“Estamos tomando o remédio na hora certa e vamos tornar Goiás um Estado mais competitivo”

21 março 2015 às 09h11

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Secretário de Gestão e Planejamento admite tempos difíceis, mas diz que o governo está se preparando da maneira adequada para atravessar a crise

Thiago Peixoto (PSD) estava com tudo engatilhado para, desta vez, ficar quatro anos em Brasília. No fim do ano passado, concedeu entrevista ao Jornal Opção afirmando que seria dessa forma. Uma conversa com o governador Marconi Perillo (PSDB) o fez mudar de ideia. A reviravolta se deu em torno de um novo grande desafio, como tinha sido o anterior, frente à Secretaria de Estado da Educação (Seduc): desta vez, o mote é implantar uma nova visão de desenvolvimento em Goiás, em que a competitividade seja a referência.
“Sabemos que não teremos uma economia do tamanho da de São Paulo. Mas temos condições de ter uma economia competitiva em um Estado socialmente justo”, resume o titular da Secretaria de Gestão e Planejamento (Segplan). Ele admite que a crise vai mesmo impactar na economia goiana, mas que o ajuste fiscal está sendo na hora certa. Ele nega que haja a venda de um Estado fantasioso e garante que o governo está se adequando da maneira certa aos desafios impostos para 2015.
Euler de França Belém — Um Estado que tem um déficit mensal de R$ 147 milhões é viável?
Sim, é. Não é o valor do déficit que vai definir a viabilidade do Estado. O que estamos fazendo em Goiás não é com base no déficit que criamos, mas em um déficit que vai ser criado a partir das dificuldades financeiras por que o País está passando. A receita está caindo e nós estamos querendo evitar isso cortando custos. Agora, a política do governador Marconi Perillo vai muito além do ajuste fiscal, que é meio para gerar condições de investimento e atender, de fato, aquilo que é finalístico: educação, saúde, segurança pública, algo que de fato é responsabilidade do governo.
Euler de França Belém — Mas 2015 é um ano perdido, ou não?
De forma alguma. Dadas as circunstâncias que estamos vivendo no âmbito nacional temos a responsabilidade de arrumar a casa para continuar avançando. Passos importantes continuarão a ser dados. O governador continuar com sua agenda de inaugurações e de lançamento de projetos importantes. Enquanto isso, o ajuste vai acontecendo. Não vamos parar o Estado; pelo contrário, estamos ajustando a máquina para ele avance ainda mais rápido.
Euler de França Belém — Há uma crise nacional. Empresas estão desacelerando e não vão investir; a produção de soja deve cair no mínimo em 20%. Como Goiás pode crescer neste cenário? De onde vai tirar dinheiro?
Por isso estamos nos organizando. A economia realmente está desacelerando e em especial na área de commodities a coisa é mais séria ainda. É por saber desse cenário que o Estado está se preparando.
Euler de França Belém — Esse ajuste fiscal não chegou muito tarde?
Não, de forma alguma, está ocorrendo no momento necessário. Não se toma remédio quando não é preciso. Pelo contrário: estamos nos preparando, talvez com uma espécie de suplemento, para dias mais difíceis.
Cezar Santos — Até que ponto esse ajuste está impactando no Estado como um todo? Foi preciso parar algo por causa do ajuste?
Eu não diria que é uma questão de parar, mas de priorizar. E sempre há gordura para isso. Porém, o Estado não terá nenhum tipo de prejuízo. O que me preocupa não é o ajuste fiscal, mas a economia nacional, que tem efeitos muito fortes em todo o País e em Goiás não seria diferente. Vamos passar por momentos difíceis e isso já estava sendo anunciado há muito tempo, mas ninguém queria acreditar. E agora existe essa necessidade de fazer o ajuste para continuar a avançando.
É preciso entender o funcionamento da secretaria [de Gestão e Planejamento]. Ela tem dois braços: o de planejamento e o de gestão. A gestão é responsável por esse ajuste, corte de custeio, pela máquina. O outro braço é o que me motivou a vir para a secretaria — o de planejamento, porque é o maior desafio que nós temos: olhar para o Estado com o olhar do futuro, daquilo que deve ser priorizado para que o Estado alcance o desenvolvimento econômico e social.
