No Setor Morada do Sol, longe do Paço Municipal, o prefeito de Goiânia fez uma pausa nas atividades de seu gabinete itinerante para receber o Jornal Opção. De segunda-feira, 11, até a o domingo, 17, Rogério Cruz (Republicanos) ouviu pessoalmente as demandas da população. Primeiro com o gabinete itinerante e em seguida com a primeira edição do Mutirão de Goiânia em 2023, o chefe do Executivo e seus secretários atenderam as demandas de regularização fundiária, negociação de impostos devidos e pavimentação das vias. 

Nesta entrevista, Rogério Cruz fez uma retrospectiva de seu mandato, enumerando suas realizações e descrevendo os conflitos que marcam sua gestão. O prefeito afirmou ainda que pretende tornar sua gestão lembrada por tornar Goiânia uma cidade inteligente e mais ecológica. Por último, comentou sobre a situação política em que 2024 encontrará a Prefeitura da capital.

Italo Wolff — Como tem sido a experiência dos mutirões? Há alguma novidade nessa edição? 

Sim, temos a novidade do gabinete itinerante do prefeito, que já está atendendo. Tem sido muito bom poder atender a população frente a frente, olho no olho. As pessoas vêm conversar com o prefeito trazendo demandas pessoais, de suas ruas, bairros e quarteirões. Às vezes, é a praça em frente à casa do morador que precisa de algum serviço. Considero isso muito importante e, particularmente, gosto muito de estar no meio de pessoas.

Tenho também visitado e entregado obras municipais. Andamos muito por Goiânia, ouvindo, marcando atendimentos. Nessas caminhadas, percebemos que os bairros distantes do Paço Municipal têm carências que podem ser facilmente atendidas no gabinete itinerante do prefeito e nos gabinetes itinerantes dos secretários. 

Quando você começa a atender as pessoas, percebe que muitas demandas podem ser resolvidas na mesma hora, com a presença dos secretários. Tem sido tão produtivo que a inovação, com certeza, vai permanecer por mais edições. 

Quais impressões o senhor teve nesse contato com a população? Quais as principais necessidades? 

São demandas quase pessoais. Desde segunda-feira, 11, por exemplo, resolvemos sobretudo questões de habitação. Muitas moradias nessa região ainda estão fora dos conformes e nossos secretário extraordinário de Regularização Fundiária, Carlin Café (PRTB) está de plantão aqui ao lado, pronto para atender. Rapidamente, os técnicos da Prefeitura orientam a solução de qualquer problema. 

Muitos moradores saem daqui impressionados com o fato de que finalmente poderão regularizar seus imóveis. Esse contato próximo é importante para passar essas informações, para que as pessoas possam tomar decisões a respeito de seus processos. 

Rogério Cruz recebeu o Jornal Opção no gabinete itinerante | Foto: Jucimar de Sousa

Outro pedido frequente diz respeito aos processos de IPTU. As pessoas precisam negociar dívidas, parcelar pagamentos. Temos nesta região o Atende Fácil Mangalô, mas muitos moradores não conseguem acompanhar os próximos passos pelos celulares ou computadores, então receber os cidadãos pessoalmente ainda é importante. Temos tido momentos muito significativos, de ver as pessoas saírem satisfeitas, sentindo que foram atendidas ao receber a atenção direta do secretário.

Sabemos que o senhor assumiu a Prefeitura em um período muito turbulento, com a morte de Maguito Vilela e a pandemia de Covid-19. Mas, com excessão dessas circunstâncias, existia algum problema estrutural na Prefeitura que foi resolvido em sua gestão?

Uma das maiores preocupações quando assumimos foi a de realizar os projetos de campanha. Na campanha, prometemos concluir as obras paradas das gestões passadas. Quando o prefeito Maguito Vilela veio a falecer, eu assumi de fato esse compromisso. Desde que começamos a trabalhar, já entregamos o Viaduto Lauro Belchior, mais conhecido como Viaduto da Enel, sobre a BR-153. 

Entregamos o complexo viário da Jamel Cecílio, que também estava parado já há muito tempo. Entregamos um terminal completamente tecnológico, que é o Terminal Isidória. Entregamos o Viaduto da Moda, na Região da Rua 44, sobre a Marginal Botafogo. Entregamos o terminal Paulo Garcia, do qual faz parte o BRT. Na sexta-feira, 15, entregaremos o último grande terminal do BRT que é o Terminal Hailé Pinheiro, junto à Perimetral Norte.

Além disso, antes de meu mandato como prefeito, quando era ainda vereador, ajudei a aprovar na Câmara Municipal um empréstimo de R$ 780 milhões para que o Executivo pudesse fazer 630 quilômetros de asfalto em Goiânia. Esse processo começou a andar e, quando assumi, estava parado. Hoje, retomamos o programa, que será finalizado em breve. 

Agora, estamos concluindo a praça do Trabalhador, uma demanda muito antiga que será entregue em breve. As obras foram paralisadas na situação da mudança da concessionária de energia elétrica, da Enel para Equatorial, quando necessitamos de um transformador para sustentar a energia.

