“A noiva mais cobiçada chama-se União Brasil. Todos querem se aproximar”

10 abril 2022 às 00h00

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Reconhecido pelo trabalho na medicina e agora pela atuação como deputado federal, ele demonstra experiência política e reforça desejo de ser senador
Depois te atuar por 35 anos do Hospital Materno Infantil (HMI) e ganhar projeção nacional pelas cirurgias de separação de gêmeos siameses, o médico Zacharias Calil (UB) ainda demonstra muito folego e reforça que novos objetivos. Ele que está no primeiro mandato de deputado federal, aponta contribuições para o setor da saúde pública e coloca como destaque a viabilização do Hospital Estadual da Criança e do Adolescente.
Zacharias Calil fala de política com o mesmo entusiasmo que lida com a medicina. Percebe-se em suas colocações, que apesar de estar em primeiro mandato, há experiência em lidar e avaliar o cenário político. É dai que vem tanta firmeza ao afirmar que será candidato ao Senado. Em entrevista aos editores do Jornal Opção, o parlamentar avaliou o trabalho realizado em seu mandato, os avanços na saúde estadual e nacional, e claro, os caminhos das eleições para este ano.
Euler de França Belém – O senhor está completando 3 anos e 4 meses de mandato de deputado federal. O que o senhor considera que foi feito de importante pelo senhor na Câmara Federal?
Até me surpreendo quando faço o balanço de nossas ações. Sou deputado de primeiro mandato, nunca fui político. Mas o meu trabalho como congressista começou a aparecer agora. Participo de várias comissões, fui titular da segunda comissão mais importante da Câmara Federal, que é a de Seguridade Social e Família.
Tenho que destacar também as emendas parlamentares que consegui, quase 100% foi para área de saúde. Isso é importante principalmente em um período de pandemia. Consegui aprovar dois Projetos de Lei. O primeiro foi o que obriga que as unidades de saúde forneça EPI (Equipamento de Proteção Individual) para os trabalhadores da saúde. Foi aprovado em 2020. Recentemente aprovamos o Projeto de Lei que cria o dia de conscientização de pacientes traqueostomizados. Foi aprovado também o requerimento para comemoração do dia nacional das crianças portadoras de hemangiomas e linfangiomas, uma das minhas especialidades.
Fui designado relator de centenas de projetos na Comissão de Seguridade de Família. Todas as matérias foram aprovadas com destaque.
Euler de França Belém – Quando o senhor fala em emendas, quais foram as principais e onde elas foram aplicadas?
Em 2019 destinei emendas para pesquisas da UFG (Universidade Federal de Goiás). Foi destinado R$ 1 milhão para o departamento de ciências biológicas que desenvolvem pesquisas sobre o uso de agrotóxicos na alteração do DNA de população ribeirinha e de baixa renda. Essa pesquisa já foi concluída. Também destinei recurso para o Centro de Oftalmológia da UFG. Trata-se de um serviço espetacular que é o Banco de Olhos. Houve entrega de sete motoniveladoras, as patrolas. Destinei também nove ônibus escolares.
Encaminhei emenda parlamentar para quase todos os municípios, mesmo aquele em que eu não tive voto ou apoio. Faço questão. Tem prefeitos que nem conheço, mas a administração sendo apontada como honesta e boa para as pessoas eu tenho o compromisso de ajudar. São municípios mais pobres que realmente necessitam.
Para a educação, eu destinei recursos para reforma de escolas. Quatro cidades receberam caminhões coletores de lixo. Também ajudar outras oito cidades com estrutura para melhorar as estradas vicinais.
Euler de França Belém – Quanto foi no total o recurso destinado em emendas do senhor para Goiás?
R$ 70 milhões. Por último entregamos duas viaturas blindadas para a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Cada uma custou cerca de R$ 700 mil. Já entregamos a blindagem do posto policial da PRF em Anápolis e outras cinco receberão essa mesma segurança.
Vamos fazer agora uma emenda para construir novos postos para a PRF de alvenaria. Muitos são feitos de contêineres. É algo insalubre. Não me preocupo com questões de aparecer em razão dessas emendas. É algo que eu faço como deputado por ter compromisso com a sociedade goiana. Para exemplificar, foi entrega uma patrola para a cidade de Ceres, eu não estive presente na cerimônia de entrega. Vou marcar uma visita para o prefeito da cidade. Mas eu não faço questão de aparecer.