Existe um conceito, que tenho discutido com o governador Marconi — e ele concorda —, que é a circunstância do nosso Estado, que tem muito potencial, mas não está entre as grandes economias do País. Muito dificilmente, no curto prazo, conseguiremos avançar no quesito “tamanho de economia”, mas temos condições de avançar muito na questão de não ser o maior Estado, mas ser o mais eficiente e mais competitivo. Hoje o meu papel é planejar os modos para que Goiás seja o Estado mais competitivo do País, entendendo que competitividade não diz respeito apenas ao aspecto empresarial, pois o Estado competitivo é aquele que tem boa educação, boa saúde, bons índices de segurança pública e baixos índices de mortalidade infantil. Ou seja, é uma série de índices. Um exemplo é a China, uma grande economia, mas que não é socialmente justa ou competitiva. E temos Cingapura, que é um país pequeno e de economia também pequena, mas que é altamente competitiva e justa do ponto de vista social. É isso o que Goiás precisa fazer e temos potencial para isso.
Elder Dias — Cingapura, então, seria uma espécie de objetivo final para Goiás?
O exemplo foi apenas para deixar mais claro onde queremos chegar. Nós não conseguimos, por exemplo, ter uma economia do tamanho da de São Paulo e nem queremos ter uma economia dessa magnitude e também os problemas que São Paulo tem. Mas temos condições de ter uma economia competitiva em um Estado socialmente justo. Esse é o foco do planejamento. E existem rankings para medir isso.
Cezar Santos — Uma questão que tem sido levantada pela oposição é que tem havido uma queda na qualidade do atendimento do Vapt Vupt. Isso procede?
O que aconteceu foi que, nesse início de ano, tivemos uma redução no horário de atendimento do Vapt Vupt, mas que gradualmente vai voltar à normalidade. Nossa expectativa é de que em maio isso já ocorra. Mas o Vapt Vupt precisa dar um passo à frente. Nesse mundo de tecnologia, precisamos ter esses serviços digitalizados e disponíveis na internet. Temos de ter terminais de autoatendimento. A visão do Vapt Vupt agora é de expansão através de novas tecnologias. E isso vai passar pela internet, de novos softwares, enfim, dar um passo à frente. Quando esse serviço nasceu, todos iam aos bancos. Hoje, os bancos se desenvolveram e raramente vamos lá. É essa etapa que o Vapt Vupt precisa viver.
Elder Dias — A Segplan e a gestão como um todo pensa em aplicativos, não só para atendimento, mas também para acompanhar o governo?
Sim. Eu conheci um terminal de autoatendimento em São Paulo chamado Poupa Tempo em que é possível fazer de tudo. É nessa linha que estamos seguindo. Aplicativos de celular, por exemplo. Não queremos aplicativos apenas para dar informações, mas para resolver problemas. O governador Marconi, que é muito atento às novas tecnologias, já determinou essas inovações e esse é o desafio para o Vapt Vupt.
Cezar Santos — Aumentar a resolutividade?
Isso, incrementar o acesso. Hoje nós temos alguns limitadores. Não temos, por exemplo, como discutir a implantação de um Vapt Vupt em cada cidade de Goiás. Isso não é sustentável. Mas podemos ter terminais de autoatendimento do Vapt Vupt em todas as cidades. Isso é possível.
Cezar Santos — E os prefeitos querem isso…
Sim. É possível ter em um espaço público, essa plataforma para facilitar o atendimento das pessoas.
Elder Dias — Quando o programa de governo foi feito, já existia a perspectiva de um cenário de crise, mas sabemos que sempre há alterações. Da eleição até hoje, o que de fato deixou de ser prioridade para o governo?
O foco de ação para o ajuste hoje é o custeio.
Elder Dias — Obras, então, não vão parar?
Não. As obras em andamento vão continuar.
Elder Dias — Então, por que algumas estão paradas? Temos, por exemplo, a obra da GO-080 com viaduto sobre a Av. Perimetral Norte parada já há várias semanas.
Eu não tenho condições de dar detalhes, mas o que posso te garantir — e tive uma conversa com o presidente da Agetop [Agência Goiana de Transportes e Obras], Jayme Rincón, e a secretária Ana Carla Costa [Fazenda], as obras do ponto de vista orçamentárias estão garantidas. Não tenho condição de pontuar obras, mas o que posso dizer é que as obras estão garantidas. O nosso corte é no custeio, por isso não há risco em paralisação de obras.
Elder Dias — E os investimentos em novas obras?
O governador está tomando um cuidado muito grande. Ele quer ter um foco agora em concluir obras. A partir do momento que fica isso ocorrer, vamos lançar novas etapas de obras.
