Polêmica racial com ACM Neto muda rumo das eleições na Bahia
23 setembro 2022 às 11h44
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Apesar de ter conquistada ampla vantagem nas pesquisas para o governo da Bahia, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) perdeu 5 pontos percentuais no último levantamento do Datafolha, ao mesmo tempo em que o principal adversário, Jerônimo Rodrigues (PT), subiu 12 pontos. Com isso, a disputa que parecia caminhar para decisão no primeiro turno, pode ganhar uma nova etapa.
O principal motivo da mudança seria a declaração racial de ACM Neto à Justiça Eleitora. O ex-prefeito se registrou como pardo, além de ter comparecido a uma entrevista na TV local com bronzeado exagero, enquanto questionava critérios do IBGE para classificação de raça no Brasil.
Na análise dos adversários, a alteração artificial do tom de pele natural foi agravada pela forma como ACM Neto se justificou sobre a declaração racial. “Eu me considero pardo. Você pode me colocar ao lado de uma pessoa branca, há uma diferença bem grande. (Agora) Negro, não. Não diria isso, jamais”, declarou ACM.
O IBGE, porém, diz que, assim como os pretos, os partos são classificados como negros. Sobre o ponto, ACM transferiu a responsabilidade para o instituto. “Então é erro do IBGE, não é meu. Simplesmente isso”, declarou.
A autodeclaração de ACM como pardo já havia sido a mesma em 2016, mas o assunto não levantou polêmicas na época.
Em Salvador, cidade em que ACM Neto tem mais força eleitoral, 80% dos habitantes se declaram negros. Além disso, a Bahia é o estado com a maior proporção de negros em todo o país.
Estratégia de campanha
Após a entrevista, a campanha de Jerônimo Rodrigues passou a investir na polêmica, a fim de virar o jogo eleitoral. Três dias após as declarações à TV, ACM Neto passou a ser criticado por populares durante propaganda no horário eleitoral petista. Entre as acusações, estão “apropriação racial”, “impedir que pessoas negras entrem na política” e ser “um homem branco, cheio de privilégios”.
Em resposta, a campanha do União Brasil chegou a acionar o Tribunal Regional Eleitoral da Bahia por três vezes, mas todos os pedidos para retirar o vídeo do ar foram negados.
Em levantamento digital que analisou postagens com menções à entrevista, 93% dos comentários foram negativos, 5% neutros e apenas 2% positivos. Os termos mais associados ao ex-prefeito de Salvador foram “bronzeamento facial”, “piada”, “pardo”, “oportunismo” e “IBGE”.