Eduardo Marques, Elder Dias, Marcos Aurélio Silva e PH Mota

Não dá para negar que o goianiense Pablo Marçal já faz sucesso há algum tempo: bem-sucedido como empresário, palestrante e coach motivacional, ele atrai grandes plateias a seus eventos e tem milhões de seguidores nas redes sociais. Mas Marçal ganhou a mídia nacional no início deste ano com um episódio insólito no Pico dos Marins, município paulista de Piquete. Ele comandava um grupo que fazia na montanha uma expedição nada recomendável pelas normas de segurança, quando pegaram uma tempestade. Tudo terminou com o Corpo de Bombeiros resgatando 32 pessoas. Ele não se deu por vencido: “Cada um subiu porque quis. Se você não quer correr risco, fica na sua casa assistindo os stories [fotos postadas em redes sociais].

Agora o desafio que se impôs é outro: conquistar a Presidência da República. Sem nunca ter se filiado anteriormente, Pablo Marçal assinou a ficha do Pros em 30 de março, para concorrer ao cargo máximo do País. Em seu discurso, aplica os princípios empresariais e motivacionais, considera que não há mais lugar para quem já ocupou ou está ocupando o cargo e pede para avisar: nos debates, vai “arrancar a cabeça de Lula e Bolsonaro”.

As declarações foram dadas na segunda-feira, 1º, de passagem por Goiânia – desde 2019, ele fixou residência em São Paulo –, quando Marçal concedeu entrevista exclusiva na sede do Jornal Opção. Isso em meio ao início de uma crise em seu partido, que durou a semana toda e ainda não parece ter solução: a disputa pelo comando nacional do Pros tinha tido um novo capítulo com uma decisão judicial favorável a Eurípedes Júnior, que, então, retomava a presidência, que estava com Marcus Holanda, apoiador da candidatura própria. Seguiu-se uma guerra de liminares que tinha vitória momentânea, no fechamento desta edição (sábado, 6), da ala de Holanda.

Pablo Marçal procura se mostrar indiferente ao distúrbio em seu partido. “Eu levei 20 mil pessoas para o Pros em 48 horas. Não tenho nada contra o Eurípedes, sei que há uma guerra partidária acontecendo. Se ele por acaso chegar e desmontar o partido, será lastimável, porque todos os candidatos que eu coloquei vão sair e ele vai perder o partido.” Dois dias depois, porém, aproveitou o momento de indefinição para fazer um grande anúncio de sua “renúncia”, ao mesmo tempo em que a imprensa noticiava que o Pros tinha fechado aliança com o PT para apoiar Lula.

Postulante à Presidência da República, empresário Pablo Marçal fala à equipe do Jornal Opção | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção

PH Mota – Como fica sua situação com esse quadro de eventual mudança no Pros nacional, com a possível volta de Eurípedes Júnior à presidência do partido?

Como ainda não fomos notificados (a entrevista foi concedida na segunda-feira, 1º/8), ainda estamos esperando. Estou aqui para conversar sobre o Pros de Goiânia.

Eduardo Marques – Como é sua relação com Eurípedes?

Não o conheço.

Eduardo Marques – Mesmo sendo ele o fundador do partido?

Não o conheço (enfático). Essa decisão ainda estará aberta para recursos. Falar disso agora é precipitação. Mas, enfim, não o conheço pessoalmente.

Elder Dias – Mas como fica a campanha, agora a questão da judicialização do Pros?

Tenho de ser notificado, em primeiro lugar. Até agora não chegou essa notificação ao partido. Eu levei 20 mil pessoas para o Pros em 48 horas. Não tenho nada contra o Eurípedes, sei que há uma guerra partidária acontecendo. Se ele por acaso chegar e desmontar o partido, será lastimável, porque todos os candidatos que eu coloquei vão sair e ele vai perder o partido. De que adianta ter um partido que não passa pela cláusula de barreira? Quando eu entrei, não havia formação de chapa em nenhum Estado, nem mesmo em São Paulo, fui eu quem levou. Eu e meu sócio paramos nossos negócios para ir para a política. Acredito que não terá novidades para mim, talvez tenha algo na composição da direção, mas estou bem tranquilo em relação a isso. Primeiramente é preciso ser notificado; depois, vêm os recursos; depois dos recursos, aí eu não sei.

Eduardo Marques – O sr. se considera um candidato da terceira via? Em sua avaliação, como o sr. vê a atual polarização?