Cezar Santos — E os concursos públicos? Sabemos que, na medida em que as demandas aumentam, o Estado tem de cuidar do pessoal, já que muitos saem e outros se aposentam. Como está a previsão para concursos para este ano?
Este ano já realizamos quatro concursos, ou seja, eles estão acontecendo. O cuidado que temos é de aprovar novos concursos dando atenção à receita do Estado. Não há nada cancelado, porém temos de observar a Lei de Responsabilidade Fiscal e não podemos colocar o Estado em uma situação complicada. O maior exemplo de que não encerramos a realização de concurso é que neste ano já foram quatro.
Elder Dias — Mas os concursos realizados foram de editais lançados no ano passado. Há previsão de lançamento de editais este ano?
Por enquanto, não.
Frederico Vitor — Voltando naquela questão de competitividade, passa pelas diretrizes de sua pasta políticas de desenvolvimento para as diferentes regiões do Estado?
Isso tem sido feito. Nada melhor do que isso quando prestamos atenção aos dados que nós temos. Por meio de análise de dados conseguimos identificar quais as dificuldades que temos em cada região e suas potencialidades. Na edição desta semana da revista “Veja”, há uma entrevista com um professor de Harvard, chamado Ricardo Haussmann, que defende uma tese sobre a complexidade econômica. Curiosamente, estive com este professor no fim do ano passado em Harvard e um aluno dele, que é goiano, está fazendo um estudo para a gente com base nesta teoria que o professor desenvolveu, sobre a complexidade econômica do Estado. Isso é exatamente mapear as regiões vendo seus potenciais e, a partir do momento que se tem os dados especiais, se lança uma política específica para aquele lugar. É uma cultura de gerar política de desenvolvimento não com base em intuição, mas em econometria, em dados. Nós vamos ter este estudo feito por esse professor com a ajuda desse aluno goiano, que será apresentado no mês de julho. Teremos então um mapa muito mais claro do que precisamos fazer, onde fazer e como fazer.
Elder Dias — A saúde em Goiás tem sido alvo de críticas, como ocorre também no Brasil inteiro. Sempre há o jogo de empurra entre Estado e municípios. Existe algo que a Segplan pode fazer para ajudar os municípios de forma a minimizar esses problemas?
A Segplan tem um papel importante de dar apoio às politicas públicas, principalmente com as outras secretarias. Na saúde, entendo que os hospitais públicos estaduais têm um alto padrão de qualidade. Isso é comprovado por qualquer um que vá hoje ao hospital, não vou nem dizer por pesquisas. Mas temos de expandir essa rede, pois essa expansão dará condição de melhora de qualidade do atendimento de saúde pública em outras regiões do Estado. Temos em estágio avançado no Norte do Estado a obra do hospital de Uruaçu. Existe, já projetado, um hospital em Valparaíso, para atender ao Entorno do Distrito Federal. Temos de garantir a boa qualidade desses hospitais concentrados na região metropolitana em outras regiões do Estado. Deixando a ideologia de lado, o sistema de OSs deu certo e o paciente teve acesso a um atendimento bem melhor do que quando era o Estado gerindo estes hospitais.
Cezar Santos — Goiás é um dos Estados que mais atraem migrantes no Brasil. Muitos vêm pela qualidade da saúde pública, o que significa que a questão tem se tornado uma bomba-relógio. Há um planejamento para lidar com esta questão?
É algo que temos de lidar, não podemos evitar isso. Claro que existe um movimento muito forte para Goiás, em especial do Norte e Nordeste para a região metropolitana de Goiânia e o Entorno. Mas estamos atentos com isso. Vamos passar a ter, como base, muita análise de dados, por isso vamos identificar de quais regiões esses migrantes estão vindo e para onde vão. A partir daí vamos fazer um planejamento sempre com base em dados.
Voltando a questão da competitividade, estamos colhendo todos os indicadores sociais e econômicos para criar um grupo muito forte para o que estamos chamando de central de resultados. Então, vamos esmiuçar os dados desses indicadores e, a partir deles, vamos implementar políticas públicas para as regiões do Estado. Essa é uma cultura nova no ponto de vista da administração pública.

Elder Dias — Seria uma coisa mais qualitativa do que quantitativa?
A palavra mestra é resultado. Resultado no aspecto social. Resultado na educação, na segurança pública, olhando lá na ponta se o serviço terá qualidade de fato. Falo isso com muita propriedade porque fiz isso com a educação no Ideb. Não chegamos a isso por acaso. Entendo que nosso Estado, temos potencial de ser referencial de qualidade em todas as áreas, não somente na educação, desde que concentremos energia no foco de se ter qualidade, não somente quantidade.
