Intuição e pesquisas qualitativas sugerem que o prefeito da capital pode até ir para o segundo turno, mas tende a ser derrotado

Iris Rezende: o prefeito já pode se aposentar, pois tem lugar garantido na história, mas parece disposto a continuar na lida política| Foto: Divulgação

Políticos são espécies de antenas da raça humana. Parecem ter um instinto especial para perceber aquilo que a maioria, apesar de observar bem, não consegue distinguir devido a quantidade imensa de informações encontráveis no mercado persa da vida e do jornalismo. Eles sentem alguma coisa especial, especialmente os ventos da mudança. Ah, são as pesquisas, a ciência — dirão os espertos de sempre. De fato, quem diz isto tem razão, ao menos em parte. Mas procede também que há políticos que, mesmo sem as tais pesquisas — ou usando-as tão-somente como balizamentos —, percebem quando as coisas estão mudando e buscam sintonizar-se com elas. As pesquisas ajudam a estabelecer o que, de alguma maneira, estão antevendo.

Vanderlan Cardoso, senador, diz que não quer disputar, mas é um nome forte para a eleição em Goiânia | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Em 1998, todos se lembram, o candidato das oposições ao MDB era o deputado federal Roberto Balestra, de Inhumas. Não tinha grande expressão política, mas, para enfrentar Iris Rezende — na época, uma espécie de deus da política estadual —, não se devia desperdiçar um político de maior visibilidade. Era mais adequado caçar com o gato, já que o cachorro estava de folga, ou melhor, ninguém, rigorosamente, queria ser derrotado pelo político que havia sido prefeito de Goiânia e eleito governador duas vezes, em 1982 e 1990, e era uma figura de proa na política nacional, tendo sido ministro dos governos de José Sarney e de Fernando Henrique Cardoso. Enfim, uma montanha que nem mesmo a verve do poeta Carlos Drummond de Andrade seria capaz de remover do caminho.

Elias Vaz , deputado federal, tem viabilidade eleitoral| Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Mas eis que surge a roda vida e um político jovem, ledor da realidade e das pesquisas, aparece e sugere que, já que ninguém quer enfrentar o monstro sagrado, aquele Heitor da Troia do Cerrado, ele, o tucano Marconi Perillo, ainda de bico curto, aceitaria ser o Aquiles da ocasião. As pesquisas ainda não diziam que Iris Rezende poderia ser derrotado. Pelo contrário, apontavam um caminho oposto: ele seria eleito governador do Estado. Tanto que o secretariado do emedebista já estava praticamente montado e, inclusive, havia a sugestão de o tucanato indicar, quando muito, um secretário de Estado — quiçá o da Agricultura, porque, a rigor, na oposição estava na lavoura.

Francisco Junior, deputado federal: forte apoio da Igreja Católica | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

As pesquisas não estavam erradas: Iris Rezende realmente era tremendamente forte. O que estava equivocada era a interpretação dos novos tempos, que cobravam mudança, renovação. O emedebista liderava por inércia, por ser o mais conhecido, pelo histórico. Quando o novo surgiu, na figura de Marconi Perillo, as coisas mudaram — inclusive as pesquisas, notadamente as quantitativas. Porque as qualitativas já sugeriam que o novo estava no ar, só não era percebido na frequência apropriada.

Virmondes Cruvinel, deputado estadual: nome novo da política goiana | Foto: Jornal Opção

Pois Iris Rezende, depois de ter impedido a candidatura de Maguito Vilela — o favorito que não contrariava o espírito do tempo, o zeitgeist, pois era visto como a “renovação dentro da ordem” —, perdeu a eleição e, sim, Marconi Perillo ganhou (vinte anos depois, ao não perceber a corrosão do tempo, também perdeu uma eleição).

Adriana Accorsi: deputada estadual: nome forte do PT na capital | Foto: Divulgação

Iris “Anderson Silva” Rezende

Em 22 de dezembro deste ano, Iris Rezende fará 86 anos — a 14 anos de completar um século de existência. É um homem forte, capaz de trabalhar todos os dias, como prefeito de Goiânia, no Paço Municipal, e de frequentar mutirões nos fins de semana. É o que se pode chamar de uma força da natureza. Não sabe fazer outra coisa, exceto política — seu verdadeiro oxigênio. Não pesca. Não viaja. Não é dado a beber vinho sofisticado. Não frequenta restaurantes da moda. Não aprecia livros, cinema e teatro. Consta que, às vezes, curte a novela das 21 horas, embora costume dormir cedo, pois acorda às 5 horas para andar na esteira. No momento, publicamente, sugere que não vai disputar a reeleição, porque sente que deve abrir espaço para novas lideranças. Mas este é um dos “duplos” de Iris Rezende.

Major Araújo: nome do PSL para a disputa | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

O outro Iris Rezende, o que viceja, pensa o contrário: quer ser candidato. Políticos verdadeiros acreditam que sua história nunca está “fechada” e sempre precisa de mais um mandato para “conclui-la”. Por isso, o prefeito, com a casa supostamente ajustada, avalia que vai colher os louros do que plantou, entre 2017 e 2018, a partir de 2021. Noutras palavras, precisa de mais um mandato para se consagrar como, digamos, o “melhor prefeito da história de Goiânia” e se tornar um segundo Pedro Ludovico Teixeira, o fundador da capital e o político que desbancou os Caiado em 1930.

