Márcio Correa: “Fui eleito para colocar Anápolis no protagonismo do desenvolvimento e oportunidade, e também protagonismo político”
08 dezembro 2024 às 00h00
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Eleito com mais de 106 mil votos no pleito deste ano, o empresário e odontólogo Márcio Correa, do PL, está a poucos dias de assumir o posto de prefeito de Anápolis, uma das maiores e mais importantes cidades do Estado de Goiás. Ele, que também já passou pela Câmara dos Deputados, começou a campanha eleitoral em segundo lugar, atrás do deputado petista Antônio Gomide (que já dirigiu a cidade), mas conseguiu virar o jogo, ficando em primeiro lugar, inclusive, no primeiro turno. O apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, membro de seu partido, é claro, foi essencial, assim como o perfil considerado ‘inovador’ do gestor eleito que parece ter caído no gosto da população anapolina.
Nesta entrevista, Márcio Correa revela a (preocupante) situação em que encontrou, ainda na etapa de transição, a Prefeitura de Anápolis, com, segundo ele, déficit superior a R$ 80 milhões e inúmeras demandas acumuladas. O prefeito eleito se refere à estrutura pública do município como uma “máquina inchada” que foi usada nos últimos anos para servir a interesses políticos e pessoais. “A gestão de Anápolis ainda é analógica”, critica o bolsonarista, que pretende promover um grande “enxugamento da máquina” focando em desburocratização, cortes em contratos supérfluos, celeridade no atendimento das demandas da população e investimento em tecnologia e integração.
Ton Paulo – Na semana passada, o senhor se reuniu com o governador Ronaldo Caiado no Palácio das Esmeraldas. Foi a primeira reunião após uma eleição que provocou um certo distanciamento entre vocês, por conta de posições antagônicas no pleito. Como foi o encontro? Qual foi o objetivo?
Tratou-se de uma visita de cortesia ao governador do Estado. Em Anápolis, nós temos grandes desafios e essa parceria é muito importante para conseguirmos superá-los. Nós tratamos, por exemplo, da questão da saúde, em que temos, hoje, milhares de pacientes na fila de espera, tanto para os exames, quanto para consultas eletivas e cirurgias. Tratamos também da situação dos contratos terceirizados do Município de Anápolis, contratos esses em que se gastou muito, mas não se conseguiu trazer eficiência.
Eu pedi o apoio do governador e do secretário de Saúde. Sempre achei que era necessária uma intervenção do Estado na Saúde em Anápolis. Houve um fato noticiado recentemente, como exemplo do cenário preocupante em que se encontra a saúde, de que o Tribunal de Contas do Estado de Goiás condenou uma OS responsável por um hospital da cidade a devolver 42 milhões de reais. Um valor que a Prefeitura pagou à OS por serviços que não foram comprovados.
Após um pedido meu, o governador deve colaborar para a realização de um mutirão de cirurgias, no mês de janeiro, que inclusive foi uma promessa da minha campanha. Trata-se de uma força-tarefa do setor público com o privado para que possamos conseguir atender a população. Nós temos 48 mil pacientes aguardando para fazer, por exemplo, exames de ultrassonografia e exames endoscópicos.
Ton Paulo – E, a partir da reunião, essa força-tarefa ficou definida?
Sim, ficou definida. Eu já havia tido essa conversa com a Secretaria Estadual de Saúde, e o secretário irá visitar Anápolis. Uma visita às unidades de saúde, comigo, para compreender como eles vão conseguir me apoiar nos primeiros 100 dias de governo.
Ton Paulo – E quanto ao transporte público? Houve um reajuste recente. Como o senhor pretende lidar com a questão?
Sim. Esse é um outro tema muito sensível na cidade. Teve esse reajuste, e o valor da passagem foi a quase seis reais. É um serviço de péssima qualidade, com ônibus sucateados. O contrato rege o uso dos ônibus pelo período de quatro a cinco anos, e os ônibus lá tem nove anos de uso. Em vários municípios o valor da passagem é subsidiado. Tem a lei para subsidiar o serviço em Anápolis, mas precisamos do apoio do governador para que a cidade possa atender a população com esses subsídios. O governador se colocou muito disposto, pois, além da saúde, o transporte de qualidade e acessível é um dos nossos maiores desafios.
Eu tenho um compromisso com a população, com o transporte público, tanto do ponto de vista de melhorar a qualidade do serviço quanto de reduzir o preço da passagem. A passagem em Anápolis, hoje, é a mais cara de Goiás, mais cara até que a passagem de São Paulo. E são trechos curtos, distâncias curtas na cidade que não justificam o preço.
Falei também com o governador sobre os problemas de infraestrutura, que impedem as empresas de estarem na cidade. Uma parte das demandas é de responsabilidade do Município, do ponto de vista de redução da burocracia, quantidade de alvarás, licenciamentos. Essa burocracia, na verdade, traze um certo clima de pessimismo para quem quer empreender na cidade. Há também os problemas que competem à Saneago, à Equatorial. É preciso melhorar essa aproximação com o cliente, com quem investe na cidade, garantir um apoio para ele.
Ton Paulo – O governador se mostrou disposto a dar esse apoio?
Sim. E ele disse que todas as ações serão realizadas juntamente com o vice-governador, Daniel Vilela. De imediato, o governador disse [que precisamos] achar uma saída em relação ao transporte público, e que já iria agendar uma reunião com o secretário de Saúde para fazer uma vistoria em Anápolis. Ele também me disse que iria discutir sobre os problemas de infraestrutura para que possamos, juntamente com o Daniel, trazer uma resposta e apresentá-la para o setor produtivo da cidade.
Italo Wolff – E agora, nesse momento de transição, o senhor está tomando mais conhecimento das finanças da cidade. Como está a relação do senhor com a atual gestão? Tem tido acesso a todas as informações tranquilamente?
