O deputado federal Rubens Otoni aponta que o PT está mais disposto a se juntar a um bloco oposicionista que dê sustentação ao projeto nacional, do que lançar um candidato próprio ao governo do Estado

Elder Dias, Frederico Jotabê e Marcos Aurélio Silva

Rubens Otoni é o único deputado federal goiano eleito pelo PT neste mandato. O petista revela que seu intuito é buscar a reeleição, já que o projeto do partido é ampliar a base no Congresso, para que dê sustentação a um eventual governo de Lula, caso consiga se eleger em 2022. 

Em entrevista aos editores do Jornal Opção, Rubens Otoni apontou que o partido está aberto para composições em Goiás e que ter candidato próprio não é prioridade, já que o foco é construir um palanque para Lula no Estado. 

Marcos Aurélio Silva – O PT nacional decidiu que a prioridade é a eleição de Lula da Silva para presidente. Isto significa que, em alguns Estados, o projeto eleitoral local será sacrificado. Como será em Goiás?
Essa discussão ainda está no início justamente pelo momento delicado que o Brasil está vivendo. O Brasil vive hoje um momento de uma grave crise. A crise sanitária, a crise econômica e a crise política. Essas crises elas estão cada vez mais agudas justamente pelos descasos, omissão e pela irresponsabilidade do governo federal no trato dessas urgências. Isso faz com que o PT, mesmo estando na oposição, tenha uma preocupação e uma responsabilidade com o momento imediato que estamos vivendo. Daí, na nossa estratégia, a prioridade máxima hoje é trabalhar para salvar vidas. Isso significa pressionar para garantir vacinas para todas as pessoas. Significa pressionar para mudar a política econômica para gerar emprego e rede, e mais do que isso também buscar uma saída institucional para o grave momento que estamos vivendo. 

Falo isso para responder que a tratativa eleitoral, justamente pela gravidade do momento que estamos vivendo, ela fica para o segundo plano. Mas é verdade que na nossa estratégia, temos consciência que essa situação do Brasil só vai mudar quando nós mudarmos na política. O governo Bolsonaro já demonstrou que não tem capacidade para poder gerenciar a crise sanitária, a crise econômica e muito menos a crise política. Então tem que haver mudanças. É por isso que o povo está na rua e já pedindo o impeachment do presidente. Não faltam pedidos de impeachment. Já são mais de 100 que estão no Congresso Nacional. Agora, independente se esses processos de impeachment irão adiante, estamos nos preparando para ir adiante no processo eleitoral. E no processo eleitoral a prioridade do PT é criar as condições necessárias não só para ter uma candidatura, mas para ter uma candidatura vitoriosa para virar essa triste página do momento que estamos vivendo no Brasil. Neste sentido temos como prioridade a eleição nacional e a candidatura do Lula e vamos tentar nos estados construir palanques fortes para viabilizar essa vitória nacional, que poderá construir a mudança que queremos para o País.

Frederico Jotabê –  Como que se constrói uma candidatura forte em Goiás, como já se construiu em eleições anteriores, exemplo da aliança do PT com MDB, quando hoje todos esses partidos estão gravitando na base do governador Ronaldo Caiado, que tem posição contrária ao PT?
A aliança não depende apenas da vontade unilateral. Tem que haver uma disposição dos dois lados. É por isso que o primeiro gesto é do diálogo. É isso que estamos fazendo. A direção estadual está coordenando esse processo. Evidentemente, eu como parlamentar, dialogo com as lideranças e o primeiro sinal é da conversa. Estamos abertos para dialogar e abertos para discutir um projeto unificado com aqueles que tenham consciência de que é importante mudar a situação nacional, e que o Lula pode ser uma alternativa para modificar a triste realidade do País.

Evidente que ainda a um ano do processo eleitoral, poucas legendas vão definir sua estratégia agora. Ainda tem mudanças no regramento eleitoral e tem prazos também de filiação. Então é natural que as decisões aconteçam no início do próximo ano. Isso não nos impede de já ir discutindo e buscar alternativas, saídas e ir trabalhando também as contradições que há do outro lado. Esse é o caminho que estamos trilhando. 

