Por que Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves foram políticos bem-sucedidos? À lista podem ser acrescentados, entre os goianos, Iris Rezende, Maguito Vilela, Marconi Perillo e Ronaldo Caiado. E o que eles têm a dizer aos pré-candidatos a prefeito de Goiânia?

Todos os citados tinham apetite extraordinário pela política. Ainda ativos, Marconi Perillo, hoje em baixa, e Ronaldo Caiado, governador de Goiás, são políticos profissionais, no sentido weberiano.

Getúlio Vargas governou o país por quase 20 anos — boa parte do tempo como ditador. Era vocacionado para a política. Tinha verdadeira paixão pela articulação, ouvia com atenção e, a partir do que colhia em variadas fontes, escolhia seus próprios caminhos. Conquistas do varguismo: voto feminino, legislação trabalhista, criação do salário-mínimo, Petrobrás, indústria siderúrgica. Imperdoável foi o fato de, entre 1937 e 1945, ter gerido como ditador.

Getúlio Vargas: criou a Petrobrás, leis trabalhistas e o salário mínimo | Foto: Reprodução

O médico Juscelino Kubitschek chegou à política por acaso. Não queria ser interventor em Belo Horizonte (onde descobriu o arquiteto Oscar Niemeyer, que projetou a Pampulha), no tempo de Vargas, mas, chegando ao poder, tomou gosto e acabou se tornando governador e, em seguida, presidente da República.

Seguindo Vargas, com a diferença de que era democrata autêntico, JK se tornou uma grande raposa política e, por isso, militares e civis golpistas não conseguiram derrubá-lo. Assim como Abraham Lincoln montou um time de rivais, na primeira metade da década de 1860, nos Estados Unidos, Juscelino Kubitschek governou com o PSD, seu partido, mas sem deixar de lado o PTB, mais de esquerda (nacionalista), e a UDN, forjadora de um liberalismo reacionário.

Se Vargas investiu na substituição de importações, fortalecendo o mercado interno, JK não fez diferente. Ele criou rodovias, como a BR-153, fortaleceu a indústria automobilística e construiu Brasília.

Juscelino Kubitschek em Brasília: a capital da esperança | Foto: Reprodução

Brasília é uma cidade, a capital do país. Porém, acima de tudo, resulta de uma ideia: a de que é preciso tornar o desenvolvimento menos desigual entre os Estados. São Paulo e Rio de Janeiro, na segunda metade da década de 1950, eram Estados desenvolvidos e em expansão. A remoção da capital possibilitou que o Centro-Oeste, e não apenas Goiás, se desenvolvesse mais. A “capital da esperança”, no dizer do escritor francês André Malraux, que a visitou, e a rodovia Belém-Brasília conectaram, além do Centro-Oeste, a região Norte do país.

Frise-se, por fim, que JK fortaleceu a democracia brasileira. Seu biógrafo Claudio Bojunga diz que havia sido um político de “exceção”. Esclareça-se: exceção democrática. Embora filho político do varguismo, não tinha aspiração alguma a ser ditador.

Tancredo Neves foi ministro da Justiça de Vargas, primeiro-ministro no governo de João “Jango” Goulart, senador, governador de Minas e presidente da República, eleito em 1985 (morreu antes de assumir). Sua paixão era a política. Daí seu apostolado tão longo e positivo.

Ulysses Guimarães e Tancredo Neves: ases da redemocratização | Foto: Reprodução

Iris Rezende e Maguito Vilela se consolidaram como principais líderes do MDB (frise-se que Henrique Santillo também merece referência positiva, embora tenha deixado o partido. Assim como Nion Albernaz, excelente prefeito de Goiânia). Iris foi prefeito de Goiânia quatro vezes, governador duas vezes, senador e ministro dos governos de José Sarney e de Fernando Henrique Cardoso. Maguito Vilela foi vice-governador, governador, senador e prefeito de Aparecida de Goiânia.

Os dois eram apaixonados pela política — pode-se sugerir que Iris Rezende um pouco mais do que Maguito Vilela. Para Iris Rezende, a política era seu trabalho, lazer e amor. Maguito Vilela era tremendamente popular, diplomático e afável.

Marconi Perillo perdeu duas eleições consecutivas para senador, mas foi eleito quatro vezes para o governo do Estado — o único a conseguir tal feito, em tempos democráticos.

Iris Rezende: político por vocação | Foto: Divulgação

Ronaldo Caiado foi deputado federal por um longo período, com forte atuação em Brasília, onde se tornou uma referência, foi candidato a presidente (e pode ser candidato a presidente em 2026), chegou ao Senado e foi eleito duas vezes para governador. A política parece circular no seu sangue.