Cezar Santos — Tudo indicava que o sr. iria mesmo para a Câmara dos Deputados em Brasília. A decisão de ficar no secretariado foi por causa de um apelo do governador?
Quando estive nos Estados Unidos no ano passado, conversei com uma série de professores e economistas e tive muito certa essa visão de desenvolvimento econômico com mais complexidade econômica em um Estado mais competitivo. Assim que voltei de lá, tive uma conversa com o governador. Explanei a ele como é essa visão moderna e quanto seria importante isso acontecer em Goiás. Contei-lhe sobre o nível de detalhes, expliquei como funcionava.
Ele gostou da ideia e fomos conversar, em São Paulo, com Luiz Felipe D’Avila, do Centro de Liderança Pública (CLP). Ele faz essa ponte do Brasil com Harvard, na área de estudos; batemos um papo com ele, que fortaleceu o que eu tinha contado ao governador. Quando terminou nossa conversa, cada um mais empolgado que o outro, o governador disse: “Thiago, estou vendo que você está motivado e isso é muito bom, mas você sabe que o lugar de fazer isso é dentro do governo. Portanto, para você fazer isso acontecer, você tem de vir para o governo. Ou, então, viverá isso como expectador”. O que me trouxe, então, para o governo foi esse desafio de uma nova visão de desenvolvimento do Estado, que tem a competitividade como referência e tem novas formas de planejar, de gerar política.
Elder Dias — E tem mais alguém já realizando isso no Brasil?
Não tem e isso aumenta, ainda mais, nosso potencial. Eu diria que tem algo acontecendo no Espirito Santo e em Santa Catarina, mas longe do que queremos estipular e eu entendo que é um projeto que pode se tornar um “case” a ser olhado por todos os países. Uma coisa que faremos, já tenho isso conversado com o governador, é, depois de ter lançado esse projeto, que ele tem de ter um alcance regional. Ou seja, lançado em Goiás, o governador deve apresentá-lo aos governadores do Centro-Oeste, para não ser uma visão estadual, somente, mas ser também uma visão regional e já existe uma articulação muito forte com o apoio do ministro Mangabeira Unger, neste aspecto, que foi um dos que me empolgaram na conversa que eu tive. Ele é uma das pessoas mais articuladas que eu conheço.
Frederico Vitor — Quais as impressões do sr. sobre o momento político brasileiro? Que avaliação o sr. faz? Tivemos informações de que domingo tivemos o maior movimento depois das Diretas Já, em número de pessoas nas ruas.
Esse movimento é altamente positivo. Isso mostra uma preocupação de todo brasileiro com a política, e a politização fará com que avancemos, a cada ano, do ponto de vista democrático. São mais pessoas preocupadas com a política, mais pessoas apontando caminhos na política, apontando os problemas. Entendo que esse movimento tem de gerar outras discussões, melhorar a vida pública e política do país.
Elder Dias — Se o sr. fosse responder a mesma pergunta uma semana atrás, o sr. responderia algo diferente? Mudou alguma coisa depois de 15 de março?
Vem mudando muita coisa, mas, sem dúvida, 15 de março de 2015 foi um marco. Dois milhões de brasileiros foram às ruas, por questões políticas, com diversas bandeiras. Para mim, homem público, isso desperta muita curiosidade. Mas é precipitado tirar conclusões. É cedo para dizermos algo.
Elder Dias — Sairá reforma política, desta vez?
Vi a declaração do vice-presidente Michel Temer, que é presidente do PMDB, já com proposta clara de reforma política. Eu gostei, pois foi bem objetivo e relativo a coisas plausíveis. Quanto ao voto distrital puro, por exemplo, acho justo. Quantas vezes não somos questionados pelo candidato proporcional que teve mais votos do que outro e não foi eleito? Essa é uma pauta que o brasileiro, de modo geral, concordaria com ela. Outro aspecto que também fortalece os partidos é o fim das coligações proporcionais. E tem um até mais polêmico que é o financiamento privado de campanha. Não sei se o privado é o ideal, mas garanto que o público não é correto. No momento em que o Brasil se movimenta pelo gasto eficiente, pela boa aplicação de recurso, fala em gasto de dinheiro público com campanha?
Elder Dias — Mas não é um gasto eficiente para evitar outro gasto, com pagamento de propina, como tem havido?
