“Mais fácil resolver com a Enel do que retomar a Celg para o Estado”
22 dezembro 2019 às 00h00
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Prefeito de Aparecida de Goiânia acredita que o governo estadual não tem recursos para investir em energia, fala das realizações de sua gestão e dos projetos para 2020
Com apenas 37 anos de idade, Gustavo Mendanha faz, no primeiro mandato como prefeito, uma das gestões mais aprovadas do Estado. A avaliação é que ele chega a 2020 como favorito para a reeleição em Aparecida de Goiânia. Segundo maior de Goiás, o município tem passado por uma transformação nos últimos anos: de cidade dormitório para uma das que mais se desenvolvem. Nesta entrevista ao Jornal Opção, o emedebista fala das realizações na administração, dos projetos para o próximo ano e de política.
Euler de França Belém – O que o sr. vai fazer em 2020, como prefeito?
Chegar aos 100% de atendimento do hospital [municipal], que assim serão feitas cirurgias eletivas e hemodinâmicas. Realizar transplantes será difícil, mas quem for o prefeito em 2021 estará preparado para isso. [Concluir] os eixos estruturantes Leste-Oeste. Estamos fazendo as conexões internas, são mais cinco eixos. Bueiros e alguma coisa de asfalto.
Nesses três primeiros anos, recapeei quase 700 mil metros quadrados de asfalto. Nós recapearemos quase 2 milhões de metros quadrados de asfalto no próximo ano. Nesse momento, a malha viária sofre muito com a chuva. Então, a ideia é reduzir isso.
Vamos começar a construção de 11 CMEIs, e acredito que conseguiremos entregar alguns. Quase todas as escolas serão reformadas. O investimento será de R$ 10 milhões. A Cidade Inteligente vai acontecer de fato no ano que vem. Construiremos quase 70 praças e mais de 20 serão recuperadas. Vamos fazer o embelezamento demais de 25 pontos, como o que foi feito na Avenida São Paulo.
Estamos reestruturando cerca de 20 UBS [Unidades Básicas de Saúde]. O ano que vem vamos entregar uma série de aplicativos, na parte tecnológica. Teremos o Siga, que é como um Uber do governo. Não haverá carros disponíveis para secretários e, inclusive eu vou utilizar o serviço. Ao invés de ficar um veículo disponível para o servidor, ele terá de solicitá-lo pela plataforma da Prefeitura. A Prefeitura não precisará pagar um carro e um motorista para ficar o dia todo, muitas vezes parado. Até mesmo as ambulâncias serão usadas pelo aplicativo. A tecnologia vai facilitar o uso e reduzir os gastos.
Ton Paulo – Qual a estimativa de economia?
Posso dizer o que economizamos agora. Na Prefeitura, já utilizamos o rodízio de carro. Só em combustível, são quase 7 mil litros economizados por mês. Estamos economizando também por causa do novo prédio da Prefeitura, pois os serviços, que antes necessitavam de descolamento, hoje são feito todos lá. Nossa economia está em cerca de R$ 150 mil em aluguel, energia e combustível após a inauguração do novo prédio.
Euler de França Belém – Há perspectiva de que o País cresça mais ano que vem, melhorando o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), os repasses de ICMS…
A expectativa é que o governo [federal] comece a liberar os recursos. Até agora foi muito pouco, a não ser os de emendas [parlamentares]. Pela pujança da cidade e o número de eleitores, temos tido muito apoio dos deputados federais.
Mas não é só por isso. No mínimo, de 15 em 15 dias estou em Brasília, despachando com ministros, com deputados federais. Acaba que conseguimos trazer muitos recursos para a cidade. Aprendi isso com o Maguito [Vilela, ex-prefeito] e é o que realmente dá certo.
A maioria das obras é feita com recursos próprios, mas uma boa parte é feita com emenda de deputados federais, senadores ou projetos que conseguimos inserir.
Euler de França Belém – Quais são os políticos que efetivamente têm ajudado Aparecida de Goiânia?