José Nelto: opção do Podemos na capital | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Políticos são seres emocionais e, ao mesmo tempo, realistas. Se perceber que tem alguma chance de ganhar, e a chance existe — ante a fragilidade de outros adversários —, Iris Rezende será candidato pela quinta vez a prefeito da capital.

Cristina Lopes: a vereador pode ser bancada pelo PDT | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Entretanto, se Iris Rezende é forte, se está fazendo obras — aliás, está exibindo-as —, por que vários pré-candidatos querem disputar exatamente com ele? Porque acreditam que, apesar do sucesso do prefeito, relativo ou não, os goianienses estão cansados de sua figura, de seus métodos políticos e administrativos e cobram um político mais moderno e criativo.

Delegado Eduardo Prado: o deputado é a aposta do PV | Foto: Divulgação / Agência Câmara

Os políticos já intuíram que Iris Rezende pode ser “batido”, eleitoralmente, e mesmo antes de pesquisas começarem a mostrar isto? O quadro é parecido com o de 1998 e talvez Iris Rezende, quando assinala que pode não disputar, esteja percebendo isto? Ter o apoio de Ronaldo Caiado, um governador com imagem positiva mas dirigindo um governo que ainda não deslanchou, pode ser mais negativo do que positivo? Raposa, das mais felpudas, o prefeito por certo está avaliando o quadro, que parece ótimo, mas não é.

Talles Barreto: nome mais cotado do PSDB | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Na verdade, todos querem enfrentar Iris Rezende porque sabem que, com uma campanha bem-feita, com um projeto alternativo para Goiânia, os goianienses aceitam (e até querem) trocá-lo. Chegam a respeitar o prefeito, um alcaide experimentado e de história positiva, mas avaliam que já deu o que tinha de dar: é preciso trocá-lo.

Sabe o Anderson Silva, o das lutas de MMA? Pois é: não tem mais a mínima chance de voltar a ser campeão, exceto se lutar contra Dana White. Por que permanece lutando no octógono? Por três motivos. Ainda rende dinheiro no “pague-pra-ver”, porque é uma estrela; precisa ganhar mais dinheiro para se aposentar bem e é uma “escada” para lutadores emergentes que precisam fazer nome. Iris Rezende é o Anderson Silva da política — Marconi Perillo cresceu nas suas costas e quem vencê-lo, em 2020, poderá se consolidar igualmente.

Romário Policarpo: o vereador é uma alternativa | Foto: Alexandre Tavares

Os deputados federais Elias Vaz (PSB), Francisco Júnior (PSD) e José Nelto (Podemos), os vereadores Cristina Lopes (PSDB) e Romário Policarpo (Pros), os deputados estaduais Adriana Accorsi (PT), Eduardo Prado (PV), Major Araújo (quase-PSL), Talles Barreto (PSDB) e Virmondes Cruvinel (Cidadania) — sem contar um peso-pesado como Vanderlan Cardoso, senador do PP — sabem, de alguma maneira, que Iris Rezende pode ser derrotado. Por isso, e desculpe-nos o uso do termo, estão “salivando”. Um deles pode ser o próximo prefeito da capital e exatamente por enfrentarem um político que, embora esteja no auge, aproxima-se da decadência. Uma derrota de Iris Rezende não será uma mera derrota de Iris Rezende. Será, isto sim, uma “troca” de tempos — o do passado pela modernidade, que, com ele, não chega, fica sempre contida. Os políticos, insista-se, nem precisam de pesquisas para perceberem o que está acontecendo… Os eleitores de Goiânia estão à procura do anti-Iris Rezende, não porque são necessariamente contra o prefeito — na verdade, é respeitado —, e sim porque sabem que chegou a hora, sublinhemos, da “troca de tempos históricos”: o passado pelo presente… O futuro bate à porta. Quem se cacifar, apresentando-se como o anti-Iris Rezende, poderá ser o próximo prefeito da capital de Goiás — uma cidade que tem quase 1 milhão de eleitores.

Maguito Vilela e lealdade

Maguito defende conciliação no MDB
Maguito Vilela: lealdade a Iris Rezende tem recompensa? Até agora, não | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

O ex-governador Maguito Vilela pertence ao MDB e quer ser candidato a prefeito de Goiânia. Se for, de cara, conquista o apoio do PP de Vanderlan Cardoso e Alexandre Baldy. Ou seja, ganha tempo de televisão e o apoio de uma frente política ampla. Mas o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, por uma questão de lealdade e amizade — raridade na política — só disputa se Iris Rezende não for candidato e se tiver o seu apoio.

Iris Rezende apoiaria Maguito Vilela? Talvez sim. Talvez não. Sim, porque a história de lealdade de Maguito, quando se trata de apoio ao prefeito, é extraordinária. Em 1998, com uma eleição na mão, abriu espaço para seu líder substitui-la na campanha. Não, porque, aliado do governador Ronaldo Caiado, Iris Rezende talvez não queira fortalecer os Vilelas — Daniel e Maguito. Em 2022, na disputa para o governo, os Vilelas terão papel especial, especialmente se Maguito Vilela disputar a Prefeitura de Goiânia e se for eleito. O jogo passará por eles, e não por Iris Rezende. A Ronaldo Caiado interessa que o jogo passe por Iris Rezende.

Como seria uma disputa entre Iris Rezende e Maguito Vilela? Será uma peleja muito difícil de ser vista, mas, possivelmente, o segundo poderia derrotar o primeiro. Possivelmente. Porque, como sabe, o futuro nem a Deus pertence.