Vanderlan Cardoso: “Se continuar nesse cenário, no segundo turno seremos eu e a Adriana Accorsi”

26 maio 2024 às 00h01

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Empresário conhecido do ramo de alimentos e pré-candidato à Prefeitura de Goiânia, o senador Vanderlan Cardoso, do PSD, tem uma longa trajetória na política e nos negócios. Foi prefeito de Senador Canedo – município onde tenta, hoje, emplacar a esposa, Izaura Cardoso -, eleito para o Senado Federal e, no mandato, escolhido para presidir a Comissão de Assuntos Econômicos, a CAE, uma das comissões mais importantes da Casa.
Nesta entrevista ao Jornal Opção, Vanderlan Cardoso, que aparece bem posicionado na maioria das pesquisas já divulgadas até agora, fala de suas movimentações para a disputa à Prefeitura (na qual, apesar dos rumores, ele promete estar), suas rivalidades com alguns dos concorrentes, incluindo o candidato do governo, Sandro Mabel, e faz um prenúncio: o pré-candidato acredita que deve ir para o segundo turno junto com, segundo ele, a única candidata da esquerda, Adriana Accorsi.
Ton Paulo – Temos um problema muito grave e muito antigo aqui na capital, que é a questão da coleta do lixo. Uma das soluções que a Prefeitura recorreu foi terceirizar esse serviço, mas ainda há reclamações. O que o senhor pretende fazer para solucionar de vez esse problema da coleta do lixo na capital?
A população espera que pelo menos o serviço básico esteja em dia, que esteja bem feito. E a limpeza urbana é uma delas, coleta de lixo, limpeza urbana. Isso é o básico de qualquer administração. É inadmissível ter uma cidade como Goiânia e ter esse problema, vira e mexe, nós temos problemas de serviço com a coleta de lixo. Entre a eleição e a posse, aquela transição, ali nós já vamos começar a fazer algumas mudanças que precisam ser feitas.
Se é terceirizar parte, ou se é a terceirizar toda, ou se é usar parte dos trabalhadores da Comburg, isso nós vamos fazer. Agora, não pode é ficar com essa quantidade de lixo acumulando na cidade. Eu pretendo fazer isso caso seja eleito, já ter ações efetivas para que seja resolvida essa questão. Goiânia oferece essa condição para qualquer gestor, não vai ser só pra mim, pra qualquer gestor: a coleta de lixo, capina, limpeza urbana, iluminação, é o principal delas. Não é só Goiânia, nenhum município pode passar por isso.
Ton Paulo – E quanto ao aterro sanitário?
Tive uma reunião com as cooperativas, parte das cooperativas de recicláveis, catadores de recicláveis, ali do lado do aterro sanitário. O aterro sanitário de Goiânia tem uma vida útil de 10 a 14 anos. Nós temos várias ações que podem ser feitas, entre elas, intensificar o apoio a essas cooperativas. Grande parte do lixo que está indo hoje para o aterro tem que ser reaproveitado. Expliquei isso nessa reunião que eu tive com eles.
Falta apoio para isso. Equipamentos, caminhões. Esse investimento pode ser feito através da própria bancada [de parlamentares], através da Prefeitura com incentivos. Nós estamos até desenhando o que vai ser colocado no nosso plano de governo. Já apresentei isso em 2016, 2020, em especial em 2020, através do conhecimento que eu tive. Fui buscar lá fora os incentivos que tem para a coleta de lixo reciclável. Por exemplo, fui visitar várias empresas na Europa, Espanha, Portugal que trabalham com reciclável de pet e estou trabalhando nisso até no Senado Federal para ver se a gente consegue convencer o governo. O governo passado não se convenceu. É preciso convencer o governo de que precisa ter ação efetiva com relação à reciclagem.
