Presidente regional do partido diz que chapa majoritária pode incluir Ronaldo Caiado ao Senado e que são esperados até dez partidos na coligação puxada por Iris Rezende

Fernando Leite/Jornal Opção
Fernando Leite/Jornal Opção

O PMDB de Goiás desistiu do PT, tanto local quanto nacionalmente. Isso significa caminhar por trilhos próprios até mesmo em relação à eleição nacional, mesmo com a convenção do partido em Brasília tendo sinalizado apoio à reeleição de Dilma Rousseff (PT). E a forte estrutura da sigla no Estado pode cair no colo de Eduardo Campos (PSB). Basta uma coisa: que Vanderlan Cardoso, pré-candidato socialista, adira ao palanque de Iris. Que pode ainda ter Ronaldo Caiado (DEM) para o Senado.

A revelação do deputado estadual Samuel Bel­chior, em entrevista ao Jornal O­p­ção, é o sonho dos peemedebistas e o pesadelo da base aliada: uma chapa com Iris Rezende ao governo, Van­der­lan de vice e Caiado na vaga do Senado seria pode­ro­síssima. Para um partido que tro­pe­çou durante os últimos meses, co­mo admite o próprio parlamentar — que também é o presidente estadual do partido —, seria um inesperado “grand finale” de pré-campanha.

Em termos de coligação visando tempo de TV, Belchior revela que hoje já há seis partidos, “inclusive partido grande”, acertados. Mas, obviamente, prefere não citá-los. E o número pode chegar a dez, dependendo das conversações, especialmente com o bloco que tinha aderido a Júnior Friboi, hoje ex-pré-candidato do PMDB. Mais do que isso: se permanecer — e o deputado diz que isso deve ocorrer — o número de pré-candidatos à Assembleia e à Câmara, o PMDB vai formar uma forte chapa proporcional. Depois de tanto errar, tudo pode dar certo ao fim. Coisas da política.

Euler de França Belém — Júnior Friboi desistiu de sua pré-candidatura porque teria sido atropelado por Iris Rezende, depois de o ex-governador ter dito que ele poderia ser o candidato. Qual é a verdade?
Sinceramente, eu não sei. Acho que sua desistência tem mais a ver com um pedido da família dele e com a gestão de suas empresas do que com a política, mas não posso garantir. Quando ele reuniu seu grupo mais próximo em torno da pré-candidatura, em uma reunião fechada, disse que teria sido por esse pedido familiar, ao contrário do que foi publicado na nota oficial.

Euler de França Belém — Existe um comentário de que ele não apoiaria Iris ao governo. Isso já foi comunicado ao PMDB?
Não, não foi. Mas, pelo jeito que ele saiu, não tenho convicção de que ele vá apoiar Iris ou mesmo de que vá participar do processo eleitoral em Goiás. No final de tudo — e por isso é que eu digo que os motivos alegados não são bem por aí [em relação a alguma pressão por parte de Iris] —, quando eles tiveram uma reunião e Júnior pediu para ser o candidato e Iris de fato desistiu, dali em diante ele era o candidato. Foi nessa condição que me reuni com ele, como presidente do partido, já o tendo como o candidato, inclusive discutindo chapa e alianças.
Então, pelo que eu ouço falar, passada uma semana ele voltou a Iris Rezende — que também conta uma parte dessa história —para dizer que não era mais pré-candidato e estava entregando a pré-candidatura. Iris então pediu para ele aguardar mais uma semana, para ele pensar e então decidir o que faria, se ele voltaria atrás ou se teria uma chapa em conjunto entre os dois, ou algo assim. Dois dias depois, saiu aquela nota [da desistência de Friboi]. Algumas pessoas dizem que essa nota poderia ter sido feita por causa daquele movimento que houve no escritório de Iris, naquele mesmo dia, mas a impressão que eu tenho é de que a nota já estava pronta, porque, quando ainda estava ocorrendo a reunião, ela já estava circulando nos sites.

