“Caiado ficou satisfeito com minha disposição em ser candidato. As portas estão abertas para as conversas”, diz Henrique Meirelles
04 julho 2021 às 00h00
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Ex-ministro confirma que seu único intuito para 2022 é ser candidato ao Senado por Goiás. Ele e a cúpula do PSD já estão adiantados nas articulações para que componha a chapa que visa a reeleição do governador Ronaldo Caiado (DEM)
Frederico Jotabê e Marcos Aurélio Silva
O ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (PSD) demonstra muita convicção sobre sua candidatura ao Senado na disputa pela vaga de Goiás. Ele, que já começa a intensificar sua agenda e presença no Estado, não esconde que seu intuito é estar na chapa do governador Ronaldo Caiado (DEM) – e indica que as conversas já estão se adiantando.
Em entrevista exclusiva aos editores do Jornal Opção, Meirelles, que atualmente ocupa a função de secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, descarta outra candidatura que não seja ao Senado, e afirma que já tem em mãos pesquisas que indicam a viabilidade de seu nome. Referência em assuntos de economia, o ex-ministro já aponta como seu currículo pode cacifa-lo para disputa em 2022.
Frederico Jotabê – Sobre 2002, quando o senhor foi candidato a deputado federal, uma das fórmulas de sua campanha foi andar todo o Estado, para se viabilizar e depois ser eleito. Essa fórmula será seguida para sua candidatura ao Senado Federal, no ano de 2022?
Certamente. Pretendo conduzir uma campanha que vá exatamente na mesma direção. Quer dizer, na eleição de 2002 eu tive votos em praticamente todos os municípios do Estado. Faltaram muitos poucos, foram municípios pequenos onde não tive voto. Mesmo para deputado, é normal que se concentre em seu próprio colégio, no meu caso eu fiz campanha no Estado todo. Independentemente da votação elevada que tive nas grandes cidades, pela própria densidade, por exemplo na zona um de Goiânia, eu tive 36% dos votos. Tive votação grande também em Anápolis, Luziânia, Rio Verde e outras cidades grandes.
Frederico Jotabê – Nesta pré-campanha, quando o senhor começa a vir mais para o estado e começar a percorrer as cidades?
Neste momento ainda existe todas as restrições e cuidados de todos por conta da pandemia. À medida que o processo de vacinação contra o Covid-19 ainda está em andamento, evidentemente que tudo será feito com os devidos cuidados, e maior moderação. Mas a partir do momento da vacinação de grande parte da população adulta, por exemplo, isso está previsto para setembro, segundo o Ministério da Saúde, certamente a partir daí teremos uma agenda mais intensa de viagens.
Marcos Aurélio Silva – O senhor sempre foi um homem pragmático. Que se pauta pela realidade. Já tem em mãos pesquisas que lhe dão elementos para ir em frente com a candidatura ao Senado por Goiás?
Sim. Temos. Fizemos uma série de pesquisas. Evidentemente que, como você colocou de pragmatismo e pé no chão, tem que se basear no momento. Hoje existe uma forte presença de comunicação digital, como já estamos fazendo aqui. Tudo isso veio para ficar. Isso será, certamente, um legado da pandemia. Não vamos voltar atrás. Como no mundo e nas diversas revoluções que já houveram na comunicação, nunca parou para voltar atrás. Quando o rádio chegou, veio para ficar. Quando a televisão chegou, foi para ficar. A televisão a cabo também. E a comunicação digital também. Então tudo isso vai permanecer.
Em função disso fizemos um mapa completo deste assunto. Dos assuntos que são dos maiores interesses dos goianos na comunicação digital, de influenciadores e etc. É um material todo que está em processamento. Também as pesquisas. Evidentemente que a imagem é muito forte, grande parcela da população reconhece tudo aquilo que fizemos pelo Estado, seja no Banco Central, seja no Ministério da Fazenda, quando eu executei e fiz uma política que beneficiou todo Brasil, mas particularmente Goiás. O Estado cresceu muito. Muitos goianos saíram da pobreza naquele período em que eu estava no Banco Central. Então é meramente uma questão de fazer a conexão. Tudo isso me posiciona bastante bem.