Tudo é dicotômico. Nosso cérebro é desse jeito. Há um lado e o outro, bem e mal, bandido e polícia etc. Parece que há dois lados, mas na verdade não é assim. Os brasileiros, quando perceberem que têm a possibilidade de viver algo diferente, vão deixar Lula e Bolsonaro na chapada, porque não faz sentido mais isso. São dois politiqueiros.

Eduardo Marques – E o sr. acha que tem condições de ser esse candidato da terceira via?

Não é que eu tenha “condições”: eu sou esse candidato. O único que assume que é a terceira via, os outros fogem disso. Eu sou a terceira via.

Estou deixando de faturar alguns milhões todo mês porque decidi me desconectar de minhas empresas para servir à Nação

PH Mota – Esse seu discurso de terceira via foge da velha política. O sr. tem dito que Lula e Bolsonaro são dois problemas e que é a alternativa de terceira via. O sr. propõe uma dissociação da política mais tradicional. Como é isso?

Eu me filiei a partido político no dia 30 de março. Falar que eu sou da velha política não tem nem lógica. Eu quero que o Estado passe a energia para o povo, que o povo cresça, governe e o Estado diminua de tamanho. Quanto mais o povo for bobo, maior o Estado. A Constituição Federal fala que o poder emana do povo, então o povo tem de exercer esse poder, mas na verdade não o exerce.

Estou deixando de faturar alguns milhões todo mês porque decidi me desconectar de minhas empresas para servir à Nação. Então, já está calculado o prejuízo. Políticos tinham de ser funcionários, mas entram na vida pública para serem reis. Estou na política para mudar esse cenário. O maior cargo da Nação precisa ser também o maior “pepino” da Nação para o maior servidor da Nação. É algo de serviço e não de realeza.

PH Mota – Esse discurso de antipolítica esteve muito presente nas eleições anteriores e muita gente ainda o relaciona com a onda de extrema-direita que tomou conta do País. O sr. acha que ainda tem espaço para esse tipo de discurso para um outsider político?

Quem está com discurso de antipolítica?

PH Mota – O sr. é um novato na política, que diz buscar transformar a política como um outsider.

Todo sujeito antipolítico é um imbecil. Política é a organização da cidade. O Arthur do Val [deputado estadual por São Paulo, cassado recentemente após vazamento de um áudio em que desrespeitava mulheres ucranianas] não caiu por conta de fala contra as mulheres da Ucrânia, mas por ser antipolítica, por querer cortar tudo que tem na política. Ele apertou a mola, arrumaram o gatilho e soltaram ele para fora. O antipolítico é um bobo. Não faz sentido nenhum esse discurso. O que a gente tem de fazer é trazer a maioria, porque a política é um jogo e, sem a maioria, não se muda a regra do jogo. Sem maioria, é preciso jogar o jogo. Não precisa ser corrupto. Tem pelo menos 200 deputados no Congresso Nacional que são honestos, honestíssimos. A gente tem de ter essa maioria, mas ainda não a tem. Estou entrando na política para levar mais gente e, então, ter essa maioria.

PH Mota – E como fazer isso vindo de fora da política?

A entrada de gente nova na política tem de ser sempre maior do que a recondução de gente antiga. Para a gente renovar, a política tinha de ter os melhores, mas hoje tem uma maioria de piores. Quem está lá faz de tudo para o brasileiro ter nojo da política, para ser algo que ninguém acessa. Uma pessoa normal no País, bem-sucedida, não quer mexer com política. O que eu mais ouço todos os dias é “nossa, parabéns pela coragem!”. Fica parecendo que eu peguei em um fuzil para ir à guerra. A verdade é que meu faturamento caiu pela primeira vez em 15 anos, sempre teve um crescimento vertiginoso. Para mexer com política, perde-se prestígio, perde-se faturamento, mas escolhi fazer isso e vou fazer isso por uma vez. É assim que vejo a política e vou pregar essa nova política. A antiga, por si só, vai ficar para trás, não precisa ser “anti” alguma coisa. Quero que os melhores da Nação tenham coragem de fazer parte desta nova política. Vou ser conhecido por isso.

PH Mota – Como fica o partido para a disputa em Goiás?

Vamos apoiar a reeleição de Ronaldo Caiado (União Brasil). Queremos eleger pelo menos dois deputados federais e um estadual.

Elder Dias – Goiás é um Estado de economia no setor primário, celeiro do agronegócio e, portanto, mais conservador. Até que ponto o fato de ter nascido em Goiânia influenciou, dessa forma, em seu modo de ver política?