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Cezar Santos — Já se sabia dessa história desde a manhã daquele dia.
Então, sinceramente, não sei explicar. A melhor pessoa para isso é o próprio Júnior. Ou talvez nem ele. O que acho que pode ter gerado um certo desencontro no partido é que foi conversado que seria dado a ele todas as possibilidades para trabalhar e deslanchar na pré-candidatura. Depois, então, nós analisaríamos a perspectiva de vitória, de crescimento nas pesquisa, potencial de alianças e outras coisas. Se isso fosse satisfeito, aí nós o homologaríamos nosso candidato. Quando chegou nessa fase de decisão, o partido entrou em uma divisão: uns analisavam de um jeito e diziam que o nome dele não havia crescido, que não iria dar conta, essas coisas; outros observavam de outra forma, alegando que sua porcentagem nas pesquisas era boa que Maguito Vilela (PMDB) e Marconi Perillo (PSDB), quando foram candidatos pela primeira vez, haviam começado com 3% ou até menos. O debate entre essas partes girou em torno disso. Mas o acordo que houve desde o início — e foi com a participação de todos — foi este: que Júnior teria liberdade para trabalhar e que, mais ou menos em março, a gente iria se reunir para tomar uma decisão em conjunto, se tinha condições ou não de ser candidato. Lá atrás, no segundo semestre do ano passado, ele mesmo dizia que, se não tivesse se viabilizado, ele próprio desistiria, nem precisaria ninguém falar nada.
Ocorre que, na hora da definição, começou a ter isso, de uns puxarem para um lado e outra parte para o outro. Virou então esse debate que todos viram.
De minha parte, eu creio que a decisão de Friboi não teve a ver com pesquisas, mas que foi mesmo por causa de um pedido da família e dos negócios.

Cezar Santos — A história da dívida da empresa da família com o fisco estadual pode ter sido determinante. Aquilo “matou” a candiatura de Friboi.
Uma empresa grande como a deles, que tem capital aberto e depende muito de imagem, pode ser de alguma forma, afetada pela política. É um ambiente hostil e uma imagem negativa, eu imagino, pode fazer ações caírem, atrapalhar fusões ou parar uma liberação de crédito.

Euler de França Belém — Dilma Rousseff (PT) está caindo nas pesquisas e seu partido é o grande avalista dos negócios da JBS-Friboi. Imagine então se Aécio Neves (PSDB) ganha as eleições e decide rever esses contratos com o BNDES.
Eu, como goiano, prefiro torcer para que tudo dê certo. São daqui do Estado e levam nosso nome lá fora. Nessa questão pessoal, prefiro não entrar.

Euler de França Belém — O PT tinha compromisso com Iris de, se ele fosse o candidato do PMDB, ter o apoio do partido. E agora, com o PT dizendo que não vai apoiá-lo, como fica?
Recebemos essa informação e a acatamos. Vamos seguir nosso trabalho adiante.

Euler de França Belém — Não vai haver um trabalho de convencimento com Antônio Gomide (PT) para compor uma aliança?
Não, neste momento não vamos mais.

Cezar Santos — Iris Rezende, agora definido como o candidato do PMDB, vai procurar Júnior Friboi para tentar uma volta e fazê-lo participar do processo, até entrando na chapa?
Tudo é possível, mas neste momento isso não está nos planos, não. Contar com apoio de Júnior é importante, mas estamos correndo contra os segundos. O foco principal agora é fazer o maior número de alianças partidárias para, depois, ver o caminho a seguir. Muitos partidos já estão fazendo convenção neste fim de semana, e outros no começo da semana. Não há tempo para brincar nesses últimos dias. Já conversamos com muitas siglas, mas obviamente ainda há muito o que ser definido.
É possível que façamos essa conversa com Júnior, mas ainda não existe uma agenda. Não dá para falar que dia será. Como tudo aconteceu muito em cima da hora, temos de resolver primeiro a questão das alianças, porque sobre isso depois não tem como conversar. O restante vamos resolvendo paulatinamente. Nas questões internas, tem muita coisa ainda, Iris vai reunir com muitos prefeitos, muitas lideranças. Vamos tentar buscar todo mundo de volta. Mas, volto a dizer, neste momento o foco são as alianças.

