Sócio-fundador da Tendências Consultoria Integrada afirma que Brasil precisa se mexer para fugir de um cenário de queda de confiança dos investidores e aumento do risco para a economia

Nathan Blanche, empresário do mercado financeiro | Foto: Divulgação

Sócio-fundador da Tendências Consultoria Integrada, o empresário do mercado financeiro Nathan Blanche é uma das grandes autoridades do Brasil quando o assunto é mercado de câmbio e mercados futuros. Blanche analisa a realidade econômica brasileira com preocupação. “Ter uma queda na bolsa de 14,5% em um dia, com o prêmio de risco subir da forma como subiu. É o mundo que está desabando.”

Apesar de o Brasil estar inserido no momento complicado da economia mundial pelos desdobramentos da pandemia da Covid-19, o sócio-fundador da Tendências alerta que o momento nacional é um pouco mais grave por todas as incertezas. “Em uma situação como essa [crescimento dos casos confirmados de Covid-19], ver gente nas ruas em passeatas clamando contra instituições democráticas e o presidente apoia as manifestações…”

O que nós podemos dizer sobre a situação do Brasil neste momento na economia?
O grande sinal para chamar atenção à responsabilidade do governo, tanto do Executivo quanto do Legislativo, é o de que é preciso balançar a rede. É preciso sair da rotina. Estamos em uma crise muito séria. Não é uma guerra, mas pode trazer efeitos igual aos de uma guerra.

Ter uma queda na bolsa de 14,5% em um dia, com o prêmio de risco subir da forma como subiu. É o mundo que está desabando. Não é só o Brasil. Aqui, a situação é um pouco mais grave por causa das incertezas que temos em relação ao futuro do País.

Antes do carnaval, tivemos o resultado do PIB de 2019 em 1,1%. Ficou um pouco abaixo do que se esperava, mas com algum crescimento. Como o sr. avalia esse resultado, que inclui a situação de retração na indústria? Era o primeiro sinal de preocupação para o País?
Aquele era o primeiro grande e grave sinal. Foi quando o prêmio de risco saiu de 94 para 360. Mais de 300 pontos em um só dia. Não foi um abalo sísmico o que houve. Mas se você acumula incerteza em uma crise como essa, o flight-to-quality é seguramente potencializado muitas vezes. A moeda representa a segurança de um país, depende da circunstância política, institucional e da economia.

Do jeito que a economia está, o que ocorreu nas últimas três semanas foi gravíssimo. E surgiu com a sensação interna. Em uma situação como essa [crescimento dos casos confirmados de Covid-19], ver gente nas ruas em passeatas clamando contra instituições democráticas e o presidente apoia as manifestações… O presidente tem conduzido a economia, a gestão fiscal, com muita responsabilidade através de uma equipe competente.

Mas, do ponto de vista político, apesar de ter feito uma grande diferença, que foi terminar com as coalizões realizadas em 130 anos de república, o chamado presidencialismo de coalizão. Roberto Campos chamou isso em 1988 de “é dando que se recebe”. De fato se partilhava o bolo entre os partidos que lideravam as pesquisas pré-eleitorais e se firmava uma garantia de aprovação de medidas e um programa.

Agora não. E talvez por causa da incerteza na condução da política, se aprovou a Reforma da Previdência. Será que depois de aumentar o prêmio de risco em 300 pontos básicos. E hoje ninguém fala mais em crescimento de 1,1% [no final da semana passada, a previsão de crescimento do PIB brasileiro foi rebaixada para 0,02% em 2020]. Tem muita previsão de recessão.

É que o crescimento de 1,1% foi o registrado no ano passado.
Foi. A Tendências colocava no início do ano uma previsão de crescimento do PIB de 2,1%. E o governo com 2,4% a 2,5%. Agora desabou. Tem gente que já prevê recessão. Com certeza, Banco Central e governo federal estão conscientes do que vai ocorrer a arrecadação. A queda da arrecadação será monumental. E o desequilíbrio fiscal. Vejo a declaração de estado de calamidade muito mais ligada à situação econômica, não só à saúde.