Sim, tenho tido facilidade e boa vontade da atual gestão. Claro que, às vezes, não sai da forma que a gente espera. O pessoal da minha equipe de transição elaborou um questionário muito extenso para a atual gestão, com 450 perguntas sobre diversas áreas. Naturalmente, a resposta não veio da forma que a gente buscava, mas tem sido uma transição pacífica. Eu entendo que a gestão, em algumas áreas, tem se dedicado a trazer as informações de forma muito clara, de forma transparente. E tem outras áreas que passam a impressão que nenhum gestor sabe o que se passa na Prefeitura, como é o caso da saúde.
Nossa reunião com o secretário de Saúde do Município, que é a pasta mais crítica, foi feita com descaso por parte da pasta. Mas fomos bem atendidos pela secretária de Educação, pela secretária de Infraestrutura, pela Controladoria-Geral do Município. Mas até pelo que foi o ambiente da campanha, eu acho que a transição está indo até muito bem. Está sendo o suficiente para fazermos um planejamento a curto e a médio prazo para o município.
Italo Wolff – Quando o senhor assumir, já será possível indicar algumas prioridades a serem trabalhadas? Como a área da saúde, como o senhor mencionou.
Nós já temos isso definido. Temos milhares de pacientes aguardando consultas, exames, atendimentos eletivos. Dentro da nossa proposta, teremos, a curto prazo, o mutirão da saúde de forma emergencial para diminuir o déficit de cirurgias eletivas, de consultas e exames. Também faremos um edital de chamamento para as instituições filantrópicas para que possamos, em um curto espaço de tempo, conseguir diminuir e até zerar esse déficit. E vamos reestruturar as unidades básicas, que hoje não estão conseguindo dar resolutividade nos casos, o que acaba superlotando a única unidade ‘porta aberta’ da cidade, que é a unidade que mantêm prontos-socorros e ambulatórios onde a população é atendida imediatamente de acordo com a capacidade.
A saúde de Anápolis tem um cenário que há 8 anos eu denuncio. Infelizmente, perdeu o rumo, do ponto de vista de gestão
Também estamos preocupados com o tratamento especializado. O paciente chega na UPA com dor aguda, é medicado e devolvido para casa, e depois fica aguardando uma consulta em Goiânia, com especialista. Com as Policlínicas, o paciente é medicado e encaminhado para umas dessas unidades para buscar um tratamento especializado. Se não conseguir um tratamento, o paciente, então, vai para o nosso hospital municipal, que será transformado em um Hospital Geral de pequena e média complexidade, justamente para tratamentos em que é necessário submeter o paciente a um procedimento cirúrgico.
Precisamos, portanto, fechar todo o ciclo do tratamento do paciente. Desde a primeira porta de atendimento, que é a unidade básica, e que hoje infelizmente não tem dado resolutividade. Vamos reestruturar essas unidades básicas, ampliar as portas abertas com mais duas UPAs, que serão unidades de pronto-atendimento. E o Hospital Geral para alguns casos que não foram solucionados nas Policlínicas. Quanto às Policlínicas, elas serão criadas em curto prazo, nos primeiros 100 dias de governo. Já temos estrutura física, temos muitos profissionais efetivos em desvio de função, que vão voltar para as funções originais. Vamos retomar, também, o laboratório municipal. Muitos serviços laboratoriais que eram realizados no município foram terceirizados e hoje, por vezes, a demanda não é mais suprida.
Por exemplo, o Lacema [Laboratório Central Municipal de Anápolis], que tem apoio do governo federal. Os profissionais dessa unidade, hoje, estão cuidando do Zap da Saúde, que é um serviço de atendimento da atual gestão. Vou retornar todos esses servidores efetivos para o laboratório municipal, para que possamos atender as demandas de exames.
Ton Paulo – O que mais preocupou o senhor quando começou a transição? Porque havia a informação de escolas sem merenda, pacientes sendo transferidos para outros municípios por falta de atendimento. A situação na saúde e educação, por exemplo, está realmente em um nível preocupante?
Sim. E é um cenário, na saúde anapolina, que há oito anos eu denuncio. Infelizmente, a gestão perdeu o rumo. Se gastou muito com saúde, mas não foram entregues resultados. Para se ter uma ideia, atualmente, o valor constitucional de gastos com saúde é de 15% da arrecadação do Município. A maioria dos municípios gasta 20%. Anápolis chegou a gastar 29% da receita corrente líquida, mas não conseguiu entregar os resultados à população. Terceirizou o serviço, o que nem impactou na folha de pagamento, porque continuou aumentando o número de comissionados para atender aos acordos e compromissos políticos.
Veja a OS que eu venho denunciando há muito tempo, na minha passagem pela Câmara Federal. Ela foi contratada de forma emergencial, sem transparência. O hospital que ela iria gerir sequer tinha alvará da Vigilância Sanitária para sua construção. Anápolis perdeu a capacidade, ou não teve, de fiscalizar. Não se preparou para fiscalizar, para ter o controle do serviço prestado, para regular o serviço, apesar de ter uma agência reguladora. Tanto a assessoria jurídica da Secretaria de Educação, como a agência reguladora do Município não conseguiram trazer clareza e transparência para os contratos que foram pactuados, quanto às obras e serviços prestados.
Todo dia, 7 mil crianças acordam em Anápolis e não vão para a escola ou Cmei, porque não tem vaga
Ton Paulo – Pode dar um exemplo dessa apontada falta de clareza nos contratos com a OS?
Colocava-se, por exemplo, o número de cirurgias realizadas pela OS. Porém, ela estava fazendo somente vasectomia, que é uma cirurgia simples e que dava retorno financeiro. Os tipos de cirurgia mais complexos e que demandava materiais como placa, biomaterial, que diminuía a margem de lucro da OS, ela não fazia e encaminhava para Goiânia. O paciente ficava à míngua.
Nós temos milhares de pacientes aguardando uma cirurgia de hiperplasia prostática, por exemplo. Idosos usando sonda, mas que não conseguem ser atendidos. Isso porque a OS atingia a sua meta de cirurgias, os procedimentos que eram convenientes, que davam resultados financeiros e deixava de atender às demandas da população.