Praticamente todos os deputados federais, mas há alguns que têm mais aproximação com a população. O primeiro é o Professor Alcides, que é da cidade, João Campos, Glaustin [da Fokus], Adriano Baldy, Magda Moffato, Rubens Otoni, Francisco Júnior, Major Vitor Hugo. Não tem partido.
Os senadores todos também. Tenho uma ligação muito próxima do Vanderlan [Cardoso] e do Luís Carmo, mas o Kajuru acaba de colocar uma emenda de R$ 2 milhões. Não só de emendas desse mandato, mas do mandato passado. Tem emenda do Daniel Vilela, do Fábio Sousa, do Jovair Arantes, do Lucas Kalil. Todos eles ajudam. A Flávia Morais, que é coordenadora da bancada, ajuda muito.
Conseguimos quase R$ 10 milhões com os deputados estaduais. Pouquíssimos prefeitos foram atrás deles. Eu fui, conversei com alguns, e conseguimos esses recursos para as áreas de saúde e educação. O Karlos Cabral, o Lissauer Vieira, a Adriana Accorsi, o Eduardo Padro, o Amauri Riberio, o Zé Carapô, o Jeferson Rodrigues… Muitos deputados colocaram emendas para Aparecida.
Ton Paulo – Em uma reunião do MDB, o presidente do partido, Daniel Vilela, disse que partido estava na expectativa de receber novas filiações, especialmente de vereadores. Quais são eles?
Alguns parlamentares de Aparecida irão para o MDB. Mas há a questão da janela partidária. O vereador só pode trocar de legenda seis meses antes da eleição. Por isso, a maioria deles só se apresentará mais tarde. Os vereadores Araújo, do Cidadania; o André Fortaleza, do PRTB; e o Ataíde Neguinho, do PSDB, vão para o MDB.
As vindas do Jovair e do Henrique [Arantes, deputado] foram importantes para oxigenar o partido. O Pábio Mossoró, que é prefeito de uma cidade importante [Valparaíso] veio para o MDB. Há uma movimentação importante entre pré-candidatos.
Euler de França Belém – O que é a Cidade Inteligente? O que está pronto e o que será feito?
Primeiramente, a parte de infraestrutura tecnológica é importante. O Brasil é muito atrasado, mesmo em investimentos privados – as empresas de telecomunicações deveriam instalar fibras ótimas em todo o País. Estou fazendo esse investimento em câmaras, em datacenter, pois precisamos de capacidade de receber informações.
Identificamos um problema sério. Não seria possível trabalhar com aplicativos ou videomonitoramento sem conectividade. Essa é uma palavra cada vez mais importante na vida do cidadão. Estamos vivendo o tempo da Indústria 4.0 e da internet das coisas. Tudo se conecta.
Nós compramos óculos para pessoas de baixíssima visão ou cegos, para terem inclusão e acesso à leitura. Mas ele vai além disso. Eles têm a capacidade de armazenas 100 rostos e identifica as pessoas para o usuário. Eles serão colocados nas bibliotecas e na rede escolar, para crianças que têm pouca visão. A tecnologia é muito importante e precisamos saber utilizar esse instrumento.
Então o primeiro passo foi colocar essa fibra ótima. O governador [Ronaldo Caiado] esteve comigo há uma semana e o levei para conhecer nosso datacenter. Ele disse que no Estado todo, há pouco mais de 600 quilômetros de fibra ótica. Só na cidade de Aparecida estamos instalando 540 quilômetros de fibra ótica. Nós temos quase o tamanho da rede do restante do Estado.
A partir da conexão, temos a condição de trabalhar uma série de projetos. O segundo momento foi a construção do datacenter, que tem duas vezes a capacidade do datacenter do Estado. Isso vai garantir capacidade para 15 anos de informações da nossa cidade.
A cidade tem hoje 50 pontos videomonitorados. São mais 650 nas ruas mais 2 mil nos prédios públicos. É impossível, a olho nu, precisaríamos de dezenas de homens para monitorar tudo isso. E não adianta nada se essa imagem e informação não chegarem com boa qualidade e não saber usá-la. Os principais pontos de manchas criminais, de grandes aglomerações, porta de escola, terminais de ônibus e de concentração de acidentes estão sendo videomonitorados.