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Cezar Santos — O PMDB errou demais nesta pré-campanha. Ainda há espaço para errar mais?
Um partido grande como o nosso é formado de debates, não tem jeito. É muita gente, muitos prefeitos, muitos ex-prefeitos, muitos vereadores, deputados etc. Não há uma tendência só no partido, e este termo, “partido”, já diz isso. Acho que o que o PMDB não pode fazer é começar a campanha ainda desorganizado. O debate nesta fase, desde que tudo se resolva até o período eleitoral começar, eu não vejo como problema. O problema maior é a gente ir para a campanha desorganizado. Mas, se a gente chegar à campanha com o partido bonito, com boas alianças, com boas chapas proporcionais, isso será muito bom. Os projetos para o Estado, as ações propostas para um governo são coisas que serão debatidas durante a campanha.
Eu acho que estamos em ritmo acelerado e vamos chegar organizados para a eleição. Admito que houve desencontros. Isso, em um partido grande como o nosso, é inevitável — e não é a primeira vez, já houve isso em outras oportunidades. Mas vamos chegar unidos para a eleição e vamos demonstrar isso no período de campanha.

Euler de França Belém — Com um candidato como Iris o PMDB não perde o discurso da renovação?
Sem querer desmerecer os demais candidatos, vejo que o que o povo espera em termos de renovação é algo bem diferente do que muitos políticos têm pensado. O que existe de sentimento no meio do povo diz respeito a querer um antipolítico. Não temos um candidato que seja o “antipolítico” hoje em Goiás. Quando se fala em renovação, não se fala em termos de idade, de ser novo ou coisa assim. Não é essa renovação que tenho visto nas pesquisas, não, mas diz respeito à espera por um antipolítico, alguém que chegue e não aceite receber salário, que não tem vínculo nem familiar com a política, um caso mais radical.

Diante desse cenário, o que o povo vai mostrar — e aqui falo com o meu ponto de vista, não tem a ver com o que o partido pensa — é que tem orgulho de ser goiano, que não quer mudar daqui, que quer que o Estado esteja bem. Ou seja, o que vai ser levado em consideração é outra coisa: quando se busca essa novidade — que, no meu ponto de vista, é uma mudança radical — que não existirá nesta eleição e nem é tão possível, por conta do nosso sistema político, vai pesar a experiência, a capacidade administrativa, aquele que tem capacidade de organizar o Estado, de dar melhores condições aos servidores públicos, de dar melhor atendimento ao povo, de garantir energia elétrica para todos — o que hoje está faltando —, de dar segurança pública, dar condição de trabalho aos policiais.
O povo vai buscar quem é o mais capaz para fazer esse tipo de movimento. Nesse sentido, Iris leva uma vantagem tremenda, pois experiência é algo que ele tem de sobra, é reconhecido como bom administrador e vai ter isso como um carro-chefe durante a eleição.

Euler de França Belém — O sr. tocou na questão da distribuição de energia elétrica, que realmente é um problema, por atravancar o crescimento econômico. Mas a im­pressão que dá é que vocês fazem um diagnóstico do Estado, mas não têm uma agenda positiva. E é preciso ter uma agenda positiva.
É preciso tê-la e a temos. O que ocorre é que, como ficamos nesse período de debates internos, vamos correr para fazer a melhor aliança partidária possível que nos possibilite um bom tempo de TV para divulgar esse projeto que temos para Goiás. Não há mágica, tem um caminho a ser trilhado. A arrecadação que existe hoje é a que existirá amanhã, mas a primeira coisa que é preciso obter é a responsabilidade e o zelo com o erário. É preciso saber economizar. Nenhum projeto sai do papel sem dinheiro. É preciso ter dinheiro e parcerias também. Hoje temos um Estado que, a não ser que provem o contrário, só poderá contrair novas dívidas depois de 2020. Ou seja, temos um Estado completamente endividado, sem capacidade de endividamento. É uma realidade dura e que precisa ser analisada com atenção.

É possível fazer e é possível demonstrar como fazer isso em números durante a campanha. É e será demonstrado. Só que tudo isso tem de ser feito paulatinamente, porque o eleitor também não está acreditando mais em promessas, apesar de que, se for algo vindo de Iris Rezende, às vezes reflitam e se convençam. Um exemplo: o governo disse que duplicaria de Goiânia a Catalão. A duras penas, está tentando terminar até Bela Vista de Goiás. Pois Iris pavimentou a estrada até Catalão em seu primeiro ano de governo. Ele bateu a mão na roupa e disse “quando vierem os trovões de setembro deste ano, vou vir aqui para entregar o asfalto para vocês”. O povo achou que ele estava doido, mas Iris fez e entregou. Mas, por que ele fez? Porque faz uma obra mais barata, centraliza a administração para cuidar diretamente, economiza dinheiro.