Já em relação aos exames, que também são eletivos: faltou, tanto do ponto de vista de triagem e regulação, compreender quais deles eram realmente necessários mesmo. Teve um represamento muito grande de exames em todas as áreas. Citei aqui a ultrassonografia, que tem 48 mil pacientes aguardando para fazê-la. Então, não é compreensível em uma cidade do porte de Anápolis acontecer algo assim. Não faltava estrutura, não faltava material.
Há, também, uma queixa de que, às vezes o paciente chega na unidade básica para examinar uma lombalgia, por exemplo. Procedimento simples, em que ele é medicado e dispensado. Porém, era solicitada uma ressonância para o paciente, que então era encaminhado para a UPA. Logo, todo paciente que era para ter o caso resolvido na unidade básica, era encaminhado para a UPA. Uma única unidade para atender uma cidade de 400 mil habitantes. Quando chegava um paciente em real estado de emergência, um paciente com faixa vermelha, a UPA já estava colapsada.
Em contrapartida, a falta de estrutura no Município também fez com que o Heana [Hospital Estadual de Anápolis] também ficasse colapsado. O município não conseguia suprir a demanda que compete e sobrecarregava o Heana.
Ton Paulo – E na educação? A situação também é crítica?
Na educação, nós temos problemas graves no sentido de infraestrutura. Hoje temos escolas que só possui um banheiro e a porta dele está quebrada. Várias escolas não têm condições mínimas, sem climatização, em que falta material, kit escolar para os estudantes. Temos casos de alunos que estão recebendo o uniforme agora, que já nem serve mais.
Os números apontam para um déficit de aproximadamente sete mil vagas na pré-escola e nos Cmeis. Hoje, então, acordaram sete mil crianças que não foram para a escola porque não tem vaga.
Ton Paulo – E como resolver isso?
Nós iremos fazer um chamamento no primeiro dia do mandato, para as igrejas, instituições sem fins lucrativos, para que elas possam abrir vagas. Já estamos vistoriando alguns prédios, vistoriamos vários nesse período de transição para que possamos utilizar essas estruturas para ampliar o número de vagas de Cmeis e pré-escola.
Estamos também avaliando algumas escolas que têm estrutura que comporta a instalação de mais salas de aula, e que vão utilizar estruturas térmicas pré-moldadas. Assim, poderemos, em meados de janeiro, conseguir ampliar o número de salas de aula. O meu desejo é que consigamos oferecer mais duas mil vagas.
Ton Paulo – Vocês terão profissionais suficientes para também estarem nesse processo?
Temos professores do cadastro de reserva, o importante é atender a população.
Ton Paulo – Esses professores serão chamados?
Vamos fazer contrato, vamos chamar professores, vamos fazer o que for possível. O que tenho que me preocupar agora é com o cidadão, com uma criança que está sem aula e a mãe precisa trabalhar. Vamos fazer na medida que for necessário, essa é a nossa prioridade.
Dar um mínimo de dignidade na saúde e dar oportunidade para as crianças de estarem na escola. Principalmente na pré-escola, que é lei. 100% das crianças de 4 a 5 anos devem estar na escola. Nós temos hoje 2 mil crianças da pré-escola que têm oportunidade de estarem na sala de aula.
Patrícia Moraes Machado – Como é a situação financeira da Prefeitura? O senhor vai pegar uma Prefeitura endividada?
A cidade perdeu o rumo, do ponto de vista fiscal. Anápolis pegou um empréstimo de mais de 600 milhões de reais, e fez isso tendo obras inacabadas. Mas a gente compreende, também, que existe uma máquina muito inchada. Aumentou muito a despesa corrente do município com terceirizados, algo em torno de mais de 400% nesse último ano de 2023. Temos avaliado o que tem de capacidade de entrega para o município, e o que não tem.
Vou citar um exemplo. Nós temos um gasto milionário com o software do Ensino à Distância. Quantas crianças são beneficiadas com esse software? O que justifica um custo de mais de 4 milhões de reais ao ano? Temos um Zap da Saúde que muitas das vezes tem funcionalidade, muitas vezes não, e que teve um gasto de implantação de R$ 12 milhões de reais. Esse valor somente para implantar um único software. A despesa, se não me engano, é de 600 mil reais ao mês.
Para Educação à Distância, existe um sistema da educação do próprio MEC que fornece um sistema gratuito. Enquanto isso, gastamos mais de 300 mil reais por mês com um único sistema. E se não me engano, nós temos 14 softwares com valor altíssimo de custeio. Nós precisamos de um aplicativo do município que conecta todas as áreas, e isso nós vamos buscar. Para o cidadão que precisa de uma vaga na escola, de uma consulta, precisa de um exame laboratorial, que quer comunicar à Secretaria de Infraestrutura um buraco, trocar uma lâmpada, ser notificado no dia da vacina do filho. Onde o sistema é integrado, onde as secretarias conversam entre si, mas, principalmente, onde um único aplicativo atende toda a demanda da população.
A gestão em Anápolis é uma gestão analógica, que não trouxe eficiência e gastou muito. Quando se fala em recursos, a cidade não tem. Anápolis não tem um centavo hoje que dê capacidade de investimento para o município. E nós temos áreas em que há a necessidade de cortes. Nós temos uma máquina inchada, com excesso de comissionados, temos serviços que são prestados com custo altíssimo.
Aqueles serviços terceirizados que foram contratados para trazer eficiência, para trazer celeridade, para modernizar a máquina pública, foram um tiro pela culatra. O efeito foi o contrário, porque se gastou muito, mas não se entregou o serviço. Na educação, é o mesmo. Você gasta milhões com a empresa de limpeza, mas a professora tem que chegar em sala de aula e a primeira atividade dela é limpar o ambiente.
Patrícia Moraes Machado – O senhor tem o número exato da dívida, hoje, do município?