Mas o sistema que eu quero é ainda muito melhor do que o que temos hoje. O nosso sistema é funcional, ele tem quase 60% de assertividade. Faz reconhecimento facial, comportamental, padrão de agressividade, reconhecimento de placas. Mas o sistema que estou vendo em Israel chega a 95% de assertividade.
Todo o banco de dados das polícias civis, PRF, PRE, estarão no nosso datacenter para fazer o reconhecimento facial. O cidadão que quiser disponibilizar suas câmeras próprias para nossa central poderá fazê-lo. O número de assaltos nos locais em que há o videomonitoramento reduziu de forma gigantesca.
Teremos também um drone, com tecnologia de Israel, para fazer o monitoramento das ruas. Ele terá os mesmos softwares das câmeras, podendo identificar placas e padrões de agressividade, e monitorará um perímetro de 13 a 14 quilômetros.
Ton Paulo – Na China, há uma discussão sobre privacidade com o uso desse tipo de equipamento. Como fica essa questão? Esses dados estarão seguros?
A China tem outra cultura. O governo chinês pode acessar até mesmo o celular de alguma pessoa que tenha filmado algo. É um regime que não dá para comparar com o nosso. Todas as leis do País serão respeitadas. Por isso a ideia de comprarmos [armazenamento] em nuvem.
Ítalo Wolf – Como o sr. montou esse time de cientistas de dados e a estrutura tecnológica?
Tudo nasceu de um sonho meu. Viajo muito o mundo, conheço quase todos os continentes, exceto a Oceania. Quando fui eleito, recebi um convite da Frente Nacional dos Prefeitos para participar de um congresso de Smart Cities em Barcelona.
Já havia um projeto, ainda um pouco acanhado, mas um dos segredos da minha gestão é ter uma equipe muito competente. E o responsável por esse projeto e toda a equipe da Secretaria da Tecnologia é um professor da Universidade Federal [UFG], o Cleomar Rocha, que tem quatro pós-doutorados, fala seis idiomas e é uma pessoa bem preparada. Ele que formou o time. Talvez seja a única secretaria que não tenha a mínima interferência minha ou de qualquer um que seja. Há algumas pessoas que são concursadas, mas a equipe quem trouxe foi ele.
Ítalo Wolf – A legislação brasileira está pronta para esse tipo de tecnologia?
Não vejo nada na legislação que prejudica. Por conta do momento que estamos vivendo, não tenho dúvida de que se o cidadão for perguntado se ele quer o uso desse tipo de ferramenta para aumentar a segurança, não tenho dúvida de que a maioria absoluta vai querer.
Euler de França Belém – Como está o projeto de robótica nas escolas?
Visitei uma escola do Sesi/Senai em Aparecida, onde vi as crianças trabalhando com a robótica. A turma estava animada, com vontade de estudar. Sai dali e pedi para o Cleomar ajustar um projeto para escola primária. Começamos em uma escola-piloto, uma das que tinham maior vulnerabilidade social, próxima ao sistema penitenciário.
Após dois meses, visitei a escola e fiquei encantado com a criançada. Um dos garotos era traficante e hoje é um dos monitores na rede, como todos os garotos que foram pioneiros.
Euler de França Belém – A robótica melhora o ensino de que maneira?
Ela torna a educação mais atrativa. Eles têm de montar o robô e um circuito. Então precisa da matemática, da física, do inglês. A criança começa a viajar. Trabalha-se muito com a astronomia. Alguns desses garotos falam que querem ser cientistas ou professores.
Não adianta pensar em uma cidade inteligente sem pessoas inteligentes. A cidade inteligente é para as pessoas que sabem usar essas ferramentas e instrumentos para melhorar a própria vida. Quando se pensa em uma startup, a primeira ideia é criar alguma coisa que vai facilitar a vida das pessoas. O Waze, por exemplo, foi desenvolvido para facilitar a vida das pessoas.
A ideia da cidade inteligente é facilitar a vida das pessoas. Quando tive a ideia, discuti e tomei a decisão de investir mais de R$ 60 milhões na cidade inteligente, a maioria dos meus secretários foi contra. Porque a ideia das pessoas, sempre, é pensar na próxima eleição. Então investir R$ 60 milhões em asfalto me traria um retorno político muito maior que a cidade inteligente.