Quando eu fui convidado pelo partido PSD, quando o presidente nacional do PSD, o Gilberto Kassab me convidou para ir a casa dele e eu fui, ele juntamente com o senador Vanderlan Cardoso, o deputado federal Francisco Junior, e, depois por comunicação eletrônica (e recebi posteriormente aqui a sua visita) Vilmar Rocha. Todos eles na mesma linha: me convidando para que eu visse a me candidatar a senador por Goiás.
Recebi esse convite com muita honra e satisfação. O presidente Gilberto Kassab me convidou imediatamente para me filiar novamente ao partido – eu fui juntamente com ele um dos fundadores do PSD em 2011. Voltamos ao PSD e estamos trabalhando junto com o comando do partido.
Eu tive a honra de ter o presidente Gilberto Kassab me acompanhando na visita que fiz a Goiânia, há alguns dias, e foi um gesto simbólico muito forte e significativo. Quando fui, estivemos com o governador Ronaldo Caiado, que é meu amigo de longo tempo, também o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, o Lissauer Vieira, e também com todos e mais importantes líderes do partido. Nos reunimos para conversar sobre todo esse projeto. Estou muito honrado com esse convite e essa receptividade. Estamos estudando como de fato ajudar a levar o desenvolvimento ao estado de Goiás.
Marcos Aurélio Silva – O senhor cita a campanha de forma digital porque essa pode ser a forma para romper a barreira com o eleitorado goiano, já que esteve fora do Estado por bom tempo?
Não há dúvida. Evidentemente que a campanha e as reuniões presenciais são fundamentais, tanto que fiz diversas visitas, importantes e significativas. Tenho recebido aqui diversas visitas importantes também. Isso será feito de forma intensa.
O que estou dizendo é que a comunicação digital hoje é uma realidade. A política hoje, os negócios também e todas as atividades, não podem viver hoje sem a comunicação digital. Quer dizer, não se pode parar no tempo e tentar voltar atrás. O contato pessoal é importante, mas hoje, a política nacional já demonstrou isso, a comunicação digital é vital. Inclusive a eleição de 2018 demonstrou isso com muita clareza, independentemente de conversas presenciais e reuniões.
Frederico Jotabê – Secretário, na sua visita em Goiânia, durante a coletiva que foi dada, o senhor fez questão de ressaltar que vai permanecer no mandato, diferente do que ocorreu em 2002. Essa é uma preocupação que está nos levantamentos feitos pela sua equipe? O senhor precisa dar essa justificativa de que vai permanecer no mandato, como também se manter fazendo política para Goiás?
Não é uma preocupação do eleitor neste momento. Aqueles ligados ainda a 2002, não questionam ou duvidam do fato de que assumindo a presidência do Banco Central do Brasil eu fiz muito mais para Goiás do que se eu tivesse permanecido deputado federal. Não há dúvida.
Naquele período em que exerci a presidência do BC foram 50 milhões de brasileiros que saíram da pobreza. E um percentual de milhões de goianos. Foi um percentual enorme da população goiana. Se pensarmos em 50 milhões de brasileiros à época, estamos pensando em um percentual enorme da população e a mesma coisa em Goiás.
“Eu não pretendo ser candidato a deputado federal nesta eleição”
Quando assumi o Ministério da Fazenda o Brasil vivia uma recessão enorme. Era uma crise econômica. Conseguimos tirar o Brasil da recessão e voltar a crescer. Isso foi benefício direto para o Estado de Goiás, tanto que o agronegócio cresceu muito e as exportações brasileiras cresceram, viabilizando e abrindo portas e mercados internacionais que eu ajudei muito. Inclusive continuo ajudando, usando não só reuniões presenciais como a comunicação digital.
Frederico Jotabê – A pretensão é que o senhor seja candidato a senador na chapa do governador Ronaldo Caiado?
Isso vai depender da evolução dos contatos e das conversas. Isso será uma composição que vamos evoluir, não só eu próprio, com o comando do partido e todas as lideranças do PSD e o governador Ronaldo Caiado. Somos amigos de muitos anos. Tivemos uma reunião ótima, agradabilíssima que tivemos com ele. Estamos bem alinhados. Agora evidentemente a formalização de qualquer aliança ou composição de chapa se dará normalmente durante o correr do processo.
