“É dever da Câmara ajudar a Prefeitura em suas demandas, pelo bem de Goiânia”
09 maio 2015 às 11h36
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Presidente do Legislativo goianiense pela primeira vez, tucano diz que está pronto para manter a relação republicana com a Prefeitura e que seu objetivo é trabalhar ao máximo para acelerar os projetos de que a cidade precisa
“Cansei de ser vice.” A frase do vereador Anselmo Pereira (PSDB) soa quase como um desabafo, já no fim desta entrevista concedida ao Jornal Opção. Um repórter chega a compará-lo com o Vasco da Gama — clube carioca que ganhou dos rivais, principalmente flamenguistas, a fama de “vice” —, ao que o presidente da Câmara de Goiânia rebate prontamente dizendo “não, eu sou vilanovense e flamenguista”.
De coadjuvante no futebol para protagonista na política. Anselmo nem precisava do cargo máximo do Legislativo goianiense, que só agora ocupa, para ter a maior respeitabilidade entre todos os vereadores. Ele está em seu oitavo mandato seguido e se sente em casa. “Tenho me dedicado 24 horas à Câmara e tenho um carinho por todo canto dela. Eu a vivo”, resume.
Em relação ao conturbado momento que atravessa a Prefeitura de Goiânia, Anselmo, em tese, poderia ser um indigesto adversário. Como, por exemplo, tem feito Eduardo Cunha (PMDB) na Câmara dos Deputados em relação à presidente Dilma Rousseff (PT), apesar de seu partido ser da base governista. Com o agravante de que o comandante da Câmara goianiense é tucano, e a próxima eleição está logo ali, em 2016.
Mas Anselmo Pereira optou pela parceria e até pela orientação das demandas do Executivo. Nesse aspecto, sua presença no cargo que ocupa parece estar sendo um alívio para o prefeito Paulo Garcia (PT). Uma frase do experiente vereador mostra o quanto tem buscado a conciliação: “Quero a Câmara respeitada e respeitosa com a população. Ela é o foro da convergência, dos grandes temas, do mundo empresarial, do mundo religioso, das organizações sociais.” É um “Anselmo paz e amor”? Parece que sim.
Frederico Vitor — Ao assumir a presidência da Câmara de Vereadores, o sr. afirmou que iria estender o diálogo com o prefeito Paulo Garcia (PT), mas ressaltou que não seria subserviente às vontades do Paço. Esse propósito continua?
Continua. Somos sempre parceiros numa relação republicana, principalmente quanto aos bons projetos para Goiânia. Temos orientado a Prefeitura — esta é a palavra correta, “orientado” —em determinados projetos.
Frederico Vitor — Dê-nos um exemplo.
No projeto da iluminação da cidade foi a própria Câmara que reagiu. O contrato original foi rescindido, o que significa que a Casa tem uma independência em relação às ações da Prefeitura. Na prestação de contas do prefeito, que estava atrasada, a Câmara foi parceira com ele na questão da organização, em relação à preservação de sua integridade física. Então, estou dando dois polos diferentes: num contrato em que a Câmara o orientou e terminou sendo rescindido, e em outro em que o prefeito foi à Câmara para fazer os esclarecimentos sobre sua administração e mostrar o que fez no quadrimestre. Nós garantimos a normalidade diante de um cenário perigoso não por causa da Câmara, mas por causa de convulsões de greves na Saúde, na Guarda Municipal, na Educação. A primeira coisa que a Câmara fez foi trabalhar para acabar com a greve da Guarda, negociando o fim do movimento.
Então temos de um lado uma Câmara que não é subserviente em relação a projetos. Se notamos que projetos não são bons, que contratos têm problemas, a Casa se manifesta, vai até o final e obtém resultados. De outro lado, a Câmara é parceira também em outras situações, para fazer o equilíbrio da administração na relação com o Poder Legislativo.
Cezar Santos — O grande tema do momento é a reforma administrativa, que o prefeito está tendo dificuldade para aprovar na Câmara. Essa reforma é importante para a cidade? Por quê?
Ela é importante, é fundamental para a cidade, porque a Prefeitura vem de um processo de administração antigo, em que, ao longo do tempo, não foi enxugando nem qualificando suas pastas. Algumas, que tinham e têm funções afins, se transformam em locais de custeio. Estamos querendo — e acredito que é essa a vontade também da Prefeitura de Goiânia — é que o custeio seja menor e os investimentos sejam maiores. Com o enxugamento dessas secretarias e o fim de várias chefias e assessorias de gabinetes, a economia gerada vai permitir ao prefeito respirar e poder fazer investimentos na cidade.
Cezar Santos — O desenho da reforma administrativa é bom?