Nasci, moro em Aparecida, crio meus filhos e findarei meus dias em Aparecida. Seria muito medíocre da minha parte pensar apenas em eleições. A ideia da cidade inteligente é pensar nas próximas gerações. Não tenho dúvida que as empresas, as pessoas físicas e os governos que não investirem em tecnologia ficarão obsoletos e daqui a pouco não servirão mais para o mercado.
Euler de França Belém – Como foi sua experiência na China?
Fui ao congresso da Huawei, que está no centro da disputa entre a China e os Estados Unidos. Já participei de muitos, mas nunca vi nada igual. Foram 80 mil participantes.
Euler de França Belém – E como o sr. tem visto essa disputa em torno do 5G?
[A Huawei] É a única empresa que fornece 5G de verdade. A China sempre fez boas cópias. Mas ela evoluiu tanto que agora não adianta, ninguém faz coisas melhores que a China. A barreira que o país precisa superar é a da língua, pois quase ninguém fala inglês.
Ton Paulo – Além da negociação para compra de softwares com Israel, recentemente o sr. recebeu a visita do embaixador Yossi Shelley. Há uma relação de parceria de Aparecida de Goiânia com Israel?
Tenho uma relação muito boa com Israel. Fui o primeiro político a estar com o embaixador. Meu irmão morou em Israel e eu sou apaixonado a cultura deles. Quando me elegi, fui à embaixada para fazer um intercâmbio cultural e tecnológico. O desejo que eu tenho é de germinar minha cidade com outra cidade de Israel, fazer uma parceria de cidades irmãs.
Quando o Yossi Shelley chegou, poucas pessoas o procuravam. Então, antes de viajar para outros Estados, ele veio três vezes a Aparecida. Então criamos uma relação de proximidade. Quando o premiê Benjamin Netanyahu esteve no Brasil, fui o mestre de cerimônia de um evento no Rio de Janeiro dele com políticos de todo o país. Fiquei muito honrado.
Estamos conversando com o hospital Albert Einstein para algumas parcerias. Temos três empresas no município que são israelenses.
Euler de França Belém – Por que o sr. optou por construir um prédio da Prefeitura ambientalmente sustentável?
A energia, exceto a dos elevadores, é fornecida por painéis solares. Temos também a captação da água para fazer a limpeza. Estou, inclusive, com projeto de instalar fazendas de energia solar no município para suprir a operação de todos os prédios públicos. Estou vendo o custo e conversei com o Banco Andino.
Ítalo Wolff – Quantos distritos industriais o município tem e quantos empregos eles geram?
Temos quatro polos da Prefeitura, a Cidade Empresarial e o Global. A empresa Martins e o Guaraná Mineiro vão se instalar.
Ítalo Wolff – A Cidade Empresarial funciona graças aos incentivos fiscais. Como ela ficará diante das discussões que estão sendo travadas sobre a questão?
Acredito que os incentivos são importantes, principalmente para alguns arranjos. Qual interesse da indústria automobilística estar em Goiás? É o incentivo. É muito melhor para ela produzir nos grandes mercados, como São Paulo, mas está em Goiás. Mas há empresas que vêm para Goiás por conta da logística, pois estamos no centro geográfico do País. Muitas vêm para cá para distribuir para o restante do País.
Ítalo Wolff – A logística é o fator mais atrativo?
É um dos principais, mas claro que os incentivos são importantes. Outra coisa importante é a mão de obra qualificada. Minha cidade tem se vocacionado nisso. Ela é uma cidade universitária, tem ofertado cursos profissionalizantes. O industrial, quando vai se instalar, faz conta de tudo: educação, saúde, mobilidade. Tudo isso, nós ofertamos.
Ítalo Wolff – Existem muitas empresas procurando Aparecida?