Eu sempre acreditei em fazer as coisas certas na hora certa, como governador também. Eu não acredito em coisas precipitadas e feitas antes da hora. Acredito que as coisas têm que caminhar normalmente e nas horas certas se formaliza isso.
Não há dúvida que eu gosto de estar trabalhando junto com pessoas que eu tenho uma boa relação, como tenho com o governador. Acho que qualquer evolução neste sentido seria natural. É ver as coisas na hora certa. Ele já falou isso e eu repito.
Marcos Aurélio Silva – O senhor fala na relação de amizade que tem com Caiado, mas além disso, o que há na gestão dele e nesta possível formação de chapa, que chama sua atenção e desperta seu desejo para estar nela?
Não discutimos especificamente na formação de chapa. O governador fez uma colocação muito importante, muito boa, explicando tudo que ele e seu governo estão fazendo nas diversas áreas. Isso foi muito bom e útil.
O governador Ronaldo Caiado apreciou muito o fato de que eu estava lá visitando ele, porque ele achava que existia muita dúvida no Estado, principalmente sobre essa situação de pandemia e até que ponto eu estaria disposto em atender e a aceitar o convite do PSD e de fato me candidatar. O governador Ronaldo Caiado ficou satisfeito com minha disposição em ser candidato. As portas estão abertas para as conversas,
Frederico Jotabê – Existe uma disputa muito grande por essa vaga ao Senado na chapa do governador Ronaldo Caiado. Fala-se no PP, no Republicanos, o MDB, e outros partidos que estão tentando buscar essa vaga. Se não for possível viabilizar sua candidatura, o pode vir a ser candidato a deputado federal, como ocorreu em 2002?
Não. Eu não pretendo ser candidato a deputado federal nesta eleição. Em nenhuma hipótese.
Marcos Aurélio Silva – Se consolidar sua candidatura na chapa de Caiado, que caminha para ter o apoio do atual presidente Bolsonaro. Teria algum desconforto ao senhor, já que seus feitos estão ligados ao governo de Lula e Dória, inimigos políticos do atual presidente?
Existe um ditado antigo da política, se referindo ao natal, que só o peru morre na véspera. Então o significado disso é que não se toma decisões antes da hora. tem que se tomar decisões na hora certa.
Frederico Jotabê – E essas matérias que foram públicas dizendo que o senhor poderia ser vice de Lula em 2022 e que o mercado veria com bons olhos essa indicação nesta posição. Como o senhor responde a essas especulações?As especulações são normais e absolutamente usuais na política. Existem de fato muita conversa e nota sobre isso. Mas não é nada concreto. Não existe nenhuma conversa minha com o ex-presidente ou com um de seus representantes. Evidente que eu tenho uma excelente relação com ele, trabalhamos juntos oito anos. ele presidente da República e eu presidente do BC, mas não há nenhum tipo de entendimento neste sentido. O que há de concreto é exatamente o que estamos conversando, ou seja, um convite do PSD, para ser candidato a senador por Goiás.
Como foi mencionado pelo presidente Gilberto Kassab, eu recebi diversos convites ao longo da minha carreira para poder ser candidato por outros partidos e outros estados. Eu escolhi Goiás por ser meu Estado, onde nasci e cresci. É onde minha família, meus pais e meus avós nasceram e viveram. Eu tenho raízes e presença forte no Estado de Goiás.
Marcos Aurélio Silva – O que pesou em sua decisão de voltar ao PSD?
Eu acho que é um momento importante no País de fortalecimento do Poder Legislativo e cada vez mais temos um protagonismo dos parlamentares na democracia brasileira. Estamos vendo como todas as discussões importantes passam e têm protagonismo grande do Legislativo.
A possibilidade de participar da formulação políticas econômicas nacionais no Senado, e poder direcionar recursos e investimentos (público e privado) para Goiás, é uma coisa que me atraiu muito. É algo que eu sei e posso fazer. Eu já tive uma carreira internacional, conheço investidores do mundo todo, conheço governos do mundo todo e recebo consultas frequentemente sobre onde investir no Brasil. Eu acho importante poder colaborar com Goiás, Estado onde minha família viveu, onde nasci, vivi e fui educado. Estudei no Lyceu de Goiânia e adquiri minha educação básica. Acho muito importante que eu possa usar toda minha experiência internacional e levar recursos para Goiás, sejam eles privados ou públicos. Também quero ajudar a formular políticas que levem o País a crescer.