Marcos Aurélio Silva – E quais os cenários e ambiente favoráveis para que Goiás tenha um candidato ao governo pelo PT?
Na realidade, o nosso objetivo principal em Goiás é construir um palanque forte para Lula. No sentido de buscarmos esse palanque, nós estamos abertos para discutirmos, inclusive com outras legendas, nomes que possam representar esse campo de apoio ao Lula e de alternativas ao governo do Estado. A postura do PT é de oposição ao governo Bolsonaro e de oposição ao governo Caiado.

Vamos buscar neste diálogo algumas lideranças e partidos que estão dispostos a discutir um projeto neste caminho. Agora, se tivermos dificuldades de encontrar partidos que possam caminhar nesse rumo de apoio a Lula e de oposição ao governo do Estado, o PT não tem dificuldade nenhuma de lançar candidatos. Aliás, na maioria das eleições foi assim. Se não me engano, já disputamos 10 eleições para governo do Estado. E acho que só duas que nós não participamos com candidatos ao governo. A maioria, nós participamos. Nas duas últimas participamos com candidato e fizemos bonito, com propostas e ideias. Tivemos uma boa votação e garantimos nossa representação na Assembleia Legislativa de Goiás e na Câmara Federal. O PT não tem dificuldade em se discutir candidato ao governo. Mas estamos fazendo um gesto de abertura de diálogo com aqueles que vejam a importância da mudança no cenário nacional e se houver a possibilidade de trabalhar em conjunto em Goiás, estaremos abertos a discutir.

Marcos Aurélio Silva – Se o MDB tiver candidato a governo em Goiás e apoiar o projeto do Lula em cenário nacional, o PT e MDB podem estar juntos em 2022 aqui no Estado?
Não precisa ser o MDB, pode ser qualquer partido. Qualquer sigla que tenha disposição de apoiar o nosso projeto nacional estamos abertos para discutir um projeto aqui no estado. Estamos dispostos a discutir não apenas com um partido, mas com um grupo de partidos. O PT tem essa abertura. Estamos fazendo um gesto de abertura e diálogo para poder favorecer o projeto nacional e um projeto de oposição ao governo do Estado. Esse é nosso propósito 

É claro que para isso, não há como ter um desejo ou ação unilateral. Precisa ter decisões de cada lado. Estamos conversando e acompanhando as movimentações de vários partidos. No final vamos dialogar com aqueles que têm uma posição como a nossa, que é apoiar o Lula no cenário nacional e fazer oposição ao governo do Estado.

Frederico Jotabê – Deste  grupo de partidos, podem estar juntos todos, exceto o DEM e o partido que vier a ingressar o presidente da república? Os demais têm diálogo?
A questão não é a sigla. É a posição. Tem que ser contra o Bolsonaro, então se for o partido dele não será contra. E tem que ser oposição ao governo do Estado. É claro que se for o partido dele também não será. Mas tem outras siglas também que não serão. Vamos discutir política. Tem abertura para apoiar o Lula no projeto nacional? Tem. Mas se tiver essa abertura no cenário nacional, mas no estado estará junto com o Caiado, aí não tem jeito de apoiar, porque no Estado nós somos oposição. Tem que casar as duas posições. 

Frederico Jotabê – Então não se descarta o PSDB?
Depende da posição deles. É isso que vamos discutir. Estamos em uma fase ainda de sondagem para ver qual a disposição de cada legenda e cada liderança. Você fala do PSDB. Esse é um partido que em Goiás é oposição ao Caiado, mas pode ser que tenha candidato à presidência da república. Então não tem como apoiar o Lula. É uma coisa que vamos ter que casar as duas posições. Como eu disse, não é fácil, mas estamos abertos a ela com maturidade, equilíbrio e responsabilidade. Pensando sempre no melhor pro País e para Goiás. Vamos apresentar nossas ideias, debater e polarizar o debate inclusive com as posições nacionais.