“Já ouvi de políticos que atenção
a crianças não dá voto”
Outra emenda que preciso citar é para compra de um caminhão tanque para o Corpo de Bombeiros de Goiás e uma UTI neonatal móvel para o Corpo de Bombeiros. Será a única no estado. Já está empenhado.
Marco Aurélio Silva – No seu primeiro ano de mandato, o senhor destinou recursos para o hospital em que trabalhava, o Hospital Materno Infantil?
O que considero principal é a primeira emenda que fiz, no valor superior a R$ 9 milhões, que destinei para o Hospital Materno Infantil. Há época eu procurei o governador Ronaldo Caiado e fiz ele assinar o documento destinando o recurso para Secretaria de Saúde do Estado, fazendo com que o dinheiro chegasse para a unidade. O governador até assustou. Ele me perguntou se eu ia colocar todo o recurso para um só hospital. E eu disse que sim. Essa decisão foi motivada em conjunto com o corpo clinico da unidade. Eles fizeram uma relação de material que precisavam.
Euler de França Belém – O senhor cita o Hospital Materno Infantil, unidade em que o senhor trabalhou por 35 anos. Qual é a história desse hospital para sua trajetória como médico e também política?
Formei-me em Goiânia, na UFG, e fiz internato no Materno Infantil. Era um hospital razoável, não tinha tanto movimento como tem atualmente. A época Goiânia tinha 650 mil habitantes. Fiz minha especialização fora, e na volta para Goiás fui direto para o HMI. Voltei como médico efetivo. Mas como médico do serviço público, me sentia incomodado em trabalhar em uma unidade com tanta demanda e com pouca estrutura.
Quando comecei não tinha UTI. As cirurgias não podiam ser feitas na unidade. Um recém-nascido com má formação precisava ir para outra unidade. Mas fomos lutando para mudar isso. Eu era jovem e queria trabalhar muito. Sempre fui obcecado por cirurgia. Queria resultado.
Como trabalha também no Hospital de Base, em Brasília, eu chegava aqui e sentia um contraste. Lá no HMI a gente só operava coisas pequenas, como hérnias, fimose, etc. As grandes cirurgias que as crianças precisavam era preciso transferir para uma unidade particular ou conveniada.
Mas é preciso ter referência, e não tínhamos. Nesta época eu viajava muito para congressos, apresentava centenas de trabalhos, conhecia muita coisa nova. Nesse período, se não me engano o governador era Maguito Vilela, foi inaugurada uma UTI pediátrica. E aí foi melhorando aos poucos. E eu vivia por aquilo lá.
Marcos Aurélio Silva – Mesmo sem a estrutura adequada, foi lá que o senhor fez sua primeira cirurgia de separação de gêmeos siameses?
Em 1999 apareceu o primeiro caso de gêmeos siameses. Vi na televisão, então fui lá e ofertei ajuda. Logo pensei: como vou fazer essa cirurgia? Eu não fazia ideia da repercussão daquilo. De início eu achei até natural, do ponto de vista de um cirurgião.
Acontece que depois caiu a ficha. Como eu faria aquela cirurgia no HMI? Lembrei-me então do que tinha ouvido de um palestrante americano, em um dos congressos que participei. Alguém disse a ele que era fácil fazer cirurgias no país dele, em razão da estrutura. Mas aqui no Brasil não tinha. E ele disse que deveríamos cobrar nossos políticos. Foi isso que fiz.
Busquei contato com o secretário Estadual de Saúde, depois o governador a época. Fui atrás, e conseguimos recursos para adquirir alguns equipamentos, outros pegamos emprestados. Em seis meses tínhamos o fundamental para realizar a cirurgia e formatamos a equipe.
Nesta primeira cirurgia eu convidei meu chefe para vir aqui em Goiânia. Ele era um cirurgião formado nos EUA, trabalhou por lá por 12 anos. Ele me disse que nunca tinha visto uma cirurgia daquela na vida. Ao final ele me falou: só você para fazer uma cirurgia neste hospital. Você é corajoso. Essas foram as palavras dele: quando se tem vontade, se faz.
A partir daquele momento muitas coisas melhoram no HMI. Houve uma valorização. Houve inclusive reformas no prédio. Mas é o tipo de coisa, estica/encolhe. Se fazia um puxado para um lado e para o outro, era uma tentativa de melhorar, mas não era o que eu desejava.