Inclusive o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou nos últimos dias um pacote de medidas para tentar socorrer a necessidade de investimentos públicos e manter a inciativa privada com seus negócios abertos. A previsão é de graves impactos na economia com a paralisação de muitas atividades a partir do crescimento de casos acima dos mil confirmados com Covid-19. São medidas analisadas como necessárias?
São medidas muito necessárias e na direção correta. Não há emissão de dívida. Estava antecipando gastos que já estavam no orçamento, como 13º salário, FGTS, PIS/Cofins. Exatamente para a população mais carente com incentivo via consumo, o que é muito positivo. Sem pressionar, como historicamente estávamos acostumados a métodos de expansão monetária baseados em aplicação da dívida fiscal do País.

Não foi emitido dinheiro. Não foi o BNDES, não foi o Banco do Brasil. Não foi o que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) fez, por exemplo, na crise depois de 2008. Dilma subsidiou caminhões, moradias. Deu um baita incentivo à economia. Vendeu quase R$ 500 bilhões de câmbio futuro. Foi um desespero! Isso foi destrutivo para o equilíbrio das contas públicas. Vemos o risco de insolvência fiscal que o País tem dado nas três esferas de governo: federal, estadual e municipal.

Qual é o impacto do momento econômico da China, com queda em todos os indicadores, da produção às importações, que já traz impactos para o Brasil e Goiás, que reduziram muito as exportações para os chineses?
É uma recessão mundial. Não acredito que seja uma recessão mundial de longo prazo. Afeta no curtíssimo prazo as expectativas dos mercados financeiros. Os mercados globalizados têm uma velocidade enorme de reação. E há o movimento em cascata. Muito mais do que há 5, 10, 20 anos atrás. Antes não havia todos os meios de comunicação de hoje nem operações financeiras tão rápidas quanto hoje. Hoje os agentes de comércio exterior vendem soja futuro.

Nunca antes na história deste país, houve uma queda da avaliação no risco-país de 300% em três semanas. Era menos de cem. Na quarta-feira, 18, ultrapassou 300 pontos básicos. As reações são muito fortes e velozes. Quando há uma insegurança do tamanho que têm os agentes, não só locais, mas também os internacionais, quem vai investir? Qual é a segurança de consumir hoje no Brasil?

Como você vai se endividar? Receber dinheiro antecipado é bem-vindo. O pacote de incentivo às atividades proposto pelo Ministério da Economia tem medidas muito construtivas.

No Brasil e no mundo todo, várias medidas restritivas têm sido adotadas, com o fechamento de diversas atividades comerciais. É possível imaginar o tamanho do impacto financeiro de lojas de diversas áreas fechadas?
O impacto para as pessoas é muito mais emocional do que real na economia. Porque as empresas nas quais as pessoas não vão trabalhar e diminuem o consumo continuam tendo despesas, como o pagamento de água, luz, salários, sem receitas. As pessoas estão trabalhando de maneira remota, inclusive bancos.

Tem muita empresa com atividade real que está pagando salário, impostos, sem gerar receita. São empresas que estão fadadas a quebrar. Depende de quando tempo isso vai durar para que afete diretamente o nível de atividade e a saúde da economia nacional.

Manter despesas e perder receitas gera um desequilíbrio tremendo entre fontes e usos quando as pessoas estão paralisadas. O transporte público está perdendo 50% de suas receitas.

A situação é grave no Brasil inteiro. Mas quem deve sofrer mais com essa situação é São Paulo pelo alto nível de serviços e pessoas. São Paulo é o maior exportador de produtos e serviços do País.

O governador João Dória (PSDB) demorou a tomar medidas para tentar conter o avanço do novo coronavírus no Estado?
Em geral, os políticos são políticos e não economistas. Donald Trump [presidente dos Estados Unidos] Também disse que não era nada. Bolsonaro também não disse que o povo estava fazendo alarde? O político, no geral, quer amenizar o impacto. Mas acaba atendendo a realidade econômica, a necessidade da sociedade.

Não é tardia. É uma reação natural. Se pegarmos a gripe espanhola, que matou milhões de pessoas, a propagação veio lentamente porque não havia este intercâmbio internacional de mercados e serviços entre países. O mundo estava se tornando uma montadora de eficiências. Toda a produtividade ficará interrompida. Não tem avião, navio, foi produzido o turismo.