No poder, firmaram-se outras facetas de Ronaldo Caiado — a do político agregador e estrategista. Com inteligência e percepção aguçada do quadro político, buscou Daniel Vilela na oposição, colocou-o como vice — até aliados não perceberam a tacada de mestre — e foi reeleito em 2022. Agora, com o apoio do vice-governador, conseguiu outro feito: conquistou um novo aliado — Gustavo Mendanha (que irá se filiar ao MDB).

Ronaldo Caiado: o governador se revela um hábil estrategista político | Foto: Secom

O que há de comum entre todos os citados é o agudo apetite pela política, a capacidade de articular e de ver, digamos, “longe”. Há políticos, ou que se dizem políticos, que mal percebem o que está a um palmo de seu nariz. Estes são os perdedores — que até podem ganhar uma ou duas eleições, mas quase sempre são derrotados.

Vanderlan: negócios à frente da política

Considerando os pré-candidatos a prefeito de Goiânia, os mais divulgados, quais realmente têm apetite político?

O fato de disputar eleições com frequência sugere que o senador Vanderlan Cardoso (PSD) tem apetite político? Talvez não. No momento, é forte para prefeito de Goiânia, mas, em termos de eleições para o Poder Executivo, tem se revelado um verdadeiro cavalo boliguaio (mistura de boliviano com paraguaio). Perdeu duas disputas para o governo e duas para prefeito. Não ganhou nenhuma.

Vanderlan Cardoso: senador e presidente do PSD | Foto: Agência Senado

O que realmente acontece, de acordo com veteranos, é que os políticos não confiam em Vanderlan Cardoso. Não seria adepto de cumprir compromissos. Veja-se apenas dois exemplos de sua falta de lealdade política e, até, pessoal.

Em 2020, o governador Ronaldo Caiado apoiou Vanderlan Cardoso para prefeito de Goiânia, nos dois turnos. Pela lógica, esperava-se que o senador apoiasse Ronaldo Caiado em 2022, porém, ao contrário, ele apoiou Major Vitor Hugo, do PL, porque este era o candidato do então presidente Jair Bolsonaro, do PL.

Há, também, outra questão. Em 2018, Vanderlan Cardoso foi eleito graças à força política da máquina do MDB no interior (tanto que seu primeiro suplente é Pedro Chaves, do MDB). No entanto, em 2020, decidiu não retribuir e enfrentou Maguito Vilela na disputa para prefeito de Goiânia.

Diz-se, nos corredores do Legislativo e do Executivo, que Vanderlan Cardoso tem mais apetite para os negócios do que para a política. Seria o mesmo caso do senador Wilder Morais (PL). Eles “estão” na política, mas não “são” da política. Não se está sugerindo que são venais, e sim, tão-somente, que não são vocacionados para a política.

Ana Paula Rezende e Bruno Peixoto

Ana Paula Rezende (MDB) quer ser política? De fato, a filha de Iris Rezende ainda não é política, pois nunca disputou nem mesmo mandato de vereador.

Mas a jovem empresária quer mesmo ser política? Diz-se que quer ser prefeita, mas falta-lhe vontade de ser candidata.

Noutras palavras, aquilo que é intrínseco da política, como a articulação e o estabelecimento de compromissos, não lhe interessa. Ainda assim, se for candidata — contando com o apoio de Ronaldo Caiado, Daniel Vilela, Gustavo Mendanha, Silvye Alves e Delegado Waldir —, será considerada favorita rapidamente. Há também o legado positivo do pai, Iris Rezende.

Ana Paula Rezende: nome forte para a disputa em Goiânia | Foto: Reprodução

Porém, se quiser mesmo ser candidata, Ana Paula Rezende precisa demonstrar apetite, vontade — o que não tem demonstrado até agora.

O que se fala da filha de Iris Rezende, sobretudo nos bastidores, é que é relutante. A frase “se o marido deixar, será candidata” é altamente negativa nos tempos do primado do feminismo.

O marido é Frederico Peixoto, dono da construtora FGR, a dos condomínios Jardins. É moderníssimo como empresário, mas não o seria como indivíduo? Na verdade, ele teme, e com razão, que uma candidatura (e até uma vitória) de Ana Paula Rezende prejudique os negócios do grupo que dirige, ao lado de Guilherme Peixoto, seu irmão, e de Rodolfo Dafico de Oliveira. Os três figuras respeitáveis do empresariado brasileiro.

Se falta apetite a Ana Paula Rezende, sobra a Bruno Peixoto, o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás.