Os setores que precisam ser atacados são muitos: energia, segurança, a questão do funcionalismo público. Parece que os servidores não querem mais caminhar com Marconi Perillo. Resta a nós demonstrar que eles podem vir conosco.

Euler de França Belém — Mas parece que a resistência do servidor é maior a Iris.
Não vejo dessa maneira. O que vejo é que existem muitos boatos que Iris precisa esclarecer. Vou dizer de uma fase que acompanhei diretamente, quando eu era vereador nos dois primeiros anos de prefeito dele. Eu era presidente metropolitano do PMDB quando Iris foi candidato à reeleição e todos os sindicatos o apoiaram.

Cezar Santos — Mas há um estigma do servidor em relação ao PMDB. Maguito Vilela, uma vez, falou que investir em funcionário público era “salgar carne podre”.
Vamos ser francos: o que o servidor quer hoje? Quer algo diferente do que está vivendo hoje no Estado. Ele quer saber quem é capaz de promover isso. Eu garanto a vocês que Iris vai cumprir a data base, o pagamento de salários. Hoje o governo não dá conta de respeitar nem a data base, está parcelando. O que Iris precisa é dar segurança aos servidores. Ninguém é unanimidade nesta vida, mas tenho certeza de que a maioria dos servidores vai optar por votar em Iris na hora em que ele demonstrar, por A mais B, que vai melhorar a saúde financeira do Estado e vai dar melhores condições a todos.

Tudo hoje é uma realidade completamente diferente, bem distante da que havia em 1982. São 32 anos e o que cabe a nós é divulgar tudo com clareza, nos programas de televisão e em toda a campanha. Se fizermos assim, vamos ter a maioria dos votos dos servidores.

Frederico Vitor — A Prefeitura de Goiânia não passa por uma boa fase. Dizem que é uma crise sem precedentes na história da capital. O sr. não avalia que isso poderá afetar a campanha de Iris, já que ele sempre teve um bom desempenho aqui e o prefeito Paulo Garcia (PT) é tido como uma cria do ex-prefeito?
Primeiramente, tenho visto, pelas pesquisas, que as pessoas separam bem a administração de Iris da administração de Paulo. Em segundo lugar, não tenho nenhum reparo a fazer sobre Paulo Garcia, que, apesar de ser de outro partido e de esse partido não estar conosco na eleição, tem sido uma pessoa que tem demonstrado um carinho especial não só a Iris, mas ao PMDB também. Isso é preciso reconhecer. Só que o dia a dia da administração quem faz é Paulo Garcia e temos de torcer para melhorar.

Eu mesmo me pergunto como é que o Estado consegue se endividar em R$ 11 bilhões em obras públicas e a Prefeitura de Goiânia não consegue nada, sendo que tanto a Prefeitura quanto o governo federal são do PT. De qualquer forma, torço para que ele saia disso da melhor maneira possível. Hoje, na política, as pessoas cobram muito que se tenha transparência e honestidade. Essas duas coisas são virtudes que Paulo Garcia tem.

Cezar Santos — Mais do que nunca, a candidatura de Gomide é interessante ao PMDB, para descolar de Iris o desastre administrativo que está ocorrendo em Goiânia.
Para ser bem sucinto nessa história: quem não está mantendo a aliança PT-PMDB não somos nós.

Elder Dias — Qual é a parcela de responsabilidade do PMDB nesta atual gestão de Paulo Garcia, já que os partidos continuam em aliança na administração municipal?
Especificamente do PMDB, a participação é muito pequena. O coração da administração — que é a parte de Finanças, Educação, limpeza (Comurg), Saúde e Obras — não está conosco, com exceção de Fernando Machado. Mas eu não diria nem que a administração seja do PT, mas de Paulo Garcia. É ele o prefeito. Cada um tem um modelo de administrar, apesar de ser do mesmo partido, não somos idênticos.

Elder Dias — Se o prefeito de Goiânia ainda fosse Iris Rezende, a situação da cidade seria outra?
É ruim fazer essa comparação.

“Nossa aliança será bem maior que a de 2010”

Frederico Vitor — Prefeitos que eram próximos a Júnior Friboi têm declarado apoio ao governo. Como o pré-candidato Iris Rezende vai negociar isso com membros do próprio partido?
Como eu disse, estamos correndo com a coisa em etapas. Iniciamos a conversa com alguns prefeitos agora e vamos seguir pelo caminho do entendimento. Com certeza, outros prefeitos também vão conversar conosco. A gente entende que o debate foi muito intenso no partido e é preciso ir com calma. Se isso não resolver, vamos em um segundo momento reunir todos e tomar uma decisão.