No Brasil, já começamos a ver o impacto no transporte de mercadorias e passageiros com cancelamentos de voos. Vimos o pedido do presidente Jair Bolsonaro de fechamento das fronteiras brasileiras. É possível imaginar o impacto para o escoamento do produtos?
Não há condições de saber qual será o resultado sem ter um horizonte probabilístico. Quem ia esperar que o Banco Central ficaria sem ferramentas para elaborar a política monetária? O IBGE anunciou que vai parar as pesquisas. Se não se sabe o preço, não se define o IPCA. Sem dados, não há como alimentar o modelo de projeções de inflação.

Quanto tempo o levantamento de dados estatísticos para dar base ao mercado demora para ser reorganizado?
Depende. Se ficarmos 30 dias sem dados, teremos a volta das pessoas ao trabalho e depois mais 20 dias no máximo para rodar os modelos econométricos de projeção. Mas sem dados não há muito o que fazer.

Antes da pandemia do novo coronavírus, a desvalorização do real já era a maior entre todas as outras moedas mundiais. O que levou a essa desvalorização do real?
O real é uma moeda muito determinada pelo valor das commodities. É muito ligado ao preço de básicos. O saldo comercial positivo de commodities de US$ 100 bilhões, com US$ 80 bilhões do agronegócio e US$ 20 bilhões do minério de ferro. O mundo se move de expectativas.

Já no fim do ano passado, sentimos a saída de investimentos do Brasil. O primeiro sinal sentido foi a enorme queda da taxa de juros no País. A deflação foi monumental.

“Um esteio de segurança para os agentes econômicos hoje chama-se Mansueto Almeida”

“Tem gente equilibrada, responsável, tanto no Congresso, quanto no Ministério da Economia e no Banco Central. Mansueto, para mim, é a pessoa ideal, que tem toda confiança e credibilidade para coordenar esse movimento. Mansueto é um grande profissional, grande servidor público” | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Houve uma divisão na análise sobre a queda de juros em 2019 no Brasil. Alguns analistas comemoraram e outros viram um sinal de alerta na economia. Que cenário a taxa de juros tão baixa representa?
Política monetária não é injeção na veia. O efeito da política monetária é ao longo do tempo. A economia tem uma curva-termo, que, ao longo do tempo, você pega financiamento tanto para consumir quanto para produzir. A reação não é tão rápida na economia real. Só quando se tem um choque de expectativa como estamos tendo agora.

Há uma precipitação das pessoas em dizer que o Copom [Comitê de Política Monetária] precisa abaixar a inflação para até 3,25%, de até 0,75 ponto para os anteriores 4,25% [reduzida para 3,75%]. É preciso muita calma nessa hora. O câmbio já influenciou os preços no atacado [Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M)], que subiram no mês passado quase 1%.

Chegar a uma inflação anula de 3,5% ou 3,6%, é uma mudança de quase 30% em uma semana. Portanto, o Banco Central tem de ser cauteloso – e o Banco Central é cauteloso -, não opera mercado de curtíssimo prazo. Opera uma trajetória de política monetária de médio e longo prazos. E é isso que ocorre na economia real.

Quando se faz uma mudança na política monetária, a alteração vai ser dar durante o médio prazo. Os que se precipitam para acertar ou errar, se precipitam. Estava em 4,25% a taxa básica de juros (Selic). Baixar agora para 3,75% é precipitado. É precipitado baixar 0,5%. Porque mal fez efeito a queda anterior.

Em menos de seis meses atrás, a taxa de juros anual era de 6,5%. É uma brutal mudança de política monetária. Esse canal fica infelizmente impedido, porque não adianta abaixar a taxa de juros que não corresponda à oferta dos bancos privados. Talvez através do BNDES e do Banco do Brasil, as taxas de juros possam ser manipuladas por conta do Tesouro, que paga a conta.

Mas em uma situação de incerteza, no nível de atividade atual, não adianta baixar muito a taxa de juros, porque esse canal de política monetária está interrompido por causa das incertezas. Se você tiver R$ 1 milhão no banco, certamente o banco lhe emprestará fácil R$ 300 mil com uma taxa preferencial. Mas, em geral, as pessoas vão ao banco para financiar sua produção. É um financiamento de médio prazo. Não só de capital de giro.

