Independentemente de quem vencer as eleições, a nova composição da Câmara dos Deputados e do Senado Federal será essencial para definir o comportamento do próximo governo. Seja a reeleição do atual presidente Jair Bolsonaro (PL) ou a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a próxima gestão será bem influenciada pela relação com os novos parlamentares. Para entender mais os possíveis novos cenários do jogo político, o professor de Ciência Política da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (FCS-UFG), Pedro Santos Mundim, conversou com o Jornal Opção a respeito.

Na votação realizada no domingo, 02, a sigla do presidente Bolsonaro, o Partido Liberal (PL), conseguiu 99 cadeiras na Câmara dos Deputados. Somando com o Partido Progressistas (PP) e o Republicanos, que apoiam o atual chefe de Estado, o número cresce para 190, o que garante a bancada da Casa. No Senado, o PL também conseguiu a maior bancada após eleger mais oito senadores, totalizando vinte eleitos com os aliados.

De acordo com Mundim, uma vitória de Bolsonaro no atual cenário faz com que o atual governante se sinta “legitimado” para fazer o que deseja. Apesar de dominar o Congresso, entretanto, tudo ainda dependeria da forma que o governo dele transcorresse, incluindo dos índices de popularidade, pontua o especialista.

“Se ele (Bolsonaro) recuperar uma avaliação positiva e tiver poder de barganha, possivelmente o Congresso cederia um pouco. Mas, com a perda de respaldo popular, algo natural em segundos mandatos presidenciais, porque tende a cair em relação aos primeiros, a relação pode ser parecida com a do último ano. O presidente meio que delega o orçamento público e coisas do gênero para a Câmara, ao mesmo tempo, tenta implementar a sua agenda por meio de decretos ou algum alinhamento com o parlamento”, explicou o professor.

Oposição

Por outro lado, o Partido dos Trabalhadores (PT) será minoria na Câmara e Senado, após conseguir 122 deputados, incluindo a coligação, e nove senadores da própria sigla. Tal cenário deixa a situação totalmente diferente para o petista, segundo o docente.

“Lula não tem outra escolha, ele precisará dialogar com o Congresso. Apesar de ter capacidade e estômago para dialogar com as correntes antagônicas, ainda dependerá muito do apoio popular para poder ter poder de barganha com o atual parlamento”, analisou Mundim, ressaltando que seria o momento de o ex-governante mostrar habilidade no diálogo político. “Será muito mais complicado do que foi nos outros mandatos que ele comandou o país, fora que terá que contar com pouquinho de sorte. Mas, do ponto de vista da esquerda, ele é a pessoa mais capaz de conversar com os opositores”, completou.