém – Há o crime organizado grave, que é o narcotráfico. Temos o caso do Marcola, preso há anos, mas continua a comandar o crime do presídio. O sr. acredita que o pacote anticrime combaterá de forma mais eficaz o crime organizado no narcotráfico e no roubo de cargas?
Sim. O projeto trabalha muito bem a lavagem de dinheiro e o perdimento de bens. Traz ferramentas importantes no combate a esse crime também. É claro que só o pacote não vai acabar com o crime. Precisamos de medidas do Executivo. Precisamos da utilização das Forças Armadas nas nossas fronteiras, fortalecimento das polícias estaduais e federais, a construção de presídios, uma Lei de Execução Penal mais dura.

O pacote do Moro não é um salvador da pátria. São medidas que o ministro pede para ajudar a combater o número de mortes que temos no País e de tráfico de entorpecentes, além de crimes como estupro, corrupção e outros. O ministro pede e dá um remédio para começar a combater a insegurança pública. Cabe ao parlamento se manifestar.

“Não podemos premiar a má qualidade de gestão de governadores”

Delegado Waldir se posiciona contra o governo federal financiar diretamente as polícias estaduais, “a não ser que elas se tornem Polícia Federal” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Rodrigo Hirose – O sr. disse que o pacote não fará milagre e depende de ações do Executivo. O sr. é favorável que a União ajude a financiar diretamente as polícias estaduais, inclusive com complementação salarial?
Não. A não ser que elas se tornem Polícia Federal. Dai a César o que é de César. Não podemos premiar a má qualidade de gestão de governadores.

Euler de França Belém – O sr. acredita que a Polícia Militar tem de continuar militar e a Polícia Civil permanecer civil?
Não. Tem de unificar as polícias. Deveríamos ter uma polícia única federalizada com um segmento municipal, outro trabalhando no Estado e outro na União. Defendo que o policial possa começar na polícia municipal para depois chegar na federal. Nenhum cidadão sabe hoje qual a atribuição das várias polícias que existem. Você quer o resultado. Você quer segurança. Não interessa quem vai fazer o trabalho.

O Ministério Público também tem de fazer parte desse conjunto investigatório. Já que hoje o MP se propõe a investigar. Quem quer investigar tem de virar polícia. O Ministério Público tem de estar junto com as polícias municipal, estadual e federal.

Euler de França Belém – Neste momento, a Polícia Militar e a Polícia Civil têm um certo contencioso com o governo de Ronaldo Caiado (DEM). Como o sr. avalia essa situação?
Na verdade, o contencioso é relacionado à falta de pagamento do salário de dezembro. É justa a reivindicação dos policiais. O governo tem de buscar solução para esse problema. Sabemos que a responsabilidade do desajuste é de governos anteriores. Mas, independente da responsabilidade ser de governos anteriores, tem de se buscar uma solução. Sabemos que a solução não vem com vara de condão.

Sei que o governador tem ido a Brasília buscar recursos e que as portas estão fechadas. O Estado não permite mais endividamento. Existe uma resistência com a quebra de incentivos, que precisa ser feita. Foi escandalosa a forma como foram dados alguns incentivos. É preciso rever os contratos das OSs [Organizações Sociais], que são escandalosos. As OSs não fazem cirurgias eletivas. Atuam aquém da sua capacidade contratual. Existem gargalos.

Há muitas investigações que virão a público e mostrarão que antigos gestores meteram a mão no dinheiro público que poderia ir para o pagamento do funcionalismo. Serão demitidos muitos comissionados. Há outro ato do governador que tenta a redução da jornada de trabalho e dos salários dos servidores.

Cabe ao governo propor e trazer as soluções. E o mais rápido possível fazer o pagamento, não só dos policiais, mas de todos os servidores públicos que estejam com o salário atrasado. Se necessário for para equilibrar as contas, que seja até com a venda de ativos. Tem a Saneago.