No Brasil, 33% do PIB vem do agronegócio. Ou seja, a maior indústria do País se chama agronegócio. Então, o que há em Goiás é um reflexo do que é o Brasil inteiro – apenas a agricultura nordestina é bastante afetada e negativada na questão agrícola e pecuária. Já por aqui [em Goiânia], a gente vê muita prosperidade: temos o 2º maior táxi aéreo do Brasil per capita. Há muita riqueza. Não senti nenhum grande impacto ao sair daqui e ir para São Paulo. O que percebi de diferente foi em infraestrutura viária. Lá tem muito viaduto, mas em Goiânia já está muito avançada. Não está muito industrializada, têm poucos CDs [centros de distribuição], enquanto São Paulo vive disso. Afora isso, é a base que o brasileiro e o paulista têm. Nossa desvantagem aqui, como povo, é que não tem praia, então, eu falaria como político mineiro, falta trazer a praia para cá (risos).

Elder Dias – Temos as praias do Rio Araguaia…

É, uma praia de água doce, melhor do que a salgada.

Elder Dias – Mas o que falta para Goiás, então?

Goiás é forte no agronegócio, o que falta é tecnologia. Fala-se em Elon Musk [bilionário do ramo tecnológico] chegando agora com carro elétrico, mas temos trator que faz isso têm mais de dez anos. O que falta é implementar isso no campo e aumentar a produtividade, não só no agro, mas em todo tipo de atividade.

PH Mota – Como está o sr. em relação a articulações com empresários e políticos para seu plano de governo?

Meu plano de governo, que foi registrado ontem [domingo, 31], tem tudo o que vou fazer separado por regiões. É o único que tem isso, na Região Norte é isso, no Centro-Oeste aquilo. Aqui, em Goiás, é para valorizar o que temos de melhor, que é o agronegócio.

Tenho muita amizade com a nação israelense e boas conexões mundo afora para trazer parcerias para o Brasil

PH Mota – Atualmente, o sr. já tem penetração com o pessoal da área de tecnologia no agronegócio?

Temos líderes que estavam do lado de Bolsonaro no Paraná e que agora estão andando comigo. Ideias todos têm, mas somos muito bons articulações e networking. Tenho certeza de que o Brasil vai ganhar muito conosco, vamos trazer muitos investimentos do exterior para cá. Tenho negócios nos Estados Unidos, em Dubai, um bom fluxo em Israel – que é a nação mais empreendedora da Terra, o lugar onde há mais startups no mundo. Nem mesmo em números absolutos, se juntarem Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, mesmo assim não batem o número de startups geradas em Israel, e não estou falando per capita, mas em números absolutos. É uma “startup nation”, uma nação empreendedora. Tenho muito trânsito com esse pessoal, muita amizade com a nação israelense, onde já estive a convite, em 2018, com o próprio governo de lá bancando minha viagem. Enfim, tenho boas conexões mundo afora para trazer parcerias para o Brasil. Por exemplo, estou construindo uma cidade de Angola, na África.

Elder Dias – Como é isso? Está construindo uma cidade na África como incorporador ou como empreendedor?

Nada de incorporador, estamos construindo lá juntamente com outros empreendedores. Estamos investindo, colocando grana e só vamos sair de lá só depois que a última família entrar na última casa. Só saio de lá quando esse compromisso estiver cumprido.

Elder Dias – Qual é o objetivo?

Trabalho humanitário. É um chamado. Vou colocar meu nome à disposição agora [como candidato a presidente], mas depois vou mexer com isso.

Elder Dias – É uma obra ligada a alguma igreja?

Não, é algo meu mesmo, com minhas empresas e meus sócios.

Elder Dias – É uma cidade para abrigar refugiados?

Lá chama-se Catete [um bairro da cidade de Ícolo e Bengo, na província de Luanda, a capital de Angola]. O nome do assentamento é Camizungo. Lá têm 2 mil famílias e estamos construindo 350 casas. No próximo mês, vou lá e vamos construir 40 casas em um dia. Ainda está longe das mil casas que o Iris [Rezende, ex-prefeito de Goiânia e ex-governador de Goiás, morto em 2021] construiu em Goiânia em 1983 [a Vila Mutirão, bairro erguido na região noroeste da capital, quando Iris era governador], mas já falei que quero bater o recorde dele. E vou bater, como presidente da República.

Elder Dias – O que o sr. pensa para o Norte do País? Qual é o principal problema que o sr. identifica?