Acho que o Senado Federal hoje é um protagonista importante. É o melhor lugar hoje onde eu posso colaborar com Goiás e com o Brasil.
Frederico Jotabê – O senhor já foi do MDB. Em 2010 chegou a ser cotado para disputar o governo de Goiás pelo partido, mas à época o prefeito de Iris Rezende se colocou como candidato e consolidou a candidatura dele ao governo. Ele agora defende uma aliança do MDB com Caiado, o senhor pretende vir a se encontrar com Iris e abrir o diálogo com ele?
Exatamente. Eu tenho uma relação excelente com o MDB. Em 2018 eu ganhei a convenção nacional do partido e com apoio forte dos delegados de Goiás. Não há dúvida de que na próxima viagem a Goiânia farei uma visita a Iris.
“Acho que o Senado Federal hoje é um protagonista importante”
Já recebi, com muita satisfação, uma visita, em São Paulo, do Daniel Vilela. Conversamos. Tivemos uma conversa excelente e muito boa. Como sempre. Tivemos uma parceria em 2018 e certamente estamos conversando muito bem agora. Na próxima etapa será certamente uma visita pessoal a Iris Rezende, também amigo de décadas.
Frederico Jotabê – O senhor fez uma postagem sobre o crescimento de São Paulo. Qual o segredo e diferença do que acontece no Brasil, que tem suas dificuldades para o crescimento?
O crescimento de São Paulo de fato foi muito bom. Crescemos quase três vezes a média nacional em 2019. Em 2020, em razão da pandemia, quando a economia brasileira caiu 4,1% a economia de São Paulo cresceu 0´,3%. Uma das poucas regiões do mundo que cresceram. Estamos crescendo forte. Agora no de 2021 temos uma previsão de crescimento de mais de 7%, podendo chegar até 7,8%. É um crescimento impressionante. E tudo isso em virtude de políticas econômicas tributárias, conceitualizadas, bem planejadas e bem executadas.
Eu já dizia isso há muitos anos: o sucesso de uma boa estratégia não está apenas na definição da estratégia correta, mas na execução. 50% do sucesso é execução, 50% de estratégia. Tudo isso é o que está acontecendo e São Paulo obtém uma perspectiva de crescimento forte, baseado em um crescimento que já vem.
Eu tenho feito viagens internacionais importantes nestes aspectos. em 2019, antes da pandemia, estive nos Estados Unidos, em Londres, na Alemanha, em Xangai, Beijing, em Tóquio, em Abu Dhabi, em Dubai… e nestas regiões todas falando sobre o Brasil e São Paulo.
No ano passado fiz exatamente a mesma coisa, mas virtualmente. Falei com investidores do mundo inteiro. Isso foi muito importante. Eu também tenho reuniões individuais com investidores que me perguntam muito e eu falo das oportunidades importantes que existem em Goiás para investimento e como isso pode beneficiar o próprio investidor e o Estado. Acredito que com uma representação específica do Estado como senador poderei fazer isso com muito maior eficácia e intensidade, não só presencialmente viajando, mas recebendo investidores e também usando a comunicação virtual.
Marcos Aurélio Silva – O discurso de uma política liberal, de privatizações e tudo mais foi decisivo para eleição de Bolsonaro, porém, pouco se caminhou neste sentido. O senhor acha que essa pauta liberal terá o mesmo peso na campanha de 2022?
Não há dúvida que a população espera política que leva em última análise a criação de empregos e aumento da renda. Em última análise esse é o nome do jogo. E vem como consequência de um maior crescimento e que vem, como consequência, da modernização da economia.
“Acredito que não há nenhuma razão para permanecer essa inflação”
Temos agora duas reformas fundamentais que estão sendo discutidas no Congresso. Mais uma vez eu ressalto o protagonismo dos parlamentares. Temos agora a Reforma Tributária em discussão no Congresso. É algo fundamental para o País. E a Reforma Administrativa, também fundamental. Tudo isso são reformas que em última análise serão decididas pelo Congresso Nacional. O executivo tem sua parte de apresentação de propostas, mas a decisão de última análise é do Congresso. É quem aprova. Vai para o presidente que tem o direito de vetar, mas volta ao Congresso que pode, se quiser, derrubar o veto.
