Com a polarização acirrada entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nestas eleições, surge uma nova figura: o eleitor ‘oculto’. Para melhor compreender, trata-se de eleitores simpatizantes de um dos dois candidatos, mas que não se declaram por vergonha ou receio de críticas de amigos e, até, retaliação de patrões. O cientista político Lehninger Mota cita que essa atitude das pessoas já foi tema de estudo. Em 1977, a alemã Elisabeth Noelle-Neumann a definiu como o ‘Espiral do Silêncio’.

Nessa pesquisa se constatou que há pessoas que evitavam emitir opiniões quando elas percebem que poderão ser ridicularizadas ou irão sofrer algum tipo de retaliação. Esse comportamento ficou evidente com resultados aferidos, se diferenciando de pesquisas de opinião em alguns países. “No Brasil, a gente precisa entender que nós não temos essa tradição. Geralmente, todo mundo coloca suas opções. Agora, há alguns critérios que precisa ser levado em consideração. Primeiro, defender o Bolsonaro depois de tantas críticas, para algumas pessoas isso fica ruim, mas também defender o Lula, que já foi preso, mesmo que com as condenações foram suspensas pelo STF, algumas pessoas não se sentem à vontade para defendê-lo publicamente”, compara Mota.

Para o especialista, embora haja o silêncio do eleitor brasileiro no dia a dia, isso não deve interferir tanto nas pesquisas eleitorais, e, possivelmente, no resultado das eleições, porque diante de um pesquisador a pessoa acaba revelando em que deve votar. “As pesquisas conseguem captar bem isso, porque as pessoas são abordadas por profissionais, que vão de casa em casa, e, assim, elas deixam de lado as restrições que têm em falar com amigos ou no trabalho, onde o patrão, porventura venha a ser bolsonarista. Eu tenho visto muito isso acontecer, o patrão pendido voto para o Bolsonaro e alguns funcionário, que são Lula, ficarem calados”, frisa.

Apesar de apontar o comportamento do “Espiral do Silêncio” na sociedade brasileira, no entanto, não interferindo nas pesquisas, Lehninger Mota acredita que isso pode representar uma diferença nos resultados, mas não ao ponto de ser um fenômeno que as pesquisas não conseguiram detectar, ao longo do processo eleitoral.