Cezar Santos — Se esses prefeitos mantiverem esse apoio, ainda que informal, ao governador, o diretório do PMDB vai tomar alguma medida mais drástica?
Se o diretório decidir, eu vou acatar, porque sou só o presidente e quem decide é o colegiado do partido. Mas pode haver uma decisão diferente. Afinal, se o prefeito tal não está nos apoiando, não podemos deixar o partido com ele, até porque na maioria das vezes muita gente é contra o que o prefeito está tomando como atitude.

Cezar Santos — Pode haver intervenção?
Talvez isso possa acontecer. Mas estou tendo a cautela necessária para dizer qualquer coisa porque a análise deverá ter de ser feita caso a caso. Tudo isso vai dar certo trabalho para resolver, mas já estamos conversados para agir dessa forma. O que for deliberado, assim será. Temos uma comissão de ética muito organizada, com bons advogados, e com certeza agiremos de maneira rápida.

Elder Dias — O sr. sempre foi uma pessoa que lidou muito bem com as alianças com os demais partidos. É o sr. que está preparando o terreno nesses meandros, para que Iris depois receba tudo “mastigadinho”?
Muitas vezes sim, algumas vezes, não. (risos) Geralmente não é em uma conversa só que se resolvem as coisas. É claro que a obrigação maior é minha, como presidente do partido, de conversar com todo mundo e buscar entendimento. Eu já estou nesse ritmo há alguns dias. Conversei várias vezes com vários partidas nestas semanas. O que pesou para nós em algumas eleições foi uma aliança partidária pequena, um número pequeno de candidatos a deputado, um tempo pequeno de televisão. Então, eu corro contra o tempo fazendo minha matemática e seguindo a vontade de Iris, porque ele é que é o candidato, tudo precisa passar por ele.

Tempo de televisão hoje é um caso atípico. Hoje, 35% do eleitorado apenas vê o programa eleitoral, geralmente o pessoal concentrado na região metropolitana de Goiânia. No interior, há as antenas parabólicas; no Entorno do DF, veem o programa de Brasília; tem ainda a TV a cabo. Ou seja, a minoria vê a propaganda eleitoral. Mas mesmo assim são 35%, é muita gente para que possamos falar diretamente, precisamos agir bem nessa situação. Então precisamos de tempo, não dá para falar de tudo em um minuto. Por isso estamos correndo. Para quem não vê o programa faremos uma campanha focada nesse cenário, uma publicidade à parte, vamos dar essa atenção.

Elder Dias — A aliança vai ser certamente maior do que a da eleição passada?
Com absoluta certeza. Isso já começa da chapa para deputados, que já é três vezes maior do que em 2010.

Cezar Santos — Na questão da chapa há um ponto de instabilidade no PMDB. Sabe-se que, com a saída de Friboi, muitos candidatos que já tinham garantido sua campanha não se interessam mais. Há também uma reclamação contra a deputada Iris Araújo, sobre a qual Iris Rezende concentraria sua atenção. O sr. enxerga dessa forma?
Primeiramente, em relação aos candidatos que talvez desistissem: creio que não deveremos ter nenhuma desistência sequer. Isso porque todos já estavam em pré-campanha nem mais do “meio-dia para a tarde”, mas da “tarde para a noite” já. É claro que eles contavam com a estrutura que Júnior poderia trazer, mas isso é contrabalançado com o que Iris pode fazer com sua densidade eleitoral. O que todos me falam, até os mais próximos a Júnior, é que não seriam candidatos em chapa ruim. Mas, se a chapa for boa, dizem que podemos contar com eles. Não quero expor ninguém, mas tenho ouvido isso até daqueles que, em público, tem colocado a questão de forma diferente. Por isso estou correndo contra os minutos para formar chapas que nos garantam bons minutos. Às vezes temos um município onde não há alguém 100% pronto para ganhar uma eleição para deputado estadual, mas estamos recomendando que lancem alguém, um vereador, para dar força à chapa.