Há um empréstimo cujas prestações começam a cair na conta da Prefeitura no próximo mês. Nós vamos ter uma parcela de, em média, 10 milhões de reais mensais. Hoje, nós temos um déficit de mais de 80 milhões de reais. E a informação que nós temos é que várias áreas com despesas estão, agora, derrubando o empenho [de pagamento], para não pagarem os prestadores de serviço e entregarem as contas equilibradas.
Essa camuflagem contábil não traz um número claro para nós. Porque uma coisa é a forma que eles vão entregar o livro-caixa, e outra coisa é o dia em que os cobradores começarem a aparecer com as notas para serem acertadas. O que nós temos de certeza é que o município não tem capacidade de investimento. Uma prova disso é que os investimentos todos foram feitos à base de empréstimos a juro alto. Mas vamos buscar portabilidade desses empréstimos.
Hoje, pagamos 135% do CDI, que é uma média de 1.2%, 1.3% ao mês, com um valor de mais de 600 milhões, quase 700 milhões em empréstimos. É praticamente o dobro dos juros que o Município de Goiânia pegou no último empréstimo realizado pela Prefeitura. Mas a dívida foi feita, e tem que ser paga.
Ton Paulo – E o que será feito quanto a isso?
Primeiro, buscar a portabilidade desse contrato de empréstimo. Em segundo, enxugar as despesas dentro daquilo que entendemos ter condições, como cargos comissionados, softwares, aluguel de equipamentos, aluguel de veículos. Não faz sentido um município que tem tantas dívidas ter secretários usando caminhonete alugada, que tem custo altíssimo. Não é problema nenhum o secretário andar em um carro econômico, carro popular. Vamos buscar trazer economia, mas principalmente aumentar a produtividade, o que traz recurso para o município.
Estamos entrando em colapso econômico. Se o município não aumenta a sua produtividade e acelera os investimentos do setor privado, a medida é aumentar o imposto. Mas eu tenho uma proposta muito forte para que não precisemos aumentar o imposto, mas sim a arrecadação do município. Isso faz melhorar o ambiente de negócios, modernizando a máquina pública, desburocratizando os processos, confiando mais no cidadão através dos termos autodeclarativos para liberar alvarás e licenciamento em 24 horas, de forma rápida, para que o cidadão possa investir e vender no município.
Anápolis é uma cidade que precisa melhorar sua capacidade de entrega. Queremos modernizar a máquina pública e precisamos ter esse diálogo, essa convergência com o Poder Legislativo para que a gente possa acelerar os projetos
Italo Wolff – O senhor acha que ainda há muita burocracia contra o empreendedor em Anápolis?
Infelizmente, nós temos a cultura ultrapassada que fiscaliza o investidor, o empreendedor, para depois ele conseguir tocar o serviço. Os municípios estão avançando nesse sentido, de liberar para depois fiscalizar. O cidadão chega, assina um termo de compromisso que inclui todas aquelas etapas burocráticas, abre a empresa e vai faturar, vai gerar arrecadação do município. Aí sim a fiscalização é feita.
Nós temos dois instrumentos: primeiro, melhorar o ambiente para os investidores, que hoje é hostil. Em segundo, enxugar e modernizar a máquina pública. Isso se faz com eficiência, com recurso humano totalmente profissionalizado, com ferramentas digitais. Infelizmente, o processo em Anápolis hoje não faz sentido. As secretarias não conversam entre si, as secretarias brigam entre si.
Hoje, o cidadão que quer empreender chega no setor de licenciamento ambiental, que pede uma série de documentos. Ele, então, precisa ir para a Secretaria de Infraestrutura. De lá, ele precisa ir para a Secretaria de Habitação. E daí ele vai para a Secretaria de Economia, buscar certidões. É um processo extremamente burocrático e moroso. Nós já temos modelos em todo o país que trazem uma simplificação dos processos, onde as secretarias são todas unificadas para facilitar a vida do cidadão, que ganha celeridade na abertura da sua empresa, do seu negócio, do seu empreendimento. O empreendimento gera emprego no município, gera arrecadação, movimenta a economia local.
Patrícia Moraes Machado – Como foi a conversa do senhor com a OS Agir? Ela assumiria duas unidades de saúde em Anápolis, mas desistiu. Há a informação, vinda de pessoas próximas à atual gestão, de que o senhor interviu, por vaidade, para não deixar o hospital ser inaugurado. Isso aconteceu?
Ainda não sou prefeito, não tem como eu intervir. Serei diplomado no dia 19 e serei prefeito a partir do dia 1º [de janeiro]. Então, não há nenhuma ferramenta para que eu intervenha em algo. Mas a OS me procurou e me perguntou se eu estava ciente e estava de acordo com a contratação por parte do Município, para a gestão de duas unidades de saúde. E eu não estava ciente. E eu tinha provas de que o hospital que eles assumiriam nem estava pronto. Fazer um contrato emergencial para um hospital que não está pronto seria “passar a carroça na frente dos bois”. Se é um processo feito às pressas, na calada da noite, eu vou me posicionar. É natural.
A gente vem buscando minimizar as negligências que têm acontecido nesse final de mandato, como a tentativa da Prefeitura de articular pedaladas fiscais junto à Câmara dos Vereadores, tentando buscar empréstimo logo agora, faltando praticamente 30 dias para o final da gestão. Por que o chamamento [da OS] não foi feito há seis meses, em um processo transparente, ético, licitatório? Eles tinham um cronograma físico-financeiro que indicava o término da construção do hospital. É muito desorganizado, não conseguem fazer, não tem gestão. Por que não seguem um cronograma?
Eu não estava ciente, mas não tenho instrumento e nem ferramenta para intervir. Todas essas questões são tratadas com o secretário ou secretária da gestão. Quando nós formos delegar, descentralizar a gestão, eles vão tratar com técnicos da nossa gestão. Nós vamos ter transparência com a gestão, vamos pensar em projetos a médio e longo prazo. Se a OS decidiu não assumir o serviço, foi por falta de transparência da gestão atual, não por intervenção minha. Porque eu não tenho instrumento legal para fazer qualquer tipo de intervenção.