Marcos Aurélio Silva – Foi pela busca de uma nova estrutura de atendimento a crianças em Goiás que o senhor entrou na política?
Participei de algumas campanhas para prefeito e governador em Goiás. Alguns me procuravam e pediam para ajudar no plano de governo. Então colocava a necessidade de uma unidade grande, bem equipada e com quadro de profissionais completos para atender crianças e adolescentes. Mas ouvi muitos coordenadores de campanha dizendo que aquilo era bobagem. Já ouvi de políticos, que atenção a crianças não dá voto. Ouvi várias vezes. Segui lutando, mas morrendo na praia.
Em 2017, enquanto fazia uma caminhada próximo a minha casa, o celular tocou e era o então senador Ronaldo Caiado. Eu já o conhecia ele desde 1979, ele foi meu preceptor na clínica dele quando eu era estudante de medicina. Sempre tive respeito. Ele me pediu o endereço e disse que iria em minha casa.
Ao chegar ele disse que sairia candidato ao governo de Goiás e que precisava de novos nomes para entrar na política. Questionou se eu poderia apoiá-lo na candidatura e fosse candidato. A primeira vista eu assustei. Falei muito com minha esposa e família, e depois voltei a procurar o Caiado.
No segundo encontro eu disse que entraria para a política com uma motivação: a construção do hospital da criança e do adolescente. E ele me disse que era o sonho e o programa de governo dele. Ele topou para gente fazer juntos.
Quando se tem vontade política a coisa acontece. Foi assim que entrei para política. E assim que venho trabalhando nos últimos três anos e quatro meses.
Elder Dias – Como foi o trabalho para viabilizar esse Hospital da Criança e do Adolescente?
Chegamos a olhar uma área da Emater. Estivemos junto a ministra Tereza Cristina, para essa destinação. Fizemos um mapa, escolhemos a área e geramos várias negociações e discussões. A ministra acabou liberando mais de 50 mil metros quadrados para construção do hospital. Conseguimos uma aprovação da bancada federal do valor de R$ 140 milhões para destinar para o hospital. Mas aí chegou a pandemia, e complicou-se tudo.
Chegamos a avaliar o Hugol, se havia possibilidade de fazer uma adaptação. Recebemos visita do ministro da Saúde à época (Luiz Mandeta). Chegamos a pensar em fazer um projeto nos moldes do hospital da Criançaa de Brasília – com verba internacional. Chegou ao ponto de eu imaginar que não conseguiria viabilizar o hospital.
Num belo dia o governador Ronaldo Caiado me chamou e me disse: vamos comprar o Hcamp. Que era o hospital do Servidor, construído pelo Ipasgo. Eu cheguei a dizer que lá não tinha nada, mas ele disse que poderíamos equipar. Viemos trabalhando até o dia da inauguração do hospital.
Os equipamentos que estão sendo adquiridos ao longo desses anos estão chegando para o Hospital da Criança e do Adolescente. Dos R$ 9 milhões de emendas que foram destinadas para o HMI, parte já vem para o novo hospital. Foi um acordo que fiz com a diretoria do Materno.
Hoje os equipamentos que tem lá foram escolhidos pelo corpo clínico. Não foi a Secretaria Estadual que chegou e comprou como sem uma consulta. Foi tudo de acordo com a demanda do corpo clínico. São os melhores que existem no mercado. Agora no começo do ano chegou mais uma emenda de R$ 4 milhões.
Marcos Aurélio Silva – O senhor citou a questão da pesquisa que uma emenda parlamentar do senhor ajudou a financiar, que teve como finalidade avaliar se há impactos dos agrotóxicos no DNA humano. O senhor é um especialista e reconhecido cirurgião de separação de bebês siameses. O senhor enxerga alguma relação no uso de defensivos agrícolas e a condição da gestação dessas crianças?
Sim. Eu vejo essa correlação. Inclusive fui criticado quando votei a favor da regulamentação de agrotóxicos. É preciso entender e separar bem as coisas. Regulamentação e liberação são coisas diferentes.
Muita gente viu meu voto de maneira negativa. Justamente por ter sido sempre um crítico ao uso indiscriminado dos agrotóxicos. Se não regulamentar esses produtos vão entrando no país de uma forma clandestina. É o contrabando. Não tem uma regulamentação sobre o produto que pode entrar ou não no Brasil.