Com relação à questão sobre dona Iris, o que precisa ser observado é que ela já é deputada, e de dois mandatos. Realmente escuto esse certo ciúme de alguns companheiros. Isso acontece e não é a primeira vez no PMDB. Já aconteceu, por exemplo, com Maguito, que é tio de Leandro Vilela [deputado federal] e pai de Daniel Vilela [deputado estadual]. O que é preciso evitar é que um entre no espaço de outro. O Estado é bem dividido e basta que saibamos trabalhar isso da forma adequada.

Elder Dias — Ainda sobre alianças: o deputado Ronaldo Caiado quer deixar de ser deputado e virar senador. É uma peça fundamental no jogo das candidaturas majoritárias. Sendo assim, tem sido buscado por todos os partidos com pré-candidatos, à exceção do PT. No caso da base aliada, já há uma chapa composta, que teria de ser refeita para encaixar a pretensão de Caiado. No caso do PMDB, não: há esse espaço, mas há divergências histórias entre os dois lados. Isso vai ser superado? A ideologia mudou ou será apenas uma questão conjuntural, em busca dos cerca de 150 mil votos que o deputado do DEM poderá puxar, segundo calculam?
A grande força do deputado não são os 100 mil ou 150 mil que ele possa trazer. O que vai pesar muito nesta eleição é o perfil do candidato. O PMDB trabalha hoje se unir ao DEM por conta do perfil de Iris Rezende e de Ronaldo Caiado. Eles se uniriam pelo perfil, porque são dois dos últimos idealistas que temos aqui, que fazem política de uma forma diferente que a grande maioria faz. Isso já seria uma condição satisfeita para essa unidade. Outra questão é que, ao longo dos anos, Ronaldo e as pessoas que o acompanham se distanciaram do governo. Mesmo em campanhas passadas, quando o governador estava no Norte, ele estava no Sul; quando o governador estava no Sul, Ronaldo estava no Norte.
Mesmo que o governo quisesse agora, é muito mais difícil que Ronaldo Caiado esteja aliado à base deles do que conosco. Com a gente, foi um debate político, já antigo, e desde então há uma convivência e um respeito mútuo, pela forma com que um lado se portou em relação ao outro.

Cezar Santos — O deputado Helio de Sousa (DEM) já teria dito que, se Caiado se aliar ao PMDB, ele não seria candidato. Há uma dificuldade interna de o partido aceitar isso.
É verdade que, dentro do DEM, existem lugares em que não haverá possibilidade de conciliação. Em Goianésia há uma disputa histórica desde a época do governador Otávio Lage e Hélio de Sousa tem ligações com Otavinho Lage e Jalles Fontoura (PSDB), que hoje é o prefeito. Ou seja, a base do deputado é Goianésia. São coisas que acontecem em outras partes do Estado, aspectos locais complicados. Isso ocorre em Quirinópolis e em Catalão também, por exemplo. Mas, de modo geral, a grande maioria do DEM vem junto com Ronaldo Caiado. É o que pode ocorrer com relação ao apoio de prefeitos ao governos, porque o resto da turma não vai, porque é uma disputa local muito forte, que passa de geração para geração. Isso vai acontecer, mas, de modo geral, Ronaldo Caiado e o DEM vão nos acrescentar bastante.

Elder Dias — Qual seria a chapa ideal para o PMDB, em termos de nomes?
O ideal era estarmos todos em uma chapa só, toda a oposição, inclusive PT e PSB. Assim, a eleição seria quase que como um plebiscito, se o povo seria a favor ou contra a manutenção do governo. Como não temos mais expectativa de aliança em primeiro turno com o PT, o ideal seria juntar o restante das forças. Aí viriam Vanderlan Cardoso e o PSB, juntamente com PSC e PRP, mais DEM e todo mundo junto. Seria uma chapa excepcional. Mas temos de fazer de acordo com as nossas condições. O que tenho dito a todos com quem tenho conversado é que o momento é favorável a qualquer um que venha. Temos Iris, que nem queria ser candidato, já com uma certa idade, sem ter a ideia de ficar dois mandatos. É um momento de virada, e se esse grupo ganha a eleição — e do jeito que estamos organizando nós vamos ganhar mesmo — quem estiver chegando vai usufruir muito disso, vai pegar todo um ciclo.