Dentre todos os pontos que estão em meu plano de governo, o principal que observo como maiores problemas são a energia cara e a precariedade das rodovias. É uma lástima. Estive no Oiapoque [município do extremo norte do Amapá] e ninguém acreditou que eu estava lá. Os moradores disseram que nunca tinham visto um candidato à Presidência por lá, perguntavam o que eu estava fazendo ali. Respondi dizendo que desde criança eu queria conhecer aquele lugar. A “treta” era a rodovia que vai do Oiapoque até Macapá [capital do Amapá]. Seria necessário uma fortuna para reformar aquele trecho e não há nenhuma perspectiva, não está nem na lista de 30 anos para o governo resolver. Um dos maiores problemas do Norte inteiro, do Pará ao Amazonas, é rodovia.

Elder Dias – E como o sr. analisa a questão da Amazônia, preservação “versus” exploração?

Já foi desmascarada aquela história de que a Amazônia seria o “pulmão” da humanidade, não é. Mas é a maior floresta do mundo. No Brasil, já temos a maior área cultivável do mundo, não precisa aumentar essa área nem desmatar a Amazônia para isso.

Elder Dias – É possível investir na Amazônia com a floresta em pé?

Claro, têm coisas que a gente pode fazer e que ninguém fez no mundo. São questões simples de fazer. Tem como criar plataformas lá como se fossem cidades suspensas, por exemplo, para não tirar uma única árvore. Há modelos dessas cidades que não foram aplicados ainda a florestas, mas que podemos desenvolver e criar um turismo sem arrancar uma árvore sequer. E tudo isso de forma limpa, somente com autorização a partir de energia renovável.

O que precisamos urgentemente para a Amazônia é de uma força-tarefa para fechar a fronteira ali. É um problema gravíssimo. Todos ficam discutindo a questão da legalização de drogas, mas se esquecem que elas só entram no País por causa de armas e pelas brechas na fronteira. Não temos o Estatuto do Desarmamento? Por que o povo tem armas? Porque o Brasil tem 8 mil quilômetros de fronteiras, que passam por 577 municípios, não tem quem segure. É preciso usar tecnologia para conseguir isso.

Elder Dias – Com o incentivo dado à compra de armas para os CACs [caçadores, atiradores e colecionadores], não está ficando mais “barato” para os traficantes adquirir a partir de algum CACs, ou ter seus próprios CACs, do que trazer de fora?

É muito simples resolver isso aí. Para liberar a arma na Polícia Federal, é preciso verificar antecedentes criminais, local de residência, se tem algum vínculo com o crime organizado etc.

Elder Dias – O sr. não acha que o governo não estaria fazendo vistas grossas a esse assunto?

Não acho, claro que não. Há muitos casos que não liberam, até de gente que é boazinha, imagine para quem é bandido. Obviamente, um sistema num País deste tamanho, com tanta gente, acaba acontecendo um ou outro caso de liberação.

Elder Dias – Mas, se o tráfico dribla o controle da Polícia Rodoviária Federal nas fronteiras, não conseguiria alguma artimanha para essa questão de obter armas dessa nova forma?

Para você ter ideia, tem gente de bem, sócio meu, que tentam regularizar uma arma e não conseguem. Como alguém que compra 1 milhão de armas em um ano vai ficar tirando documento para comprar arma? Não faz sentido algum, é como uma agulha no palheiro.

PH Mota – O sr. disse que há como mudar a forma de investir na Amazônia. Como transformar, não só a Amazônia, mas todo o Brasil em um “produto” diferente para vender aos investidores?

Eu considero, sendo bem realista, o discurso sobre a Amazônia uma manobra politiqueira. Existe uma falsa defesa ambiental, que não é senão um monte de ONG [organização não ambiental] que está lá para administrar extração de madeira. Parece que estão cuidando de algo, mas estão é usufruindo de nossa floresta. O que precisamos entender é que em fronteira não podem entrar arma, droga e cigarro. Cigarro contrabandeado é um problema dez vezes maior do que qualquer droga e qualquer arma, não sei se vocês sabem disso.

Em segundo lugar, a gente não pode ter evasão de minérios por nossas fronteiras. A gente tem muito minério furtado no País, sem autorização de saída. A gente perde o minério e não ganha imposto com isso. Enfim, a fronteira é um problemaço do Brasil. Temos 16 mil quilômetros de fronteira, isso é um problema cem vezes maior do que qualquer exploração de árvore, de qualquer coisa a ver com floresta. As pessoas ficam focadas nisso porque é badalado, envolve gente de Hollywood, a esquerda bate muito nisso por querer ser ambientalista, mas todo mundo se esquece de que esse não é um problema do País, ou um problema muito pequeno.