Italo Wolff – E se essas duas unidades – a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Mulher e o Hospital Municipal Georges Hajjar – não forem inauguradas na atual gestão, e ficarem para a sua, qual seria o modelo ideal de administração?
Nós já temos um modelo de gestão e que estamos defendendo, junto com a nossa equipe de transição e junto com a equipe técnica que vai assumir. Eles estão desenhando todo o modelo da gestão, que está em pauta não apenas uma “lupa” sobre esse hospital, que é um projeto que eles readequam a todo momento porque falta planejamento a médio e a longo prazo, não tem controle nenhum.
No último ano, a população viu a incompetência, a inabilidade, o despreparo para fazer uma gestão da saúde. Entregaram tudo para a Funev [Fundação Universitária Evangélica, OS que gere unidades de saúde em Anápolis]. Ou seja, toda saúde praticamente está nas mãos de uma única OS, sem trazer um processo licitatório transparente. Nossa visão de saúde é totalmente divergente da forma com que eles têm conduzido. Nosso plano não é apenas para essa OS. Vamos pensar em uma forma de descentralizar o serviço. Nós não temos nada contra o modelo que eles executaram, temos contra colocar a ‘raposa para cuidar do galinheiro’. É o que aconteceu nos últimos meses lá na cidade.
O objetivo é entregar um serviço de qualidade para a população. Infelizmente, Anápolis tem sido instrumento para projetos políticos, para pirotecnias eleitorais e a população está padecendo na porta dos hospitais, na porta das UPAs. O objetivo é trazer eficiência, trazer uma gestão transparente. Sabemos que não será fácil, vamos ter muitas adversidades, mas vamos conseguir. Vamos ter uma melhora significativa do sistema de saúde em Anápolis nos primeiros 100 dias de gestão.
Ton Paulo – Sobre seu programa, que foi uma promessa de campanha, para construir casas com subsídios nas parcelas de financiamento para a população. Como vai funcionar?
É o programa Construindo Sonhos. Hoje, a dificuldade do trabalhador é conseguir o valor da entrada de uma casa. Imagine o cidadão que ganha 1.800 reais de salário. Ele não tem condição de juntar 50 mil reais para o dinheiro da entrada na compra de uma casa, de um apartamento. Ele não tem esse dinheiro. Então, a construtora constrói e não tem como vender.
O município tem muitas áreas públicas paradas, e tem capacidade de realizar parte da infraestrutura dos conjuntos habitacionais. O município tem condição de tirar o ITBI, que é o Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis, de ajudar na documentação do imóvel e vai entrar com alguma contrapartida que equivale ao valor de entrada.
O subsídio é do trabalhador, via Caixa Econômica Federal. O governo federal tem seu próprio subsídio, e a Agência Goiana de Habitação (Agehab) também tem o seu. E o município também vai entrar com a contrapartida dele, via recursos ou via obra de infraestrutura, ou através da área doada. Entraremos com a contrapartida de subsidiar 100% da entrada e parte da prestação.
Como exemplo, suponhamos que exista uma área do Município, doada para o programa. Vamos supor que a Caixa a avalie pelo valor de 60 mil reais. Sendo assim, 40 mil reais de entrada já foram pagos, e 20 mil reais são subsidiados na prestação. Hoje, há modelos em que o cidadão poderá pagar 400 reais de prestação de seu imóvel.
Além de trazer moradia digna, vamos movimentar a construção civil. Vamos movimentar mais de 2 bilhões de reais na economia nesses próximos quatro anos. Aparecida de Goiânia, por exemplo, já está correndo atrás desse projeto habitacional com subsídios. Goiânia também já está correndo atrás, e é uma forma de nós não jogarmos a responsabilidade só para o governo federal, ou só para o governo estadual, e o município fazer sua contrapartida.
O Município vai fazer dentro daquilo que ele viabilizar, através da doação área, da infraestrutura com rede de água, através da terraplanagem. Dentro daquilo que eu tiver condições, vou oferecer para o programa de moradia. Eu já tenho praticamente duas mil e quinhentas casas em vias de serem lançadas, para venda voltada a trabalhadores selecionados pela Prefeitura de Anápolis. Dessa forma, eu atendo a construtora, atendo o trabalhador e aqueço a economia.
Ton Paulo – O interessado, então, se cadastra e haverá a seleção por parte da Prefeitura?
Quem se encaixa nos quesitos, de possuir renda de até cinco mil reais, e haverá uma seleção pela Caixa Econômica. A pessoa tem que ter um cadastro, ter uma comprovação de renda. O meu programa, Construindo Sonhos, é para subsidiar 100% da entrada e parte da prestação.
Ton Paulo – Falando agora sobre política, acabamos de sair das eleições de 2024, mas já há movimentações para as eleições de 2026. Um nome que deve ser lançado na corrida ao Palácio das Esmeraldas, com apoio do governador Ronaldo Caiado, é Daniel Vilela. Ele é amigo do senhor e o apoiou na campanha deste ano. Mas o senhor é do PL, que deve ter, também, candidato. Como será isso? Quem o senhor deve apoiar em 2026 para o governo?
Falo sobre isso com muita tranquilidade, até porque não estou preocupado com eleição agora. Acabei de ganhar uma eleição, então eles que se preocupem com a deles. Eu tenho um compromisso de fazer uma boa gestão. Mas quanto ao pleito de 2026, eu vou ouvir o presidente Bolsonaro, que, inclusive, esteve em Anápolis quatro vezes [neste ano] para apoiar nosso nome. Tenho uma relação muito forte com o Major Vitor Hugo, que tem seu projeto político. Então, vou ouvir o presidente Bolsonaro para ter o meu direcionamento político no momento oportuno.
O momento agora é de focar na gestão da Anápolis, buscar resultado. A oportunidade que nós temos é de trazer resultados para Anápolis, colocar a cidade no topo das discussões políticas. Não estou pensando no meu projeto pessoal. E nós saímos vitoriosos neste ano, mas eu tenho que pensar no projeto da cidade.