E eu quero trazer isso para Goiânia, um incentivo para essas cooperativas para que elas possam intensificar e separar melhor, aproveitar melhor esse lixo. Então são várias ações que podem ser feitas. Tem uma conversa já pré-agendada com uma grande empresa que incinera o lixo para gerar energia. É uma empresa que trabalha com cimento e se propõe a buscar grande parte desse lixo em Goiânia para reciclar sem custo nenhum. O lixo não é mais problema, ele é solução há muito tempo. Então em Goiânia, o lixo vai ser a solução, ele vai gerar renda, como está gerando hoje para algumas cooperativas e alguns catadores.
Precisamos dar um incentivo para esse pessoal [das cooperativas], e através desse incentivo, nós vamos começar a diminuir essa quantidade de lixo que está indo para esse aterro
Cilas Gontijo – Existe um termo de Ajustamento do Ministério Público com a Prefeitura de Goiânia que estabelece que a Prefeitura deve terceirizar pelo menos 40% do serviço do aterro sanitário. O senhor é favorável que seja terceirizado parte desse serviço, ou que seja terceirizado todo o aterro sanitário?
Quando eu falo do incentivo [para as cooperativas], se está pagando para empresas para trabalhar no aterro sanitário. Isso aí são recursos vultosos. Não é simplesmente “Ah, vamos pegar aqui todo o lixo, levar pra lá”. Nós vamos pagar a empresa para cuidar, se nós podemos pegar esse lixo e transformar ele em recurso, em dinheiro?
Nós já estamos em outra fase, discutindo. Eu trabalho muito hoje através de nossas emendas com as cooperativas de recicláveis. Em Rio Verde, há uma que já são mais de 200 associados, que é um case de sucesso. Até no nosso plano de governo já vai ter. Nós já vamos colocar agora o polo das cooperativas que vai reciclar, com incentivo. Eles não pedem muita coisa: é um galpão maior para que eles possam trabalhar, equipamentos que facilitam. Se você juntar tudo isso, todos os investimentos que eles precisam para que se recicle, hoje está reciclando em torno de 18%, pode chegar a 60, 70% de reciclados.
Você já imaginou, se hoje a expectativa é de 12 a 14 anos de vida útil para o aterro sanitário com 18% [de reciclados], se nós passarmos isso para 50, 60, 70%, ele vai para 30 anos de vida útil.
Ton Paulo – O senhor mencionou o plano de governo. Quais são os nomes que estão à frente dele, que estão nessa fase de elaboração e no que ele deve focar?
Nós estamos na fase de elaboração e convidando vários setores para participar. Hoje mesmo já foi convidado o pessoal dessas cooperativas para participarem e trazerem sugestões.
Ton Paulo – Mas tem nomes específicos à frente?
Tem a nossa presidenta do CRC-GO, que está participando, a Sucena Hummel, tem o Filipe Sicílio, que além de ser político também, é um jovem que se colocou à disposição, que quer participar em várias áreas. Então são muitos aqueles que estão participando. São vários aqueles que estão se prontificando, que querem vir e contribuir.
E na verdade, nosso plano de governo precisa de complemento. De 2016 para 2020, qual foi a diferença do plano de governo? Nós ajustamos ele. Mas se você pegar 2016, o que é que nós discutimos em 2016? Era revitalização do Centro, quando nós apresentamos os polos de desenvolvimento, nós fomos copiados, porque a população aceitou bem, entendeu os pontos de desenvolvimento. Apresentamos as [subprefeituras] regionais. Pegamos a vocação da nossa capital, que tem vocação de shows sertanejo, eventos, turismo. Quando eu falo de turismo, das grandes convenções que tínhamos na área médica, isso foi tudo afastando. Goiânia era centro disso.
Temos que voltar aquela vocação que tínhamos no passado e que nós perdemos. Eu tenho dito isso em muitos lugares, e falei isso em 2016, 2020, estou falando de novo: em 1998, Goiânia participava da riqueza do Estado com os impostos gerados no Estado. Quase 30% era de Goiânia. Nós tínhamos aqui indústrias fortíssimas em Goiânia, nós tínhamos um polo moveleiro, com as grandes indústrias de móveis.