Bruno Peixoto: capacidade de agregar é crucial em disputas eleitorais | Foto: Sérgio Rocha

Bruno Peixoto é um político profissional — na esteira de Iris Rezende, Maguito Vilela, Daniel Vilela e Ronaldo Caiado. Amigos e aliados dizem que faz política “25” horas por dia. É um workaholic da política.

Durante a semana, Bruno Peixoto fica em Goiânia, presidindo a Alego e dialogando com políticos e integrantes da sociedade. Nos finais de semana, é localizado por jornalistas no interior. De manhã, aparece no Entorno de Brasília, em Luziânia ou Padre Bernardo. À tarde, está em Itumbiara. À noite, articula no Sudoeste. Ele não para. Porque sua vocação é a política. Ele pensa longe, por isso está formatando uma nova base para uma possível disputa a deputado federal em 2026.

Bruno Peixoto quer disputar a Prefeitura de Goiânia? Quando inquirido, afirma, com humildade e sinceridade, que está um pouco atrás na “fila”, ou seja, atrás de Ana Paula Rezende, a quem respeita. Se esta for candidata, contando com o apoio de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela, o presidente da Alego estará na linha de frente de sua campanha.

Porém, se a base governista ficar sem candidato — e uma grande base política não pode ficar esperando Ana Paula Rezende indefinidamente —, Bruno Peixoto certamente colocará seu nome no jogo.

Políticos profissionais dizem ao Jornal Opção que Bruno Peixoto é um dos poucos capazes de montar uma grande máquina eleitoral em pouco tempo. Porque ele não teme pôr os “pés” no chão. Não receia sujar os sapatos nos bairros ainda não asfaltados. Pelo contrário, o deputado tem empatia com o povão. Quando seu nome é citado, imediatamente ouve-se: “Ele agrega”.

Há quem postule que, em agosto, Bruno Peixoto, se Ana Paula Rezende continuar querendo “ser prefeita sem ser candidata”, deve colocar seu bloco nas ruas e se apresentar como candidato. Um pesquisador frisa que, se pouco tempo depois de se apresentar como pré-candidato, aparecer entre os cinco primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto ninguém vai segurá-lo.

Gustavo Gayer, Silvye Alves e Edward Madureira

O PL tende a apresentar o deputado federal Gustavo Gayer para prefeito de Goiânia. Ele é popular e não tem votos apenas na direita, de acordo com uma pesquisa.

Gustavo Gayer: deputado federal pelo PL | Foto: Câmara dos Deputados

Gustavo Gayer é forte? Na verdade, é imprevisível. A falta de experiência administrativa pode pesar contra. Dado o discurso radical, terá dificuldade de agregar apoios moderados. Comenta-se que o ex-presidente Jair Bolsonaro pode operar para mantê-lo na Câmara dos Deputados e lançar a candidatura do ex-deputado federal Major Vitor Hugo.

Entretanto, se o Gustavo Gayer tem alguma chance, por causa do discurso azeitado e agressivo, Vitor Hugo não parece ter chance alguma. Se sobra apetite ao primeiro, falta ao segundo. Bolsonaro é importante para o deputado, mas não decisivo. Para o ex-deputado, é crucial. Porém, qual força terá se estiver com os direitos políticos cassados ou se for preso?

Silvye Alves (União Brasil) é popularíssimas, mas, como Gustavo Gayer, não tem experiência administrativa — o que pode chamar a atenção, negativamente, dos eleitores. Porém, e se ninguém emplacar contra Vanderlan Cardoso — sim, haverá uma espécie de campanha “todos” ou “quase todos” contra o senador —, o que acontecerá? A deputada federal poderá ser chamada para o jogo? Não se sabe.

Silvye Alves: deputada federal pelo União Brasil | Foto: Divulgação do União Brasil

O PT tem dois nomes qualitativos, a deputada federal Adriana Accorsi e o ex-reitor da UFG Edward Madureira.

Edward Madureira tem experiência administrativa, pois administrar a Universidade Federal de Goiás é como gerir uma prefeitura de médio (ou até grande) porte. Falta, porém, ser mais conhecido.

Adriana Accorsi e Edward Madureira: nomes do PT em Goiânia | Foto: Fernando Leite/ Jornal Opção

Adriana Accorsi é mais popular, mas estaria mais interessada em permanecer na Câmara dos Deputados, contribuindo para a governabilidade do governo Lula da Silva. (Comenta-se que uma dívida com um marqueteiro, que seria alta, também estaria desanimando a parlamentar a disputar cargo majoritário.)