Anápolis tem que voltar para as discussões. Por que Anápolis não participa mais das chapas majoritárias? Por que a cidade, que sempre teve um protagonista político no passado, não tem mais condição de indicar vice, de indicar senador? As discussões vão ocorrer no sentido de onde Anápolis será prestigiada, não eu, Márcio Correa. As minhas relações pessoais não podem se sobrepor às relações políticas de interesse da cidade.
Infelizmente, Anápolis sempre foi usada pelos políticos e prefeitos da vez para atender seus projetos pessoais, políticos. Eu fui candidato, sou prefeito eleito, hoje, para colocar Anápolis não só no protagonismo da geração de renda, de emprego, de oportunidade, mas também no protagonismo político. Sou do PL, sou leal à minha legenda, mas quero ver quem vai atender aos interesses de Anápolis. A cidade tem nomes com potencial de serem governador, ministro, senador. Ela não pode ser usada como ela tem sido nos últimos anos e nas últimas décadas.
Portanto, essa discussão sobre 2026 passa pela cidade, pelas lideranças da cidade, pela minha conversa com o Bolsonaro e onde a Anápolis será colocada no debate.
Ton Paulo – E o senhor mencionou que vai ouvir o presidente Bolsonaro. Se houver um pedido dele para o senhor apoiar o candidato do PL para o governo, por exemplo, Wilder Morais. Como será?
Se eu vou ouvi-lo, a decisão será dele.
Italo Wolff – Como o senhor tem visto as notícias sobre o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pela Polícia Federal, pelos crimes de tentativa de golpe?
Com muita tranquilidade. Eu venho observado o crescimento e o desempenho político dele nas últimas eleições, e também resultado do PL. Mas é muito claro que não houve tentativa de golpe. A prova disso é a investigação do ato do 8 de janeiro e a forma com que as pessoas a estavam conduzindo. Mas, infelizmente, há uma crise entre os Poderes, interferência do Judiciário dentro da política e que, infelizmente, tem polarizado ainda mais a situação no país.
Agora, fica muito clara a tentativa de inviabilizar o presidente Bolsonaro logo no período em que se estava colocando em pauta o projeto de anistia para os presos do 8 de janeiro. Nós temos um entendimento muito claro quanto a isso. Os próprios autos mostram que Bolsonaro era totalmente contra qualquer tipo de ataque à democracia. Mas há um movimento político para inviabilizar sua candidatura, principalmente quando se entende a força política do bolsonarismo em todo o país.
Patrícia Moraes Machado – O governador Ronaldo Caiado já anunciou que será candidato ao Palácio do Planalto em 2026. O senhor vê a possibilidade de uma aliança da direita em torno dele, caso Bolsonaro não seja candidato?
Sem dúvida. O governador Caiado sempre representou a direita no país. Daqui até 2026 muita coisa acontece, e eu vejo que a direita precisa estar unida, essa é uma tendência. É natural que alguns nomes, principalmente o de Caiado, que é o governador mais bem avaliado do país, busquem se viabilizar. Ele tem um grande partido que tem buscado, também, viabilizar sua candidatura. Mas até o período das convenções, muita coisa vai acontecer. Melhor dar tempo ao tempo para ver quem irá conseguir se viabilizar.
Mas eu entendo que a direita estará unida em torno de um projeto. Se não for no primeiro, estará unida no segundo.
Ton Paulo – Muitos falam que Wilder e Gayer saíram enfraquecidos dessas eleições, principalmente em relação a Bolsonaro, pois teriam “vendido” ao ex-presidente uma imagem distorcida do cenário eleitoral de Goiânia, dando conta de que a vitória de Fred Rodrigues era garantida. O senhor acha que isso poderia causar uma aproximação de outras alas do PL, como a do Major Vitor Hugo com Caiado e Daniel Vilela?
Eu não acho que foi vendida uma imagem diferente do que aconteceu. Foi uma eleição comum, difícil. Todo mundo que disputa uma eleição tem esse risco, de perde-la. E é natural um partido grande igual ao PL buscar uma candidatura própria numa cidade importante como Goiânia.
Mas o que eu posso falar é que o presidente foi muito presente na campanha. Em Anápolis ele esteve quatro vezes. Atendeu minha candidatura, meu nome. Sou muito grato por isso, foi decisivo e importante para minha eleição. Já quanto às particularidades locais de Goiânia, da eleição, eu não tenho conhecimento.
E quanto à aproximação em 2026, acho que muita coisa pode acontecer. Passa pelo governador Ronaldo Caiado, passa pelo presidente Bolsonaro. É natural nas campanhas ter aquele sentimento acalorado durante as disputas. E agora, passada a eleição, com bastante prudência, cada um vai entender o cenário local e tomar suas decisões. Em Goiás, tem um líder que é o Ronaldo Caiado, que é da direita. No cenário nacional, tem um líder que é o presidente Jair Bolsonaro. Essas decisões passam pelos líderes para o entendimento do melhor caminho.
Do ponto de vista de Anápolis, reforço mais uma vez, vou ter orientação de Bolsonaro. Mas os interesses da cidade de Anápolis estarão em jogo durante as nossas decisões. Anápolis precisa estar no centro das discussões políticas do Estado.
Ton Paulo – O senhor esteve em Brasília recentemente, inclusive, para tentar articular emendas parlamentares para Anápolis. O que o senhor teve de êxito nessa visita?
As minhas emendas estavam suspensas, foram liberadas agora. Fiz amizades em Brasília, tenho contado com o apoio do senador Wilder Morais, presidente do meu partido em Goiás, do senador Vanderlan Cardoso, do PSD, e dos deputados federais. Sou amigo pessoal do deputado Célio Silveira, de quem sou suplente e já assumi, por um tempo, o mandato na Câmara. E agora vou usar esse relacionamento em prol da cidade.
Vou ter a resposta sobre valor das emendas em breve, mas não tenho dúvida que nós vamos ter mais de 20 milhões de reais em emendas indicadas para o próximo ano, em Anápolis.