Eu não estou aqui para criticar ninguém, acho que cada um tem sua maneira de governar, certo? Mas é uma política que Goiânia tinha que ser só serviço, que Goiânia tinha que ser só comércio e serviço, que é muito bom, isso gera riqueza também. Mas não dá para conciliar, com a indústria não poluente? Aí Goiânia foi caindo. Você vê aí: as grandes indústrias moveleiras foram para onde? Foram para Senado Canedo, Aparecida, para Trindade. Saíram de Goiânia porque apertaram tanto essas empresas aqui com meio ambiente e isso e aquilo, em vez dar a solução para elas.
Qual o resultado disso? A participação de Goiânia hoje na geração de riqueza do Estado é de 13%. E se nada for feito, nos próximos 2, 3 anos, vai ser menos de 10%. Então é muito fácil para o gestor, às vezes, para aguentar todo o aumento de despesa, vem com a canetada e aumenta o IPTU. E não tem um plano para Goiânia. Qual é o plano que fizeram para Goiânia? As discussões são as mesmas. Eu tenho batido nisso.
Não deram conta de terminar a Feira Hippie. É uma vergonha para nós. Aquele povo ficar jogado daquele jeito ali. No dia que chove, meu Deus do céu. Não termineram os corredores [de ônibus]. Então não tem um projeto macro. Não tem interesse de fazer projeto pra Goiânia. Goiânia tem que ser projetada e ir pra frente. É ser projetada para 30 anos para frente, para as coisas acontecerem.
Ton Paulo – Esse senhor fala com muita paixão sobre o que pode ser feito, o que o senhor pode fazer caso seja eleito. Mas de um lado, o Sandro Mabel e os aliados dele sugerem que o senhor pode abrir mão do projeto, e do outro, aliados do senhor sugerem que ele pode abrir mão do projeto. O que tem de verdade nisso? Isso pode acontecer?
Isso são todos jogos de pré-campanha. Cada um está no seu direito de colocar a dúvida na campanha do outro. Na candidatura do outro. A nossa pré-candidatura é uma das que estão mais sólidas. Eu demorei um pouco em dizer que era pré-candidato, demora por questão estratégica também. Não queria vir para um projeto mais ou menos. Quando nós decidimos, já fomos dialogar, conversar, fui buscar já pessoas para nos auxiliar no marketing eleitoral.
Então, é muito bem definido, estamos muito bem posicionados. Qualquer pesquisa que você fizer, pode ser de direita, de esquerda, de extrema, de qualquer jeito, nós estamos bem posicionados. Nossa rejeição hoje é a mais baixa que tem. E nós temos o que apresentar, o povo sabe que nós sabemos fazer. Não estamos jogando palavras, mas a experiência que eu tive como prefeito em Senador Canedo, e a experiência como parlamentar, eu me sinto hoje um pré-candidato completo, porque quando você fala em buscar recursos em Brasília, eu sei todos os caminhos. Eu sou o parlamentar que mais traz recursos para o Estado de Goiás, em todas as áreas.
Estivemos na Vila São Cotolengo, em Trindade, todos usando um projeto específico para aparelhos auditivos. Recursos vultosos Em seguida, fomos na região Leste de Trindade, vistoriar um centro de especialidades, com 22 especialidades. Recursos nossos ali. Eu coloco o recurso e vou lá olhar como é que está a construção, como está a previsão, se o dinheiro já está depositado. Tem que ir no período certo, ir lá fazer a inauguração para a população daquela região.
Euler França de Belém – Você falou em rejeição baixa. E quanto à intenção de voto?