Sim, é bom, mas estamos aprimorando algumas situações, porque a Prefeitura nos manda um anteprojeto. Quem discute e realmente aprova é a Câmara de Goiânia.
Cezar Santos — E o que mais chama a atenção dos vereadores?
A Casa está observando o problema dos funcionários efetivos, para que eles não sejam lesados. Afinal de contas, a máquina administrativa não é tocada só por espaço físico, mas também com serviço público de qualidade, me que o funcionário, principalmente o efetivo, é a mola mestra de tudo. Se a Prefeitura tem uma fiscalização eficiente, auditores tributários competentes para fazer levantamento tributário no município, se temos uma Procuradoria-Geral eficiente, se tem Saúde e Educação com funcionários ávidos para prestar serviço, isso é o ideal para todos. A reforma não pode contemplar apenas espaço físico. Também estamos olhando a questão do organograma da Prefeitura e se os direitos dos funcionários estarão assegurados. O enxugamento tem de ser feito.
Frederico Vitor — Uma questão muito polêmica desde sempre e que tem gerado muito desgaste para a Prefeitura é a da Comurg. Como está tratado esse tema na reforma?
O tema Comurg é fundamental. A Prefeitura precisa colocar na roda da discussão os serviços básicos da Comurg no município de Goiânia. Boa parte dos insumos financeiros da administração vai para os serviços que hoje a Comurg realiza, como varredura, asseio da cidade, a iluminação, que agora foi para a Semob [Secretaria Municipal de Obras], coleta de lixo, que é fundamental em uma cidade até para evitar a proliferação da dengue. É preciso desafiar a reforma administrativa direta e também das empresas, como a Comurg. Por exemplo, se podem ou não terceirizar alguns serviços da Comurg? É uma questão a ser levantada.
Cezar Santos — Há um embate político na Câmara em relação à reforma? Dizem que a oposição quer a aprovação, mas não tão já, para que o prefeito não ganhe dividendos políticos com os efeitos dela. Há quanto de verdade nisso?
Muito pelo contrário. Aliás, quero dizer para os leitores do Jornal Opção que é exatamente o contrário. O vereador Elias Vaz (PSB), presidente da Comissão de Constituição e Justiça, já me questionou duas vezes sobre o retardamento do parecer da Procuradoria. Ocorre que o prazo para o parecer está normal, termina nessa sexta-feira [a entrevista foi concedida na véspera, na quinta-feira, 7] e será entregue no prazo. Os prazos do processo legislativo não contam os dias não úteis. Tivemos feriados, sábados e domingos, por isso demorou um pouco. Por isso, afirmo que é o contrário do que se diz, de um interesse em retardar a reforma. A Câmara é que está cobrando. Quem atrasou não fomos nós. Primeiramente, chegou um projeto, para o qual depois foi mandado um substitutivo; depois, tiraram esse substitutivo e mandou o substitutivo do substitutivo. O que está na Câmara é o substitutivo do substituído. Então, não foi a Câmara quem atrasou, pelo contrário, nós queremos dar celeridade à reforma, porque precisamos que Goiânia vá bem.
Outro exemplo: a Câmara já está cuidando de fornecer os nomes da Planta de Valores, que é a base da fixação das alíquotas do ITU, IPT e ISTI para o próximo ano, dando condições de governabilidade para a Prefeitura. Essa é a parceria da Câmara com a municipalidade, com o Poder Executivo, independentemente que seja Paulo Garcia ou quem quer que seja. É nossa obrigação dar a contrapartida.
Frederico Vitor — Como o sr. avalia a gestão do prefeito Paulo Garcia? Há críticas de que a cidade nunca esteve tão malcuidada, que há uma sensação de abandono. O sr. concorda?
Alguns serviços básicos realmente precisam ser melhorados. Até há pouco tempo, Goiânia era conhecida como uma das poucas cidades que disputavam com as cidades da região Sul e Sudeste. Goiânia disputava com Curitiba, por exemplo, em número de praças, em áreas verdes, em bosques. Estamos ainda com os mesmos quantitativos, mas estamos precisando do zelo, de manter a nossa estrutura. O ajardinamento de Goiânia precisa ser refeito, nossas avenidas precisam de mais verde. Se mantivermos o que temos já está bom, mas não estamos dando conta de manter.
Em segundo lugar, a iluminação, que é fundamental em qualquer cidade. Temos cerca de 150 mil pontos de iluminação pública e creio que ainda temos 30 mil pontos desativados, isso também deixa a cidade com certo ar de abandono. Mas acredito que tudo isso será solucionado agora, porque a Câmara está dando sua contribuição e a Prefeitura já acordou para isso. Acredito que tudo isso vá ser solucionado agora, porque a própria Câmara está dando a sua contribuição e a Prefeitura já acordou para isto. Temos alguns projetos e algumas obras que estão parados, algumas unidades de saúde paralisadas por questões de litígio, empresas que abandonaram a empreitada.