Eu pessoalmente, Pablo, sendo presidente, vou preservar a Amazônia como se fosse meus dois pulmões. Mas isso não é problema do Brasil hoje. Em uma seca igual temos agora… eu acabei de sobrevoar a Amazônia inteira, foram 32 mil quilômetros em dez dias. Imagine ficar três horas de jato, olhando pela janela e vendo Amazônia sem parar. E então você pergunta “e se der algum problema, pousamos onde?”. Não pousa, cai com o avião em cima de árvore. Se alguém está disposto a passar ali em cima, tem de ter combustível e, se der alguma falha, está tudo perdido. É um “marzão” verde. Então, vou falar: não é o problema do Brasil hoje, se fosse categorizar em mil problemas, a Amazônia seria o de número 990. O problema do Brasil é gente, é mentalidade. Lá tem garimpo ilegal, mas é aquilo é tão pequeno perto do macro que, hoje, a discussão é apenas de politicagem de esquerdista.

Elder Dias – Vejo vários políticos falarem que há ONGs fazendo ilegalidades na Amazônia, e que estariam a serviço da esquerda, mas nunca vi nenhum político citar o nome de alguma. O sr. poderia citar?

Não posso citar porque não sou bobo. Nem em “off”, tenho de chegar com documento e falar.

Elder Dias – Mas, então, não fica na base da ilação?

Mas é isso mesmo. Enquanto jurista, quando eu der o nome vou “descer o pau” na ONG. Pode deixar que vou fazer isso, me comprometo. Para não ser ilação, vai ser uma promessa de campanha: varrer todo mundo com interesse irreal, porque há um interesse difuso e um interesse real é outro. Durante meu governo, vou mostrar isso.

Elder Dias – E o sr. já tem algum dado a respeito disso?

Não, mas eles existem. Vou levantar nomes, é preciso fazer uma varredura. Mas isso para mim não é prioridade. Se fosse, eu iria mostrar o nome, fazer acusação e tudo o mais.

Você pode arrancar a Amazônia do mapa que o Brasil continuará tendo chuva

Elder Dias – A Amazônia não interessa apenas o Brasil, mas envolve, sim, interesses geopolíticos e ambientais. De qualquer maneira, é preciso que o presidente lide com isso nas relações internacionais. Estados Unidos, Alemanha, Japão, França e outros países entendem que a preservação da Amazônia é fundamental para o controle do aquecimento global…

Isso é balela, já foi derrubado. Já é científico que não existe isso. A questão ambiental é microrregional.

Elder Dias – A falta de chuvas no Centro-Oeste e no Sudeste não tem nada a ver com a Amazônia?

É cíclico, então não tem nada a ver, você pode arrancar a Amazônia do mapa que o Brasil continuará tendo chuva. Isso é cíclico, sempre vai mudar.

Elder Dias – Então, se “tirarmos” a Amazônia do mapa, em sua visão, o regime de chuvas continua normal?

Claro que não, vai mudar, sim. Porque, se o vento sopra do mar para dentro do País, você vai sempre ter. Por exemplo, tem um deslocamento de ar quente. Eu sou aviador, quando venho de São Paulo para cá, a primeira coisa que eu olho é se o vento está contra ou a favor. O tempo é cíclico, vem do litoral, depois vai de dentro para fora. A massa de ar quente, então, tem hora que vem de fora e tem hora que vem de dentro. Aqui, no Setor Nova Suíça [bairro onde fica a sede do jornal], 500 anos atrás era uma selva. Observe quantos prédios aqui hoje. Imagine, então, você se sentando com esse índio de 500 anos atrás e ele falando “olha o que vocês fizeram com o Brasil!”. O País foi inteiramente desmatado, mas, se você tem comida hoje no prato é justamente por causa disso.

Temos uma área de floresta conservada, mas isso não tem de ser interesse internacional. É nossa soberania, o resto é papo ideológico para a gente se curvar para outras nações. Eu não quero que arranque uma árvore, se você quiser registrar isso. Não tem de arrancar uma única árvore, mas não temos de nos curvar a esse papinho ambientalista, porque não faz sentido, isso é politiqueiro. Leonardo DiCaprio [ator estadunidense que defende a preservação da Amazônia] quer falar de Brasil, mas não sabe nem onde fica. Os caras de esquerda têm esse poder de fazer isso para fazer a gente se curvar. Não faz sentido, o Brasil é nosso. Então, quem gosta muito de floresta, que cuide de floresta. Peguem seus campos e os reverta para floresta, porque floresta pode ser plantada de novo. Quando você diz que a Alemanha tem interesse em floresta, que vão plantar floresta lá na Alemanha!

Elder Dias – Mas eles plantaram lá…

Que continuem plantando para lá! Quem ama floresta que faça como a gente, cuide da sua. Se não tem, plante.