Depende muito. Eu e a Adriana [Accorsi] estamos, em quase todas as pesquisas, tecnicamente empatados. Em alguma pesquisa ela está empatada, outra ela está um pouco abaixo, outra um pouco acima. Tanto é que hoje, se continuar esse mesmo cenário, cenário de segundo turno, somos eu e a Adriana no segundo turno.
Ton Paulo – O senhor acha que pode ser o senhor e a Adriana no segundo turno então?
Sim, porque ela é a única candidata da esquerda. Da direita, nós temos, acho, cinco candidatos disputando votos da direita. São muitos candidatos da direita. Mas tudo indica que é uma eleição de dois turnos. O X da questão aí é o segundo turno.
Ton Paulo – E o que que tem de verdade nos boatos que correram lá atrás, sobre o senhor estar conversando com ela, sobre uma composição com ela?
As pessoas confundem muito o diálogo. Eu sou um político do diálogo. Até mesmo que o meu partido não tem essa de vedar, como “Você conversa com esse ou com aquele”, não. O meu partido, o PSD, é um partido de centro, que dialoga com todos. Então eu converso, e eu sou o presidente do partido. Além de candidato, sou presidente do partido. Então, conversei com a Adriana, conversei com o candidato do PT, o [Antônio] Gomide, de Anápolis, como eu conversei com o Márcio Corrêa, que era o candidato do MDB, agora está no PL. Todos aqueles que me procuram, eu recebo. Sou um político, sou amigo de todos.
Eu não tenho problema nenhum com a Adriana, eu não tenho problema nenhum com o Rubens [Otoni], eu não tenho problema nenhum com o governador [Ronaldo Caiado]. Eu fui adversário da Adriana duas vezes. Em 2016 e 2020. Nós não tivemos nenhum problema, nem nos debates.
Ton Paulo – Fez parte dessa conversa com a Adriana as eleições de 2026?
Não teve nada disso. Agora nós estamos numa campanha de 2024. E eu quero ficar na história de Goiânia como fiquei em Senador Caneto, como o melhor administrador de Goiânia. Não vou brincar de fazer administração. É uma administração que vou procurar fazer para oito anos. Vou para a eleição, ser reeleito, que nós vamos fazer um trabalho para ficar na história. Eu estou preparado, muito preparado, e mais agora com a experiência de um senador da República.
Ton Paulo – E como está a relação do senhor com o seu partido, o PSD?
O nome já diz, “partido”. Você nunca vai ter unanimidade dentro de um partido. É muito difícil isso acontecer. Sobre a saída do Lucas Kitão, respeito muito a decisão dele. Você vê quantos vereadores mudaram de partido, de acordo com a conveniência. Respeito a decisão deles, e respeito mesmo, e vou tratar muito bem, até mesmo porque eu vou trabalhar para o primeiro turno.
Caso não dê no primeiro turno, nós vamos para o segundo turno, se eu for para o segundo turno, eu vou atrás deles para ter apoio deles. do Kitão, do Francisco Júnior, que é meu amigo. Eu fiz um esforço tremendo para o Francisco ser eleito. Mas hoje nós temos que entender: o Francisco trabalha com o governador, e o governador tem um candidato. Ele não pode ir contra o candidato do governador, que é o patrão dele.
Euler França de Belém – Mas ele precisava ser um dos coordenadores do projeto de governo do Sandro Mabel?
E um bom coordenador. Se fosse eu, iria convidar ele pra fazer parte, até mesmo ser coordenador. Ele foi meu coordenador em 2020. E indo para o segundo turno, é um dos primeiros que eu vou procurar, até mesmo porque que para os polos de desenvolvimento para Goiânia, eu vou precisar da Codego, vou precisar do Governo do Estado. É besteira ficar comprando briga em uma hora dessas.

Ton Paulo – Um outro pré-candidato que há o boato de que também pode desistir é o deputado Gustavo Gayer. O senhor mantém algum tipo de diálogo com o PL, com o próprio Gustavo Gayer? Qual que é a relação de vocês hoje?