Temos obras fundamentais que precisam ter continuidade, como a Avenida Leste-Oeste, que tem de ser retomada lá na região leste, próximo a BR-153, entre o Bairro Feliz e o Jardim Novo Mundo. Esta obra é fundamental para Goiânia porque é municipal, mesmo com dinheiro federal. Nós temos alguns bairros que precisam ter retomada imediatamente a pavimentação. Aprovamos um projeto pela Caixa Econômica Federal há um ano e meio, mas só agora o dinheiro está sendo colocado em disponibilidade para a Prefeitura, que já começou a fazer a programação da pavimentação de 16 bairros. A cidade tem esses problemas, mas estou percebendo que estamos começando a equacionar a solução. A Câmara não tem sido omissa, tem cobrado 24 horas por dia, inclusive na prestação de contas do prefeito.
Cezar Santos — Paulo Garcia, foi eleito em primeiro turno e houve uma verdadeira festa. Mas, a partir do momento em que assumiu, a Prefeitura tem somado vários desgastes: atraso nas obras do Mutirama; alagamento do Túnel Jaime Câmara; supersalários na Comurg; crise da coleta de lixo; greve dos professores, com ocupação do plenário da Câmara; greve na saúde; nova greve na educação, com agressão a professores por guardas municipais no espaço físico da prefeitura. Como analista da política, o sr. acha que falta ao prefeito mais tato político ou mais gestão?
Nenhuma das capitais do Brasil está em um oásis. Nem Goiânia. É preciso que o administrador tenha criatividade na crise. Você perguntou não para o vereador Anselmo, presidente da Câmara, mas para o analista político Anselmo Pereira, com 38 anos de vida pública. O que falta a Paulo Garcia, primeiramente, é assumir uma identidade administrativa, sem ingerência, nem por segmentos do PT nem por outras parcerias políticas que o ajudaram a estar na Prefeitura. Ele precisaria ter rompido esse conceito de administração, para ter poder de decisão e ser austero.
O que nós percebemos é que ainda há nichos na Prefeitura que não se interligam, parecendo feudos que querem administrar independentemente de um comando central. Esse é o maior perigo para um gestor. Paulo Garcia tem boas intenções para Goiânia, é um dos poucos prefeitos que nasceram aqui. Ele gosta da cidade. Eu o sinto pouco acuado dentro de Goiânia, mas nada que o impeça de quebrar esta barreira e, dentro de dois anos, refazer a caminhada para servir à cidade. Ele tem bons propostos, mas precisa ser mais austero. Precisa fazer a reforma administrativa, precisa buscar recursos fora de Goiânia para investir na cidade. Não dá para fazer tudo com recursos próprios, é impossível. Afinal, ele gasta quase 70% do caixa com pagamento de pessoal, fora o custeio, sobrando quase nada para investimento, o que não dá nem 10%. Isso é um perigo para qualquer administrador. Ele tem boas intenções, portanto, mas precisa colocá-las em prática, romper conceitos, inclusive com as ingerências que tem em sua administração.
Frederico Vitor — A impressão que fica de Paulo Garcia é que é um prefeito que não tem uma boa equipe, ou seja, não está sendo assessorado de maneira correta. Fazendo um comparativo com o governo estadual, Marconi está rodeado de bons auxiliares que querem construir uma folha de serviços. Justamente isso é que não se verifica no Executivo municipal. O sr. avalia também desta maneira?
O que vejo na Prefeitura é que não houve um encadeamento de bons profissionais. Quando ele assumiu o período tampão de Iris Rezende (PMDB), ele manteve a equipe. Quando ganhou em 2012, não deu conta de romper de vez com determinadas amarrações. Ao ir rompendo muito lentamente, não foi escolhendo assessores que tivessem uma visão de continuidade do pensamento de seu trabalho. Veja que ele já está no segundo secretário de Finanças [Jeovalter Correia, que substitui Reinaldo Barreto]. Ele também está no segundo ou terceiro secretário de Planejamento, Paulo César Pereira, que é um rapaz muito bom. Jeovalter Correia também é muito bom e competente. Mas há quanto tempo ambos estão na Prefeitura? Há quanto tempo houve aquela situação conturbada na Comurg, aquele entra e sai de gerentes? Isso é inconcebível, jamais aconteceria na administração privada.