Frederico Jotabê – O senhor vai colocar seu nome a disposição na disputa ao governo, se necessário?
O PT tem uma tradição de sempre ter suas lideranças à disposição. Nós trabalhamos no sentido do projeto maior do partido, em nível nacional e do Estado. Agora a sinalização que o Lula nos deu para a bancada federal é que os deputados federais priorizem a eleição federal, devido a importância de ter uma base de sustentação na Câmara. Nós estamos pensando também na governabilidade. Estamos pensando na grande tarefa que teremos caso elegemos Lula presidente. É uma tarefa de reconstrução nacional, não será fácil. Para isso é preciso ter uma sólida base de apoio na Câmara, e nesse sentido o meu nome está definido para ser candidato à reeleição.

Marcos Aurélio Silva – Deputado, mas se houvesse uma composição para uma chapa em Goiás, o senhor não estaria disposto a concorrer ao Senado? O senhor se animaria?
Não se trata de animação. Como disse, eu posso sempre ser candidato a tudo que o partido precisar. Estarei aberto para isso. Não tem problema. Pode ser governador, senador, deputado… É questão do partido entender aquilo que é prioridade e a sinalização da direção nacional do partido e do Lula é de que o lugar mais importante, agora, é a reeleição para deputado federal e tentar buscar uma segunda vaga por Goiás. Essa vai ser a nossa estratégia. E para isso é importante que eu fique como deputado federal para tentar ajudar uma chapa mais forte para chegar na segunda vaga. 

Frederico Jotabê – Quais os nomes que podem entrar nessa disputa para deputado federal para buscar essa segunda vaga?
Aí a direção estadual já está iniciando esse diálogo. Mas depende muito do regramento eleitoral. Temos aí um prazo limite que é outubro, que saberemos qual pode ser a estratégia, se teremos que lançar chapa completa, temos que focar em um ou dois nomes, ou como será. Ainda é cedo para falar em nomes, mas o partido já está fazendo o levantamento esperando passar esse prazo, que é 3 de outubro, e assim poder realmente ter uma estratégia de montagem e garantir o aumento da nossa representação na Câmara Federal.

Elder Dias – O PT não faz dois deputados federais na chapa goiana desde 2006, num é isso?
Na verdade, em 2010 tivemos votos para isso. Estávamos em uma aliança, mas ficamos com dois. Eu e a Marina Santanna. Em 2002 foi eleito eu e a Neide Aparecida. Em 2006, eu e o Pedro Wilson em 2010 ficamos eu e a Marina como deputados federais. Ela era suplente do Thiago Peixoto, mas se não tivesse aliança proporcional ela teria sido eleita. Nossos votos foram suficientes.

Elder Dias – Estamos em um Estado que é reduto do Bolsonarismo, até por conta do agronegócio e da própria tendência conservadora do nosso Estado. O que aconteceu que fez diminuir o PT em Goiás? Hoje o PT não é mais a força que tinha há 10 ou 15 anos atrás…
Esse é um fenômeno natural da política. Se tem momentos de alta e de baixa. E aqui em Goiás a análise não deveria ser nem o PT e sim o PSDB, que governou o Estado de Goiás por muitos mandatos e hoje tem uma representação inferior a do PT na Câmara Federal. O PT tem representação maior, inclusive, do que o MDB. O PT tem deputado federal e o MDB não tem. O PSDB só tem um deputado federal e já falou que vai sair. Na verdade, a crise hoje está em outro lugar, não é no PT. É claro que na política tem momentos de alto e baixos, nós já governamos a capital, hoje não estamos. Já governamos Anápolis, e hoje não mais. Mas podemos voltar a governar. Nós deixamos de governar o Brasil e vamos voltar. A política tem disso. 

você tocou em um assunto que é verdadeiro. Nós precisamos ter uma visão de futuro para o nosso estado. Vamos continuar com essa matriz de desenvolvimento focada estritamente no agronegócio, onde se tem uma visão limitada de geração de emprego, renda e melhoria da qualidade de vida da população? É muito pouco para nosso estado. Precisamos em um determinado momento ter a capacidade de pensar o estado além do potencial espontâneo que temos que é o agronegócio, que ocupa muito bem. O agronegócio faz parte. Eu entendo perfeitamente que o agronegócio faz parte de uma estratégia econômica para o país, mas não pode ser a única. Precisamos ter uma outra visão. Esse é um desafio para pensar o Estado de Goiás e o PT quer contribuir para fazer esse projeto a muitas mãos.

