Candidato do Bolsonaro em Goiás, Major Hugo Christiani nega tentativa de golpe via Exército
20 setembro 2022 às 20h19
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Por Ângela Moureira e Nielton Soares dos Santos
Substituto natural das bases do deputado federal Major Vitor Hugo (PL), candidato ao governo de Goiás, Major Hugo Christiani (PL) concedeu entrevista ao Jornal Opção, nesta segunda-feira, 20. Segundo ele, embora não tenha uma relação de amizade direta com o presidente Jair Bolsonaro (PL), ao ser apresentado a ele por Vitor Hugo, o termo substituto do parlamentar goiano partiu do próprio presidente.
Hugo Christiani, prestes a completar 37 anos, é natural, assim como Vitor Hugo, do Rio de Janeiro. Ele frisa que, apesar de representar a direita brasileira, não se considera extremista. No entanto, defende o armamento do que chama de “cidadão de bem” e da participação de membros das Forças Armadas no Congresso Nacional, argumentando que é necessário melhorar o ambiente da política.
Indagado se há nos bastidores do Exército alguma movimentação para arquitetar um golpe de Estado, ele negou e reforçou que as Forças Armadas são legalistas, e que se estão participando, atualmente, das comissões eleitorais foi para atender convite do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ângela Moureira — O senhor é o candidato que vai ocupar as bases do deputado federal Major Vitor Hugo, que é candidato ao governo de Goiás. Como está a aceitação do senhor? Está tendo alguma dificuldade?
Pelo contrário, está muito fácil e muito simples. Acho que não só o Vitor Hugo, mas o próprio perfil do presidente (Jair Bolsonaro). Quando você fala que o presidente é Capitão do Exército, o Vitor Hugo é Major do Exército, e chega com outro major do Exército, isso é quase espontâneo.
Ângela Moureira — Hoje o senhor está trabalhando em quantos municípios goianos?
Na minha última conta, estava passando de mais de 100 municípios, 87 que já tínhamos visitados, mas a gente já tinha material nosso e lideranças trabalhando.
Ângela Moureira — O senhor é candidato de extrema-direita?
Não, não sou extremo em nada. Sou totalmente contra a corrupção e bandido.
Ângela Moureira — Como é sua relação com Jair Bolsonaro?
Eu não tenho ligação pessoal com o presidente do ponto de vista de amizade. O que nós temos em comum vem de uma base anterior, essa ligação começa lá atrás, na academia militar, uma fábrica de líderes. A gente fala muito esse termo dentro do Exército. A gente fala “vai para a fábrica, vai voltar para a fábrica”, porque se preocupa muito com valores. A identificação dele com Vitor Hugo veio através desses valores, a gente começa a gerar uma identificação natural que é um pouco diferente. É daí que vem essa identificação. Inclusive, quando eu conheci o presidente, foi engraçado, veio da palavra dele, foi a primeira pessoa que usou o termo substituto.
Ângela Moureira — O senhor, por ser militar, se eleito, fará parte da bancada da bala?
Depende do que você chama de bancada da bala, mas se você diz da parte que defende os direitos do cidadão no parlamento, sem dúvida.
Ângela Moureira — O senhor avalia que a política de armas do governo causa descontrole ao acesso ao armamento no Brasil? O próprio Exército assume que não sabe nas mãos de quem estão as armas.
Eu não acho que foi a política do governo federal, não. A gente tem um problema de descontrole do armamento no Brasil, desde sempre. Eu tive a oportunidade de fazer diversas operações, seja no Norte, seja nas favelas do Rio de Janeiro, seja no Centro-Oeste. Se você perguntar onde estão as armas, como elas entram e de onde elas vêm? Tudo mundo terá dificuldade em responder. Então o que a política fez, no meu entendimento, foi facilitar para o cidadão de bem que quer registrar sua arma para ter o certificado de registro de posse da sua arma ou o certificado de CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), que aumentou muito a procura. Mas é um segmento que é muito controlado, porque, no caso de certificado de registro, a Polícia Federal faz a fiscalização, no caso dos CACs cabe ao Exército. Pode haver desvios? Podem. Mas eu não julgo que seja a política que trabalha nesse sentido.
Não sou extremo em nada. Sou totalmente contra a corrupção e bandido.
Major Hugo Christiani
Ângela Moureira — O que diferencia o senhor dos demais candidatos que são militares?