Quando se senta na cadeira de gestor público tem de desligar de questões políticas e focar na gestão. Focar a gestão infelizmente dói em alguns lugares, mas é para o bem da cidade e do desenvolvimento. Tem de doer para prevalecer o que é melhor para a administração. Penso que Paulo não conseguiu ainda essa hegemonia. Falei aqui de três pilares da administração: finanças, planejamento e limpeza urbana. Nesses três lugares, a gestão sofreu rodízio rápido e sucessivo, várias vezes. Não deu tempo de sedimentar nada. Não é nem questão de qualidade do gestor, mas, sim, de não dar continuidade àquilo que está se propondo. Isso numa empresa é insolvência, ninguém erra três vezes seguidas na iniciativa privada, porque isso leva à falência. A diferença é que no poder público que não tem como falir.
Cezar Santos — Sua gestão na Câmara tem sofrido algumas críticas. O sr. teve certo entrevero com uma colega de partido, a vereadora Dra. Cristina Lopes (PSDB). Está havendo alguma dificuldade de relacionamento com os pares na Casa?
Mas que entrevero? A vereador Cristina é uma pessoa muito querida por mim. Eu tive uma discussão de dois minutos com ela. Temos uma afinidade fantástica e tenho um respeito muito grande por ela, que sabe disso. Ela é uma das melhores vereadores da modernidade. Aliás, ela deve se sentir lisonjeada por saber que eu, um homem público com mais de oito mandatos, tenho um respeito profundo por ela. Nossa discussão foi coisa de momento. Eu tinha acabado de sair de um hospital, estava sob efeito de analgésico e outros produtos e o assunto não era pertinente naquele momento, porque estava presidindo. Uma palavra mal colocada aqui e ali suscitou um momento áspero, que foi percebido pela imprensa.
Mas pergunte-me, então, se depois disso eu não almocei com ela, se nós não nos encontramos depois. Aliás, eu nunca vi um momento áspero tão produtivo quanto esse, porque, no outro dia, eu estava indicando a dra. Cristina como minha líder do PSDB na Câmara. E eu fui o maior defensor dela para o posto, pois Thiago Albernaz já havia passado pela liderança do partido por dois anos. Depois indiquei Thiago, que é um grande vereador, para ocupar a cadeira da CDTC [Câmara Deliberativa de Transporte Coletivo], que foi uma das maiores defesas minha. Também indiquei o vereador Dr. Gian (PSDB), para também compor a questão da planta de valores.
Reitero, então: nunca vi uma discussão áspera tão produtiva quanto essa. Não tenho nenhum problema com a minha bancada. Pelo contrário, nós estamos mais unidos do que vocês possam imaginar.
Cezar Santos — Mas é bom este momento aqui para esclarecer tudo.
Meu Deus do céu, quem não tem um relacionamento familiar ou administrativo? Eu tenho como sócios meu irmão e minha irmã e, de vez em quando, temos alguns conflitos. Quando voltamos às boas, retornamos mais amorosos. Que a mídia, então, não queira explorar isso, esqueçam.
O vereador Anselmo não tem a rotulação de “vereador rude”. Não é que eu seja rude, eu quero é ser sincero, gosto das coisas dentro de seu ordenamento. Vá lá e veja: não há uma pauta que não seja aprovada em todas as sessões. Fiz a sessão de hoje, que terminou às 10h35. Todos que quiseram falar falaram, todos aprovaram seus projetos e requerimentos e ainda dei tempo, na tribuna livre, a um médico que foi falar sobre o Hospital Wassily Chuc.
Não há nada mais democrático do que o exercício que eu faço na presidência da Casa. Isso porque já fiz milhares de horas como vice-presidente. Lamento dizer, porém, que sou conhecedor do regimento interno da Casa, até porque fui eu quem fez os dois últimos. Fui eu quem fez, então, conheço essa questão de frente e de trás. Tento colocar isso em benefício do processo legislativo e os vereadores têm cooperado comigo.
Se eu sou mais austero é meu jeito, já estou com 50 e tantos anos. Tenho de ser mais austero porque quero a produtividade em prol das matérias boas que estão sendo colocadas por nossos vereadores. Eles estão fazendo matérias fantásticas e estou surpreso com essa qualidade das leis que estão sendo propostas. Os vereadores estão se qualificando com as matérias. A cada dia que eu leio, priorizo de duas a seis matérias que vão diretamente beneficiar a sociedade. Agora, tenho de ser austero. Sou um dos raros vereadores que não matam sessões. Se houver três na Câmara que são 100% (em relação à frequência), estou entre os três. Mas sou austero e gosto de ver a Casa produzindo bem e trazendo para dentro de si os anseios da comunidade.