Sim, muitas. Embora haja muitos pedidos anteriores ao advento do governo. São mais de 4 milhões de metros quadrados de áreas solicitadas, por mais de 200 empresas. Temos poucas áreas para ofertar, por isso temos de estudar esses pedidos. Aparecida tem todos os ramos: cosméticos, fármaco, alimentícios, logística, secos e molhados.
Ítalo Wolff – O que o sr. tem ouvido dos empresários em relação à crise econômica?
Existe um clamor geral para que não se corte os incentivos. Mas já começamos a ver uma movimentação, principalmente do setor imobiliário. A esperança é de que o ano que vem seja bem melhor. Todos têm essa expectativa.
Ítalo Wolff – O que um prefeito pode fazer para atrair empresas?
No nosso caso, temos fuma agenda permanente de desburocratização da máquina pública. Um instrumento importante é a cessão da área para as grandes indústrias. Esse é um grande atrativo.
Ton Paulo – Qual sua opinião sobre o Pró-Goiás?
Não li o projeto, então não posso me aprofundar. Preciso, inclusive, estudá-lo
Euler de França Belém – Há Estados e municípios com sérias dificuldades fiscais, como o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul. Qual o segredo de Aparecida para manter o equilíbrio fiscal?
Pagar em dia, não só os servidores, mas os fornecedores, permite uma competitividade muito grande nas licitações. Tem deságios em obras de infraestrutura que chegam a 40% da tabela que utilizamos, que é da Agetop ou do Dnit. Entregou [a obra], eu pago. Isso tem sido um grande avanço para gerar a economia que temos conseguido. Assim, com pouco recurso, conseguimos fazer muito mais que outras prefeituras ou Estados têm feito.
Tenho de dizer também que peguei uma administração exitosa. Recebi as contas em dia e recursos em caixa: R$ 40 milhões. É claro, portanto, que saí muito à frente de outros governos. Há as parcerias com o governo federal e a bancada federal, que trazem recursos para fazer investimentos e melhorar a vida do cidadão.
Ton Paulo – Como a crise da Enel tem afetado Aparecida?
Prejudica a cidade, o setor industrial e outros setores. Atrasei quatro meses a inauguração da Prefeitura porque não tínhamos energia para entregar o prédio. Mas é preciso muita tranquilidade nessa questão. O Estado retomar [o controle da empresa] sem capacidade de investimento não vai resolver o problema. Talvez seja mais fácil resolver com a Enel do que retomar a Celg para o Estado.
Ton Alves – O sr. não concorda com o projeto e encampação da Enel?
Não. O Estado não tem condições de se endividar. Vai pegar um problema que não tem condições de resolver. É muito mais fácil apertar os eixos para que a Enel possa fazer os investimentos e melhorar a capacidade energética do que devolver para o Estado.
Euler de França Belém – O sr. e o ex-prefeito Maguito Vilela fizeram muitos investimentos em infraestrutura, que a cidade precisava e ainda precisa. O que foi feito nesse setor e no saneamento básico?
Avançamos muito nos últimos anos com os eixos – hoje são cinco que conectam Aparecida e Goiânia. Asfaltamos muitos bairros, o Maguito foi o campeão do asfalto, isso é inegável. Recuperamos algumas erosões que causavam prejuízos muito grandes ao município. Inauguramos o viaduto Vereador João Antônio Borges, que tem um tráfego gigantesco. Recapeamos boa parte da malha asfáltica.
Nos próximos meses, vamos investir muito mais nos eixos internos que vão melhorar a mobilidade interna da cidade, principalmente da região do Garavello. Vamos fazer a conexão do asfalto para a Universidade Federal de Goiás, para podermos inaugurar o prédio. Vamos recapear quase 50 bairros, que vai melhorar, principalmente, a malha antiga.
Uma luta que encampei há certo tempo, mas nesse ano conseguimos finalizar seis linhas interbairros. São mais de 500 quilômetros de novas linhas de ônibus. Antigamente as linhas basicamente pegavam as pessoas para trazer para Goiânia. Hoje, não vivemos mais em função de Goiânia, mas de Aparecida.
