Ronaldo Caiado assume na imprensa nacional a representação da direita civilizada
08 dezembro 2024 às 00h00
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A imprensa nacional tem articulado uma tese que o Jornal Opção já defende há pelo menos um ano e meio. No editorial publicado em 12 de março de 2023, o veículo publicou que, para derrotar Lula da Silva (PT) em 2026, um candidato deveria “formular um discurso inclusivo para o país, crítico mas não radicalizado”. Já naquele texto, se lia: “O próximo presidente da República tende a ser aquele que, embora busque os votos dos eleitores de direita — os que apoiaram Bolsonaro —, precisa conquistar votos no centro e na centro-direita, e talvez até em parte da esquerda descontente com Lula da Silva.”
Na última semana, a valorização da direita moderada veio à tona em alguns dos maiores veículos de imprensa do país — Folha de S.Paulo, Estadão e O Globo. O movimento é natural em meio a novos atentados ao STF e a divulgação da participação de Bolsonaro (PL) em suposta tentativa de golpe. “Não se pode relegar apenas à esquerda a defesa da democracia”, pensa a opinião pública, que se põe em busca de representantes democráticos no centro e na direita-não-extrema.
Por diversas razões, o governador de Goiás se destacou como representante deste movimento mais do que outros governadores de direita: Zema (Novo-MG), Ratinho Jr (PSD-PR), Tarcísio (Republicanos-SP). Em 2 de dezembro, matéria da Folha de S.Paulo intitulada “Caiado (UB) desperta fúria da direita bolsonarista nas redes sociais” descreve por que ele, e não seus pares, tem ocupado o espaço como representante da direita em 2026.
Em resumo, Caiado afirmou que “a vida continua” quando questionado sobre o indiciamento de Bolsonaro pela Polícia Federal; o governador tem relação republicana com o ministro Flávio Dino; ele reafirmou em evento da Confederação Israelita do Brasil (Conib) sua intenção de se candidatar a Presidência da República em 2026. Em outro editorial do Jornal Opção, de 21 de abril de 2024, já se lia: “direita só tem chance de derrotar Lula da Silva se pensar para além do bolsonarismo”.
Hoje, as direitas têm uma militância organizada, como aquela que apenas o PT conseguia ter no passado. A militância das direitas se beneficia ainda das redes sociais, que permite a descentralização; seus formadores de opinião têm o incentivo da monetização para mobilizar corações e mentes. É a força política incontornável no Brasil atual, mais motivada do que qualquer outra, mas essa é também a sua fragilidade. Muitos militantes de direita acreditam que basta ser autêntico — patriota de verdade, intransigente com o diferente, puro em seu alinhamento à direita.
Não basta. Para ganhar eleições para o Executivo, é preciso agregar. É preciso ser democrático e civilizado, como ficou demonstrado na eleição para prefeito de Goiânia. Não se trata de menosprezar o bolsonarismo (que ainda é a corrente majoritária em Goiás e boa parte do Brasil). É uma constatação do óbvio: as eleições se aproximam e a situação jurídica de Bolsonaro não melhora; é mais provável que o político a ocupar o vazio deixado por ele seja o mais agregador.
O principal retrato de Caiado como essa potencial figura agregadora foi feito por O Globo, na coluna “Persona”. O extenso perfil do governador feito pelo repórter Eduardo Moreira da Graça revela alguns prováveis alicerces da campanha caiadista em de 2026, bem como os pontos em que o governador será questionado. No perfil, se lê as aspas de Caiado: “estamos todos cansados da polarização sem resultados práticos em nossas vidas. Os dois últimos governos falharam em unir o país. Não falharei.”
O perfil também adianta que a plataforma para sua campanha será levar Goiás como um caso de sucesso. “O Marçal pautou nacionalmente a disputa sem um case real para apresentar. Pois eu o tenho, e se chama Goiás”, se lê no perfil. Em 2023, o PIB Brasileiro cresceu 3,2% — o PIB de Goiás cresceu 5,2%. Quando se fala em crescimento do PIB, parte significativa da imprensa às vezes se esquece de outra palavra: desenvolvimento — mas aqui também há resultados a apresentar.