Tive alguns problemas com o Gustavo Gayer, questões de rede [social], mas eu não tenho mágoa de ninguém, não levo isso comigo. Respeito todos os partidos. O PL, do tamanho que é, tem nome para disputar a Prefeitura, então é direito deles em disputar. Se não for Gustavo Gayer, deve ser Major Vitor Hugo. Se não for, tem o Delegado Eduardo Prado, se não for o Delegado, tem vários nomes lá dentro. Partido para crescer, tem que ter candidatura.
O cidadão que quiser o mesmo cargo, ele tem que disputar a eleição. Eu só sou senador da República porque disputei eleições majoritárias. Para o governo do Estado, para a Prefeitura de Goiânia. Se tornar conhecido e o povo saber “Esse caboclo aí realmente está preparado”. Se eu tivesse me acovadado, não ter sido candidato em 2010, 2014 ao governo, 2016 à Prefeitura de Goiânia, disputando com o maior líder político que esse Estado já viu, Iris Rezende Machado.
Cilas Gontijo – O PSD é aliado nacionalmente do PT, do governo Lula. Muitos eleitores conservadores que o apoiaram no passado, falam que agora não apoiam mais o senhor porque o senhor se aliou ao PT. Como o senhor responde a isso?
Eu trabalho muito com levantamentos. Não existe isso. Primeiro, eu nunca mudei os meus ideais, eu sou conservador. Toda entrevista minha, e lá no Senado Federal, minhas pautas são do conservadorismo. Agora, o fato do partido estar na base do governo federal, da base do Lula, não quer dizer que o presidente nacional chega para nós e diz “Tudo quanto é projeto do governo federal, vocês têm que votar”. Não, não funciona assim.
Ontem mesmo teve matéria lá na CCJ que nós votamos contra a orientação do governo. Quantos projetos que eu peguei de frente na comissão, a MP 1185, da subvenção, que o governo defendia mais do que tudo, eu fui ali um dos contrários e trabalhei contra para que não fosse aprovado, mas infelizmente foi aprovado. Então não existe essa questão.
Agora, o PSD está lá, tem três ministérios, mas o PSD foi fundamental, o Kassab, para a candidatura do Tarcísio em São Paulo. Não foi o Bolsonaro. O Tarcísio [de Freitas] ia ser candidato a senador pelo Estado de Goiás. Já estava praticamente acertado isso. Tivemos reuniões e discussões com o Bolsonaro, com o Tarcísio, e aqui estava todo mundo alegre, esperando por ele. Em Goiás, para o Senado.
Não chegou a discutir qual partido, como também lá em São Paulo, a princípio decidiu-se a candidatura dele, depois que decidiu qual partido.
Cilas Gontijo – Quais são as pautas da direita que o senhor não abre mão?
Todas essas conservadoras. Pauta de aborto, drogas, cigarro eletrônico. Eu sou o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos e isso, a questão, por exemplo, de cigarros e eletrônicos não é da minha comissão, mas pautei para discussão, com audiências públicas e tudo. Sou contrário.
Ton Paulo – E qual que é a relação do senhor com o ex-presidente Bolsonaro hoje?
Boa. Esses dias mesmo falei com ele. Ele ligou para fazer um convite para uma homenagem ao dentista que fez o tratamento dele. Muitos acham que minha eleição em 2018 foi na base do presidente Bolsonaro. Não foi. Em 2018 nós tivemos um candidato que estava na época no PP. Nós tínhamos um candidato a presidente, que era o Alckmin. A vice do Alckmin era Ana Amélia, que era do PP. Fui apoiá-lo [Bolsonaro] depois que eu estava eleito.
No segundo turno, o partido decidiu apoiar o Bolsonaro, e fiquei os quatro anos ajudando o governo. E interessante que em 2020 eu não tive o apoio do Bolsonaro para Prefeitura de Goiânia, o candidato dele foi o Gayer. Nem primeiro, nem segundo turno. Mesmo assim, eu continuei apoiando as pautas que eu achava que eram em prol do meu Estado de Goiás.