No saneamento básico, embora seja responsabilidade do Estado, trabalhamos em parceria. Avançou-se muito em relação ao esgoto com a colocação da rede seca. O Garavello, por exemplo, que é um bairro gigantesco, não tinha rede seca e agora tem. Falta a ligação com as casas, o que só vai acontecer quando o linhão for construído e tivermos água suficiente não apenas para abastecer as casas, mas para levar os dejetos.
Euler de França Belém – O empréstimo com o Banco Andino tem qual finalidade?
Para os eixos estruturantes e asfalto. Já assinamos o contrato, estamos finalizando a licitação e devemos começar as obras após o período chuvoso. Esse empréstimo funciona da seguinte forma: fez o asfalto, mediu, ele vem pagando.
Euler de França Belém – Como a Prefeitura tem atuado em relação ao meio ambiente e na manutenção dos parques do município?
Temos incentivado as pessoas, até com meu próprio exemplo, a praticar atividades físicas. Em relação à preservação de nascentes e parques, focamos principalmente na educação. Infelizmente, gastamos muito com a retirada de entulho e lixo ao longo do ano. Com as câmeras, teremos mais efetividade na fiscalização.
Plantamos mudas do Cerrado e mudas frutíferas ao longo do ano.
Euler de França Belém – E como está a situação do aeroporto?
É um aeroporto privado, que conta com a parceria da Prefeitura. Ele vai ser para aeronaves executivas e a ideia é fazer um polo de mecânica aeronáutica. A construção deve começar em março. É um novo arranjo na cidade. É uma área onde os empregos são bem vantajosos. Ficamos felizes em ver isso acontecendo.
Euler de França Belém – O sr. pensa em cursos na área?
Temos feito isso com a Universidade Federal. Temos o primeiro curso na área de transporte no País. Já identificamos a necessidade de colocar um curso de mecânica aeronáutica ou outro para capacitar as pessoas a trabalharem no aeroporto.
Euler de França Belém – Aparecida tem o sistema prisional e o governo pensa em transformar o Credeq em centro socioeducativo. Como o sr. vê essa proposta?
Depois que me manifestei, a Lúcia Vânia [secretária de Cidadania] me ligou e disse que o governo está fazendo um estudo e que não faria nada sem me consultar. Nós temos uma relação de amizade. A ideia é fazer ou uma escola militar, que receberia algumas dessas crianças com vulnerabilidade social, ou fazer uma escola profissionalizante.
Disse a ela que o Credeq atende a população no sentido de recuperar vidas. Mas se for mudar a vocação do equipamento, que não se coloque essas crianças que cumprem socioeducativo. O município já paga caro [com o sistema prisional] e não existe nenhuma contrapartida do governo federal ou do Estado. É um clamor que eu faço para o governo que não coloque esse equipamento, que vai prejudicar muito aquela região, que é uma das que mais crescem no município.
É ali que estão os polos e onde estará o aeroporto. Tem muitos investimentos que podem ser prejudicados.
Euler de França Belém – O Credeq funciona bem?
Talvez pudesse atender mais pessoas. A estrutura é grande e o custeio é caro. Mas já vi vários depoimentos de pessoas que passaram por lá e foram recuperadas. E a instituição que está lá é muito séria, a Luz da Vida.
Ton Alves – O sr. sancionou a criação de uma nova unidade do conselho tutelar, a Maranata. Ela já está pronta para funcionar?
Já tem toda a estrutura, computadores, veículos. Houve a eleição recentemente e os novos conselheiros tomaram posse.
Euler de França Belém – A sua relação com o governador Ronaldo Caiado é boa?
Já esteve pior. Estou tentando buscar uma aproximação, porque o município não pode ser prejudicado. Ele tem correspondido. Nossa relação melhorou muito. Não tenho nenhuma aliança política, mas ele é o governador de todos e temos de conversar. Temos tido uma relação republicana.
Euler de França Belém – Como o sr. conseguiu formatar a frente política e administrativa que lhe dá sustentação?
Talvez seja minha forma de lidar com as pessoas. Não trato ninguém com rancor político. Olho para o para-brisa. O retrovisor é pequeno, o para-brisa é grande. Aprendi isso com o Maguito. Ele é o maior exemplo de diplomacia e de um governo que deu certo. Tento sempre seguir as orientações dele. Talvez isso tenha produzido esse momento de harmonia.