Do meu ponto de vista, é necessária a existência de leis rígidas e claras e de punição para o que estiver errado. Para mim, o problema não é o financiamento privado. O problema é quando ele acontece de forma irregular e a punição não vem. Essa é minha opinião, somente e esse é um tema polêmico. Mas o público não acho que seja a solução.
Elder Dias — Então, o sr. está com o PMDB?
A minha análise não é de onde partiu; é no mérito. E, no mérito, estou de acordo com a proposta que Michel Temer apresentou. Muitas vezes surgem ideias boas e, por preconceito de onde partiu, acabam recusando. E não quero fazer isso.
Cezar Santos — O sr. percebe a presidente Dilma isolada neste momento, politicamente?
A presidente Dilma é e está isolada. Ela tem uma forma de gestão e de governar o País que é isolado. Ela tem diálogo com poucas pessoas. O estilo dela é esse. Pense você, ser responsável pelo Brasil e ter diálogo com dez pessoas; será que ela conversa com dez pessoas no Brasil, hoje? Isso sim é preocupante, afinal, o papel público que um governante tem de ter é essa capacidade de diálogo e ela tem uma dificuldade muito grande com isso, que acaba atrapalhando muitas coisas.
Elder Dias — Quando falamos de financiamento privado, não falamos também de uma distorção a favor de alguém que tenha mais capacidade de captar recursos, já que o financiamento abre mão da lista partidária?
A lista é absurda, uma loucura, eu nem consigo imaginar uma situação dessas.
Elder Dias — Então, sempre haverá o benefício para quem tem mais dinheiro?
Com a lista, o cacife político e quem vai definir a lista de quem você irá votar. Isso não é democrático. Não mesmo.
Euler de França Belém — O sr. acha que a situação de Goiás não é bem pior da que vem sendo anunciada?
Não, não acho que seja bem pior.
“É totalmente razoável ver Marconi como nome nacional”
Euler de França Belém — Sim, Goiás vem de uma dívida, de um ano para o outro, monstruosa e não tem como pegar mais recursos este ano. A situação não é muito ruim?
Não. A situação é de responsabilidade, entendendo o cenário econômico, as diversas crises que o país está passando, inclusive política; Goiás, por ser um Estado que planeja, pensa, que tem um líder forte, está se preparando para isso. Seria irresponsabilidade nossa não nos prepararmos.
Euler de França Belém — Existem duas coisas: um discurso público, da base do governo; e outra privada, falando que o governador se isolou e não atende às pessoas.
O governador, nesta quarta-feira, 18, recebeu e conversou com 120 prefeitos. Ele os atendeu, dialogou com todos. Ou seja, um governador que tem diálogo com essa quantidade de prefeitos não está isolado.
Euler de França Belém — O governo está repassando o dinheiro da saúde para os municípios?
Eu não tenho a informação que não esteja. Eu não tenho como confrontar isso. Usando o caso dos prefeitos, eles vão em busca de apoio com diversas demandas. O governador atende algumas, outras não é possível. É assim que se governa.

Euler de França Belém — O deputado Jovair Arantes (PTB) anunciou, publicamente, que se sente abandonado pelo governador Marconi Perillo.
Eu não tenho nada para comentar do deputado Jovair Arantes. Eu converso com ele sempre e não acho que ele esteja abandonado.
Euler de França Belém — Suas bases não estão pressionando o sr.? Todo deputado com quem eu converso fala que as bases estão pressionando demais.
Não. Eu não faço política com base em cargos, não é meu jeito de conduzir processos e sentir pressão, sinceramente, não sou pautado por isso. Existe demanda, mas não acho que seja papel de deputado arrumar cargos.
Euler de França Belém — Têm alguns que falam que os companheiros estão abandonados. O sr. não percebe isso?
Não, não percebo e, sinceramente, eu acho que isso é limitar o papel do parlamentar, do homem público. Pois, se você for deputado para arrumar cargo para alguém, você não deveria ser deputado.
Euler de França Belém — O governador Marconi Perillo é de um Estado sem muito peso político. Ele tem dimensão hoje de um político nacional? Ele já deu ou pode dar um pulo para se tornar um político nacional?
Marconi tem currículo para isso, com a história que construiu. Mas é um processo difícil, não é fácil. Mas ele tem dimensão nacional.
Euler de França Belém — O que pode transformar Goiás em sucesso nacional, algo que não seja uma Shangri-lá?