Elder Dias – E para o Cerrado, o que o sr. pensa? Aqui temos, a devastação, além da questão ambiental em si, também causa problemas à saúde, como ocorre com as queimadas, que deixam o ar ainda mais seco durante essa época e causam inúmeros problemas respiratórios.

Comprei uma fazenda lá em São Paulo, onde não é em área de Cerrado. No primeiro dia, sobrevoando de helicóptero, vi que estava pegando fogo na minha própria fazenda. Era um incêndio espontâneo, a maioria é assim. A gente precisa intensificar naquilo que é crime ambiental, em fogo provocado. O que faz o Código Penal prevalecer é a certeza da pena. A gente precisa penalizar quem faz isso. Agora, se é uma questão acidental, que se ache o responsável; se não, não tem o que fazer.

Elder Dias – Para fechar esse assunto, Ibama e ICMBio, além do próprio Ministério do Meio Ambiente, foram sucateados durante este governo atual. Qual é sua política em relação a isso?

Voltar com os ministérios. Em meu plano de governo há 25 ministérios. Bolsonaro queria ser o grande herói, no começou criou 12, mas já passou de 20 [na verdade, Bolsonaro prometeu ter apenas 15 ministérios durante a campanha de 2018, mas anunciou 22 ministros ainda no início de seu governo em 2019, 7 pastas a menos que no governo de Michel Temer (MDB)]. Era algo eleitoreiro, para conquistar os outros, mas não consegue manter. Tem de voltar o Ministério da Cultura, o do Esporte, está em meu plano de governo a volta de todos eles. O Ministério da Saúde não existe, existe o da Doença. Eu proponho que tenha o da Saúde Plena e o da Doença, que é o de remediar. O Brasil não vai para frente gastando dinheiro só remediando doença. Tem de ativar a endorfina desse povo.

Eduardo Marques – Na última pesquisa Datafolha, o sr. aparecia com 1% de intenções de voto. Em seu Instagram, há 2,3 milhões de seguidores. Como essa quantidade pode lhe ajudar nas eleições?

Eu estou com 3% [de intenções de voto] no Paraná. Em outros lugares, nem aparece o meu nome. Imagino que eu esteja com de 2,5% a 3% na Bahia, por exemplo. Agora, com a candidatura, é que vamos deslanchar, ainda mais com a saída de candidatos como Janones [deputado federal André Janones (Avante-MG)], de Bivar [deputado federal Luciano Bivar (União Brasil-PE)]. Vai dar uma readequada no quadro. Mas não é pelo número de seguidores que se avalia isso, porque, se fosse assim, Lula não ganharia eleição, porque tem bem menos seguidores do que Bolsonaro.

Elder Dias – E Janones seria o segundo.

Sim, no Facebook, porque no Instagram ele tem menos seguidores do que eu. Não acredito que rede social mude eleição. Ciro Gomes está na minha frente nas pesquisas, mas tem menos seguidores do que eu.

PH Mota – O sr. atribui a alguma questão em especial para ter uma porcentagem maior de intenções de voto em locais como Paraná e Bahia?

Eu rodei muitas cidades na Bahia. No Paraná, eu tenho muitos alunos conectados. E é um pessoal com um grau de instrução maior, gente que questiona muito, o que dá uma tendência de eles se desvencilharem de alguém que não tem instrução, como são Lula e Bolsonaro. Na Bahia, também tenho muito aluno, mas creio que também seja o Estado em que eu estive.

Elder Dias – O sr. terá um tempo no horário gratuito de TV e rádio muito breve. Bolsonaro também foi assim, mas conseguiu ser eleito. Qual será sua estratégia para subir nas pesquisas e fazer frente aos primeiros colocados, diante dessas adversidades?

No primeiro debate em que eu aparecer, você vai ver o que vai acontecer: será uma tração assustadora. Nos debates, se Lula e Bolsonaro aparecerem por lá, vou arrancar a cabeça deles. Estou tranquilo de minha parte, é só aparecerem nos debates.

Elder Dias – Mas as regras impõem limite para o número de participantes, existe uma priorização…

Dos cinco principais candidatos (nas pesquisas). Com Janones saindo, estou entre os cinco. E também tem a questão da representatividade no Congresso, pela qual meu partido está contemplado.

Elder Dias – Então, o sr. não está preocupado com isso?

Na verdade, não estou preocupado com nada. Estou trabalhando, mas não estou ansioso. O que sei é que o Brasil precisa de um presidente fora da política desta vez, para trazer uma calmaria para este País. Mas, de fato, não estou preocupado com nada. Estou deixando de ganhar milhões e investindo milhões para mexer com isso aqui e servir o povo por uma única vez.