Elder Dias — Vai se repetir o que houve na Prefeitura de Goiânia, com o vice tendo uma grande chance de assumir o cargo?
Vice de Iris sempre teve muita importância. Onofre Quinan [vice-governador eleito em 1982] foi governador; Maguito Vilela [vice-governador eleito em 1990] virou governador, depois senador, e hoje é prefeito de Aparecida de Goiânia; o mesmo ocorre agora com Paulo Gar­cia na Prefeitura de Goiânia. Ou se­ja, com Iris ganhando a eleição, o vi­ce está com meio caminho andado.

Elder Dias — O vice, então, não será do PMDB?
Nós não queremos que seja. Só se não fizermos aliança nenhuma, mas estamos completamente abertos para composições. Até já especularam que o vice poderia ser o deputado Sandro Mabel, ou eu mesmo, ou Daniel Vilela. Não, não: nosso projeto é coligar. Algo assim, com vice do PMDB, seria nossa última opção.

Frederico Vitor — Iris sabe um eleitorado cativo entre os mais velhos. Mas como ele vai se comunicar com os jovens, que no ano passado saíram carregando bandeiras de mudança?
Eu vou contrariar o que você falou. Nas pesquisas internas que fazemos, os melhores índices de Iris Rezende são na juventude. O en­graçado é que em 2008, em sua reeleição, teve quase 90% dos jovens votaram em Iris. Na região metropolitana, ele vive uma fase muito mais positiva com a juventude do que os outros candidatos. Acho que o esforço de Iris conquistou essa parcela da população. Precisa­mos agora trabalhar no interior.

Presidente do PMDB goiano, deputado Samuel Belchior, em entrevista ao Jornal Opção: “Ainda não decidimos, mas uma grande parte do PMDB de Goiás não quer apoiar a reeleição de Dilma Rousseff” | Presidente do PMDB goiano, deputado Samuel Belchior, em entrevista ao Jornal Opção: “Ainda não decidimos, mas uma grande parte do PMDB de Goiás não quer apoiar a reeleição de Dilma Rousseff”
Presidente do PMDB goiano, deputado Samuel Belchior, em entrevista ao Jornal Opção: “Ainda não decidimos, mas uma grande parte do PMDB de Goiás não quer apoiar a reeleição de Dilma Rousseff” | Fernando Leite/Jornal Opção

Cezar Santos — O PMDB vai dar palanque para Dilma Rousseff em Goiás?
Na convenção de terça-feira [dia 10], fizemos um voto em consideração a um pedido que Michel Temer [vice-presidente e pré-candidato à reeleição] fez a Iris e Maguito. Externei a nossos delegados esse pedido. Então, o que fizemos foi votar a favor da aliança, pelo menos a maioria de nós, mas diante do reconhecimento de que em Goiás estamos liberados para seguirmos o caminho que entendermos como o melhor a seguir. Ainda não decidimos definitivamente, mas é muito pouco provável que nós estejamos apoiando a presidente Dilma.

Elder Dias — Muito pouco provável?
Muito pouco. E só não falo que não será porque nada em política é impossível. Não é por questão de densidade eleitoral, porque há uma queda nas pesquisas, nem teríamos dificuldade de apoiar quem estivesse em 2º ou 3º lugar. Mas aconteceram muitas coisas durante os últimos quatro anos. O que percebo no PMDB é que, se o candidato fosse Lula — que tem proximidade, tem um carisma dentro de nosso partido, que escuta e conversa —, a realidade talvez fosse outra. Mas, sendo ela, que não escuta, não recebe… As pessoas pensam que é uma questão de cargos, ou de ajudar. O PMDB goiano não tem essa posição. Nunca tivemos uma posição baseada em cargos e sempre apoiamos. Não é isso que nos motiva. À exceção de Maguito, que já disse que vai apoiar a presidente Dilma Rousseff, se você se reunir com os deputados, o pessoal do interior, vai ver essa posição que eu lhe disse sobre o que está acontecendo. De modo geral, uma grande parte do partido não quer apoiar a reeleição de Dilma Rousseff.

Cezar Santos — Uma pergunta meramente especulativa, mas o sr. acha que em 2018 o PMDB terá candidato a presidente?
É difícil. O PMDB se regionalizou demais, por liberar os Estados. Vou até mais longe: eu acho que a gente não manteria a aliança com o PT se o diretório nacional endurecesse e verticalizasse a posição, obrigando-nos. Não teria tido a aliança. Basta ver o caso de Rondônia, que tem o presidente nacional do partido [senador Valdir Raupp], onde o PMDB vai lançar um candidato e o PT, outro. No Maranhão, com José Sarney tendo muito prestígio na cúpula, vai se repetir essa situação.