Estamos evocando para nós uma série de situações que estão esquecidas pela administração. Estamos indo atrás. A Câmara acabou de fazer uma parceria fantástica sobre a questão do combate à dengue em Goiânia. Nesta manhã, às 7 horas, estava no comando da Polícia Militar, para, juntamente com vários vereadores e com o sr. Jayme Rincón [presidente da Agência Goiana de Transporte e Obras], suscitar a instituição para entrar conosco, vereadores, na guerra contra o Aedes aegypti, porque é algo que não tem ideologia partidária, não tem fronteira: o mosquito da dengue de Trindade não para na metade da Rodovia dos Romeiros [que liga a cidade à capital]; o mosquito da dengue de Aparecida de Goiânia não para na metade da Avenida Rio Verde [que separa o município de Goiânia]. Então, precisamos todos nos juntar. E a Câmara já inovou, está indo em busca da solução para essa e outras questões.
Cezar Santos — O sr. disse que há projetos na Câmara que são fantásticos, que estão surpreendendo. Poderia citar algum?
Há vereadores que se especializam em projetos sociais. Um exemplo foi a questão da vacina contra o HPV [papilomavírus humano, que causa doenças como o câncer de útero]. Isso começou na Câmara e chegou até a Prefeitura, depois veio do governo federal para cá. Mas quem provocou o fornecimento das vacinas contra o câncer de colo de útero fomos nós, pela Câmara. Fizemos a pesquisa na região noroeste, onde há grande incidência da doença em jovens de 11 a 18 anos. Se formos pegar projetos da área física e administrativa, vão encontrar vários. Seria bom que o jornal fizesse esse levantamento, tanto da área social como da área física.
Vamos instituir agora a Câmara Itinerante. Serão 12 edições, vamos sair da cúpula do poder e ir até a periferia. Já fizemos o primeiro ensaio, no Setor Pedro Ludovico, e foi um sucesso. De lá, encaminhamos várias leis, inclusive algumas que estavam tramitando e foram concluídas, como a questão da preservação do traçado urbanístico do bairro. A próxima Câmara Itinerante será na região norte, dentro de poucos dias. Essa edição virá somada com a Prefeitura e com o governo do Estado. É uma inovação, a Câmara saindo de seu habitat, de sua zona de conforto, e indo para o meio da sociedade, para ouvir o cidadão de chinelo, de alpercata, aquele que não tem essa sandália Havaianas dos ricos não, é aquela comprada em feira. Esse cidadão quer falar com seu vereador, quer tocá-lo, quer saber se ele existe, quer que ele sinta os sofrimentos do bairro, que ele saiba que tem um Cmei para ser feito, que lá tem necessidade de uma escola 24 horas, que o bairro precisa de PSF [Programa de Saúde da Família] para suas demandas. É esse sentimento que a Câmara tem com seus projetos.
Estamos terminando a última licitação para começar esse projeto. Não vamos começar nada fora da lei, até porque a Câmara é uma Casa de leis e precisamos dar exemplo. Assim que concluirmos o processo da licitação e, então, em menos de 30 dias, poderemos fazer a Câmara Itinerante, em parceria com os governos estadual e municipal. Vamos caminhar pela cidade, não para fazer política, mas por ações administrativas e legislativas em Goiânia.
Cezar Santos — Em quatro meses na presidência da Câmara, quais realizações o sr. já pode contabilizar?
Nesses quatro meses de mandato, me sinto extremamente satisfeito. Tenho me dedicado 24 horas à Câmara de Goiânia. Tenho um carinho especial pelos corredores, pelo almoxarifado, pelo plenário, pela iluminação, pela fonte luminosa, pelo estacionamento. Eu vivo a Câmara. Por isso, quero que ela seja respeitada, autônoma e sincera com a população, respeitosa com a população. Os grevistas estão lá na Casa, com nosso amparo. Os auditórios são cedidos para que eles se manifestem e se reúnam. A Câmara é o fórum de convergência dos grandes temas de Goiânia: dos setores empresarial e religioso; das organizações sociais ou independentes, da maçonaria, do Lions, do Rotary etc.
A Câmara é a universalização do pensamento de Goiânia e eu quero isso, a mesa diretora quer isso. Essa mesa foi eleita com este propósito: universalizar o sentimento da Câmara para as aspirações de Goiânia. Às vezes isso dói, mas nesses quatro meses temos trabalhado, aprovado projetos. Os vereadores discutiram o IPTU, o que foi palpitante para a vitória da mesa, pois havia equívocos naquela época. Agora, vamos trabalhar para aprimorar o projeto. Está aí um projeto fantástico do vereador Elias Vaz (PSB), aprovado pelos 35 vereadores: agora, o cidadão vai pagar IPTU, ITU e ISTI sobre o valor de seu bem, não sobre seu bem colocado em um quadrante, pois a pessoa pode ter uma casa de um valor fantástico colocada lá na terceira zona do Jardim Itaipu, mas estava submetido a uma alíquota distorcida. Logo, pagava menos. Isso, ao meu ver, era um arbítrio errado sobre a questão tributária. Agora, graças à Câmara de Goiânia, os cidadãos vão pagar impostos de acordo com sua capacidade contributiva. Isso vai acabar com as zonas. É um projeto audacioso. Vamos fazer justiça.