Euler de França Belém – O sr. acredita que a Saneago pode ser privatizada?
Pode e deve ser. É preciso privatizar todas as empresas estatais. O governo tem de cuidar unicamente de saúde, educação e segurança. O restante tem de ser tudo privatizado. Iquego, Metrobus. Tem de acabar com empresas públicas. É preciso fazer caixa para tentar resolver as questões do Estado. Tem patrimônio público, tem propriedades. O governo tem de encontrar uma solução.

Euler de França Belém – Há a possibilidade de trazer recursos da União neste momento para Goiás?
Não tem.

Euler de França Belém – Se não há condições de trazer recursos do governo federal, o que fazer? Qual é o caminho?
Redução de incentivos fiscais, corte na jornada de trabalho, demissão de comissionados, redução de gratificações, solicitar ao Judiciário e ao Legislativo que deem sua cota de sacrifício com redução do orçamento dos outros poderes. O sacrifício neste momento tem de ser de todos: Executivo, Legislativo, Judiciário. É preciso haver quebra de vantagens, corte de auxílio-moradia.

É um momento de crise e exige sacrifício de todos. Todos os privilégios que existem em qualquer carreira têm de ser imediatamente suspensos para que o Estado seja colocado em ordem. É muito fácil, inclusive para outros poderes, cobrarem agora do Executivo. Estão esquecendo que existem outros poderes. Todos tem de dar sua cota de contribuição.

Augusto Diniz – Uma das privatizações que tem sido questionada é a da Celg Distribuição para a Enel. Inclusive o governador modificou por Lei o Fundo de Aporte à Celg D, para reduzir os benefícios recebidos pela Enel. É uma decisão que vai ser judicializada. O sr. vê a medida como necessária para se verificar como se deu a privatização da Celg?
As condições estabelecidas para a Enel foram anormais. Foram até criminosas com o Tesouro do Estado. É preciso ser feita uma revisão. Independente do questionamento judicial, tem de se buscar um novo entendimento para solucionar as condições criminosas oferecidas à Enel.

“Nova Previdência é uma quebra de privilégios. Temos de tratar todos com igualdade”

“Algumas alterações terão de ser feitas em relação ao BPC, à aposentadoria rural e é preciso trazer a reforma da Previdência dos militares” | Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Augusto Diniz – O texto da Reforma da Previdência que foi enviado à Câmara é o projeto necessário para o setor? Como o sr. avalia a proposta?
É o texto necessários. Algumas alterações terão de ser feitas em relação ao BPC [Benefício de Prestação Continuada de Assistência Social à Pessoa com Deficiência], à aposentadoria rural e é preciso trazer a reforma da Previdência dos militares. É preciso chegar tudo senão a Casa não vai analisar. A nova Previdência é uma quebra de privilégios. Temos de tratar todos com igualdade. Exige sacrifício de todos.

Não é uma reforma do Bolsonaro. É um presente para os prefeitos, governadores, para todos cidadãos. O governo federal e os governos dos Estados comprometem de 60% a 80% do seu orçamento com pagamento dos servidores públicos e de suas aposentadorias. É inadmissível. Não podemos ter um Brasil dos aposentados com um salário mínimo que podem chegar a um teto de R$ 5,5 mil enquanto temos outras pessoas que carregam aposentadorias espetaculares.

Nos Estados Unidos, a pensão máxima de uma pessoa é de R$ 1 mil. Pessoas idosas nos Estados Unidos trabalham praticamente a vida toda e não morrem por causa disso. As pessoas buscam depois da aposentadoria um outro trabalho ou fazem plano de capitalização. É assim nos países mais desenvolvidos. O Brasil constitucionalizou a Reforma da Previdência. Isso enfraquece o País diante de cenários econômicos mundiais. Temos de flexibilizar a forma de mudança da legislação previdenciária.