É um protagonismo que agora o Congresso exerce e que eu acho fundamental participar deste processo de uma forma produtiva e importante para Goiás e para o Brasil.
Frederico Jotabê – Secretário, essa agenda de reformas começou com a entrada do Michel Temer, quando foi aprovada a Reforma Trabalhista, no início do governo de Jair Bolsonaro veio a Reforma da Previdência. Agora chegam as duas: Tributária e Administrativa. Os resultados da economia, para população em geral, observa-se pouco. Apesar da pandemia, não evoluiu o emprego e renda. Como convencer o cidadão que essas reformas são importantes?
Foram feitas reformas de fato importantes, como a da Previdência, mas não foram todas as reformas necessárias, como eu mencionei. Tem duas que são fundamentais que estão sendo avaliadas, além de uma série de outras ações, como privatizações de rodovias, ferrovias e etc.
Existem intenções muito boas, mas precisa que se faça isso e execute, como fizemos em São Paulo com a rodovia que cruza o Estado privatizada com investimento de R$ 14 bilhões. Está se fazendo concessões para ferrovias e estradas importantes para Goiás, mas isso precisa ser acelerado. Não há dúvida de que esse é o caminho.
Para o eleitor, o que ele quer saber é o seguinte: emprego e renda. E para as empresas é: crescimento e possibilidade de aumentar vendas. Corretamente. Não adianta só falatório. É importante chegarmos a um resultado concreto. É importante saber atuar no sentido de fazer as reformas que são as melhores e que viabilizem o que é importante para o país e para o eleitor, isto é, emprego e renda.
Marcos Aurélio Silva – Este cenário de inflação alta pode se tornar permanente no País. Quais os motivos?
Não há motivo nenhum para que fique permanente. Existe uma série de fatores que levaram a essa situação, como a desorganização da cadeia produtiva, a falta de mercadorias em determinados segmentos específicos que levaram ao aumento do preço. A insegurança em relação ao direcionamento da economia leva a empresa a manter ou subir preços mesmo quando as vendas estão caindo. não é um comportamento usual, ocorre apenas quando estão inseguros.
O Banco Central tem todos os instrumentos para combater isso. Pode combater esses aumentos de preços e sinalizar fortemente que a inflação vai cair, porque a inflação tem um componente muito grande de expectativas das pessoas, empresas e investidores. É muito importante uma formulação e atuação do BC na medida que convença a população e os agentes econômicos de que a inflação vai convergir para menos. Acho que isso é possível e não há dúvida de que o Banco Central tem condições de fazer isso.
Em 2003 chegamos a ter uma inflação de 17% em um ano. Colocamos a inflação na meta durante oito anos sem maiores problemas. Isso levou o Brasil a crescer muito e a exportar muito. Beneficiou diretamente Goiás com o crescimento econômico, emprego, renda e expansão do agronegócio. É possível fazer. Acredito que não há nenhuma razão para permanecer essa inflação.
Frederico Jotabê – Secretário, nesta legislatura, alguns setores do Congresso chegaram a defender que era possível pegar parte dos recursos que estão nas reservas internacionais, para serem aplicadas e revertidas em investimento. Além disso, criticavam o custo de ter reservas no nível que temos hoje. O senhor acha que essa é uma medida correta, até porque foi na passagem do senhor pelo BC que foi criado o plano das reservas?
Acho que as reservas internacionais são fundamentais porque elas asseguram a estabilidade e a confiança da economia brasileira. A pior coisa que pode acontecer é problemas de falta de moeda estrangeira, em resumo, chama-se isso de câmbio. Não é a taxa de câmbio, mas a crise cambial. O que é isso? quando faltam moeda. Alguns países latinos americanos às vezes enfrentam isso. O Brasil enfrentou isso. Quando assumi o Banco Central enfrentava. O Brasil tinha U$ 15 milhões em reserva e devia U$ 30 milhões para o Fundo Monetário Internacional (FMI). Isso levava a inflação elevadíssima. O dólar estava subindo mais do que devia.