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Cezar Santos — Já está em vigor essa lei?
Sim. O prefeito precisou fazer dois decretos para não aplicá-lo, devido aos erros na planta de valores passada. E quem consertou os erros? A Câmara.
Frederico Vitor — O Estado está fazendo um esforço muito grande em relação às próprias contas. Como o sr. avalia a situação financeira de Goiás?
Primeiramente, é preciso cumprimentar o governador Marconi Perillo. É um homem corajoso, atrevido, que ama este Estado. Isso nem precisamos mais discutir. É o maior nome na história do Estado, desde que foi fundado, por Bartolomeu Bueno da Silva [o bandeirante Anhanguera] ou seja lá quem for.
Marconi é um animal político, respira política 24 horas. Quando ele pressentiu a crise, já fez a reforma. Repare como é um homem de visão. Goiás é o Estado que proporcionalmente mais buscou recursos no governo federal. Se o governador não tivesse se dedicado dois anos a buscar bons projetos em Brasília, com o auxílio de sua competente assessoria, jamais teríamos o que foi feito pela malha viária do Estado, jamais teríamos os grandes equipamentos que agora estão sendo entregues. Não adianta a oposição criticar, achar que não o governo não vai entregar o Hugo 2 [novo Hospital de Urgências de Goiânia, na região noroeste], que coisa mais absurda achar que isso não vai acontecer! (enfático) Acham que o governo não vai entregar os três ou quatro Credeqs [centros de reabilitação de dependentes químicos] que estão sendo feitos, um aqui nos arredores de Goiânia [em Aparecida], unidades que serão referência no tratamento de doenças psicossomáticas, que são a epidemia do século.
Cezar Santos — O sr. está dizendo que o governador anteviu uma situação e se antecipou?
O governador sempre se antecipa no tempo e ele percebeu essa questão. E veja que Goiás está entre os Estados que têm arrecadações que caem, mas que ainda se mantêm em nível aceitável, enquanto outros estão sofrendo a duras penas. O Estado está passando por um problema momentâneo e, ainda assim, eu tenho a plena convicção de que, a partir de agosto, vocês terão uma surpresa. A reforma que Marconi fez surtirá efeitos, os cortes também e ele terá mais condições de fazer investimentos. Eu quero dizer que a crise que estamos vivendo em Goiás não é uma crise “de” Goiás, mas aquela crise pós-eleição que sabíamos que iria ocorrer em todo o País. Só não se precaveu quem não quis. Como ele é um grande gestor, teve essa precaução prévia. Estamos passando por essa pequena turbulência, que a partir de agosto será tirada de letra.
Frederico Vitor — A presidente Dilma esteve em Goiânia por ocasião do lançamento do BRT de Goiânia. Naquele evento, Marconi disse que não vaiaria a presidente, porque ambos foram eleitos democraticamente. No PSDB isso gerou mal-estar, haja vista que a presidente estava no olho do furacão de uma crise política sem precedentes. Como o sr. avalia essa relação entre o governador e a presidente?
Eu poderia resumir em apenas uma palavra, mas não vou deixar só nisso, eu irei complementar um pouquinho. Esse comportamento do governador é um comportamento de estadista, de homem sério, respeitoso. Se você vier me visitar em minha casa, ainda que seja meu adversário, eu lhe farei sala. Posso até lhe dizer verdades, mas minha obrigação é de recebê-lo bem. Marconi tinha o dever de receber bem a presidente do Brasil. Ela não foi imposta por atos revolucionários, ela ganhou uma eleição por votos. Isso é a democracia. E esta posição republicana de Marconi — diferentemente do que houve com Lula, que não honrou as questões que tinha proposto com ele como governador —foi honrada por Dilma. Nós temos de separar isso. A relação entre Lula e Marconi foi desastrosa — e não por causa de Marconi, mas de Lula. Já a relação entre Dilma e Marconi é sadia, republicana, visionária, de olhar o Estado como um todo, dentro de uma Nação. Se ela encaminha recursos para Goiás, isso não para Marconi, mas para o povo goiano, vale frisar isso também.