Elder Dias — Na verdade, nem quando teve candidato, com Ulysses Guimarães em 1989 e Orestes Quércia em 1994, o PMDB se uniu.
Sou suspeito para falar, mas o PMDB teria feito o presidente da República em 1989 se o candidato fosse Iris Rezende. Tenho certeza de que ele uniria o partido. O partido não queria Ulysses. Talvez outro nome fosse Quércia em 1989, porque vivia um bom momento em São Paulo. Depois, o PMDB se regionalizou e virou uma colcha de retalhos em nível nacional.

Frederico Vitor — Se uma parte considerável do PMDB não vai apoiar Dilma, para onde vai esse grupo? Dada a impossibilidade de apoiar Aécio Neves por causa das questões locais, o PMDB de Goiás está mais próximo, então, de se juntar a Eduardo Campos. Podemos prever uma costura com o grupo de Vanderlan?
Se Vanderlan Cardoso vier a ser nosso vice, creio que, pelo que escuto interior afora, o PMDB apoiaria, sim, Eduardo Campos em Goiás, talvez de forma praticamente unânime, tanto pela vinda de Vanderlan quanto por ser um caminho natural. Mas caso não o tenhamos na chapa, a tendência em um primeiro momento é aguardar um pouco mais e focar nas eleições estaduais.

Elder Dias — O sr. chegou a falar de que o perfil que o eleitor quer é o do antipolítico. Júnior Friboi não seria alguém que poderia ter explorado isso?
Poderia. Acho que ele construiu errado seus movimentos, mas poderia ter feito isso. Não sei se intencionalmente ou por falta de experiência, falou-se muito — ou deixaram falar — em dinheiro. Isso começou a gerar uma dúvida na população, sobre por que alguém com tão rico queria ser governador. Então, quando sai a questão da dívida com o Estado, isso é questionado. Essa dívida da empresa quem é do ramo sabe que é perfeitamente exequível, está ajuizada, não vai “sumir”. Mas é muito difícil para explicar eleitoralmente, demoraria um ano para conseguir isso.

Cezar Santos — Eu escrevi em um artigo que, quando saiu essa questão da dívida da JBS com o Estado, a candidatura de Friboi tinha sido liquidada.
Sim, porque as pessoas fazem essa ligação. Quando veem a nota, pensam “ah, agora entendi por que ele queria ser governador”. Então, essa questão do antipolítico eu não consigo enxergar. Quem já está na política não pode assumir, até porque não entrou na política agora. É uma análise particular, mas vejo, no sentimento do eleitor, um momento de muita descrença com a classe política. Isso não tem a ver com ninguém em particular, nivelam todo mundo da mesma maneira. Chegamos a um ponto em que o político, mesmo sem culpa, traz para si uma imagem desonesta para sua própria vida.

Elder Dias — Como o sr., então, viu a matéria do “Fantástico” de domingo passado [dia 8∕6], que tratou de um livro de um juiz de Direito que revela esquemas no Congresso para eleição de um político por meio de negociatas com caixa 2 e até com agiotas?
Em um universo de 513 deputados não dá para achar que todo mundo é igual. Existem pessoas corretas, honestas, sérias, mas infelizmente existem também os desonestos.

Elder Dias — Lula estava certo quando disse que tinham 300 picaretas no Congresso?
Nosso sistema está todo errado. Precisamos mudar tudo para que pessoas de bem tenham interesse em estar na política. Para isso, tem de haver a reforma política.

Elder Dias — Quando o sr. fala houve um momento em março em que o PMDB tinha de decidir sobre Friboi e uma parte achava que ele não tinha se saído bem e outra, que sim. Isso reflete quem era irista e quem era friboizista?
É o contrário. Essa divisão é que foi o fato gerador que causou essa conversa de que haveria junistas e iristas. Como Iris acabou se lançando pré-candidato — principalmente para tentar salvar a aliança com o PT, o que por fim não ocorreu —, acabaram por achar que havia realmente essa divisão. Isso então se acirrou e criou um ambiente muito tenso. Creio que eu poderia ter sido presidente do PMDB em outra época. (risos)