A Avenida Leste Oeste, parada há muito tempo, está avançando, com o viaduto sobre a Avenida Castelo Branco. Há também a sequência na região Leste, com a ligação entre Avenida Manchester e Avenida Skoda, que leva à cidade de Senador Canedo. 

Já no final deste ano, entregaremos o BRT em funcionamento. As obras estão em fase final. Com a entrega do terminal Hailé Pinheiro, os ônibus convencionais já estarão rodando no canal do BRT do Terminal Isidória até o Terminal Recanto do Bosque. Então, nossa principal preocupação foi a da conclusão de concluir as obras, o que conseguimos fazer. 

Então a marca da gestão que o senhor gostaria que ficasse é a da infraestrutura?

Também. Infraestrutura faz parte. Mas a principal marca pela qual gostaria que minha gestão fosse lembrada é o cuidado com nossa cidade. Há muitos investimentos em drenagem urbana e tecnologia. Estamos trabalhando muito para avançar nessas áreas, e apesar de muitas pessoas não compreenderem ainda, Goiânia já recebe prêmios como o Connect Smart City pelos passos que dá em direção à cidade integrada. 

Tornar Goiânia uma cidade inteligente é um processo longo, e já investimos nessa direção desde 2021. O que que é uma cidade inteligente? É uma cidade que leva conectividade a todas as pessoas em todos os lugares. Para falar em termos mais concretos, são medidas como a regulamentação que permitirá a expansão da tecnologia 5G por toda a cidade.

“Se a empresa tem responsabilidades fiscais atrasadas, isso não significa que a Prefeitura tenha de pagar. Os compromissos da Comurg não são compromissos da Prefeitura” | Foto: Jucimar de Sousa

Esse projeto se reflete no transporte público, por exemplo. Em 2021, lançamos melhorias como o novo sistema de bilhetagem eletrônica (SBE), com novas funcionalidades. Hoje, os ônibus têm reconhecimento via biometria facial, que é válida nos cartões de passe livre, como os destinados para estudantes, idosos e PCDs. Há também recarga de créditos no cartão a bordo dos veículos via cartão de crédito, de débito, QR Code e também via conta corrente virtual. Tudo isso só é possível ao se regulamentar a conectividade.

Temos interesse de que os novos ônibus tragam sistemas integrados com Wi-fi gratuita, tomadas para carregar celular, tudo isso é importante e soma muito no dia-a-dia dos usuários. Aos poucos, vamos trocando o parque luminotécnico da cidade e realizando outras melhorias que somam no ranking de cidades inteligentes como o da Connect Smart City. 

Assim, Goiânia caminha para ser inteligente. Porém, a tecnologia tem a característica de ser dificilmente percebida pelas pessoas enquanto não está completamente finalizada. Um dia, os moradores da cidade vão dormir e acordam com milhares de novos serviços. Mas até lá, não se vê a implementação gradual desse esforço. 

Vislumbramos no futuro fornecer internet gratuita para todos, garantida pelo poder público. Queremos que a criança saia de casa até a escola conectada, e possamos usar tablets em todas as salas de aula. Mas, até lá, temos de trabalhar mesmo que ainda não dê todos os resultados.

O presidente da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), Alison Silva Borges, afirmou que a companhia espera um socorro financeiro de até R$ 300 milhões. Isso é possível?

Na realidade, é importante lembrar que a Comurg é uma empresa mista e que possui um contrato com a Prefeitura. Esse contrato é coordenado através da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra), que é o órgão que representa a Prefeitura e que faz as medições do trabalho da Comurg. Nesse contrato, constam as descrições dos trabalhos que a Comurg tem de prestar em Goiânia e seu ressarcimento por isso.

Como qualquer outra empresa, como qualquer outro contrato que a Prefeitura tem com empresas, a Comurg presta serviços e a Seinfra se certifica de que o trabalho foi feito. Notas são emitidas e faturadas – a Prefeitura paga via Seinfra. Precisamos lembrar de que empresas mistas têm suas responsabilidades fiscais como outra qualquer, e tem de arcar com suas obrigações. 

Se essa empresa mista tem responsabilidades fiscais atrasadas, isso não significa que a Prefeitura tem de pagar. A Comurg tem contrato com a Prefeitura, mas o gestor financeiro dessa empresa tem de pagar seus compromissos com o faturamento que já conseguiu da Prefeitura. Os compromissos da Comurg não são compromissos da Prefeitura. O contrato determina que a Comurg tem de entregar a cidade limpa para a Prefeitura, e a Comurg é paga por isso. 

As pessoas acham que houve um impasse na Comurg agora, mas a companhia está tendo problemas desde quando nasceu, em 1974. Desde então, ela vem com uma bola de neve rolando montanha abaixo. O que a Prefeitura está fazendo para ajudar? Qual a maneira de parar essa bola de neve? Não tem como parar agora, a curto prazo. A única maneira de solucionar é tirar a neve do caminho por onde a bola passa, para que ela não cresça mais.