Sou um político de posição. Lá eu tenho embates, aqui tenho responsabilidade. Eu não posso ser o presidente de comissão e sair na minha rede social atacando esse, atacando aquele, eu tenho responsabilidade com o Estado e com o país. Toda a parte da economia do país passa dentro dessa comissão. Tudo o que você pensava das últimas discussões, passou dentro da Comissão de Assuntos Econômicos.
Sou um parlamentar considerado independente. Por isso que nessa independência eu sou candidato. Por exemplo, o Bruno [Peixoto] queria ser candidato. Podaram o cara.
Ton Paulo – Tanto o senhor quanto o Sandro Mabel têm uma ligação muito forte com a indústria, com o empresariado. Mas uma parte expressiva do empresariado, inclusive do fórum empresarial, está com o Sandro Mabel. Como é que está a relação do senhor com eles hoje? Existe uma pressão por parte deles por o senhor abrir mão do projeto do senhor?
Tive reunião com os empresários, parte deles, essa semana. Não tem essa questão, “Porque o Sandro é o presidente da Federação, todo empresário [vai apoiá-lo]”, não funciona assim. Aqueles que defendem a candidatura do Sandro vão defender, aqueles que defendem a minha vão defender. Não tem esse negócio de segmentos “todo mundo fechado com isso ou aquele” candidato. Nem dentro da igreja. O segmento está dividido.

Ton Paulo – O senhor falou na igreja. O bispo Oídes tem conversado com o senhor, tem a possibilidade dele apoiar o senhor?
Sim. Sou da igreja dele, mas não tenho dificuldade com ninguém, nem com o bispo Abinair, nem com o pastor Eurípedes, nem com o bispo Oídes. Agora, dentro do meu campo, que é o campo de Campinas, que o bispo Oídes é o presidente, tem pessoas que me aprovam, apoiam, tem pessoas que vão apoiar fulano de tal, em um partido ou de outro. Isso faz parte da democracia. Muitos acham que porque senador Vanderlan é evangélico, todo evangélico vai estar com ele, não funciona assim. Como da mesma maneira o Sandro é católico. Todos os católicos vão estar com ele? Não é assim que funciona.
Cilas Gontijo – Houve mudanças nos projetos do senhor, em relação ao plano de governo de 2016 e de 2020?
Os problemas são praticamente os mesmos. Nós fizemos um projeto em 2016, e os principais itens daquele projeto permanecem. Estamos fazendo algumas mudanças, por exemplo, os polos de desenvolvimento. Não tinham polo de reciclável, o polo das cooperativas, polo na área de artesanato.
Nós temos que trabalhar para trazer de volta as empresas para melhorar a arrecadação, para que não fique só em cima daquele que tem seu apartamento ou sua casa, o IPTU.
Cilas Gontijo – E o transporte coletivo? Qual é o seu projeto de transporte coletivo, que é uma grande reclamação do povo de Goiânia?
A partir do momento que nós fizermos vários polos de desenvolvimento para Goiânia, espalhados, já vai diminuir [a superlotação do transporte]. Isso é provado, será 30% da questão do transporte, porque as pessoas vão trabalhar perto de casa, vai ter o poder de ter seu pequeno negócio ali, crescer perto, trabalhando perto de sua casa.
Eu não estou inventando a roda. Quando eu fiz em Senador Canedo, isso eu copiei de Brasília. Quantos anos que fizeram isso em Brasília, da fundação de Brasília. É o polo de oficina, o polo de serralheria, o polo disso, o polo daquilo. Deu certo lá, posso até dizer que foi um laboratório. Não vai dar certo aqui? Então lá melhorou muito.