 Nosso desafio hoje é dialogar com outros partidos para atrair outras legendas e lideranças para essa mesma preocupação. E poder gestar um projeto de maneira articulada e somando contribuição de todos os lados.

Marcos Aurélio Silva – Surgem notas citando o Josué Gomes, presidente eleito da Fiesp, seria o vice ideal para o Lula. O senhor defende essa visão de que o vice na chapa do PT deve vir do centro?
Eu defendo que é preciso ampliar. É preciso dialogar, buscar apoio  e composições. Isso chega na chapa majoritária. É natural. vamos buscar uma forma para que a chapa expresse essa amplitude de diálogo com a sociedade. Se vai ser esse nome ou outro, ainda é cedo para essa discussão. É evidente que só se afunila numa discussão de nomes depois que você tem os apoios, sabe quem está com quem e poder delinear a estratégia. Esse trabalho será depois de abril do ano que vem, que tem o prazo limite de filiação. A partir de abril que essa questão de nomes para as chapas majoritárias vai se afunilar.

Eu defendo sim. É uma pergunta boa e eu defendo como tese que devemos ampliar e devemos buscar com um nome que agregue a candidatura de Lula, outros segmentos, não só do ponto de vista eleitoral, mas do ponto de vista até da visão de país para podermos ter uma estratégia correta de desenvolvimento econômico e social para o Brasil. 

Elder Dias –  Então aquele cenário de PT e PCdoB, como foi em 2018, com Fernando Haddad e Manuela d’Ávila, não deve se repetir para essa eleição? Vai se ter uma abertura maior do espectro ideológico na chapa com Lula? 
Eu espero que sim. Até porque aquele espectro da eleição passada não fomos nós que escolhemos. Foi o cenário possível. Não é só a nossa vontade, depende também da vontade das outras legendas e outras lideranças. 

É por isso que o nome de uma candidatura a vice só tem como se definir depois que estiver certo quem vai apoiar. Quem vai estar conosco e vai caminhar conosco? Na eleição passada nós também buscamos ampliar, mas não foi possível. No final caminhou PT e PCdoB. Era o que tinha. Não temos dificuldade nenhuma em fazer o trabalho, igual aqui em Goiás em que nós lançamos candidato a governo. Fizemos bonito, trabalhamos, apresentamos propostas e tivemos um bom desempenho, mas se tivesse aparecido um partido ou uma liderança que tivesse sinalizado a possibilidade de apoiar o Haddad, talvez tivéssemos negociado e feito uma aliança. Mas não apareceu naquele momento.

Esse desafio está nesta eleição também. Vai ter possibilidade de ter uma candidatura ao governo que sinalize a disposição de polarizar a eleição nacional e dar o apoio ao Lula? Se tiver, de repente a gente consegue articular um palanque diferente também na eleição de Goiás.

Marcos Aurélio Silva – Sobre a CPI, além de forçar o governo a tomar algumas atitudes no enfrentamento a Covid, também veio desgastes com denúncias de corrupção, isso somado a desigualdade social sendo ampliada no país, em que medida isso favorece a campanha do Lula?
A CPI está cumprindo um papel importante para democracia brasileira e para o momento político que estamos vivendo no Brasil. A CPI iniciou com objetivo de investigar possíveis irregularidades, omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia, mas ao longo do trabalho descobriu muito mais. Descobriu corrupção. Descobriu negociatas, inclusive na compra de vacinas. Negociatas para levar vantagem financeira na compra de vacinas.

A CPI ajudou a dar visibilidade a uma discussão que às vezes a população como um todo não tinha acesso. Com a CPI a população teve acesso às informações. Claro que isso contribui para a formação da consciência das pessoas. Contribui para que as pessoas tenham entendimento e definição do que ela projeta para o país. Neste sentido eu não tenho dúvida de que a CPI contribui para o enfraquecimento do governo federal na medida que mostra as mazelas, negociatas, irregularidades e a sua corrupção dentro do Ministério da Saúde e abre caminho para essa mudança e poder virar o jogo e voltarmos a governar o Brasil.

