Para Kim Kataguiri, Haddad representa uma ameaça à democracia maior que Bolsonaro

04 outubro 2018 às 16h13

COMPARTILHAR
Coordenador nacional do MBL diz que eleitores deverão ir além da torcida e partirem para a análise crítica dos candidatos

O Movimento Brasil Livre (MBL) nasceu no ano de 2014 em apoio às investigações da Operação Lava Jato, conduzidas pela Polícia Federal, e em prol do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O MBL ganhou força nas redes sociais e desde então é coordenado nacionalmente pelo ativista Kim Kataguiri, de 22 anos.
Hoje, o jovem é candidato ao cargo de deputado federal pelo Estado de São Paulo e pretende, se eleito, defender os interesses liberais no Congresso. Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, o liberal reforçou que pretende articular para fortalecer a bancada liberal em Brasília, e também para aprovar as reformas que os adeptos ao movimento julgam necessárias para o País. Kataguiri irá trabalhar na tentativa de barrar projetos que visem o aumento dos gastos e deteriorem ainda mais a situação econômica do Brasil.
Para ele, os eleitores deverão escolher com calma os seus candidatos, além de conhecer efetivamente as propostas que eles defendem. “Os brasileiros terão que ir além da torcida e partir para uma análise crítica de seus candidatos.” O liberal acredita que teremos um caminho difícil pela frente e quanto mais omissas forem as pessoas, pior será a situação futura do País. “Não fazer escolhas, também é uma escolha. A pior delas, inclusive.”
Quais propostas o sr. tem apresentado ao longo de sua campanha para o cargo de deputado federal por São Paulo?
As minhas propostas baseiam-se em duas linhas principais: reestruturação da economia e reestruturação do sistema de segurança pública. Quanto à primeira, colocamos em pauta a questão da Previdência onde apresentamos, na época em que estava sendo discutida no Congresso, uma emenda aditiva. Ela envolve o pacto geracional, sistema do INSS [Instituo Nacional do Seguro Social], que já existe, porém com um teto. Tratamos também do sistema de capitalização, como acontece no Chile e na Suécia, e, por fim, um sistema de renda mínima para os trabalhadores do campo. Por anos, muitos desses trabalhadores não conseguiram contribuir por não serem formalizados. Esses são alguns dos pontos principais, pois estamos falando do maior gargalo do dinheiro público do país.
Quero trabalhar também para digitalizar o processo de abertura de empresas, extinguir os cartórios e adotar o sistema americano de notários. Com ele, o cidadão poderá abrir sua empresa em dois ou três dias, sem custo nenhum. Hoje, a demora é de pelo menos 70 dias e custa minimamente R$ 5 mil.
Quanto à segurança pública, irei trabalhar na parte pré-processual e de investigação. Hoje, a maior parte dos crimes não são solucionados porque o nosso inquérito policial não muda desde o Império. Além disso, quero fazer com que as polícias possam ter o poder de prevenir, reprimir e investigar todos os crimes. Pretendo também articular pelo fim da progressão de pena, que hoje faz com que o condenado cumpra apenas um sexto e possa sair do presídio todos os dias. Sem contar outros direitos como a famosa saidinha, por exemplo.
Essas são as duas frentes principais, mas também defendo a ideia de inverter a pirâmide do investimento em educação. Hoje, o País investe quatro vezes mais no ensino superior em relação ao ensino básico. Nenhum país do mundo se desenvolveu dessa forma. Então, pretendo trabalhar para que os investimentos sejam focados no ensino básico, cobrando mensalidades de quem pode pagar. Assim, o dinheiro será aplicado onde deve e teremos maiores condições de igualdade.
Entre os candidatos à Presidência da República, há quem represente os interesses discutidos no Congresso Nacional do MBL?
Difícil apontar. Em termos de programa econômico, se pararmos para analisar friamente, as maiores similaridades estão no programa do João Amoêdo [Novo]. Porém, esse programa é irreal. Para implementar tudo aquilo que ele coloca, seriam necessários pelo menos uns 50 anos de Presidência. Há também programas liberais mais pé no chão como o do Álvaro Dias [Podemos] e do Henrique Meirelles [MDB], mas infelizmente esses candidatos não possuem chances reais de vitória.