Aqui era a cidade que empregava essa Região Metropolitana inteira. Cidade-dormitório era Senador Canedo, Aparecida, Goianira, Trindade. Goiânia hoje está ficando cidade-dormitório. O pessoal está indo de Goiânia para trabalhar em Aparecida, para trabalhar em Canedo.
Também por esse BRT para funcionar, conversar. Nós estamos aí em reuniões marcadas com o pessoal que entende de trânsito. É aquele que está no trânsito todo dia, motorista de aplicativos, esse pessoal do Uber. Porque eles que estão ali no dia a dia dizendo “O gargalo lá na região Noroeste é esse, lá na região Leste é esse e tal, lá tem que fazer isso, tem que fazer aquilo”. É o povo que sabe. Esse negócio de plano de governo feito em laboratório, ou “Ah, veio um especialista de não sei o que e tal”. Não, vamos ouvir o povo. Muitos políticos pecam em não ouvir o povo.
Ton Paulo – Qual está sendo a atuação do senhor no projeto eleitoral da Izaura Cardoso em Senador Canedo? Porque existe uma crítica de que o senhor estava focando mais em Senador Canedo do que em Goiânia.
Tenho dedicado muito. Até críticas vão vir. Talvez nessa pré-campanha que ela [Izaura] está, já vai para uns 60 dias ou mais, em Senador Canedo, eu já devo ter ido lá umas 3, 4 vezes. Foi na PSD Mulher, no lançamento, que foi em Senador Canedo, e em duas reuniões. Mas eu estou intensificando em Goiânia, só que o meu trabalho, ele é um pouco… É por isso que o pessoal às vezes não entende, porque eles fazem pesquisa e eu estou bem.
Hoje, em Goiânia, nós estamos com uma cooperativa, buscando solução, me apresentando, buscando solução, ouvindo eles e tal. Você pega a entidade filantrópica, tem mais de 50 em Goiânia que nós atendemos. É a Associação de Deficientes, é a Pestalozzi, é a APAE, é esse pessoal todo, e a gente presente, ali com esse pessoal. A nossa Universidade Federal, eu sou talvez o único parlamentar que destina recursos vultosos para pesquisa e ciência. Esses dias atrás colocamos 500 computadores ali. As doenças raras que nós temos aqui, que estão sendo pesquisadas, logo vai ser achada a cura. Está muito avançado,.
Em todo lugar estamos presentes, independente se é a entidade é espírita, católica, evangélica, está nossa presença. Pegue as minhas redes sociais que vocês vão ver as ações que estamos fazendo em Goiânia. Não deixando o nosso Estado, porque tudo que fazemos pelo Estado reflete em Goiânia.

Ton Paulo – E ainda no projeto político, o senhor deve ir de chapa pura mesmo?
Nós fizemos uma projeção um pouco diferente das outras. Não vou ficar aqui achando que vai vir partido grande, porque os partidos grandes estão todos com o governo.
Pode ter, sim, partido grande. Acho que vai ser levado muito em conta o tamanho do PSD, a importância do PSD com essa turma que é uma chapa muito boa de vereadores.
Euler França de Belém – Mas digamos que o PT procurasse o senhor e falasse “Vamos indicar o professor Edward, ex-reitor da UFG”, para vice do senhor, o senhor aceitaria?
Tenho um carinho muito grande pelo professor Edward. Foi reitor em vários mandatos na nossa universidade. Eu não conversei isso com ele e é um desrespeito muito grande ter uma candidata do PT bem posicionada e eu estar falando em vice do PT. Seria desrespeito com a candidata Adriana.
Euler França de Belém – Com quais partidos você manteve uma abertura?
Estou conversando com vários partidos. Conversei esses com Elias Vaz, o PSB, o Avante, o próprio Bruno Peixoto. Tenho diálogo com o Bruno, com o [Jorcelino] Braga. Tenho bom diálogo com todos. Agora, nós temos um prazo ainda nessas discussões. Você sabe que algumas coligações que podem acontecer virão só na véspera da convenção. Toda vez é assim. Aí talvez pode ter surpresa, em algum partido grande, que quando chega mais na frente, diz “Não, é melhor decidirmos aqui, mudar o rumo, nós vamos aqui”.
