Luta eleitoral de 2022 deve ser travada entre Caiado e grupo articulado por Perillo
18 julho 2021 às 00h00
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Se Mendanha sair do páreo, para apoiar Daniel Vilela na vice ou para o Senado, o tucano tende a compor com Jânio Darrot, Sandro Mabel e Alexandre Baldy
Leitores costumam perguntar aos repórteres do Jornal Opção: o quadro político para a disputa do governo de Goiás em 2022 já está efetivamente desenhado? Não há dúvida de que se trata de uma indagação muito difícil de responder, talvez impossível, ao menos neste momento. Entretanto, com base nas movimentações políticas, pode-se arriscar algumas hipóteses, mas sem deixar de ressaltar que a eleição vai ser disputada daqui a um ano, dois meses e alguns dias. Quer dizer, alguma coisa que se delinear agora poderá não vigorar até julho do ano que vem. Recomenda-se aos leitores, portanto, que pensem e tirem suas próprias conclusões, a partir do que se dirá aqui ou alhures. A razão sugere cautela e que se evite conclusões peremptórias.
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Ronaldo Caiado está sozinho na raia
No momento, só há um candidato um candidato efetivo — o governador Ronaldo Caiado. O líder do partido Democratas é apontado por analistas e pesquisadores como o postulante favorito, porque, desde já, está bem na frente dos supostos pretendentes.
Ronaldo Caiado faz um governo bem avaliado, não há escândalos e, na avaliação dos eleitores — mensurada em pesquisas —, tem uma preocupação genuína com as pessoas. “A vida em primeiro lugar” não é, mas, segundo os votantes, poderia ser o lema de sua gestão.
Na saúde, no combate à pandemia, Ronaldo Caiado, por ser médico e humanista, agiu rápido, o que possibilitou a reformatação de uma estrutura adequada para o tratamento das pessoas contaminadas. Na tentativa de salvar vidas e na luta para conseguir vacinas para todos os goianos, o governador não hesitou. Desde o início, e sem temer desgastes, assumiu a linha de frente dos trabalhos.
Na segurança, com o secretário Rodney Miranda, adotou a ideia de que a polícia, em defesa do cidadão de bem, deve ser rigorosa — o que não quer dizer excessiva ou adversária da lei. O uso da Inteligência tem sido fundamental para combater o crime organizado, que, de regional, nacionalizou-se — está em toda parte, amplamente conectado às bases locais. Em Goiás, no campo do tráfico de drogas e outros crimes, tais máfias têm sido combatidas com o máximo de rigor. O resultado é que a segurança no Estado — por exemplo, no Entorno de Brasília — melhorou de maneira significativa.
Na educação, os avanços são significativos, apesar da pandemia. O Ideb mostra que Goiás está bem. Neste caso, é preciso reconhecer o esforço dos governos passados — que criaram as bases para o salto qualitativo do atual governo.
Além da retidão com que trata o dinheiro público, aplicando-o com decência, há o fato de que, com extremo esforço, e o apoio de secretários eficientes, como a da Economia, Cristiane Schmidt, Ronaldo Caiado ajustou o Estado. Detalhe: em dois anos e seis meses — e apesar da pandemia e da crise econômica nacional —, o governo tem obras, de qualidade, para mostrar. O fato é que o governador cobra parcimônia na divulgação do que faz, enquanto outros inauguravam placas e as mesmas obras — anabolizadas por aditivos — mais de uma vez.
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Daniel Vilela, Mendanha e o rumo do MDB
Comenta-se sobre uma aliança entre o MDB de Daniel Vilela e Gustavo Mendanha com o governador Ronaldo Caiado para a disputa de 2022, mas às vezes como se fosse uma coisa do outro mundo. Não é.
Em 2014, na disputa contra Marconi Perillo, do PSDB, Ronaldo Caiado poderia ter disputado o governo, mas recuou e disputou mandato de senador e apoiou o candidato do MDB, Iris Rezende. Mostrou lealdade. Em 2018, em retribuição à aliança de quatro anos antes, ofereceu a vice ao MDB de Daniel Vilela, mas o jovem político preferiu disputar o governo.
Ronaldo Caiado foi eleito no primeiro turno, com 59,73% — 1.773.185 votos. Daniel Vilela, o segundo colocado, obteve 16,14% — 479.180. O terceiro colocado, José Eliton, recebeu 13,73% — 407.507. Juntos, conquistaram apenas a metade dos votos do democrata.
Em 2018, Ronaldo Caiado fez uma campanha relativamente modesta, com o apoio de poucos prefeitos, e, mesmo assim, ganhou no primeiro turno. Em 2022, sua máquina eleitoral contará com um exército poderoso, praticamente imbatível, considerando a lógica.
Os dois principais líderes do MDB, Iris Rezende — o mais reverenciado, dada sua longa trajetória político-administrativa, e sempre no mesmo partido — e Daniel Vilela, estão propensos a se aliarem a Ronaldo Caiado na disputa de 2022. Também por uma questão de lógica.
Primeiro, como se disse a respeito de 2014, o adversário real do MDB não é, a rigor, Ronaldo Caiado, e sim o PSDB de Marconi Perillo. Durante o ciclo de 20 anos, duas décadas e uma geração, o tucanato manteve-se no poder, às custas do massacre político-eleitoral do emedebismo em todo o Estado. Então, se o MDB tem um adversário, que quase o “eliminou” da política de Goiás, este é o PSDB, e não o Democratas.
O MDB tem, em tese, três caminhos para a disputa de 2022. Primeiro, bancar Daniel Vilela, ex-deputado federal, para o governo. Segundo, lançar Gustavo Mendanha, que tem “apetite”, para o cargo de governador. Terceiro, compor com Ronaldo Caiado e lançar o candidato a vice ou a senador na sua chapa.
Uma aliança com Ronaldo Caiado pode ser a porta de entrada para o MDB no governo do Estado. Digamos que o democrata seja reeleito, com Daniel Vilela na vice. A tendência é que, em abril de 2026, se desincompatibilize para disputar uma vaga no Senado. O emedebista assumirá o governo por nove meses — o que, de imediato, o credenciará como candidato natural à reeleição. A lógica sugere que é o caminho mais realista para o MDB — mais até do que para Daniel Vilela. Porque, além de ele ter a chance de conquistar espaço no governo, o MDB poderá, ao participar de uma aliança forte e estruturada, eleger uma bancada considerável de deputados federais e estaduais.
A aliança entre Ronaldo Caiado e Daniel Vilela fortalece o Democratas, é claro, mas quem pode sair mais fortalecido é o MDB — cujo exército hoje é relativamente pequeno, pois não tem nenhum deputado federal. Tem o senador Luiz Carlos do Carmo, que era suplente e assumiu o mandato que era de Ronaldo Caiado. A rigor, os eleitores não votaram no emedebista.
Portanto, se disputar o governo em 2022, com uma estrutura pequena, contra um candidato da estirpe de Hércules, o MDB pode sair tão pequeno quanto o que saiu da disputa de 2018. De que adianta “fortalecer” — se fortalecer é — Daniel Vilela ou Mendanha, se o MDB poderá sair enfraquecido? De novo, é preciso verificar a lógica.
No momento, aceitando a necessidade de lógica na política, 27 dos 28 prefeitos do MDB apoiam a aliança do MDB de Daniel Vilela com o DEM de Ronaldo Caiado. Realistas, sabem que é o caminho mais eficaz para que desenvolvam gestões mais produtivas para todos os moradores das cidades que representam. Ao contrário de Mendanha, que gere uma cidade rica — mas não ajuda nenhuma outra cidade (até por questões legais) —, os municípios precisam, e muito, de uma parceira mais azeitada com o governo do Estado. Não só. Os prefeitos, assim como os deputados Bruno Peixoto, Henrique Arantes e Humberto Aidar, sabem que, numa aliança com Ronaldo Caiado, o MDB terá finalmente a chance de retornar ao poder. O governador abriu as portas e eles entenderam que, se estão abertas, não precisam arrombá-las.
Mendanha não pode subestimar a voz dos 27 prefeitos que clamam pela aliança entre Daniel Vilela, Iris Rezende e Ronaldo Caiado. Na verdade, o prefeito de Aparecida precisa tratá-los como os verdadeiros líderes do MDB no Estado, sobretudo porque foram consagrados pelos eleitores de suas cidades. Durante os 20 anos de “massacre” promovido pelo exército de Marconi Perillo — nem todos no MDB têm memória curta ou conveniente —, tais líderes municipais (às vezes seus pais) mantiveram a chama viva.
O que os prefeitos estão sugerindo é que Mendanha, que ganhou dois mandatos de prefeito proporcionados pelo MDB — na primeira disputa foi praticamente “carregado” por Maguito Vilela —, deveria ter como projeto fortalecer tanto Daniel Vilela quanto os candidatos a deputado federal e estadual do partido. É uma questão de lógica e, também, de gratidão ao MDB e a dois líderes que lhe deram tanto — Maguito Vilela e Daniel Vilela.
Recentemente, numa entrevista, ainda que de maneira enviesada, Mendanha fez a defesa de Marconi Perillo, até para justificar o fato de que se tornaram “aliados”. Cometeu um triplo erro: contra Ronaldo Caiado, contra a Justiça e contra o Ministério Público. Não foi o governador quem pediu a prisão de Marconi Perillo. Ele foi preso pela Polícia Federal com mandado assinado por um juiz federal. As denúncias dos promotores de justiça são de responsabilidade do Ministério Público de Goiás e do Ministério Público Federal. Indiretamente, o prefeito afrontou tanto a Justiça contra os MPs.
A pergunta dos 27 prefeitos — todos leais a Daniel Vilela e ao MDB — é, seguramente, uma só: o principal projeto de Mendanha, se já é prefeito de Aparecida, a segunda mais importante cidade de Goiás, não é fortalecer o MDB e seu principal líder, exatamente Daniel Vilela? Em 2016, quando Mendanha era, digamos, uma espécie de pré-Vilmarzinho Mariano, Daniel Vilela o pegou pelo braço, com o apoio de Maguito Vilela, e o bancou para prefeito. O prefeito não pode usar a eleição de 2020 para esconder a história da disputa de 2016. E mais: de quem mais Daniel Vilela espera lealdade? Claro, de Mendanha. O prefeito lhe faltará? É provável que não. Há indícios que estaria se “desmarconizando”? Quem sabe.
Daniel Vilela opera um partido que tem dimensão nacional e, por isso, precisa fortalecê-lo com o “envio” para Brasília de deputados federais. Portanto, não pode pensar apenas numa eleição majoritária e no projeto de uma única pessoa. O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, cobra das lideranças estaduais que mandem deputados para a Câmara. Porque é por intermédio do número de deputados federais que se obtém mais recursos do fundo eleitoral e do fundo partidário e mais tempo de televisão. Hoje, como não tem nenhum deputado, o MDB de Goiás não contribui para fortalecer o partido no Congresso. Em 2022, se participar de uma aliança forte — é o que os prefeitos estão sugerindo, assim como Daniel Vilela e Iris Rezende —, o MDB terá mais chances de ser forte tanto em Goiás quanto poderá contribuir para fortalecer o partido em termos nacionais.
Mendanha é um político de bem e do bem. Portanto, quando refletir, quando deixar de ouvir sereias habilíssimas como Marconi Perillo e Sandro Mabel, perceberá, por uma questão de lógica, que tem um lugar na política de Goiás: ao lado de Daniel Vilela e do MDB. O futuro pertence aos políticos mais jovens — como Daniel Vilela, Mendanha, Roberto Naves (PP), Marden Júnior (Patriota), Alexandre Baldy (PP), Adriana Accorsi (PT), Pedro Sales (sem partido), Issy Quinan (PP), Márcio Luis da Silva (MDB), Valmir Pedro (PSDB), Vanuza Valadares (Podemos), Márcio Corrêa (MDB), Lissauer Vieira (PSB), Virmondes Cruvinel (Cidadania), Lucas Calil (PSD), Francisco Júnior (PSD), Romário Policarpo (Patriota), Lincoln Tejota (Cidadania), Pábio Mossoró (MDB) e, entre outros, Diego Sorgatto (Democratas). Mas Daniel Vilela, ao menos no MDB, é o líder que está em primeiro lugar na fila. Por que retirá-lo da fila, num processo de atropelamento que, de certa maneira, afetaria o futuro de Mendanha?
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Marconi quer ocupar o espaço do MDB em 2026
Do lado do PSDB, há um profissional operando — Marconi Perillo (José Eliton, seu preposto na cúpula tucana, é quase-amador). É um general político que teve a patente rebaixada para sargento, mas não deve ser subestimado. Tanto não pode que a “invenção” de Mendanha como possível candidato a governador é uma jogada de mestre de sua lavra. Sedutor, dono de uma conversa envolvente, o tucano praticamente colocou o jovem emedebista no bolso — criando uma dependência relativa.
Mas o que Perillo quer realmente? Em poucas palavras: quer voltar ao centro do palco da política de Goiás. Apreciador de pesquisas, tanto das qualis quanto das quantitativas, o tucano sabe que, em 2022, suas chances de disputar o governo são praticamente nulas. Por isso, ao aliar-se a Sandro Mabel, com o objetivo de forjar um candidato “novo”, com a ideia de que simbolizaria “renovação” — há, na política, jovens que nasceram velhos, dadas suas ideias superadas —, o que ele quer mesmo é não ter a necessidade de colocar seu nome para disputar o governo do Estado.
Perillo tende a disputar mandato de deputado federal. Mas sabe, amparado em pesquisas, que, mesmo para deputado, não será fácil ser eleito — tanto que está procurando lançar vários candidatos, porque poderão alavancá-lo. A tese de que vai “puxar” mais um deputado não é bem-vista por muitos tucanos — tanto que Lêda Borges reluta em ser candidata a deputada federal. Porque há o risco de, no lugar de “puxar” um deputado, Marconi Perillo, para ser eleito, precisar dos votos dos seus companheiros de chapa (no caso de não vigorar o Distritão).
Porém, se Mendanha não disputar — e avaliando que Jânio Darrot, do Patriota, não tem vigor eleitoral —, Perillo poderia ir para o “sacrifício” e disputar o governo do Estado. Até porque uma derrota para o governo é mais “honrosa” do que uma derrota acachapante para deputado federal. Convém lembrar que, na disputa para senador, em 2018, Marconi ficou em quinto lugar — atrás de Vanderlan Cardoso (PSD, 1.729.637 votos), Jorge Kajuru (Podemos, 1.557.415 votos), Wilder Morais (PSC, 796.387 votos) e Lúcia Vânia (PSB, 519.691 votos). O tucano obteve apenas 416.613 votos. Frise-se que as pesquisas indicam que seu desgaste político é imenso, não se sabe se incontornável para a disputa eleitoral de 2022.
Ao contrário de Mendanha — que é todo “coração” e “voluntarismo” —, Marconi Perillo é um estrategista. Por isso sabe que, se for eleito deputado federal e se o MDB lançar candidato a governador e sair em frangalhos da disputa, não elegendo uma bancada satisfatória de deputados federais e estaduais, o que enfraquecerá o partido em relação aos seus prefeitos — a representação significa emendas do Orçamento da União e do Estado —, poderá sair do pleito de 2022 como principal líder das oposições. O que poderá lhe abrir espaço para a disputa de 2026 — talvez para um cargo majoritário.
Postas as questões, por meio de um exame especulativo da correlação de forças da política de Goiás, como responder à pergunta inicial dos eleitores? Como se disse acima, não é nada fácil, neste momento, apresentar uma resposta precisa. O que se pode dizer é que Ronaldo Caiado será candidato a governador. Está definido. As oposições devem lançar um candidato. Será Mendanha? Muito difícil. Porque, se tiver um olho para a perspectiva histórica, o prefeito certamente seguirá Daniel Vilela, desfazendo-se dos aduladores interessados. Será Jânio Darrot? Talvez.
Se Jânio Darrot disputar terá, inevitavelmente, de compor com as forças de Perillo. Porque não há como disputar uma eleição majoritária sem exército eleitoral e contra um postulante que vai para a batalha com um exército gigantesco, vigoroso e motivado. Como seria a chapa?
O mais provável que é Jânio Darrot irá para o governo, com Mabel disputando a vice. Qual seria o papel de Marconi Perillo? O de coordenador político da campanha e, ao mesmo tempo, o homem da chave do cofre. Mas e o candidato a senador? Hoje, segundo informações apuradas nos bastidores, o sonho de consumo de Perillo e Mabel para o Senado é o ex-ministro Alexandre Baldy, presidente do partido Progressistas. O problema é que o PP pode se dividir e o prefeito de Anápolis, Roberto Naves, embora seja muito ligado a Baldy, pode, até por realismo político — trata-se de um líder essencialmente pragmático —, permanecer ao lado de Ronaldo Caiado.
Na verdade, Baldy quer ser candidato a senador ao lado de Ronaldo Caiado. Mas a disputa por uma vaga na chapa majoritária do governador é feroz, com pesos-pesados mais bem posicionados. Henrique Meirelles, do PSD, e João Campos, do Republicanos, hoje estão em primeiro e segundo lugar na “fila”. O ex-ministro poderá disputar mandato de deputado federal? O ex-deputado federal (pelo PSDB) afirma, com veemência, que será candidato a senador — e onde o aceitarem. Finalmente, há o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, Lissauer Vieira. Ele é cotado para vice de Ronaldo Caiado, mas não colocará nenhum obstáculo, em nome da razão, a uma candidatura de Daniel Vilela. Trata-se de um hábil operador político.
Por fim, há quem aposte que a chapa das oposições será a seguinte: Perillo para governador, Jânio Darrot para vice e Baldy (ou Mabel ou o deputado federal Delegado Waldir Soares) para senador.
O PT certamente não apoiará nem Ronaldo Caiado nem a chapa articulada por Perillo — porque o Democratas e o PSDB são adversários históricos do partido — e deverá lançar candidato a governador, possivelmente Kátia Maria. O petismo gostaria de uma composição em Goiás porque seu projeto principal não são as disputas estaduais — exceto onde tiveram postulantes favoritos —, e sim a eleição de Lula da Silva para presidente da República.