Para se ter uma ideia há produtores que há dez anos espera para ser avaliado se pode ser liberado ou não no país. Volta e meia alguém fala: ‘o Ministério da Agricultura liberou centenas de tipos de agrotóxicos’. Isso porque não há regulamentação.
Nesta matéria eu votei contra todos os destaques que foram apresentados. Perdemos, mas fui contra.
Euler França de Belém – Qual continua sendo o maior problema da saúde no Brasil?
Falta de investimentos. Durante a pandemia houve grandes investimentos, mas também houve grandes desvios. O dinheiro há, mas não chega na fonte. A vontade política, no período de pandemia, ela existiu. O recurso ele há. O presidente já mostrou que gastou bilhões, mas às vezes não chega.
“Entrei na política para conseguir
colocar esse Hospital da Criança
em funcionamento”
Um exemplo é a tabela SUS. Hoje um médico que recebe pela tabela SUS não consegue abastecer o carro. O SUS é excelente, mas tem que ter um reajuste. Já faz anos que não há. Os hospitais não dão conta mais. Os medicamentos estão com valores nas alturas.
Euler França Belém – Apesar de a discussão ser exaustiva, o senhor já imaginou a pandemia sem o SUS?
Se não fosse pelo SUS estaríamos em uma situação gravíssima. O SUS contribuiu para que a população conseguisse o atendimento. Foram milhões de brasileiros beneficiados.
Euler de França Belém – Como o senhor avalia a conduta do governador Ronaldo Caiado na pandemia?
Foi excelente. Foi uma das melhores do País. Quando o Ronaldo Caiado assumiu o governo, não se tinha UTI em Goiás. As pessoas por vezes não entendem quando ele disse que não precisava do voto, mas precisava cuidar da saúde. É difícil de entender, mas naquele momento ele quis dizer que não tínhamos nada: nem remédios, nem profissionais e não tinha estrutura alguma.
Caso não tivesse isolamento teria piorado muito a situação. O povo tem memoria curta. Se não fosse o SUS, que na pandemia cresceu e evoluiu – com equipamentos e profissionais – tudo teria ficado ainda pior.
Euler de França Belém – Como fica a pandemia a partir de agora?
Quando se começa a vacinar os mais jovens há uma melhora significativa. O jovem é o economicamente ativo. A vacinação avançou, foi diminuindo a carga virótica, inclusive com as crianças. Com isso o vírus recuou. Mas eu digo que essa vacina veio para ficar. Ela será permanente e fará parte do calendário anual.
Euler de França Belém – O senhor não acha que durante um período o Bolsonaro foi prejudicial à saúde?
Prejudicial não. Ele liberou as compras da vacina. Concordo que houve atrasos. Como médico e cientista não posso falar que a vacina não tem efeito. É claro que tem. Mas cada um tem seu ponto de vista.
Mas sendo o presidente de uma nação, faltou o estímulo para população ir se vacinar. A partir do momento que se começou a vacinar a pandemia começou a diminuir. O governo fala em mudar par endemia.
Euler de França Belém – Por que o senhor é bolsonarista?
Eu sou da direita. Não sou bolsonarista. Voto com o governo nas ações que são benéficas para o país. Mas não levanto bandeira. Trabalho do lado do bom senso e da minha consciência. Julgo-me médico e político. Sou sério e estudioso. Minhas posições são independentes, mas sou da direita. Oposição tem falhas.
Euler de França Belém – No primeiro turno o senhor vai ficar neutro ou vai apoiar Bolsonaro?
Tivemos uma reunião entre os deputados e senadores do União Brasil. Defendi que temos que ter um candidato. Somos uma dos maiores partidos hoje no Brasil. Temos um tempo de TV grande. O Fundo Partidário e Eleitoral. Qual a justificativa de no primeiro momento apoiar Bolsonaro ou Lula? Temos que ter candidato próprio.
“Não sou obcecado pelo poder
se eu perder, vou para casa”
Não podemos deixar esse patrimonio que o partido tem fora. A população também pede um terceiro candidato.
Euler de França Belém – Por que todos esses partidos não se juntam para apoiar Eduardo Leite [PSDB, ex-governador do Rio Grande do Sul]?