Ton Paulo – Como é que está a questão da chapa de vereadores?
O PSD vai fazer de dois a três vereadores. Mas nós temos muitas pessoas que vão disputar dentro do PSD. Tem pessoas que têm trabalhado pelo Estado e têm condições de serem eleitos dentro do partido.
Terei diálogo com a Câmara. Eu já fui prefeito e tive um bom diálogo com a Câmara, a gente sabe como fazer isso.
Cilas Gontijo – A reforma tributária vai mesmo prejudicar Goiás, e consequentemente Goiânia?
Vai depender muito da atenção que for dada agora pelos parlamentares e segmentos nessa regulamentação dela. O mais importante da reforma tributária é agora, não é o que foi aprovado. É, agora, a regulamentação. Estive em reunião na Adial, estou tendo reunião com vários segmentos, setor lácteo, setor de bebidas, as associações, os sindicatos, de tudo quanto é jeito. Tenho dito para eles “Fiquem atentos, porque agora aqui vai definir qual que vai ser alíquota reduzida, qual que vai ser alíquota que é chamada de ‘imposto do pecado’ e tudo mais”.
O governador foi atendido muito nas mudanças [da reforma]. Inclusive, tudo que o governador pediu para que a gente fizesse e trabalhasse na mudança, nós fizemos. Até mesmo na hora quase da votação, nós conseguimos mudar através de emenda. Agora, a regulamentação é que vai dizer “Olha, esse setor ou aquele setor pode ser prejudicado”. Mas eu creio que, hoje, de uma carga tributária de 30 e tantos por cento, 34 por cento, o que se fala, todos os estudos que se fazem, vai ficar na média de 27,5 por cento. Então já há uma redução.
Agora tem que estar muito atento a essa questão, que é a minha preocupação, que é o imposto seletivo chamado de “imposto do pecado”. Quais os produtos que vão estar ali? Quais os que nós produzimos que podem estar nesse imposto do pecado?
Por exemplo, o setor de lácteos, tem parte do setor que vai ficar na tarifa reduzida, tem parte que vai ficar na tarifa composta à cesta básica. Mas tem parte que não merece estar, que não tem condição de estar e vai estar no imposto do pecado. Então nós temos que trazer isso para a tarifa reduzida ou a tarifa normal.
Todas as vezes que eu reúno com o ministro Fernando Haddad e com a equipe dele, a gente chega com argumentos e com números. Porque se não for com números e argumentos, não adianta. Você chega lá e joga a conversa fora.
Ton Paulo – Mas a reforma simplificou ou complicou a tributação no cenário geral?
A reforma tributária é discutida há mais de 30 anos. Você vê a reforma tributária, muitos dizendo que é do Lula. Não é a reforma tributária do Lula, essa reforma aí é do Congresso, nós tentamos aprovar ela no meio do governo passado. Ela é necessária porque ninguém aguenta mais a forma que é a questão tributária no país hoje, cada Estado tem sua legislação diferenciada, suas pegadinhas, aquele negócio todo. Então precisa ter.
Agora vai ter a ideal? Não existe. Se eu for dar nota hoje para a reforma tributária, eu dou uma nota 7, porque ajustou muita coisa. E dependendo do que ficar agora na regulamentação, pode melhorar essa nota como pode piorar.
Eu falo isso como empresário. Você chega lá no Nordeste é uma [legislação], no estado da Bahia é uma, em Pernambuco é outra, no Ceará é outra, você vai pro Norte lá no Pará é uma, Maranhão é outra, tudo diferenciado, Goiás é diferente, Mato Grosso. Precisa-se de ter uma regra.