Marcos Aurélio Silva – Mas esse tema da corrupção também seria o calcanhar de Aquiles de campanha do Lula. Ou há um antídoto para essa questão frente aos eleitores e adversários?
A questão da corrupção é o grande problema que se teve, é que tentou-se trabalhar a corrupção como se ela tivesse em um lugar específico. Infelizmente a corrupção está na sociedade e como a política está na sociedade a corrupção está na política também. O problema que está ocorrendo agora, é que aqueles que se passavam de puritanos, aqueles que se passavam de vestais, aqueles que faziam questão de apontar o dedo para os outros e condenar ações, agora a cortina se abriu e a máscara caiu. A sociedade está percebendo o que está por trás do governo Bolsonaro. Isso faz com que as pessoas percebam que foram enganadas. Foram enganadas quando passaram uma ideia de que: vamos votar aqui porque é combate à corrupção. Ou: não pode votar ali porque é lá que está a corrupção. Hoje as pessoas estão percebendo que todo lugar tem problema. Política é feita de gente e tudo que é feito de gente está sujeito a erros, falhas e limitações. 

Neste sentido não temos dúvida, se pegar igreja, que é feita pra ser santa, volta e meia se descobre irregularidade. Tá ai os casos acontecendo.  Agora não é privilégio de A, B ou C, todos tem que lutar para evitar. Todos têm que lutar para superar e levar adiante seus projetos. No caso do PT eu não tenho dúvida nenhuma e vamos para o processo eleitoral de cabeça erguida, não porque a gente bata no peito pra dizer que somos os bons, os donos da verdade. Nunca falamos isso. Agora o que falo com toda tranquilidade é que entre erros e acertos, eu não tenho dúvidas que temos mais acerto para apresentar para o povo brasileiro. 

Frederico Jotabê – O senhor falou da expectativa para outubro, das possíveis mudanças na reforma política que estão em discussão. Para o senhor, o que do projeto dá para passar? E dos pontos mais polêmicos que é o distritão, o senhor acha que tem possibilidade de ser aprovado?
O que está discutindo aqui é que muda mesmo o cenário e obriga a mudar as estratégias dos partidos totalmente é a aprovação do distritão. Se aprovar muda tudo que se trabalhou nos últimos 30 anos no Brasil. Temos um sistema eleitoral proporcional. Eu costumo dizer que o sistema eleitoral brasileiro é falho, tem muitas limitações. Mas se me perguntarem se tem alguma coisa que de bom no sistema eleitoral brasileiro eu vou dizer que é exatamente é ele ser proporcional, que é o que quer me mudar. Quer dizer, a única coisa ou aquilo que tem de bom no sistema eleitoral eles querem mexer. 

Isso torna o processo eleitoral elitista. Vai priorizar celebridades, privilegiar o poder econômico, vai diminuir a força dos partidos e isso vai criar um processo de ingovernabilidade. Um presidente da república ou governador não mais negociar com partido, vai ter que negociar com cada indivíduo. Porque cada um é um e foi eleito de maneira independente. Imagina se é possível governar um estado e um Brasil desta maneira. Isso fragiliza muito a política.

Esse é o grande debate que tem. Esse é o que vai mudar ou não o processo eleitoral. Eu sou daqueles que acham que no final não vai ter essa mudança. O pessoal vai perceber. Apesar que não está fácil. No início todo mundo acha fácil e defende com entusiasmo, mas depois percebe-se que isso é uma aberração. 

Essa discussão está na Comissão Especial, a qual faço parte, temos reunião e o relatório que foi apresentado pela relatora foi retirado de pauta e ela vai apresentar outro. Na minha avaliação essa proposta vai ter mais dificuldade no Senado. O fato dela passar na Câmara, não é garantia de que vai ter distritão, porque tem que passar pelo Senado. 

Elder Dias – O senhor acha que passa na Câmara?
Na Câmara pode ser que passe. Apesar de que nas duas últimas discussões da reforma política, nós conseguimos, apesar de todo barulho que se faz e toda mobilização, a gente derrotou sempre o distritão com folga. Sempre. Eu ainda acho que na Câmara a gente consiga derrotar.