Em Goiás a gente não tem muitos, graças a Deus [risos]. Do Exército, eu sou o único candidato a deputado federal. Temos muitos bons candidatos a deputado estadual da Polícia Militar. Particularmente gosto muito do Major Araújo. Tenho muito apreço pelo trabalho dele. Eu nunca tive vontade de ser político, e brinco com o Vitor Hugo que, antes de conhecê-lo, nem gostava muito de política. Eu era igual parte da população, que tem uma certa rejeição, uma certa repulsa com o ambiente político. Mas eu entendi que a necessidade de servir ao país não era nas Forças Armadas, mas no ambiente político se fazia necessária.
Nielton Soares — O senhor fala muito sobre valores das Forças Armadas. Acredita que seja possível ser levado para o ambiente político?
Não só para a política, pois são valores que não são exclusivos do Exército, são valores da sociedade brasileira, que foram se perdendo ao longo do tempo. Mas o Exército, por ser uma instituição mais conservadora, se preocupa em manter esses valores. Eu acho que o momento do Brasil, hoje em dia, tem muito desse resgate desses valores. A gente vê muitas pessoas pedindo pelo retorno de determinados valores. Eu acho que sim, a gente tem como contribuir por meio da política, com esses valores, principalmente na educação para nossas crianças e para nossos jovens. Isso é muito importante.
Nielton Soares — Há discussão sobre a confiabilidade das urnas. Qual a opinião do senhor sobre elas?
Eu não gosto de omitir opiniões que deveriam ser técnicas. Como não sou técnico, não domino a parte técnica do assunto. Realmente, não posso dizer se é seguro ou não é, como que funciona o sistema. Tenho um juízo de valor sobre a transparência. Eu estive na África por duas vezes, estive em dois países em guerra civil. Os dois países estavam em momento de eleições. Primeiro na República Democrática do Congo e depois na República Centro-Africana. Eu nunca vi, na África, onde a gente tem as democracias mais frágeis do mundo, um presidente em exercício clamar por transparência. A pessoa, quando quer se manter no poder, tudo que ela quer é adiar uma eleição ou não ter transparência. Então me causa muita estranheza quando utilizam questionamentos do presidente. São questionamentos para dizer que ele está atacando a urna eletrônica, quando, na verdade, ele está pedindo por transparência.
Ângela Moureira — Sobre golpe, há alguma conversação a respeito disso no Exército?
Não. Acho que não existe a menor possibilidade. As Forças Armadas são instituições de Estado, extremamente legalistas.
Ângela Moureira — Sobre eleições estaduais, por que, mesmo com o presidente bem colocado em Goiás, o Major Vitor Hugo não cresce nas pesquisas?
Mas cresce. Eu não concordo com essa afirmação. Eu gosto muito das pesquisas do Mais Goiás, onde o Vitor Hugo já está com mais 17,5% e, em pesquisas internas, nós temos índices ainda melhores. Mas a grande verdade é que ele está saindo da visibilidade de um deputado federal eleito com votação não tão expressiva assim, para a visibilidade de um governador. Vou dar um exemplo: quando estive em Nova Iguaçu, na minha pré-campanha, estava conversando com três vereadores em mandato e perguntei “quem vocês vão apoiar para governo?”. Quando dizem que apoiam fulano, eu pergunto por que apoiam fulano e a resposta é porque esse é o indicado do presidente. Então acho que precisa de um tempo. Graças a Deus isso tem sido acelerado. Vejo ao longo da própria campanha dele, que é o único governador que faz campanha para o presidente. O atual govenador Ronaldo Caiado não faz campanha para o nosso presidente, o candidato Gustavo Mendanha não faz campanha para o presidente. O Vitor Hugo faz campanha para o presidente o tempo todo.
Ângela Moureira — O senhor acha que é uma estratégia?
Não, acho que é lealdade. Da mesma maneira que faço campanha para ele (Bolsonaro) o tempo todo e como os meus estaduais fazem campanha para mim o tempo todo. É mais uma questão de lealdade. De entender que nós fazemos parte de um grupo político diferente.
Ângela Moureira — Caiado e Mendanha não demonstrarem apoio ao o presidente é uma questão de estratégias?
Eu não tenho dúvida. Os dois têm grande parte do eleitorado de esquerda e os dois não se manifestam contra o PT e contra a esquerda em situação nenhuma. Eles fogem, são evasivos. Eles não se manifestam abertamente contra a esquerda.