Uma discussão que tem sido feita é a do alongamento de prazos de parcelas de financiamentos e dívidas para que empresas consigam sobreviver à crise com as medidas restritivas de funcionamento. O que os bancos privados podem fazer para tentar ajudar nesse momento de dificuldade?
O mercado só tem uma incerteza: chama-se incerteza. Os canais estão obstruídos. Não adianta querem injetar dinheiro subsidiado a zero ou não levar em conta a solvência da pessoa ou da empresa. Isso é muito arriscado. Isso quem pode fazer é governo. Não a iniciativa privada, porque o seu dinheiro está em um banco. E ele tem de preservar isso, tem passivo, empresta dinheiro que capta.

Vamos ser responsáveis. Do ponto de vista institucional, é preciso que se reúnam o Executivo e o Legislativo para chegar a um acordo, principalmente agora, para que o decreto de calamidade pública seja discutido de forma responsável, sem medidas não expansionistas, não populistas, como de costume, que promoviam voo de galinha através do BNDES e outras fontes. Mas que correspondam às expectativas da sociedade, que deem segurança institucional.

A equipe do Banco Central é muito boa, responsável, com quadro que tem formação acadêmica muito boa, mas com experiência de mercado. Conheço pessoalmente a competência dos funcionários do Banco Central. Assino embaixo, dou aval, como consultor, empresário e cidadão.

Um dos motivos que foram para a rua no dia 15 de março foram os R$ 80 bilhões a mais que o Congresso queria a mais para este ano. Os parlamentares queriam R$ 30 bilhões para emendas, mais R$ 20 bilhões. Se somarmos com o ganho de causa no INSS às pessoas recebem abaixo do salário mínimo a nível de miséria, era um custo de mais R$ 20 bilhões na veia.

A frustração de arrecadação do PIB decorrente da já esperada queda com os impostos impacta em pelo menos R$ 20 bilhões. A queda de R$ 15 bilhões dos royalties do petróleo. Eram R$ 80 bilhões a menos que o Congresso exigia. Não era só o Congresso, a realidade representava um orçamento no qual estavam previstos R$ 120 bilhões de déficit autorizado a ser gasto pela regra de ouro.

O pessoal mais agressivo de direita que foi às ruas estava contra a suposta chantagem do Congresso em um momento tão difícil que o País passa.

Vimos em alguns momentos o presidente Jair Bolsonaro dar um ultimato ao ministro Paulo Guedes. Esse tipo de comunicação é necessária ou prejudica? Cabem críticas ao trabalho do Paulo Guedes?
Um esteio de segurança para mim e os agentes econômicos hoje chama-se Mansueto Almeida [Secretaria do Tesouro Nacional]. Paulo Guedes e toda a equipe econômica é muito competente. Do ponto de vista político, Guedes atropela com frases desnecessárias e comentários desnecessários. Mas a atitude nos fez chegar a uma inflação equilibrada, uma taxa de juros que permite o crescimento. Faltam só o equilíbrio fiscal e as medidas mais duradouras.

O presidente fala, às vezes voluntariamente, até com certa irresponsabilidade. Mas as atitudes do governo têm sido corretas. A condução política tem sido um desastre. Pra que esse falatório à toa? Presidente da República não diz se vai ou não ter jogo de futebol. Não se mete em coisas que não são necessárias. Sem o lastro da equipe econômica, a fragilidade aumenta. A liderança do presidente vai zero. Se a equipe econômica cair, o dólar sobe para R$ 7.

Os secretários estaduais de Fazenda e Economia emitiram uma lista de sete medidas a serem adotadas durante a crise da Covid-19. Entre os pedidos ao governo nacional estão o pedido de aprovação imediata do Plano Mansueto [Plano de Equilíbrio Fiscal], liberação de novas linhas de crédito do BNDES…
Se os R$ 70 bilhões fossem para dar crédito subsidiado como no passado, seria uma calamidade pública. Mas usar, dentro dos planos emergenciais, para incentivar o nível de atividade de maneira sustentável, sem falsificar moeda, sem voos de galinha irresponsáveis, sou totalmente a favor.

É um pacote que preserva o equilíbrio fiscal e está dentro da racionalidade econômica do País. Se sentarem hoje em uma comissão emergencial mista representantes do Congresso e do Executivo, sairão medidas racionais de gente competente que não pretende só se eleger na próxima eleição. Merecem a confiança do brasileiro, porque têm capacidade de elaborar medidas cabíveis para minimizar o quanto puder o impacto da crise.