“Foram feitas reformas de fato importantes, como a da Previdência, mas não foram todas as reformas necessárias”
A reserva internacional acalmou tudo isso. Um economista muito competente e conhecido, já falecido há muito tempo,Mário Henrique Simonsen, dizia que eram dois grandes problemas no Brasil, a inflação e o câmbio. Ele apontava que a inflação aleija e o câmbio mata. Então não é algo para se brincar. Eu acho que as reservas têm que ser mantidas porque são fundamentais para dar condições de que tudo isso que estamos falando aconteça, não só o Brasil cresça gerando emprego e renda, mas controle a inflação. Se perdemos o controle do câmbio, com crise cambial como temos aí em países vizinhos por falta de reserva, nós estaremos em uma situação de muita dificuldade.
Frederico Jotabê – em uma entrevista o economista Persio Arido, fez uma crítica ao discurso do mercado atual e a questão das reformas. Não adianta discutir economia se não tiver estabilidade política e respeitar as instituições, é o que não ocorre hoje com o atual governo. O senhor parte deste mesmo pensamento?
Duas coisas, não é tudo preto e branco. Na medida que não há estabilidade política da maneira que gostaríamos, não adianta falar nada de economia e seja o que Deus quiser. Não é assim.
Tem que falar de economia sim. Tem que discutir e o Congresso aprovar as reformas fundamentais. O governo deve tomar as medidas adequadas.
A estabilidade política é importante. Dá o direcionamento da economia, do Congresso e do que vai acontecer. O consumidor quando está tomando suas decisões de consumir ou não, de tomar empréstimo ou não, comprar um bem financiado ou não, ele está olhando em última análise a previsão do que vai acontecer com a vida dele e consequência com a economia. O mesmo acontece com o empresário e investidor.
Para isso a estabilidade política é importante, mas influencia o crescimento econômico. Quanto mais estabilidade e clareza a frente melhor. Mas não é preto e branco, ou está totalmente estável ou totalmente instável. Então não adianta nada discutir a economia? não é assim. São fatores que se somam. Uma boa direção econômica é fundamental, os projetos aprovados pelo Congresso são fundamentais e a estabilidade política ou baixo ruído certamente ajuda na maior confiança que é importante para o crescimento econômico.
Frederico Jotabê – Pode qualificar o governo de Jair Bolsonaro como liberal?
É difícil. É um governo que tem decisões que vão na direção liberal, e decisões que não necessariamente são liberais e são protecionistas. E portanto, não há uma definição clara, como todos gostariam. É liebral ou não é liberal. É um governo que tem ministros liberais e ministros que não são. Certamente não tem uma definição tão clara a esse respeito. É importante em, última análise, olharmos o que está sendo feito concretamente. Como sempre disse na minha carreira, foco no resultado.
Frederico Jotabê – Tem uma entrevista do Gilberto Kassab já citando o nome de Rodrigo Pacheco como um possível candidato do PSD a presidente da República, caso realmente deixe o DEM. É um nome que agrada o senhor? . Qual avaliação que o senhor faz?
É um bom candidato. Não há dúvida. Como tem outros candidatos fortes. O governador de São Paulo, João Dória, é um candidato fortíssimo e também vai disputar as prévias do PSDB. Existem candidatos que são muito bons. Vamos ver qual que se viabiliza. Evidente que numa campanha presidencial as coisas tendem a se afunilar. Ter alguma alternativa para a dualidade de hoje é boa e dá alternativa para o País, além de ser uma oportunidade de escolha do eleitor.
– Sob críticas de oposicionistas, o governo de Goiás se prepara para entrar no Regime de Recuperação Fiscal e também aprovou o Teto de Gastos. Qual sua opinião sobre isso? O RRF é a saída para que a gestão de Caiado alcance o equilíbrio fiscal?
Sim. Eu acredito que sim. Eu que criei o RRF, na sua primeira versão, que foi implantando no Estado do Rio de Janeiro, em 2017. Esse projeto foi eu quem enviei ao Congresso Nacional. Depois foi criado outras versões e aperfeiçoando um pouco com algumas modificações. O estado que está em dificuldade de cumprir suas obrigações tem que entrar no Regime de Recuperação Fiscal. Há duas partes. Uma que é do adiamento do pagamento de dívidas, que é fundamental. Mas tem também a parte das contrapartidas, que é o que o estado tem que fazer para ajustar suas contas e voltar a situação boa no futuro. É uma boa solução que eu criei e que não há dúvida de que é a direção correta.
Assista a entrevista completa: