O peso da responsabilidade política de Adib Elias
29 agosto 2021 às 00h01

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Paulo do Vale, Ernesto Roller e Renato de Castro e o prefeito de Catalão certamente sabem que o importante é discutir 2022 e não 2026
Na semana passada, em conversa com um aliado do prefeito de Catalão, um repórter do Jornal Opção ouviu o seguinte: “Na hora agá, mais pra frente, Adib Elias dará o troco”. O aliado não quis ampliar a conversa, mas acrescentou: “O prefeito Adib Elias não está satisfeito com a possibilidade de Daniel Vilela ser vice do governador Ronaldo Caiado na disputa eleitoral de 2022”.
Se Daniel Vilela for confirmado como vice, Adib Elias vai mesmo romper com Ronaldo Caiado? “Pode ser que o prefeito opte por romper ou, então, por não romper. As duas atitudes estão nos seu horizonte. Adib reclama, o tempo todo, que não indicou ninguém de seu grupo para um cargo importante do governo do Estado (na Goinfra, por exemplo). E frisa que rompeu com Daniel Vilela exatamente para apoiar Caiado na eleição de 2018”, relata o aliado do prefeito.
Não se pode dizer que Adib Elias, Renato de Castro (presidente da Codego), Ernesto Roller (secretário de Governo), Paulo do Vale (prefeito de Rio Verde) representam um grupo político à parte. Porque os quatro políticos pertencem, a rigor, ao grupo de Ronaldo Caiado. Há também o prefeito de Anápolis, Roberto Naves, do Progressistas, que, embora do mesmo partido do ex-ministro Alexandre Baldy, é um dos principais aliados do governador — assim como o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, Lissauer Vieira, do PSB.

Deputado Lissauer Vieira
Lissauer Vieira é um aliado fiel de Ronaldo Caiado. O parlamentar quer, de fato, ser vice do governador em 2022. Mas não lhe põe a faca no pescoço. Porque sabe que há condicionantes, para ser vice, dos quais não dispõe. Com o apoio de vários deputados e prefeitos, o deputado é quase um partido político. Mas um partido tem tempo de televisão e recursos financeiros do Fundo Eleitoral, além do Fundo Partidário. O líder político do Sudoeste goiano é filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), mas seu presidente, o deputado Elias Vaz, já ofereceu a legenda para uma candidatura do prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, disputar o governo do Estado. Falta, então, o básico ao jovem de 41 anos. No momento, ele mantém conversas com pelo menos três partidos — o MDB, o PSD e o PSL. A todos sugere a mesma coisa: só se filiará se o partido lhe der garantias de que apoiará a reeleição de Ronaldo Caiado.
O que se disse acima sugere que Lissaeur Vieira desistiu da vice de Ronaldo Caiado? Não. Mas, por realismo, está costurando uma base político-eleitoral, cada vez mais ampla, para a disputa de mandato de deputado federal. Obter 100 mil votos, numa disputa acirrada, como a de deputado federal, não é fácil. O deputado sabe que, no momento, Daniel Vilela está praticamente definido como vice do governador. Porém, como as eleições vão ser disputadas daqui a um ano e um mês, há a possibilidade de mudanças. O futuro, já disseram, nem a Deus pertence. O grau de imprevisibilidade da vida tem de ser levado em consideração.
Mas uma coisa é certa sobre Lissauer Vieira: trata-se de um político responsável, que quer seguir adiante, com Ronaldo Caiado, e não retornar ao passado, com Marconi Perillo — que é, de fato, o mentor de Gustavo Mendanha, o prefeito de Aparecida de Goiânia, que, como se fosse um Osama bin Laden patropí, chama-se de “Mito”. Publicamente, com sua faceta camaleônica, é mais parecido com Forrest Gump.

Prefeito Roberto Naves
Roberto Naves também é um político responsável. Ele tem dito que vai apoiar Alexandre Baldy para senador, em qualquer chapa, mas apoiará a reeleição de Ronaldo Caiado. Ao ser eleito e reeleito prefeito da terceira maior cidade de Goiás, em termos de eleitorado — e, certamente, é mais emblemática, em termos históricos, do que Aparecida de Goiânia —, Roberto Naves mostrou força eleitoral. Mas, ao menos na segunda disputa, a de 2020, muito de sua força eleitoral derivou de uma parceira qualitativa com Ronaldo Caiado.
Articulador hábil, verdadeiro workaholic — desses que querem saber de tudo, sempre antenado —, Roberto Naves é visto, pelos principais aliados de Ronaldo Caiado, como um político que não trai. O que tem dito, e com razão, é que apoiar o governador não significa deixar de ter opiniões sobre o processo político. Os dois políticos têm identidades amplas — inclusive nos prenomes. Roberto e Ronaldo têm sete letras, começam com a consoante “R”, terminam com a vogal “O” e têm quatro consoantes e três vogais. Sobretudo, ambos são apaixonados por política e gestão. Conta-se, no mercado persa da política, que Roberto Naves está na lista “cinza” tanto de Perillo quanto de Mendanha. É visto como “inimigo” e Mendanha não faz questão de esconder isto.