O Estado de Goiás ser o mais competitivo do Brasil, como já falamos aqui. Um Estado com qualidade. Se conseguirmos esse diferencial no foco da qualidade, não da quantidade, é algo para ser destaque nacional.
Euler de França Belém — Marconi quer disputar um mandato nacional. No PSDB, entretanto, haverá provavelmente Aécio Neves de novo em 2018. É isso mesmo: o candidato tende a ser Aécio?
Eu acho que tende a ser, mas não há nada de definitivo. Fala-se também de Geraldo Alckmin [governador de São Paulo], falava-se de Beto Richa [governador do Paraná] até pouco tempo, mas ninguém fala mais. A dinâmica da política é grande. Ninguém sabe como será daqui a três anos. Mas não vejo o governador Marconi com nenhuma obsessão em ser candidato a presidente. Só que um líder que foi quatro vezes eleito a governador, assim como foi senador, deputado federal e deputado estadual não pode não ser um nome descartado para governar o Brasil. É totalmente razoável pensar isso.
Euler de França Belém — José Eliton (PP), como vice-governador, tem uma candidatura natural à sucessão de Marconi em 2018. Mas o economista, ex-secretário e hoje deputado federal Giuseppe Vecci (PSDB), com uma folha de serviços prestados ao Estado, também coloca seu nome. Como o sr. vê o cenário da base aliada para 2018?
Existe, sim, candidaturas naturais. No caso, a de José Eliton. Mas natural não significa automática. É preciso construir o processo. Para a próxima eleição teremos um processo bem diferente da última eleição, na qual Marconi Perillo já possuía um histórico e uma liderança muito clara diante de todos os partidos. O vice-governador é um candidato natural, mas é precipitado falar desse processo agora, já que não existe nada automático, vai tudo ocorrer em cada partido, no PP, que é o partido dele, no PSDB, no PSD, no PTB, no PR. Só que esse não tem sido um assunto da pauta atual.
Já Giuseppe Vecci tem história no Estado, serviços prestados e, agora, um crédito muito forte do ponto de vista eleitoral. Quem o conhece sabe que ele fará um ótimo mandato. Mas também nunca o vi se colocar como candidato; pelo contrário, eu o vi citar José Eliton como natural candidato ao governo. Só que na política nem sempre o que é natural acontece.
Euler de França Belém — E o secretário de Cidades e Meio Ambiente, Vilmar Rocha, será de novo candidato ao Senado?
É o meu nome ao Senado. Não temos condições de definir isso agora, mas é o nome que eu defendo, seja para o Senado como para o governo, enfim, para sempre uma posição de destaque.
Euler de França Belém — O sr. enfatiza diversos nomes para a sucessão na Prefeitura de Goiânia, mas nunca coloca o seu próprio nome no jogo. Por quê?
Eu tenho um problema sério: sou sempre focado nas missões que tenho. O que me motivou a vir para o governo foi esse desafio de promover um desenvolvimento diferenciado. Isso vai exigir dedicação exclusiva de minha parte e não cabe uma eleição no meio desse processo. Não é que eu não queira ser candidato, mas é que não tenho como. Não coloco minhas ambições à frente dos projetos de Estado.
Euler de França Belém — Por que Jayme Rincón recuou na pré-candidatura?
Houve uma coisa interessante. Até a semana passada tínhamos muitos candidatos do PSDB à Prefeitura: os deputados federais Fábio Sousa, Giuseppe Vecci e Waldir Soares, além do próprio Jayme. Quando este retirou sua postulação, os outros fizeram o mesmo. Foi no mínimo curioso.
Euler de França Belém — Por que Iris Rezende (PMDB) continua tão forte? Em uma pesquisa recente, ele apareceu novamente liderando a sucessão municipal, seguido de Vanderlan Cardoso, Waldir Soares e, fechando a lista, Jayme Rincón.
Iris é um homem público com história e realizações. Foi um bom prefeito de Goiânia e está sempre participando de eleições majoritárias. Por tudo isso, é natural que seu nome sempre apareça de forma clara. Mas há também outro lado: ele tem uma visão de poder público que não cabe mais. Sua visão de cidade e Estado não é da que nós queremos ou precisamos hoje. Mas ele tem história, é fato. Ele seria um bom prefeito em 2005, mas já se passaram dez anos.
Euler de França Belém — Vanderlan Cardoso começa a conversar com a base do governo. Como o sr. vê essa aproximação?