Dilma sempre tratou bem os goianos, com dignidade. Veja os desafios da Avenida Leste-Oeste, que tanto estávamos precisando; com todos os problemas, a presidente deu continuidade à obra. Marconi colocou para Brasília vários projetos sociais e físicos. Veja o desvio da BR-153, que também vai acontecer. Como Marconi, depois de receber tantos benefícios que ele buscou inteligentemente — e não por barganha, por ter bom relacionamento, mas por criar condições propícias —, não receberia bem a presidente? É um dever nosso. Eu mesmo fui lá e a recebi bem. E vou lhe dizer mais: eu fui o vetor do pedido de conclusão do Aeroporto de Goiânia. Ela deu a resposta foi ao vereador Anselmo Pereira.
Dilma encaminhou a questão ao ministro Alexandre Padilha [ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais] e eu entreguei o documento, assinado pela Câmara de Goiânia e por várias entidades. Quando eu a encontrei na entrada e, atrevidamente, logo entrei, entreguei o papel para ela, que olhou para mim e me perguntou “o sr. é que é o presidente da Câmara?”. Então me chamou de “jovem”, eu achei bom, até olhei para trás para ver se ela não estava se confundindo (risos). Então, eu disse: “Presidente, um dos maiores problemas nossos na área federal é a conclusão do aeroporto. Já perdemos a Copa do Mundo, deixamos de ser subsede, apesar de Goiânia ter tradição de futebol e de turismo de negócios. Temos o Rio Araguaia, temos Caldas Novas. Está aqui o documento; faltam apenas 25% para conclusão do aeroporto e a sra. tem de ser a madrinha dessa conclusão.” Ela não disse duas palavras: chamou o ministro Padilha e encaminhou a questão.
A metade do discurso dela aqui em Goiânia, aonde ela veio para lançar o BRT, ela acabou fazendo o quê? Seu comprometimento com a conclusão do aeroporto. Há poucos dias, o ministro esteve percorrendo o aeroporto para sua conclusão. Portanto, é com base nessas situações que Marconi nos impulsiona a ter um relacionamento sadio com as autoridades. Eu mesmo tenho um relacionamento sadio com o Poder Executivo não por hoje ser presidente agora: se você olhar meu comportamento político ao longo dos anos, dá para perceber que sempre foi assim. As boas coisas eu apoio e defendo; já as ruins eu não aceito. Já faz isso com o ex-prefeito Iris Rezende (PMDB) em projetos ruins; peguei para relatar e lhe devolvi, disse que estava errado, que não daria certo, que o povo não aceitaria. É essa relação que o povo quer: que não cobre taxa de serviços públicos, coisa que o povo abomina.
Quando nós tivermos o palanque eleitoral no ano que vem, eu, do PSDB, como vice-presidente metropolitano do partido, não abro mão de ir para o palanque do PSDB e dos partidos aliados para dizer que nós temos um programa eficiente para Goiânia. Até porque já estamos procurando nossos candidatos a prefeito para Goiânia.
Frederico Vitor —O governador Marconi Perillo falou que o PSDB não abrirá mão de ter candidatos nas três maiores prefeituras do Estado em 2016. O presidente da Agetop, Jayme Rincón, já demonstrou interesse pela Prefeitura da capital. Como o sr. avalia o quadro de nomes?
O quadro do PSDB e dos partidos aliados é riquíssimo, um dos mais ricos que tem. Tem bons gestores.
Cezar Santos — Mas especificamente o PSDB não tem tido candidatos nas últimas eleições.
Não abriremos mão. Nós já cedemos três vezes para os partidos aliados, que queremos ter conosco. Duas vezes para Sandes Júnior [deputado federal pelo PP] e uma para o companheiro Jovair Arantes [deputado federal pelo PTB]. Agora será um tucano bem preparado, gestor e com experiência. Goiânia precisa de gerência, de bom gerenciamento. Não estou falando da questão do prefeito Paulo Garcia, já discutimos isso. Nós queremos uma gerência que observe o desenvolvimento da cidade na parte urbanística, na parte da mobilidade, na parte do transporte de massa — que é o desafio de Goiânia, não duvide. A cidade está precisando urgentemente de uma iniciativa quanto ao transporte de massa, para que um quarto dos carros possa ficar durante a semana em casa e as pessoas tenham dignidade de circular em um transporte público. Isso facilitaria a mobilidade, a engenharia de trânsito, e assim sucessivamente.
Goiânia precisa também de uma intervenção rápida na questão da saúde pública, não porque seja deficitária, mas porque é efeito de demonstração em todo Brasil. Se nós tivéssemos a possibilidade de estancar as nossas fronteiras, em Goiás, e dizer que nossos hospitais tratariam só goianos, nós teríamos a melhor saúde pública do País. Veja os hospitais de excelência que as OSs [organizações sociais] estão administrando, com a visão futurista de Marconi: o Crer [Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo], por exemplo, superou o Sarah Kubitschek, referência de Brasília. O Hugo é um dos melhores, depois de tanto tempo se tornou uma referência. Veja o HGG [Hospital Geral de Goiânia], que é referência em termos de socialização hospitalar. A unidade tem uma das melhores UTIs do Brasil. E todos verão agora o Hugo 2 e o Hugo de Anápolis. E assim sucessivamente.