Nessa metáfora, tirar a neve do caminho é retomar a licitação para a terceirização do serviço?

Exato. Esse é o caminho. Como foi dito pelo próprio presidente da Comurg, essa empresa não tem condições de arcar com a responsabilidade que está no contrato. Não consegue fazer a limpeza e a coleta de lixo, por exemplo. Então, nós já abrimos um processo para terceirizar o serviço. A licitação já foi apresentada ao Tribunal de Contas do Município (TCM) e está em andamento para fecharmos o contrato com outra empresa, que tenha expertise para tratar resíduos sólidos, fazer a coleta de lixo, a varrição mecânica, tudo isso. 

Houveram reclamações sobre a retirada de árvores para construção do BRT. Como está o projeto Arboriza Gyn? 

As pessoas só falam da retirada das árvores, mas não falam que a lei permite a remoção mediante justificativa e o plantio de novas mudas em local apropriado. A Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) faz a análise técnica quando se precisa fazer uma construção em que esteja envolvida a retirada de uma árvore. Se o estudo autorizar essa remoção, você pode ter de plantar até duas ou três outras árvores em locais determinados. 

O programa Arboriza Gyn 2.0 garante que instituições públicas, moradores e empresas façam a compensação ambiental pela remoção dessas árvores. O plantio pode ser feito em diversos locais determinados pela Amma, como na região do parque Macambira-Anicuns, onde se plantou mais de 100 mil mudas, ou no Parque Três Marias, no Jardim Presidente, onde foram 50 mil mudas plantadas com participação do Ministro do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Leite.

A arborização também se dá nas vias. Onde se tira o jamelão, por exemplo, entra a muda de ipê e outras espécies nativas do cerrado. A rua Castelo Branco e agrovia Iris Rezende são exemplos. 

Desde sempre, ouvimos propostas de revitalização do Centro de Goiânia que não vão adiante. O senhor tem uma visão para o Centro? Sabe como implementar?

Tem como fazer. Temos um projeto que já está em andamento, aproveitando cinco projetos antigos de revitalização do Centro. Desde que era vereador em 2015, comecei a me preocupar com o Setor Central, porque foi naquela época em que começou a ser esvaziado. Os comércios foram deixando aquela área para cidades vizinhas em função do incentivo fiscal. 

Na época, todos na região pagavam 5% de ICMS e ISS. Hoje, com o novo código tributário, a arrecadação no Centro caiu de 5 para 2%, que é o mínimo permitido por lei. Outro incentivo para que as pessoas invistam no Centro é a isenção de IPTU por até oito anos para quem restaura seu imóvel. 

Se você é dono de uma pizzaria e encontra no Centro um imóvel tombado pelo Iphan que dá condições para sua pizzaria funcionar, você ganha isenção nos impostos para fazer a restauração desse local. Essa restauração deve ser feita de acordo com as normas arquitetônicas da região, mas, mesmo para os imóveis que não estão tombados, é possível ficar até cinco anos sem pagar IPTU, se o restauro for feito de acordo com as normas. 

Isso não serve apenas para o comércio, mas também para residências. Se você restaurou um imóvel, a Prefeitura isenta as taxas de ITBI para o primeiro comprador do seu imóvel. Tudo isso já é lei, está no código tributário. 

O projeto de requalificação dá vários incentivos para que as pessoas voltem a morar no centro e será apresentado em breve, começando pelo Bosque dos Buritis. Hoje, temos um projeto muito bonito, feito pelo escritório Burle Marx, para tornar o Bosque dos Buritis o Central Park de Goiânia. A partir dali, vamos expandir a requalificação. É mais do que revitalização, é uma verdadeira requalificação do Centro. 

Podemos adiantar alguma coisa sobre a reforma do secretariado?

Temos trabalhado muito para aliar as questões técnicas e políticas com essa alteração no comando das pastas. Com ela, já conseguimos trazer o partido Avante para a base. Tivemos uma conversa há alguns meses com o presidente nacional do Avante, o deputado federal de Minas Gerais, Luis Tibé, juntamente com o vereador Thialu Guiotti, presidente estadual do Avante. O indicado foi Danilo Rabelo, hoje o secretário municipal de esportes.

Tivemos conversas muito importantes e produtivas com o PDT, que nesta semana assume a Agência Municipal de Turismo, Eventos e Lazer (Agetul). O partido Patriota, que também já está conosco na Secretaria de Mobilidade, irá assumir a Secretaria Municipal de Administração. O Solidariedade está conosco, com o secretário Denes Pereira, na Infraestrutura Urbana. O PP fez a indicação para a Secretaria de Educação. Essas mudanças já estão certas, apenas aguardamos o melhor momento de fazer os eventos para as posses. 

Começamos a definir essas mudanças já há algum tempo, mas falamos em reforma geral apenas dias atrás. Agora, precisamos ajustar outras secretarias e ainda buscamos nomes que sejam técnicos e políticos ao mesmo tempo.