Paulo do Vale e Renato de Castro
O médico e prefeito Paulo do Vale (DEM) é um aliado visceral de Ronaldo Caiado e vai acompanhá-lo em 2022. Tanto por lealdade quanto por saber que seus adversários estão se reunindo do outro lado para, quando oportuno, combatê-lo. O prefeito teria dito a aliados que “tem lado”. O “lado” de Ronaldo Caiado.
Ernesto Roller pensa da mesma forma. Assim como Renato de Castro. Os três são responsáveis e o que menos querem é a volta de Perillo, o Lobo sob a pele de Cordeiro de Mendanha.
Prefeito Adib Elias
Adib Elias é o principal político do Sudeste goiano, um líder regional que, se fosse candidato a deputado federal, seria eleito com facilidade. Acima de tudo, é um gestor eficiente e sério. Fala-se que é um trator, e, se a referência for à sua capacidade de trabalho, de fato é. Aos 68 anos, ele não para. É tão workaholic quanto Roberto Naves — talvez até mais. Em 2018, quando decidiu apoiar Ronaldo Caiado para governador, o dirigente do partido Democratas já era líder nas pesquisas — com índices bem superiores aos dos adversários, tanto que foi eleito no primeiro turno. Mas, com sua imensa capacidade de agir e sua diligência em costurar apoios, o prefeito foi peça chave da campanha.
No momento, ante a possibilidade de Daniel Vilela ser o vice de Ronaldo Caiado, Adib Elias se isolou em Catalão — para demonstrar seu descontentamento. Como Daniel Vilela atuou para exclui-lo do MDB, sua animosidade é justificada. É preciso construir uma nova relação — o que, se não é impossível, é muito difícil.

Político responsável, ao contrário do que o aliado disse, Adib Elias dificilmente deixará a aliança com Ronaldo Caiado. Até porque, durante 20 anos, chegou a ser perseguido pelo marconismo. Só nos dois anos e oito meses do governo de Ronaldo Caiado é que pôde respirar em paz. Nos tempos do marconismo, o povo de Catalão escolhia Adib Elias para prefeito e Perillo escolhia Jardel Sebba para ser “prefeito informal” do município.
Portanto, mais do que qualquer outro político de Goiás, Adib Elias sabe o que é viver — tendo de gerir uma cidade — sob o jugo das hostes de Perillo. Ele nunca aderiu ao marconismo, apesar das pressões. O que deixa patente sua firmeza política, derivada de sua personalidade séria e equilibrada, talvez por ter se “formado” na “escola” política de Haley Margon Vaz, um dos maiores líderes da história de Catalão. Haley Margon, aos 91 anos, continua firme no seu empenho em melhorar a educação do município onde reside, além de ter contribuído para a criação da Universidade Federal de Catalão. O economista Luís Estevam — doutor em Economia pela Unicamp — escreveu uma excelente biografia do ex-deputado e ex-prefeito. Detalhe: Haley Margon usa os próprios recursos financeiros para bancar seu projeto educacional. É um mecenas da educação.
Ronaldo Caiado adotou uma série de medidas para modernizar o governo — tornando a relação como os prefeitos mais republicana, construindo obras sem propinoduto e aditivos fabulosos e, sobretudo, valorizando e protegendo as pessoas (daí a ideia de que, enquanto alguns políticos apreciam números, ele gosta de gente). Com a casa em ordem, em um segundo governo deslancharia mais — seria uma espécie de modernização continuada. Adib Elias certamente quer continuar fazendo parte deste projeto — que tornou a lisura com o dinheiro público a essência e não a mera aparência do governo. A continuidade da mudança é, por certo, uma das metas do prefeito. Se for, é bem possível que continue ao lado de Ronaldo Caiado contra as forças do atraso — que, com uma maquiagem ou uma plástica malfeita, querem o retorno do marconismo por meio de Mendanha.
Na semana passada, um político do Sudoeste fez o seguinte comentário a um repórter do Jornal Opção: “Mendanha não é puramente Mendanha. É a tentativa de Marconi Perillo voltar ao centro do palco. Mendanha não ‘trairia’ Daniel Vilela e o legado de Maguito Vilela se não tivesse por trás de si um político desgastado mas experimentado como Marconi e um homem de negócios como Sandro Mabel”. Um político de Goianésia acrescentou: “Jogar contra Ronaldo Caiado é torcer, direta ou indiretamente, pela volta do marconismo”.
O filósofo britânico Isaiah Berlin sugeria que, como se vive no presente, a discussão de um futuro radioso — com salvadores da pátria e jovens que, por baixo da couraça, às vezes são velhos, em termos de comportamento — não interessa tanto às pessoas. Portanto, o que está em jogo, e isto Adib Elias precisa captar bem — ele que é uma raposa política —, é o governo de Goiás entre 2023 e 2026. Ou seja, o próximo governo, que tende a ser gerido por Ronaldo Caiado, o favorito para a próxima disputa. O pós-2026 é outra história e está muito distante. Não se deve perder tempo com discussões — exceto as especulativas — de um futuro que ainda nem está em jogo. Sim, o vice de Ronaldo Caiado, se este for reeleito e sair para disputar o Senado, assumirá o governo e será, possivelmente, candidato à reeleição. Mas é preciso contar que, no meio do caminho, há a possibilidade do imponderável.
Mas crucial mesmo é que Adib Elias, como Renato de Castro e Paulo do Vale, tenha consciência de que o que está em jogo é a possibilidade de Ronaldo Caiado ser reeleito governador de Goiás por mais quatro anos. É este o projeto que deve ser discutido. Insistindo: sem 2022, muitos políticos não terão futuro em 2026.