Penso que Vanderlan é um candidato forte, com facilidade de recall por ter sido candidato a governador duas vezes. Tem histórico por conta de sua gestão em Senador Canedo. O que lhe falta, em meu ponto de vista, é saber o que ele pensa sobre Goiânia, sobre transporte, sobre meio ambiente. Seu conteúdo para mim ainda é neutro nesse aspecto.
Elder Dias — Goiás tem o maior Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] do ensino médio do País e até poderia investir mais na divulgação disso. E foram mesmo muitos os avanços nessa área nos últimos anos. Como ex-secretário da Educação, com passagem muito elogiada, e estudioso dessa área, como o sr. avalia o fato de a pasta chamar professores para trabalhar 40 horas semanais por um salário de R$ 1,3 mil mensais? Isso não fica como uma antipropaganda em relação aos índices que o governo Marconi vem atingindo na educação?
Primeiro, tenho uma visão educacional de que não se pode limitar a questão ao professor, que é parte fundamental no processo, mas é preciso ter um olhar especial para o aluno. Eu me bato sempre nisso. Com relação à remuneração do professor, é um consenso nacional, e não só em Goiás, de que o professor merece e deveria receber mais do que recebe. Ele não recebe mais hoje por limitações financeiras do poder público. Faltam fontes de financiamento para isso.
Em minha opinião, professor deveria sim receber bem melhor que recebe. Só que eu, mais do que ninguém, como ex-secretário e que conhece a realidade, sei que isso não depende simplesmente de vontade, isso depende de recursos. Hoje, nacionalmente, não há uma política de financiamento da educação básica no Brasil, que dê condições para os Estados, nenhum Estado, pagar aquilo que o professor precisa. Ou mudamos esse processo com uma medida nacional, ou vamos continuar, infelizmente, vivendo essa realidade não por vontade, mas pelos recursos escassos que temos.
Outra coisa importante, eu como ex-secretário da pasta, sempre dentro do orçamento que tínhamos, estabelecia-se prioridades de negociação de salários, etc. Isso dentro do orçamento que estabelece 25% de mínimo de gasto com a Educação. Acho que a atual secretária, Raquel Teixeira, vai ter esse mesmo comportamento: dentro daquilo que ela tem de orçamento, vai estabelecer e cumprir prioridades. E ela já tem dito de forma muito clara o compromisso que tem com os professores.
Elder Dias — O pessoal tem dito que essa contratação agora é o Simve [Serviço de Interesse Militar Voluntário Estadual, que permite contratação de pessoal temporário para a segurança pública] da Educação.
Não, essa contratação na Educação é rotineira, acontece em todos os municípios e em todos os Estados, eu não diria que é uma nova política. Nesta semana aconteceu um processo de seleção de professores de contrato temporário, não é uma política estabelecida. Houve um corte muito grande de contratos, e a secretaria está se organizando nesse aspecto. Esses contratos, inclusive, não são novos, são renovações. Existiam antes, os contratos venceram, os professores tiveram de sair, novos professores vão entrar e tem de haver um processo de seleção.
Elder Dias — Em suma, o governo estadual hoje depende de uma ação política do governo federal em relação à Educação?
Eu não diria que é o governo estadual, é a educação brasileira que depende de financiamento e esse financiamento hoje deve partir do governo federal, que concentra a maior parte dos recursos. Existe um desequilíbrio do ponto de vista educacional, com o governo federal gastando mais com a educação superior do que com a educação básica. Essa é uma realidade não só de Goiás, mas de todo o Brasil. É preciso estabelecer um debate de fato de priorizar a educação básica, e o ministro da Educação, Cid Gomes [a entrevista foi concedida cerca de uma hora antes da demissão do ministro], vem falando nisso. A questão passa pelo financiamento.
Cezar Santos — Como ficou a questão dos royalties do petróleo, acenado como solução para Educação, para a Saúde?
Havia uma esperança muito grande com relação aos royalties do petróleo, eu mesmo votei a lei no Congresso, mas essa divisão ainda não começou, porque o Estado do Rio de Janeiro, que mais tinha royalties, entrou com uma ação através de liminar e ganhou, impedindo essa divisão com os outros Estados. Os royalties seriam uma solução para o financiamento educacional no Brasil, mas a lei está barrada judicialmente. Enquanto não houver solução, vai ficar difícil.
Cezar Santos — Essa inversão de prioridade à qual o sr. se refere, não reflete a decaída da Educação brasileira nos índices internacionais nos últimos anos?