A última das medidas definidas pelos secretários estaduais era um pedidos para que o governo federal reduzisse as metas de superávit primário para não reduzir os recursos aplicados no SUS [Sistema Único de Saúde], porque sabe-se que muitas pessoas procurarão atendimento nos hospitais públicos com casos de Covid-19. Há quem defenda a quebra da Emenda Constitucional número 95, que institui o teto de gastos. Como o sr. avalia a possibilidade de o teto de gastos ser derrubado?
Não precisa de modificar a regra de ouro nem o teto de gastos. Porque o pacote é projeto de lei ordinária, com medidas emergenciais, e pode ser votado a qualquer momento. É constitucional. A Lei de Responsabilidade Fiscal permite que, em casos extremos de crises agudas, o Congresso aprove tais medidas com 51% dos votos. Sou totalmente favorável. É humano e cabível aprovar um pacote de medidas emergenciais. Mas que seja compatível com as necessidade. Não com exageros ideológicos e não reais.

Tem gente equilibrada, responsável, tanto no Congresso, quanto no Ministério da Economia e no Banco Central. Mansueto, para mim, é a pessoa ideal, que tem toda confiança e credibilidade para coordenar esse movimento. Mansueto é um grande profissional, grande servidor público.

A Secretaria do Tesouro Nacional, na opinião do sr., está entregue em boas mãos?
Sem dúvida. Cheguei a ouvir boatos de que Mansueto queria deixar o governo e ir para a iniciativa privada. É mentira. Mansueto é um sujeito muito responsável, muito competente. Queriam retomar o impostos sobre movimentações financeiras. Mansueto foi contra.

Não trabalha com coisas fáceis, é muito racional. Um grande economista. Principalmente de uma personalidade e de uma estabilidade emocional com as quais podemos ficar tranquilos. E precisamos de pessoas com o equilíbrio que Mansueto tem.

O sr. comentou que as pessoas estão abaladas, preocupadas e até em pânico extremo com a situação que estamos vivendo com o novo coronavírus, tanto pela questão de saúde quanto por causa da economia. É possível acreditar que vamos superar esse momento e ter condição de recuperar a economia brasileira ou é preciso manter os pés no chão?
Não. É igual dose de antibiótico. Se tomar demais mata. É preciso ser profissional, ter sentido de emergência. Se você bater o carro e tiver gente sangrando, tem de estancar para que dê a possibilidade de chegar ao hospital mais próximo e fazer uma cirurgia. Agora, precisamos criar situação para estancar o descontrole que está havendo.

O resultado econômico do descontrole emocional exige cabeça fria para tomar as medidas com uma gestão responsável. Temos gente competente, capaz e responsável para isso, tanto no Executivo, no Tesouro Nacional, Banco do Brasil, Banco Central. Há uma equipe muito boa.

No Congresso Nacional também temos bons líderes. Infelizmente poucos. Mas são parlamentares equilibrados que podem sentar em conjunto e trazer uma solução paliativa que amenize de forma real. E que o fundo do posso não seja imensurável.

Quando o investidor internacional olha para o Brasil neste cenário de incerteza terá a garantia de que pode voltar a colocar dinheiro no País?
Quando tivermos um horizonte no qual se possa desenhar um cenário tranquilo de investimento. Tem R$ 17 trilhões de poupança externa aplicado em taxas de juros negativo no mundo sem abrigo. Muitas pessoas físicas me ligam hoje, não para consultoria, mas para perguntar onde colocar o dinheiro. Respondo para não assumir riscos irracionais e ir com calma.

Estamos em um impasse muito difícil. São duas frentes nos quais os canais estão entupidos. Na saúde, há esperança de que desenvolvam uma vacina para o novo coronavírus. Na economia, os canais também estão obstruídos. Não adianta por decreto dizer que a taxa de juros do Brasil é 2% ao ano. Os bancos não vão emprestar a 2%. Emprestarão de acordo com a sua capacidade de solvência. Porque senão o banco quebra e a nação quebra.

Equilíbrio técnico e emocional agora é o que se faz necessário.