Italo Wolff – Sobre seu relacionamento com a Câmara Municipal, noticiamos recentemente que há dois vereadores favoritos para assumir a presidência da Casa, Andreia Rezende e José Fernandes. Como o senhor vê esse clima de renovação na cidade e como deve ser seu relacionamento com o Legislativo?
Respeito muito o posicionamento da Câmara, entendo a importância da independência do Legislativo. E é importante também eu ter essa boa relação com os vereadores, justamente para dar celeridade aos projetos e programas no nosso plano de governo. Então, sem dúvida, eu preciso dessa parceria com o Poder Legislativo.
O sentimento na cidade é de mudança, e não de continuidade. Estamos apoiando candidatos [à presidência da Câmara] que trazem também um sentimento de mudança, de renovação para a Casa. Os dois candidatos ligados ao nosso grupo político que se destacaram nessa articulação são a vereadora Andreia Rezende, segunda mais votada da cidade, e o vereador José Fernandes, que é o mais votado. Cabe a eles fazer essa articulação, tomar a decisão entre eles sobre a eleição da mesa diretora. Eu acredito que um vai ser presidente e o outro vai ser vice-presidente. Penso que essa é a tendência e aposto muito nisso, nessa liderança deles. Principalmente para trazer novos ares para o Legislativo e buscar a convergência para aquilo que é de interesse da população.
Anápolis é uma cidade que precisa melhorar sua capacidade de entrega. Queremos modernizar a máquina pública e precisamos ter esse diálogo, essa convergência com o Poder Legislativo para que possamos acelerar os projetos, principalmente nos primeiros 100 dias de gestão. Neste mês de dezembro, vou intensificar a conversa com todos os vereadores. Eles estavam um pouco ansiosos para um diálogo conosco, mas minha eleição acabou praticamente há um mês. Aagora vou intensificar as conversas, para que eu possa apresentar meus projetos, meus programas e buscar um entendimento para dar celeridade a eles.
Quanto à eleição na Câmara, todos sabem do meu desejo, mas sem interferência direta. Entendo que está tudo encaminhado para a eleição desse grupo [Andreia e José Fernandes], essa alternativa de mudança para o Legislativo.
Ton Paulo – O senhor tem, hoje, 12 vereadores na sua base. Como fará para aumentar esse número?
Na verdade, hoje nós já temos 15 vereadores ligados ao nosso nome, que eu entendo que apoiarão o projeto do José Fernandes e da Andreia. São 15 vereadores que estão alinhados com eles. Eles [Andreia e José Fernandes] têm articulado bem, até pela capacidade de articulação e liderança de cada um deles
Mas é natural também ter parlamentares na oposição. Isso é importante, é democrático, eles apontam onde nós, da gestão, não vamos bem. É necessário ter parlamentares na oposição para fazer isso. Mas vamos buscar ter a melhor relação com todos, relação respeitosa e entendendo a independência do Legislativo, buscando a convergência para o que interessa, que são os programas para a cidade.
Ton Paulo – O senhor, assim como o prefeito Roberto Naves quando assumiu o mandato, representa o novo, a inovação. Qual é o legado que o senhor quer deixar para a cidade?
A mudança, a inovação que falamos é nas ideias, nas práticas. Em Anápolis, há uma cultura política que prejudica a população, que é a de colocá-la para servir uma máquina pública, e não a de colocar a máquina para servir a população. Uma máquina inchada para atender projetos pessoais e políticos de alguns.
O nosso grande legado será o de Anápolis com seu potencial explorado. É uma cidade que é celeiro de investidores, de empreendedores, de mentes com capacidade de liderar. Mas Anápolis perdeu esse protagonismo. Nosso legado é o de que a cidade volte a ser uma cidade de oportunidades, que as pessoas tenham a dignidade na sua plenitude, com trabalho, com oportunidade, com gestão eficiente. Que a gente consiga levar saúde digna para a população, dar oportunidade para as crianças estarem na escola, uma das fases mais importantes do desenvolvimento, que consigamos garantir a empregabilidade dos pais, que nos orgulhemos dos serviços sociais.
Temos buscado minimizar as negligências que têm acontecido nesse final de mandato, como a tentativa de articular pedaladas fiscais
Um legado em que, nos dados e números, consigamos medir quantas pessoas nós tiramos da pobreza, da insegurança alimentar, quantos jovens tiramos da ociosidade para inserir no mercado de trabalho. Um legado de conseguir implantar programas de capacitação na área de tecnologia, de fazer a inclusão digital de adultos e reinserção deles no mercado de trabalho. Um legado de empresas que nós conseguiremos atrair para a cidade, e que o mercado de trabalho absorva mão de obra dos anapolinos que estão ali, preparados para assumir um posto de trabalho.
Esse será o nosso legado, de dar oportunidade para as pessoas trabalharem, de terem a sua dignidade com o seu salário. E não vamos deixar de ter sensibilidade com aqueles que realmente dependem das questões que passam por problemas na cidade.
Ton Paulo – O Daia terá uma atenção especial do senhor?
Apesar de o Daia ser de competência estadual, infelizmente o município tem um excesso de burocracia que pode impactá-lo. Nós vivemos em um mundo tecnológico, mas temos uma gestão totalmente analógica. Nossas primeiras medidas, juntamente com a Secretaria de Administração, serão para modernizar a máquina pública, trazer procedimentos, ferramentas para que possamos sanar problemas e aumentar a eficiência, aumentar a produtividade do setor privado.
A produtividade do setor privado está diretamente relacionada com a eficiência do setor público. Mas, infelizmente, hoje nós temos uma máquina inchada, ineficiente, que gasta muito. O resultado da gestão de Anápolis é o de se gastar muito e entregar pouco. Nós vamos pegar aquilo que está dando certo em outros municípios e replicar, para que possamos dar eficiência ao setor público. A eficiência do ser público vai aumentar a produtividade do setor privado. Se aumenta a produtividade, vai gerar oportunidades para as pessoas trabalharem. Isso representa mais emprego, aumento de salários.