Eu diria que a Educação brasileira vem avançando, se tomarmos todos os índices de medição, seja o Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Alunos], que é internacional, seja o Ideb, que é nacional, sejam os índices regionais, se vê um avanço. Mas ela não está avançando no ritmo que precisamos, ou seja, está aquém do potencial do País. É preciso que haja políticas sérias e financiamento. E, além disso, entendo que há uma má distribuição na própria educação. Há mais recursos para curso superior, com muito menos alunos, do que para a educação básica. Não defendo menos recursos para o ensino superior, mas sim o equilíbrio proporcional, o que não acontece.
Cezar Santos — Por que não acontece?
Há um lobby positivo, por assim dizer, das universidades, dos reitores, das entidades de professores, isso é natural. Aí falta uma atenção básica para a educação básica, repito.
Euler de França Belém — Então o ex-ministro Cid Gomes está certo?
Está certo. Com relação à educação básica, entendo que ele tenha a visão correta e tem resultados para mostrar nessa área no Ceará, onde houve grandes avanços, não só como governador, mas também quando ele foi prefeito de Sobral.
Euler de França Belém — O que ele fez como gestor no Ceará?
Ele gerou equidade educacional entre os municípios. No Ceará, existe o ICMS educacional, em que parte desse imposto é distribuído de acordo com metas e resultados dos municípios com o Ministério da Educação. Município que faz esforço, cumpre metas e atinge resultados educacionais tem mais participação. É uma ação muito interessante.
Outro programa muito forte que Cid fez lá foi o de alfabetização, iniciado quando ainda era prefeito de Sobral e que ganhou dimensão em todo o Estado. O governo federal fez algo muito próximo, basicamente um benchmarking [processo de busca das melhores práticas numa determinada indústria e que conduzem ao desempenho superior], uma cópia do programa do Ceará. Só que uma cópia mal implementada, o modelo é esse, mas houve equívoco na implantação.
Frederico Vitor — O projeto de Cid Gomes de mudança no currículo do ensino médio é interessante?
Nós fizemos isso aqui em Goiás e foi uma experiência muito positiva. É um absurdo pensar que em cada sala de aula o aluno tem conteúdos diferentes. Não estou falando em escolas em regiões distintas, mas de salas de aula na mesma unidade de ensino. Alunos do 9º ano A e do 9º ano B têm acesso a conteúdos diferentes de matemática, por exemplo. Nacionalmente é assim.
Aqui em Goiás, tivemos o projeto do currículo único, feito também por outros Estados e que ganha projeção nacional. Hoje há a discussão da base nacional comum e eu inclusive fazia fazer parte desse grupo, cujos estudos são financiados pela Fundação Lemann [organização sem fins lucrativos fundada pelo empresário brasileiro Jorge Paulo Lemann, em 2002, que busca contribuir para que cada aluno tenha acesso a educação de qualidade], que defende o currículo mínimo unificado nacionalmente. Claro que vai ter margem para que regionalmente se incluam as necessidades locais, mas na matemática, na língua portuguesa, na física, têm-se os conceitos básicos que são padrões no mundo todo, não só no Brasil.
Euler de França Belém — A secretária Raquel Teixeira está dando continuidade ao seu trabalho? O projeto do governador de colocar organizações sociais (OSs) na Educação não é uma mudança geral na área?
A professora Raquel tem o desafio de manter a qualidade que nós atingimos. Isso não é minha opinião, é um dado. Goiás hoje, no ensino fundamental, é o segundo em qualidade no País, e no ensino médio é o primeiro. Isso é um grande desafio e aí ela deve manter o que deu certo e corrigir os equívocos que ocorreram em qualquer processo. Na manutenção do que estava correto, ela tem assumido compromissos.
Por exemplo, no currículo, de que já falamos aqui. A rede continua adotando o currículo unificado e isso é manutenção do projeto anterior. Também em relação aos instrutores pedagógicos, com o processo de seleção de diretores e a capacitação deles. Ela vem mantendo essa linha. O que não deu certo tem de ser alterado.
Euler de França Belém — O sr. é favorável às OSs na Educação?
Sou a favor. Não tenho como falar da experiência que vai se adotada aqui, porque quem vem liderando isso é a professora Raquel. Mas há um modelo educacional básico no Brasil que não vem dando certo e novas políticas são altamente positivas. Esse modelo de OS pode ser implementado de forma gradual e dar resultados importantes no Estado. Agora, qual é esse modelo? Isso está sendo pensado e discutido. Não está pronto, até onde eu sei.