Nesta quinta-feira, 5, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que Goiás atingiu a menor taxa de pobreza da história. Apenas 1,3% da população está vivendo abaixo da linha de pobreza, definida como renda domiciliar per capita inferior a R$ 210. Os dados, analisados pelo Instituto Mauro Borges (IMB) e divulgados pelo IBGE na pesquisa “Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2024”, destacam Goiás como o segundo estado com menor índice de pobreza no Brasil, atrás apenas de Santa Catarina. O índice está muito abaixo da média nacional, de 4,5%.
Há também o sucesso na educação, com Goiás passando a ocupar o primeiro lugar no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Brasil. Uma das explicações pelo feito é o programa do governo estadual Bolsa Estudo, um auxílio financeiro por desempenho e frequência escolar que foi copiado pelo governo federal no Programa Pé de Meia.
Poder-se-ia falar ainda da saúde, com o Cora; da infraestrutura, com o combate às desigualdades regionais; de finanças, com reversão do déficit herdado de R$ 4 bilhões em 2018. Mas segurança pública é o tema que deve pautar 2026. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), de 2018 para cá, quando começou seu governo, há queda de 85% em latrocínios, 56% em homicídios dolosos, 47% em roubo seguido de morte, 68% de furto de veículos, 44% de residências e 89% em furto de transeuntes.
Essas estatísticas serão mote de campanha porque a segurança é uma das maiores demandas dos brasileiros. O próprio perfil feito por O Globo adianta o argumento que será usado por opositores: o da violência policial. Na última semana, diversos casos de agressões por agentes de segurança em São Paulo fizeram Tarcísio dizer que estava “completamente errado” e com “uma visão equivocada” sobre o uso de câmeras corporais por PMs.
Convém não ignorar o tópico. O público teve sua atenção encurtada pelas redes sociais e os algoritmos propagam mais os argumentos extremados; por isso, em 2026, a tendência é de que o debate seja reduzido aos termos de “o que é pior: mais insegurança ou mais violações de direitos?” Caiado, ao se apresentar como candidato moderado da direita-não-extrema, não poderá escolher uma dessas duas alternativas, sob pena de ser colocado no balaio junto com extremistas de fato. A solução é mudar a pergunta. O que é mais urgente? O que é mais efetivo? O que deu certo em países desenvolvidos?
Outro ponto de questionamento que Caiado deverá enfrentar é a pauta ambiental. Aqui, o perfil de Eduardo Moreira da Graça revela um enorme preconceito. Ele escreve: “A dicotomia entre o caipira e o moderno, a defesa de pauta da porteira aberta no meio ambiente e a revolução tecnológica do agro.” O fato concreto é que o governo de Goiás tem avanços ambientais enormes para apresentar, e isso não conflita com o agro que segue as normas ambientais (que é a fatia do agronegócio que pode comercializar internacionalmente e que tem rendido frutos financeiros a todo o país). Goiás reduziu 80% da área de queimadas em parques estaduais e diminuiu o desmatamento em 59% no primeiro semestre de 2024.
Andrea Vulcanis, secretária de Estado de Meio Ambiente, afirmou em entrevista ao Jornal Opção em setembro: “Estabelecemos um processo de regularização ambiental. Todos que têm passivos ambientais hoje possuem um caminho para recuperar as suas áreas e reservas e estabelecer medidas de compensação. São medidas bem duras para quem faz desmatamento atualmente, a conta fica alta. Há a reposição florestal, que obriga o proprietário a repor até três vezes mais do que a área desmatada; e ainda há a multa. Nada disso existia em 2019 — quem tinha passivos ambientais não tinha um caminho para voltar a agir dentro da legalidade.” A crítica ambiental injusta virá, mas a resposta está pronta: “Não adianta atacar proprietários, indústrias e agro; é preciso oferecer caminhos para cumprir a legislação ambiental”
Por último, e para retornar ao começo, a imprensa nacional indica que existe uma janela de oportunidade, uma vontade no país de escapar do extremismo que está associado a Lula. Bruno Soller publicou na última semana em sua coluna no Estadão o artigo: “Hoje, para buscar a reeleição, Lula precisa de Bolsonaro e Marçal elegíveis”. A tese é velha: “o lulismo e o bolsonarismo se retroalimentam”; mas Bruno Soller destacou a vitória de Caiado em Goiânia como o início do fim dessa era de polarização. “A ida [de Bolsonaro] a Goiânia, no dia eleitoral, para apoiar uma candidatura que enfrentava o candidato do governador Ronaldo Caiado talvez tenha sido o maior exemplo de sua equivocada postura [de dividir a direita]”, escreve.