O grande potencial da Anápolis é o setor de serviços. Mas como os jovens, os profissionais, microempreendedores estão sendo tratados pelo setor público? Como a gente está preparando a cidade para se beneficiar desses serviços? A cidade está com condições econômicas para utilizar, para fomentar esses serviços? Não adianta você preparar o jovem, preparar a mulher empreendedora se a cidade não tem capacidade de fomentar.
Como falado em relação ao programa Construindo Sonhos, vamos movimentar 2 bilhões de reais na economia. Com 10 mil casas, podemos gerar, no mínimo, 50 mil empregos na cidade. É uma forma de fomentar todo o setor de serviços, que hoje representa praticamente 70% da economia de Anápolis. Precisamos fomentar o ramo do cabeleireiro, da manicure, fomentar as clínicas de estética, os consultórios odontológicos e todo o setor de serviços da cidade de Anápolis.
Fazemos isso melhorando o ambiente de negócio, atraindo empresas, apresentando a cidade para o setor produtivo, para a economia criativa. O setor público é o grande responsável por isso, ele precisa criar um ‘ciclo virtuoso’, no sentido de trazer um ambiente que agregue capital, que agregue pessoas, que melhore a autoestima da cidade.
E isso se faz também com infraestrutura. Quando você fala de indústria, falta capacidade energética. E quem está brigando pela cidade? O prefeito tem que sair do gabinete todo dia, procurar a Equatorial e pedir para resolver o problema, ou ir à Agência Reguladora do Estado e do governo federal. Precisa cobrar a Equatorial para que ela não seja um fator de resistência dentro do município.
Então, além dos problemas de infraestrutura, precisamos pensar na prestação dos serviços. Temos uma reclamação, por exemplo, de que há vacância nos postos de trabalho por problemas de saúde do trabalhador. Precisamos de uma saúde eficiente para dar celeridade aos atendimentos. A Prefeitura tem que fazer o seu papel, aquilo que é competência do Município, mas também fazer seu papel naquilo que cabe a ele regular e fiscalizar. Não adianta a Prefeitura investir, terceirizar, mas não regular, controlar, fiscalizar.
Italo Wolff – Sobre o Porto Seco de Anápolis, existe uma disputa jurídica entre duas empresas. O Grupo Porto Seco Centro-Oeste S/A (PSCO) e a Aurora da Amazônia Terminais e Serviços LTDA (Aurora AEDI) disputam na Justiça a gestão da área alfandegária do porto. Como o senhor vê a questão? Qual o papel que o Porto Seco deve ter em Anápolis?
Primeiro, eu preciso entender o que é essa demanda. Não tenho conhecimento de qual o real motivo, mas acho que isso já está no âmbito jurídico, para dar resolutividade. O papel do Município é agir nos trâmites legais, juntamente com a sua Procuradoria, juntamente com o corpo técnico.
Nós entendemos todo o potencial do Porto Seco, mas sabemos o quanto ele pode ser expandido. É um instrumento de distribuição de mercadorias, e se a Infraero tomar conta do Aeroporto de Cargas, que foi federalizado neste ano, essa junção de Ferrovia Norte-Sul, Porto Seco e Aeroporto de Cargas será um tripé que trará um novo ciclo de desenvolvimento para a cidade de Anápolis. Infelizmente, havia sido criado também um centro de distribuição internacional dos Correios em Anápolis, mas que foi transferido para o Rio Grande do Norte.
Sobre o Aeroporto de Cargas, nós estamos buscando as informações técnicas para fazermos uma gestão junto ao governo federal e aproveitar todo esse potencial que Anápolis tem, no sentido de logística. Transformar isso em oportunidade de investimentos, de atração de empresas, de indústrias, de atração de empresas de tecnologia, que é a grande tendência mundial.
Principalmente agora, com a mudança que será provocada pela reforma tributária e que traz, sim, prejuízos para a cidade de Anápolis. Sem dúvidas, se conseguirmos interligar o Aeroporto de Cargas, o Porto Seco, a Ferrovia e as rodovias que correm na cidade, vamos trazer um novo ciclo de desenvolvimento para a cidade.
Patrícia Moraes Machado – Um dos pontos controversos da campanha em Anápolis foi a oposição querer envolver o senhor no caso dos policiais que teriam cometido crimes na cidade. O senhor pretende dar uma atenção especial a isso? Como o senhor pretende lidar com isso a partir de agora?
A responsabilidade disso é das forças de Segurança Pública, do Poder Judiciário, não minha. Eles, que tentaram me puxar para essa história, queriam o poder a qualquer preço. Mas eu estava preparado para a eleição, e para as decisões da Justiça que mostraram a verdade dos fatos. Cada um que responda pelos seus atos. Se me citarem novamente nessas questões, vou buscar os meios legais.
Sempre tive uma vida limpa, de muito trabalho. E infelizmente buscaram macular isso. Mas a população compreendeu dessa forma também e agora espera uma resposta para esses crimes que aconteceram na cidade, que infelizmente o Executivo não repudiou, nem os crimes, nem a forma e a conduta dos candidatos de tentarem me envolver. Na verdade, eles são os próprios envolvidos nos crimes.
Passadas as eleições, ficou muito claro quem são os verdadeiros envolvidos nesses crimes.
Patrícia Moraes Machado – E o senhor teve um apoio muito forte da sua família nesses momentos de turbulência. Sua esposa, a Carla, já tem projetos para serem implementados?
A Carla será a primeira-dama. Com sua sabedoria, sua forma ética e sábia de lidar com as coisas, prefere não assumir nenhuma pasta, não será a secretária na gestão. Muitos imaginaram que ela seria secretária de Assistência Social, mas ela não terá pasta.
A gente precisa dar o exemplo e dar a oportunidade para as pessoas técnicas que estão me acompanhando, com a primeira-dama, em todas as áreas do município. A decisão dela foi de não assumir nenhum cargo no município. A Carla é oficialmente primeira-dama, trabalhando ao meu lado.