Rodrigo Hirose – Uma das categorias com o melhor modelo de aposentadoria e pensões está justamente entre os militares. Muitas das pensões são até vitalícias e oneram bastante os cofres públicos. Por que o governo não mandou a parte da reforma dos militares? Está mais difícil dialogar com essas categorias?
Há o diálogo com essas categorias. Havia um texto principal que era mais importante em relação à maior quantidade de pessoas da Previdência. Mas a reforma tem de atacar o déficit em cada segmento. Hoje existe o déficit dos militares, na aposentadoria rural, no setor privado, no funcionalismo público. É preciso fazer o corte para adequar a Previdência em cada um desses nichos e exigir de cada um deles o seu sacrifício. O déficit não pode continuar a ser gerado ou transferido para outras categorias.

Augusto Diniz – A crítica feita por quem é contra a Reforma da Previdência é de que as pessoas terão de trabalhar até uma idade muito avançada para conseguir atingir a aposentadoria integral. Como o sr. avalia as críticas feitas ao texto do governo Bolsonaro, que dizer ser a nova proposta mais dura do que a apresentada pelo governo Temer?
Diria para você que é mais um fake news. Se a pessoa diz que vai trabalhar até os 40 anos, ela vai começar a trabalhar com 40 anos? Porque o tempo máximo é 40 anos. Comecei a trabalhar com 16 anos. Com 56 anos eu estarei aposentado. Hoje é um absurdo as pessoas se aposentarem com 42 anos, como temos militares, delegados, juízes, promotores, professores. Isso é um absurdo em um país que tem expectativa de vida de 80 anos. Dinheiro não dá em árvore.

Alguns privilegiados – estou entre os privilegiados -, como parlamentares, delegados, precisam ter sua situação mudada. Vamos passar o rodo no meu privilégio e no de quem precisar passar. Vamos respeitar o direito adquirido de quem se aposentou. Mas não podemos pensar de forma atrasada. Não podemos mais ter uma legislação atrasada.

Temos hoje 12 milhões de desempregados porque não conseguimos atrair empresas e gerar emprego. Nosso sistema previdenciário e tributário é corrompido. É um monstrengo. O Brasil precisa se modernizar. Começamos isso ao fazer uma excelente Reforma Trabalhista. Vai vir mais de Reforma Trabalhista.

Precisamos avançar em reformas que tornem o País atrativo para empresas internacionais e para outros segmentos para que não tenhamos crescimento no PIB de apenas 1,1%. Diferente da China, que teve crescimento de 6%. Temos de avançar nisso.

Rodrigo Hirose – O Brasil ficou em 40º no ranking do PIB de 42 países.
Pior do que Peru, México, Argentina. Algo está errado há muito tempo. Será que ninguém consegue ver isso.

Rodrigo Hirose – As pessoas são, em sua maioria, contra a Reforma da Previdência por entenderem que estão perdendo um direito. O parlamentar que vai votar essa proposta, precisa de voto do eleitor. Até que ponto deputados e senadores vão encarar o desgaste para aprovar o projeto?
Desde que saiu o texto da Reforma da Previdência, atendi no gabinete da liderança do PSL cerca de 20 demandas em relação à proposta. Quantos você acha eram aposentados pelo BPC? Das pessoas que recebem pela iniciativa privada, quantos foram ao gabinete? Nenhum. Foram só segmentos que têm privilégios. E são donos da mídia nesse momento.

Rodrigo Hirose – São segmentos que consegue se mobilizar mais, o que aumenta o desgaste.
Será feita a reforma.

Augusto Diniz – Até que ponto o deputado federal Major Vitor Hugo (PSL-GO) pode barrar a tramitação da Reforma da Previdência por articulação de outros parlamentares para que haja mudança do líder do governo na Câmara? Há possibilidade de que a ideia do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorezoni, se cumpra, de a aprovação ocorrer nas duas casas até junho?
Major Vitor Hugo é o menor item nessa situação. O deputado é o líder do governo e terá desgaste se o governo não chamar os parlamentares para governar junto. Major Vitor Hugo é o para-raios do governo. É a primeira pessoa a ter o pescoço cortado se o governo não obtiver sucesso. A insatisfação hoje no parlamento é em razão da falta de diálogo do governo. Quem representa o governo na Câmara? É o Major Vitor Hugo. Então é essa a insatisfação com Major Vitor Hugo.