Não penso assim, acho que temos de ouvir todo mundo. Eu parabenizei o Bivar [deputado federal Luciano Bivar (PE), presidente do UB], porque estamos sendo ouvidos. Os deputados estão sendo ouvidos (enfático). A coisa não está chegando de cima para baixo, somos donos de nossas bases eleitorais e temos de ter voz ativa no partido.
Euler de França Belém – Mas ele próprio já se lançou candidato.
Mas ele é um nome bom, por que não? Qualquer um ali pode se lançar candidato.
Marcos Aurélio Silva – O senhor tem restrições quanto ao nome de Sergio Moro?
Não tenho nada contra, o acompanhei quando ele foi ministro, o respeito demais, mas vejo que ele demorou muito para se encontrar. E como votar nele sabendo que ele não fez uma coisa correta e que levou à nulidade de um processo como o de um ex-presidente? E ressalvo: não estou aqui defendendo Lula, não.
Euler de França Belém – E o que o senhor pensa do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta?
Mandetta cresceu muito em popularidade depois que saiu do ministério. Depois estabilizou e hoje parece que está um pouco desestimulado. Existem vários nomes, na vida tudo é risco. Vamos pensar no nome de Bivar. Vamos lançá-lo? Por que não? Vai ganhar? Não dá para saber, mas a gente entra para ganhar, até porque ninguém sabe o nome de quem é vice.
Euler de França Belém – Mas como poderia o deputado Bivar ser um candidato a presidente sendo que, no passado, ele tem uma acusação sobre ele como mandante do assassinato da amante? Não é uma história nebulosa?
Não conheço essa história a fundo, e muita coisa é de ouvir dizer. E é preciso dar amplo direito de defesa.
Euler de França Belém – O senhor é defensor da reeleição de Ronaldo Caiado. Por que ele mereceria ser reconduzido?
Muita gente fala que não vota em Caiado, por conta das estradas, disso ou daquilo. Mas é preciso ver o que o governador já fez por Goiás. Primeiramente, ele montou um sistema de secretariado pelo qual centralizou tudo. Ou seja, deputado estadual ou deputado federal não é mais dono de pasta, como existiu no passado, quase que em forma de leilão.
Em segundo lugar, ele montou um compliance por meio do qual o Estado já economizou uma fortuna. Com isso, pôde investir mais em saúde e em educação. O que Goiás cresceu em termos de saúde foi espetacular. Tinha paciente que viajava 600 quilômetros para vir e 600 quilômetros para voltar, três vezes por semana, para fazer hemodiálise. Agora, com as seis policlínicas, com ressonância e tudo, não é mais assim. O fluxo da “ambulancioterapia” foi reduzido, muitos viviam disso, alugando casa de apoio, inclusive. O governador está dando dignidade para essas pessoas que usam a saúde.
Sobre a educação, eu levei uma mochila distribuída pelo governo lá para o plenário da Câmara. Apresentei o que tinha nela: um par de tênis, dois uniformes, computador, material esportivo, lápis. Isso tudo e mais 100 reais por mês para parte dos estudantes. O bom governo investe principalmente na educação. A segurança de Goiás, hoje, é referência no Brasil. Todos esses temas são os principais problemas que Caiado havia detectado.
Outro exemplo é o Mix do Bem, que também levei para Brasília. Eu destinei R$ 1 milhão para esse projeto, que é o alimento processado a partir do descarte da Ceasa e destinado para famílias de baixa renda. Muitos deputados me procuraram para dizer que isso precisava ser exemplo para todo o Brasil. Então, quando falam sobre as estradas, eu digo que agora as chuvas estão parando, é o momento de arrumar o asfalto. A verdade é que Caiado pegou um Estado devastado, com atraso de salários, uma dívida enorme – que ele renegociou – e tanta coisa.
Outra coisa que não se pode falar do governo Caiado é sobre corrupção. Ele manda embora, não tem meio termo, conheço o governador, não aceita mesmo. Na Câmara, o que a gente escuta é só coisa boa sobre ele.
Marcos Aurélio Silva – O senhor se mantém como pré-candidato ao Senado. Na última semana, se intensificou a questão de candidaturas avulsas. Mesmo nesse cenário o senhor. se mantém firme em sua posição?
Continuo, sim.
Euler França de Belém – Por que o senhor quer o Senado, em vez de continuar na Câmara? Até porque, para os partidos, os deputados acabam sendo mais importantes do que os senadores, em termos de tempo na TV e fundo eleitoral.