Euler de França Belém – O sr. está se preparando para a reeleição?
Não fico pensando no ano que vem. Estou terminando o planejamento das obras que vamos executar. Mas é claro que o governo sendo bem avaliado, meu partido aprovando meu nome, naturalmente podemos disputar as eleições.
Euler de França Belém – É verdadeiro o comentário de que há duas eleições: uma para prefeito e outra para ser o seu vice?
Essa situação é engraçada. Vivi isso quando fui presidente da Câmara. Minha eleição para presidente da Câmara foi difícil e, na reeleição, fui aclamado, não tive adversário. A disputa que houve foi para ser meu vice. Dos 20 vereadores, 11 eram pré-candidatos para ser meu vice.
Ton Paulo – Há alguns meses, o deputado Bruno Peixoto, disse a mim que o MDB estava acabado. Como está o clima do partido hoje?
Houve um tensionamento na eleição para o governo. Mas isso já passou. Tem de ver se os que não apoiaram o Daniel [Vilela] estão satisfeitos. No momento, o partido está pacificado. Os dissidentes foram expulsos. A confraternização no encontro do MDB mostrou que o momento é de preparar o partido para o futuro.
Euler de França Belém – Em algumas cidades, o MDB se aliará ao PSDB, como em Mineiros. Como é essa formatação?
Sempre me relacionei bem com o PSDB de Aparecida, tenho grande amigos e membros no governo. O partido que está no governo é o Democrata e, teoricamente, os que fazem oposição são meio que aliados.
Euler de França Belém – O Daniel Vilela será candidato a governador em 2022?
Ainda estamos distantes. Ele é o nome que mais se destaca, mas ainda há muita coisa para acontecer.
Euler de França Belém – E em Goiânia?
O Iris será candidato à reeleição e tudo indica que será reeleito.
Euler de França Belém – O Maguito pode ser o vice?
Não acredito. Provavelmente o Iris escolherá alguém que esteja próximo ao seu governo.
Ton Paulo – Quem seria esse nome?
Confesso que não vivo Goiânia. Até tenho uma relação boa com o Iris, mas normalmente não conversamos sobre isso. E quando conversamos, ele me disse que não seria candidato. Mas, quando chegarmos próximos à eleição, ele em primeiro nas pesquisas e em condições reais de ser reeleito, acredito que ele vai, como sempre faz, ouvir a voz da população e colocar o seu nome.
Euler de França Belém – Por que o Vanderlan está tão próximo do MDB?
Nós apoiamos o Vanderlan, ele sempre teve uma relação muito próxima do Maguito. Hoje eu tenho uma relação de muita amizade com ele. O Vanderlan até deu uma declaração de que se o partido dele lançasse candidato a prefeito de Aparecida, ele estaria do meu lado, demonstrando realmente a gratidão, lealdade e compromisso que ele tem conosco.
Euler de França Belém – Um bate bola rápido. Um livro.
A Bíblia. Mas estou começando a ler agora “O fazedor de cercas”, recomendado pelo Maguito.
Euler de França Belém – Cinema.
Gosto de filmes antigos e épicos. Assisti recentemente ao “O Irlandês”, que é muito bom, tem ótimos atores.
Euler de França Belém – Música.
MPB e rock internacional. Freddie Mercury, Tom Jobim, Elis Regina.
Euler de França Belém – Um político da história brasileira que o sr. admira.
Juscelino Kubitschek.
Euler de França Belém – E de Goiás.
Para excluir [da lista] o Iris e o Maguito, gosto muito do Mauro Borges. É inegável o legado do Iris para o País. O Marconi [Perillo] é um grande político, fez algumas coisas em Goiás que até tiraram um pouco do brilho do Iris. Mas o que o Iris fez pelo País é algo que tem de ser referendado. O discurso do Iris na [campanha] Diretas Já é de arrepiar.
Euler de França Belém – A saúde de Aparecida tem melhorado e atraído gente de Goiânia.
Aparecida se tornou um polo. Talvez o mais desenvolvido do Centro-Oeste.