Elder Dias –  A proposta do voto impresso, ela ainda será mais fácil de ser derrotada do que a do distritão?
Essa questão do voto impresso é um atraso. É outra aberração. Eu nem entro neste debate para não dar corda para um debate atrasado como este. Se a gente tem dúvidas sobre o voto eletrônico, nós temos que trabalhar a auditagem eletrônica, o acompanhamento de todo trabalho, o aperfeiçoamento do trabalho eletrônico para assim poder não ter dúvida sobre ele.

Ninguém quer dar margem para fraude. Vamos auditar. E o voto eletrônico no Brasil sempre foi auditado. Então não precisa ter auditagem do voto eletrônico, ele sempre foi auditado e sempre tem acompanhamento tecnológico do Tribunal Superior Eleitoral como da fiscalização dos partidos. Isso sempre teve.

Mas suponhamos que queira aperfeiçoar. É ótimo. Sou de total acordo. Agora tentar dar o retrocesso para um voto impresso mesmo que seja para a garantia de uma possível recontagem, isso coloca em jogo a democracia, o controle do voto e abre espaço para possibilidade real de fraude e de compra de votos.

Elder Dias – O senhor acha que sem essa questão de instabilidade democrática, e em se fosse em outro momento, seria possível discutir o aperfeiçoamento da urna eletrônica, ao ponto de criar uma amostragem de voto em papel?
Eu não vejo problema nenhum a gente buscar uma forma de dar mais segurança. Agora não vamos cair na armadilha de fazer o debate que o presidente quer fazer. Ele não está preocupado em aperfeiçoar o voto eletrônico. Ele está preocupado em fazer confusão no processo eleitoral e já ter uma desculpa para uma derrota dele. 

Essa movimentação ele fez na eleição passada. Ele já tinha feito esse questionamento se preparando para depois ter uma desculpa lá na frente e questionar o  resultado. Agora está se preparando novamente. Não vamos entrar nesta armadilha e por isso não estamos nem polarizando esse debate de voto impresso. Estamos deixando mais para que  o próprio TSE acompanhe para não ter essa polarização de contra e a favor.

Queremos aperfeiçoamento tecnológico. Aperfeiçoamento científico. Vamos ser a favor da auditagem e da segurança das urnas eletrônicas. Agora pensar em voto impresso, mesmo sendo para uma garantia posterior de recontagem, para mim é retrocesso. 

Frederico Jotabê – Muitos analistas nacionais falam que o PT não tem interesse no impeachment do presidente porque a avaliação política é melhor ele sangrar até o final do que tirar ele agora do mandato. Existe isso mesmo?
Claro que não. Quem está puxando o fora Bolsonaro é o PT. Nós que estamos na rua. Tem vários outros partidos e lideranças, seguimos trabalhando para ter cada vez mais, mas quem está na frente somos nós. Achamos que não dá para esperar. É salvar vidas. Mais do que ganhar eleição, estão em jogo vidas. Mais de 530 mil pessoas morreram. Esse governo não tem uma política para enfrentar a crise sanitária. Não tem política para enfrentar a crise econômica que é gravíssima. O receituário de Paulo Guedes é exatamente o contrário do que o Brasil precisa. Num momento de crise é preciso ter investimento público para gerar emprego e renda, e assim sair do atoleiro. Eles fazem o contrário, com ajuste fiscal, corte de gastos e o País vai cada vez mais travando.

Essa não é uma posição do PT, ou um conflito de ideias, é um conflito com a posição internacional. Todos os países estão fazendo investimento público para sair da crise. Os Estados Unidos que eles adoram, cantam em prosa e verso, como referência do capitalismo e do sistema neoliberal, o que está fazendo? investimento pesado para poder sair da crise econômica. O Brasil está isolado daquilo que o mundo está fazendo e pensando. Não é apenas uma contradição com o PT. 

Temos consciência de que com esse governo o Brasil não supera a crise. Não dá para esperar a eleição. Queremos que tire antes. Agora, se não for possível, na eleição vamos tirar.

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