Elder Dias – E compensa?

Financeiramente, não.

Não quero ver o PT nos próximos 120 anos governando o Brasil

Elder Dias – Mas compensa para você?

Eu quero, de verdade, ser conhecido como o cara que aposentou Lula e Bolsonaro, porque vi que não tem nenhum macho e nenhuma fêmea que dá conta de fazer isso. Então, essa parte da minha vida será para essa questão. No meu primeiro dia de governo, vou começar a treinar pelo menos cem pessoas para ser o próximo presidente, não estou nem aí de qual partido será. Agora, uma coisa eu vou deixar clara: não quero ver o PT nos próximos 120 anos governando o Brasil. Por que 120 anos? Porque tem 30 partidos e, de quatro em quatro anos a gente troca de partido no poder. O PT vai aparecer no fim da fila, já que já esteve na Presidência por quatro vezes. Ou seja, se for pela lógica, daqui a 400 anos, eles [petistas] voltam.

Sendo bem verdadeiro, quero que o País deixe de ser ideológico e seja lógico, nada mais do que isso. Tem gente que fala que estou nisso por poder. Que poder? Fale um poder que você acha que eu não tenho. Posso fazer o que eu quiser. Eu me sento à mesa com o presidente dos Estados Unidos se eu quiser, não tenho problema nenhum com poder. Quero é servir, essa é minha chave. Espero que o brasileiro, em oito semanas, escute isso de verdade.

Eduardo Marques – E em um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro, como o sr. se posicionaria?

Não vai dar, não tem como dar. Ou Bolsonaro vai ser impedido ou Lula vai ter algum probleminha – que eu não vou falar de qual ordem –, mas serei eu ou Ciro Gomes (PDT) no segundo turno. Não terá esses dois (Lula e Bolsonaro) lá, não combinam num segundo turno.

Elder Dias – Existe também a possibilidade de não ter segundo turno, não acha?

Existe, mas bem remota. Se Bolsonaro ganhar, vai cavar mais fundo o buraco; se Lula ganhar, da mesma forma. Vamos dividir a Nação ao meio. Acho difícil resolver tudo em primeiro turno. Lula está manobrando para isso, mas acho que não conseguirá.

Elder Dias – O sr. já chegou a conversar com Lula?

Não, foi o único com quem não falei.

Elder Dias – Mas por opção, o sr. não quis?

Eu já chamei, mas não é prioridade, não. A hora que encontrar no meio do caminho, a gente conversa. Teve uma sabatina no Correio Braziliense na qual ele estava no mesmo horário que eu. Uma hora antes, ele cancelou.

Elder Dias – Se Lula o chamasse para uma conversa, o sr. aceitaria?

Só se ele fosse à minha empresa, no meu ambiente, no meu comitê. Atrás deles, eu não vou, não. Esse seria um sinal de alguém que está se rendendo e eu não vou me render para ele, não.

Elder Dias – E com Bolsonaro, o sr. já conversou?

Já conversei, já estive no Planalto, já almocei com ele…

Elder Dias – Mas agora no período de campanha?

Não, antes do período eleitoral.

Elder Dias – O sr. conversaria agora, para uma possível aliança?

A mesma coisa, não faria aliança com nenhum dos dois. Como nenhum dos dois serve, [uma aliança] colocaria em xeque o que estou fazendo.

Elder Dias – O sr. é cristão e faz questão de ressaltar isso. Bolsonaro tem se colocado como o candidato dos evangélicos e da família cristã. O sr. acha que ele representa essa parcela da população?

O Eymael [José Maria Eymael (DC), candidato à Presidência pela 6ª vez] também faz isso.

Elder Dias – Mas como alguém que já é presidente e está em 2º lugar nas pesquisas, o sr. acha que ele faz um governo voltado para a família cristã?

Não sei. O que sei é que ele está no terceiro ou no quarto casamento. Vejo o tanto de pastor que repudia o divórcio, mas ninguém fala nada. Também falou que, se na época de Jesus tivesse pistola, Ele compraria uma. Nenhum pastor falou nada, de novo. Eu acho Bolsonaro um pouquinho destrambelhado, mas, se ele falou que é cristão, quem vai questionar? O próprio Cristo teria de validar se a pessoa é ou não é.

Elder Dias – Como o sr. vê a questão de ter uma pistola no meio da Marcha para Jesus?

Sobre armamento, eu acho o seguinte: se a pessoa quiser, quero é que cada um tenha a sua.

