Deepfake: entenda a tecnologia que pode se tornar arma de desinformação nas eleições
04 setembro 2022 às 16h54
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A desinformação e os boatos, infelizmente, sempre seguiram o jornalismo por onde fosse, ganhando ainda mais força nos assuntos que tratam a respeito de política, principalmente em época de eleições. Entretanto, as notícias falsas convencionais, sejam textos com informações inverídicas ou imagens manipuladas, devem mudar de patamar daqui para frente. Isso por conta da ascensão de técnicas de manipulação de vídeo chamadas de deepfake e shallowfake, situação que pode revolucionar a maneira que as fake news são criadas.
Apenas para ilustrar a gravidade da situação, imagine você acordar e ver na internet que um vídeo seu está em alta em todas as redes sociais. Sendo que nessa gravação, você diz coisas que nunca disse antes e que jamais falaria em frente às câmaras. E pior, você não se lembra de ter gravado e compartilhado o material nas mídias. Dependendo do conteúdo, a sua vida pode sofrer inúmeras consequências por conta de uma mentira, uma manipulação de vídeo que fez você falar algo que nunca disse.
Só com esse exemplo já é possível pensar o quanto as técnicas podem ser armas políticas poderosas na era da informação rápida e da ausência de apuração. Imagine um vídeo falso de “Candidato A” falando que é favor sobre algo moralmente terrível, ou que “Candidato B” teria confessado em uma gravação adulterada que teria praticado inúmeros atos de corrupção.
Para entender melhor sobre essas formas de manipulação de vídeo, o Jornal Opção conversou com o autor Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação.
Primeiro, Arthur explicou que a shallowfake é uma manipulação amparada na edição, podendo ser feita até com ferramentas mais básicas, com pequenos cortes e usando outras gravações da própria pessoa representada como fonte. Enquanto o deepfake usa bastante inteligência artificial, deep learning e machine learning para produzir um vídeo falso do indivíduo.
“A principal diferença é o grau tecnológico envolvido. A mais simples, sem dúvida, é a shallowfake, mas também é preciso colocar em contexto que depende do nível de conhecimento de quem está fazendo. Pode ser que alguém tenha profunda facilidade em usar a deepfake, então o caso será diferenciado, mas via de regra é a shallowfake”, disse Igreja.
Ele também destacou que a manipulação com shallowfake pode ser mais “truncada”, o que pode facilitar a identificação por parte de uma pessoa comum. Entretanto, a deepfake possui uma tendência de ser mais fluída, mas pode ter deformações. “Dependendo do grau de refinamento utilizado, podemos notar comportamentos e expressões que ficam estranhos”, contou o especialista.
Apesar de acreditar que o uso das manipulações crescerá com a proximidade das eleições, o autor também possui um certo otimismo no combate com o uso de tecnologia.
“É quase como uma guerra de gato e rato da tecnologia, pois se usa machine learning, deep learning e inteligência artificial para criar isso e redes que funcionam de forma reversa para tentar identificar. Lembrando que a partir do momento que se tem um algoritmo que identifica, é possível treiná-lo para burlar. É uma caçada eterna. A forma para tentar bloquear e identificar isso é através da identificação não só técnica, mas com relação ao conteúdo, o que está sendo dito, se de fato a pessoa se pronunciou daquela forma, se há evidências e registro da veracidade do conteúdo, ou seja, deixar a forma de lado e focar no conteúdo”, explicou Arthur.
Por outro lado, mas no mesmo sentido, o advogado eleitoral Dyogo Crosara também destacou para o Jornal Opção que o principal problema das manipulações seria o combate. Entretanto, segundo o especialista, a diferença de velocidade entre a propagação de material falso e a da justiça seriam o principal empecilho.
“A justiça demora para você poder entrar com a ação, ter uma decisão e uma ordem de remoção de um material. Isso pode demorar e durante esse tempo, a notícia já pode ter impactado, sem que você tivesse uma resposta pronta. Então, a minha grande questão é que a velocidade da internet é muito maior que a da legislação eleitoral e de uma decisão judicial”, justificou Crosara
Apesar de ressaltar a desigualdade de agilidade entre a justiça e a internet, o advogado considera que o Brasil possui uma legislação considerada como uma das mais modernas do planeta no quesito. “Poucos países regulamentaram a questão da internet nas eleições e a legislação brasileira possui o que deveria ter, por conta da última resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições de 2022”, ressaltou.
Dyogo também sugeriu que os candidatos controlem as informações falsas através das campanhas e utilizando os artifícios da comunicação. “Os candidatos precisam entender que não é possível jogar na defensiva”, alerta. Ele justifica que o tempo para aguardar uma decisão judicial pode ser suficiente para causar um grande impacto na campanha. E ainda destaca que já estão acontecendo casos de deepfake em Goiás e que é questão de tempo para aparecerem eventos de shallow fake.
Um exemplo nacional de caso de deepfake foi a montagem utilizando Renata Vasconcellos, apresentadora do Jornal Nacional, no qual aparece uma manipulação dela divulgando uma pesquisa eleitoral falsa.