Eu sempre digo que, na vida, temos sempre de progredir. O senador tem um perfil diferente do perfil do deputado.
Elder Dias – O senhor faz um bom primeiro mandato como deputado federal. E há uma “fila” na política, ainda que seja algo não escrito. O senhor não acha que corre o risco de Goiás perder um bom deputado na Câmara e não tê-lo no Senado, que é uma eleição muito mais difícil?
Tudo na vida tem um risco, como eu gosto de dizer. Se eu vou ao Senado e não ganho, a vida segue. Não sou obcecado pelo poder, se eu perder, vou para casa. Estar na Câmara é algo espetacular e este ano, particularmente, estou me sentindo muito bem lá. Mas já tiveram tempos em que eu parava e pensava “o que estou fazendo aqui?”, há dois anos. Porque simplesmente a gente não era ouvido pela presidência da Câmara. Rodrigo Maia [ex-presidente da Casa, até o início de 2021] tinha outro perfil, eram só ele e os amigos, pronto e acabou. A gente não tinha muita oportunidade lá, ele mal cumprimentava a gente, se colocava num pedestal. Ora, eu tive muito mais votos do que ele em meu Estado, ele precisava me respeitar como pessoa, como político.
“O SUS é excelente, mas precisa de ajustes”
Com a mudança da presidência para Arthur Lira, isso mudou. Houve uma abertura maior. Quando Arthur Lira [atual presidente da Câmara] esteve aqui em Goiânia em campanha, eu falei que ele teria de nos ouvir. Não estou lá para bater ponto, quero participar, tem de ter abertura. São 513 deputados para 13 microfones. Ele me disse “você tem razão, temos de entrar lá para mudar isso”. Hoje, peço a palavra e sou atendido de imediato.
Marcos Aurélio Silva – Para o governador Caiado, seria interessante o senhor. participar da disputa para deputado, como puxador de votos. Tem conversado com ele sobre sua decisão?
Eu tive um café da manhã com ele e conversamos muito sobre a política. Ele sabe que sou leal e jamais o trairia por um projeto pessoal. Preferiria deixar a política, não é da minha ética. Jamais faria isso. Mas estou buscando meu espaço, como deputado e pré-candidato ao Senado. Pesquisas internas, ainda da época do DEM [antes da fusão com o PSL e formação do União Brasil], deixaram bem claro que a combinação política mais forte seria meu nome com o de Ronaldo Caiado.
Euler de França Belém – O senhor acredita na hipótese de saírem mesmo candidatos avulsos ao Senado pela base do governo?
Nada é impossível, estão trabalhando para que isso aconteça.
Euler de França Belém – De qualquer forma, isso mostra como o governador está forte, já que todo mundo quer ser candidato na chapa dele.
Eu respeito a posição do governador e não teria nenhum problema se ele, em determinado momento, chegasse até mim e falasse “Zacharias, acho que fulano é o melhor agora para o governo de Goiás, infelizmente você não vai poder ser candidato ao Senado”. Eu só pediria uma semana a ele para pensar se iria sair à reeleição.
Entrei na política para conseguir colocar esse hospital em funcionamento. Já cumpri minha missão.
Euler de França Belém – Alguns políticos de Goiás foram beneficiados pelo “tratoraço”, a política do governo federal de distribuir máquinas agrícolas pelos municípios do interior. O senhor. foi beneficiado pelo “tratoraço”?
Não. Eu não recebi nenhum trator e ando dentro da legalidade, desde quando era candidato. Vou contar uma história: durante minha campanha, ainda, recebi um senhor que me veio com um saco de pão, com R$ 50 mil dentro. Ele disse “pode chegar a R$ 100 mil”. Falei “leva de volta” (risos). Quando percebi a intenção, já descartei. Não preciso disso e não foi para isso que fui parar na política.
Euler de França Belém – O orçamento secreto não é um escândalo?
Eu tive alguma verba do orçamento secreto, mas ela foi toda direcionada para a saúde e para o Largo da Carioca, na cidade de Goiás.
Euler de França Belém – Por que não querem liberar as informações do orçamento secreto?
É algo complicado. Devem ter tido alguns acordos, dos quais não tenho conhecimento, mas sou sempre a favor da transparência, de que a população saiba onde está o dinheiro público.
Euler de França Belém – O senhor é favorável à CPI do MEC, por conta do caso dos pastores lobistas?
