Debate Lula x Bolsonaro na Band: entre mortos e feridos, salvou-se a civilidade

16 outubro 2022 às 22h29

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Provavelmente o debate da Band não vai representar nada muito significativo em termos de mudança de intenção de voto, tal é o grau de consolidação do eleitorado ainda a duas semanas do novo encontro com as urnas.
Mas, certamente, o nível de discussão política entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na noite deste domingo, 16, abre uma esperança de que nem tudo está perdido em termos de civilidade. Acusações de parte a parte, claro, foram ditas, mas não refletia o cenário tenso da semana, seja nas redes sociais como nas ruas e, infelizmente, até nas igrejas.
Aliás, William Bonner deve ter dado um suspiro de alívio, pensando em sua missão daqui a uma semana e meia. Quem viu o caótico debate da Rede Globo no primeiro turno, que será lembrado por décadas pelas peripécias de um padre fake, já se preparava para o pior com o primeiro embate entre os dois arquirrivais.
Debates de segundo turno são como duelos, não há um terceiro para tirar o foco. E a elevação da temperatura da campanha poderia causar momentos constrangedores ao vivo – era o temor que pairava. No entanto, o formato do debate, que alternou perguntas formuladas por jornalistas – entre eles, Vera Magalhães, atacada por Bolsonaro no evento da Band no primeiro turno – e dois grandes blocos em que cada um dos candidatos tinha tempo e tema livre durante 15 minutos para confrontar o adversário, colaborou para que tudo terminasse bem.
Não, não houve nada de grandioso em termos de discussão. No frigir dos ovos, a “colheita” teve os compromissos de Bolsonaro de manter o Auxílio Brasil – ex-Bolsa Família – em 600 reais e de não propor mudança no número de magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF). Da parte de Lula, a promessa de retomada de projetos e obras que caracterizaram seus dois governos, bem como valorização do salário mínimo acima da inflação.
Entre as farpas e verborragias, houve espaço até para algumas provocações que terminaram em um clima de descontração e até sorrisos esboçados
No mais, acusações de parte a parte sobre corrupção e mentiras, mas tudo dentro de um respeito mínimo – ainda que alternado com palavras contundentes de parte a parte.
Bolsonaro começou mais arredio e terminou o debate muito bem, transmitindo tranquilidade. Lula teve altos e baixos. Entre as farpas e verborragias, houve espaço até para algumas provocações que terminaram em um clima de descontração e até sorrisos esboçados.
Talvez o debate de 2006 entre Lula e o então tucano Geraldo Alckmin – hoje seu vice na chapa, pelo PSB – tenha sido mais agressivo do que o desta noite, ainda mais se for promovido o deslocamento no tempo para o contexto de cada época.
O encontro na Band talvez não tenha mudado um voto sequer, mas serviu para fazer voltar o gênero “debate presidencial” para o modo civilizatório. Que na Globo também seja assim.