PH Mota – O governo Bolsonaro tem se posicionado claramente fechado para discussões como liberalização das drogas e descriminalização do aborto. O sr. acha que pode ser mantido algum diálogo sobre esses assuntos?

Para liberar as drogas, antes é preciso fechar toda a fronteira, cortar o tráfico de armas e, então, vão ver que não haveria necessidade [de liberalização]. Eu sou construtor e vou explicar o que é liberar drogas: é construir o 18º degrau sem ter feito os 17 anteriores. Para chegar um dia a esse grau de maturidade, o Brasil tem de ser dono de sua fronteira e agir duramente contra o crime organizado. Do jeito que está, o que vamos criar é um Estado paralelo. Por quê? Se legalizar as drogas, tem de cobrar impostos. Mas quem vai pagar por droga tributada, se há droga sem imposto. Aí vamos ter briga de empresários com facção criminosa, uma coisa maluca, que não faz sentido.

Elder Dias – Essas são pautas progressistas, que o sr. consideraria de esquerda…

Não considero de esquerda, mas de gente tola, que não entende de estratégia. A esquerda não é dona dessa pauta. Se alguém quer liberar as drogas, antes precisa ir à casa de alguém que está drogado. Qual é a lógica de alguém que está assim, que perdeu seu controle mental? Eu não quero patrocinar, como governante, que se liberem as drogas e elas fiquem acessíveis para alguém que hoje nem mexe com isso. “Ah, está liberado? Então vamos usar”. Eu quero é que as pessoas se libertem disso.

Até religião, se você é uma pessoa que não tem controle mental absoluto, ao ter uma religião você já arrumou uma droga para sua vida. A mesma coisa vale para partido político, se você achar que um partido é maior do que o Brasil, você também já arrumou uma droga.

Se 10% da atual frota se tornasse de veículos elétricos, não teríamos energia no País para sustentar esses carros. É um absurdo

Marcos Aurélio Silva – O sr. defende as privatizações, por exemplo, de estatais como a Petrobrás e a Eletrobrás. O problema econômico vai ser resolvido com as privatizações?

Muito longe disso, que não é nem 5% do problema. O que o Brasil precisa é de ter energia. Não temos matriz energética para trazer grandes indústrias para cá. Nos próximos quatro anos, precisamos pelo menos duplicar a matriz energética, aproveitando para já produzir energia limpa. A segunda questão é abrir postos de trabalho, desonerando as empresas. Se elas pagam R$ 1,5 mil de salário, precisam parar de pagar R$ 1,5 mil de impostos. A gente precisa baixar esse total de tributos para, vamos dizer, R$ 500 e então a empresa poder contratar mais um funcionário. Dessa forma, vamos conseguir subir de 20% a 30% a contratação.

Da mesma forma, precisamos retomar o investimento em infraestrutura. Temos 20 mil obras paradas que, se retomadas, vamos pegar esses 12 milhões de desempregados sem qualificação e consegue essa ocupação – obra é um lugar onde se consegue adaptar muito bem as pessoas. O que pode resolver a situação para o Brasil passar a ter um franco crescimento é isto: energia para abrir empresas; mais empresas geram mais empregos; empregos geram renda; e renda faz com que a inflação não tenha vida própria. Aí vamos entrar em um período de deflação e, por consequência, também em um período de paz. O que o brasileiro mais tem medo não é de furto ou roubo, mas de inflação.

PH Mota – Não dá para conseguir essa energia com as empresas ainda estatizadas?

Não, a gente precisa dobrar a matriz. Para ter ideia, se 10% da atual frota se tornasse de veículos elétricos, não teríamos energia no País para sustentar esses carros. É um absurdo. Nos Estados Unidos também não havia, mas o que a Tesla [grupo do ramo de tecnologia do bilionário Elon Musk] fez? Criou uma empresa, a Solar City, para que, quando a pessoa, ao adquirir o carro, já instalar em casa também a placa solar, de modo a não usar a energia suja. Se 10% dos automóveis no Brasil fossem ligados na tomada, a gente teria queda de energia o dia inteiro.

Elder Dias – Qual é sua matriz de energia preferida?

Solar. Eu tenho uma usina solar no prédio principal de minhas empresas, onde eu investi R$ 1 milhão no sistema. Produzo energia para lá e também para outros prédios. Minha casa é 100% de energia solar. Eu amo isso, faço reaproveitamento de água, tudo que precisa ser feito, adoro energia. A energia eólica também é muito boa, sua exposição no Nordeste é alta e precisamos fazer isso descer também para o Centro-Oeste, onde ainda é baixíssimo. Precisamos usar isso.