Sem dúvida, pelo que vimos é um absurdo, a gente percebe pelo depoimento dos prefeitos. Isso precisa ser apurado a fundo, por que não? Por que eu sou governo? Veja, pode ser o que for, é preciso responder pelos atos. Tem de ter a CPI, o ministro precisa comparecer e explicar, dar esclarecimentos. Uma convocação de um ministro para a Câmara Federal é algo pesado, muito ruim politicamente.
Euler de França Belém – As pessoas têm um preconceito muito grande com os políticos, mas grande parte dos políticos é decente…
A maioria.
Euler de França Belém – A maioria é dedicada, mas há um preconceito muito grande contra a classe. Tem algum político que lhe surpreendeu pelo trabalho no Congresso?
Quem vai a Brasília e acompanha nosso dia a dia vai se impressionar com o quanto a gente trabalha. Como político, Arthur Lira tem sido um bom presidente. No cargo, o mais importante é saber o regimento interno. Conhecê-lo exige muita dedicação, é preciso ter um conhecimento muito grande, porque é difícil. Facilita um pouco para quem é da área do Direito, claro. Tenho estudado bastante o regimento, mas dizem que o sujeito que mais conhece o regimento interno é Eduardo Cunha [ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara (2014-2016), condenado por corrupção]. Ele é uma lenda lá em relação a isso.
Euler de França Belém – Quem é seu eleitor?
Até o governador Ronaldo Caiado ficou surpreso quando descobriu isso. Ele achou que meus eleitores eram classes A e B. Mas eu ganhei voto mesmo foi nas classes C, D e E. Principalmente as duas últimas. São as pessoas, e suas crianças, que mais precisavam de cirurgia durante esses 40 anos.
Euler de França Belém – O senhor chegou a ser cotado para ser candidato a prefeito de Goiânia, exatamente pela popularidade…
Cheguei a quase 90 mil votos só em Goiânia.
Euler de França Belém – E isso sem fazer alarde, com gente na política há 20 anos. O governador resolveu apoiar a candidatura de Vanderlan Cardoso. Não seria o momento de o senador retribuir e apoiar Caiado para governador?
Sem dúvida, eu falei isso para ele.
Euler de França Belém – E o que Vanderlan falou?
Não posso falar (risos). Na verdade, naquela época [das eleições municipais], Caiado me chamou e me pediu uma resposta até a segunda-feira seguinte, porque meu nome estava muito forte nas pesquisas. Eu respondi que tinha sido eleito para deputado federal e que iria até o fim. Sou contra isso de ficar pulando de galho em galho, não vou trair meus eleitores. Falei isso a ele, mas disse: “Só que eu quero o Senado na próxima”. Ele me replicou: “Você não acha que é um passo muito grande, não?”. Falei que não. Para mim é normal sair de uma posição e ir para outra. Não há problema. A vida segue se eu ganhar ou não ganhar.
Euler de França Belém – O que o senhor acha do Hospital do Diabético, que foi levado adiante principalmente pelo trabalho do senador Jorge Kajuru (Podemos)?
É um grande feito do senador. Vejo com muita propriedade dessa forma. É um trabalho espetacular, a população precisa muito de um serviço assim. O Brasil tem um índice muito grande de diabéticos, que precisam ser tratados de problemas como o pé diabético, por exemplo. Foi uma grande realização do Kajuru. É preciso salientar as coisas boas, já que sempre criticam muito os políticos.
Elder Dias – Em relação à segurança pública, qual é a opinião que o senhor tem sobre a instalação de câmeras nas fardas dos policiais, como ocorreu em São Paulo, onde houve uma enorme redução da letalidade nas operações, tanto no número de vítimas entre os abordados como em relação aos próprios agentes de segurança? O senhor é favorável a que isso ocorra dessa forma também aqui em Goiás?
Sim, sou favorável, sem dúvida. Tudo que se investe em segurança, para proteger o cidadão ou o próprio policial é muito importante. Nos Estados Unidos, um país extremamente democrático, isso é uma prática. Em caso de necessidade, há a prova, pode-se punir tanto um lado como o outro. É algo que dá muito mais transparência às ações. É preciso ver como se dá a abordagem e será possível, também, ver o que o cidadão possa ter feito contra o policial. O monitoramento ajuda sempre. E, convenhamos, hoje tudo é monitorado.