Quem o sr. apoia para o governo do Estado de São Paulo?
Para o governo do Estado eu apoio o João Dória [PSDB]. Apesar de estar decepcionado ao vê-lo quebrar sua palavra, penso que, entre os candidatos, ele é o mais preparado. Sem contar que não possui nenhum envolvimento com a Operação Lava Jato, como boa parte dos outros candidatos.
E para o Senado?
Para o Senado, estou apoiando o Ricardo Tripoli [PSDB] e o Mário Covas Neto [Podemos]. Ambos possuem um maior alinhamento programático. O Tripoli têm batido muito na tecla do pacto federativo, que defende a ideia de repassar mais recursos aos municípios. Isso daria uma enxugada na União. Ao meu ver, é o que realmente precisa ser feito.
Precisamos rever a política de repasses e acabar com a história de que o prefeito só consegue receber benefícios se tiver um amigo no Congresso Nacional. Essas práticas incentivam uma cadeia imensa de burocracia, corrupção e ineficiência. O Covas vai numa linha similar. Ambos defendem a reforma previdenciária, tributária, PEC do Teto, reforma trabalhista e outras pautas que o MBL também defende.”
Os membros do MBL estão coesos na escolha dos candidatos?
Estamos relativamente coesos. Porém, todo mundo é liberal, pragmático, e tem a noção do que deve ser feito.
De acordo com as pesquisas mais recentes, estamos diante da possibilidade de um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Como o sr. avalia essa situação?
É um cenário muito ruim. Ambos os candidatos enfrentarão uma dificuldade gigantesca para governar, se eleitos. Porém, ao meu ver, há uma diferença fundamental entre eles. O Bolsonaro não possui um programa de governo totalitário como o do Haddad, que pretende censurar imprensa, aumentar o poder do Executivo, chamar uma nova Constituinte, centralizar o poder no presidente da República, entre outras coisas.
Estamos em uma situação em que temos que escolher o menos pior. Nesse caso, penso que o melhor seria escolher o candidato que não represente uma ameaça à democracia e à economia brasileira: Jair Bolsonaro.
Como avalia a possibilidade do senador Ronaldo Caiado se tornar o próximo governador de Goiás?
Acho que esse é um reflexo do trabalho que ele fez no Senado durante muitos anos. Enquanto deputado federal, também. As pessoas viram seu posicionamento e quais são as causas que defende. Acho que agora ele terá a possibilidade de governar graças às alianças que fez e ao apoio popular.
Acredito que sua governabilidade seria positiva para o Estado. Ao mesmo tempo que ele não está envolvido em nenhum escândalo de corrupção, também não é um inexperiente na política. Suas propostas são claras e vejo isso como resultado positivo para Goiás.
Como avalia a atuação do MBL em Goiás?
É uma das regiões que temos uma das atuações mais fortes no País. Em Goiás, temos um trabalho firme e sempre que precisamos organizar manifestações, vemos uma quantidade significativa de pessoas comparecendo. O MBL goiano conta com uma organização estrutural clara. Vejo como algo natural a partir do momento em que o Estado conta com um viés ideológico mais liberal.
O que o sr. espera para o futuro do País após as decisões tomadas no dia 7 de Outubro?
É difícil prever. Seria um exercício de futurologia, mas qualquer caminho será difícil, pois teremos um Congresso Nacional bastante hostil ao futuro presidente da República, independentemente de quem seja eleito. Isso irá dificultar a aprovação de qualquer projeto, seja ele positivo ou negativo para o País. A tendência é que a polarização continue depois das eleições.
Caso venha a ser eleito, de que forma pretende trabalhar no Congresso Nacional?
Quero articular o máximo possível. Na bancada liberal do Congresso, irei trabalhar na tentativa de aprovar todas as reformas que nós precisamos, independentemente de quem seja o presidente eleito. Quero articular também para barrar projetos que visem o aumento de gastos e deteriorem ainda mais a situação do nosso país.