Então, veja, quem for o escolhido para se candidatar em Goiânia precisa ter essa visão real da Grande Goiânia: trânsito, mobilidade, aperfeiçoamento da saúde buscando recursos, inclusive externos. Tem de ir a Brasília e mostrar que Goiânia é referência nacional em tratamento de saúde, em tratamento de câncer, em oftalmologia, em traumatologia etc. É por isso que meus irmãos e conterrâneos do Maranhão vêm para cá, assim como meus amigos da Bahia. É por isso que aqui existem dezenas casas de assistência de cidades de todo o Brasil. Agora, para isso, o prefeito precisa ir a Brasília e dizer que o tratamento a Goiânia não pode igual aos demais, tem de ser diferenciado porque temos excelência no tratamento da saúde. Então, o que o PSDB querem para a cidade? Quem tem pleno conhecimento da vida urbanística da cidade sabe que o prefeito precisa desafiar a BR-153, para buscar recursos para fazer definitivamente o anel viário metropolitano de Goiânia. Qualquer prefeito que se aventurar ao cargo não pode deixar de falar esta língua: temos de isolar a Grande Goiânia do trânsito do desenvolvimento do Estado. Por que alguém que vem de Rio Verde ou do Norte do Estado precisa passar dentro de Goiânia? Tem de passar pelo anel viário. Assim, isolamos a vida urbana da capital, fazendo com que o escoamento de nossas riquezas não intervenha na região metropolitana. Dessa forma, o prefeito, com essa visão, fará uma gestão fantástica.
Frederico Vitor — Quais são os nomes do PSDB para essa função?
Jayme Rincón é um bom gestor, assim como o deputado Giuseppe Vecci. Eu também conheço Goiânia.
Cezar Santos — O sr. se coloca como possível candidato?
Não como prefeito, mas como orientador. Eu conheço Goiânia, suas mazelas e virtudes. Conheço os pontos que estrangulam esta cidade.
Cezar Santos — O sr. diz que o PSDB terá um candidato na capital, mas Vanderlan Cardoso (PSB) é um forte candidato à vaga, uma vez que tem se aproximado da base. Não é um complicador para esses planos?
Não. Vanderlan é muito bem-vindo. É uma bobagem, ninguém espezinha nem menospreza quem tem qualidade. Ele pode ser um grande parceiro nosso, pois é experiente, bom gestor, um homem de sucesso na atividade privada e que colocou prática disso na gestão de uma cidade que, à época, vivia em conflitos. Vanderlan colocou Senador Canedo nos trilhos do desenvolvimento. Ou seja, estamos atraindo qualidade para nossa base.
Cezar Santos — O sr. acha que ele é um bom nome para vice de um tucano?
Não. Todos têm direito de disputar a Prefeitura. Eu quero, Jayme quer, Vecci quer, Fábio Souza [deputado federal] quer. Olha que qualidade de nomes nós temos. Isso mostra que há um canteiro fértil no PSDB e nos aliados também, para que possamos fazer uma somatória e, assim, escolhermos o prefeito e o vice-prefeito, além de uma chapa fantástica para compor a nova Câmara em 2017.
Cezar Santos — O sr. seria vice de Jayme Rincón ou de Giuseppe Vecci em Goiânia?
Você é um provocador, está querendo me provocar para me tornar eternamente vice (risos). Depois de quase 30 anos, eu virei presidente da Câmara. Cansei de ser vice. Fui vice na Câmara quase nove vezes. Eu acho que eu seria um bom vice, mas tenho conhecimento. Sou estudioso e dedicado. E tem mais uma coisa: vivo para fazer política administrativa dia e noite. E sou gestor, pois tenho atividades comerciais há 50 anos, nos ramos farmacêutico e imobiliário. Fui vice do PSDB, vice da Câmara, vice da Acieg [Associação Comercial e Industrial do Estado de Goiás]. Então, chega de ser vice (enfático).
Cezar Santos — O próximo presidente do PSDB estadual, que já está em discussão, tem de ser um deputado ou um militante de mais tempo? Como o sr. vê isso?
Tanto faz. O importante é que a pessoa ouça as bases e procure ter posição firme de fazer com que nenhum candidato, nem para o próximo governo nem para a Prefeitura de Goiânia, venha do bolso do colete de ninguém, mas que venha da base e da militância. Esse é o segredo.